Sabre Wulf (GBA): a franquia que tentou retornar mas foi pega pelo lobo

Combinando sessões de salto ao melhor estilo dos plataformas 2D com puzzles e uso de itens, Sabre Wulf foi a aposta da Rareware para reviver uma de suas primeiras franquias.

em 22/08/2020
Nos anos 90 a parceria entre Nintendo e Rareware resultou em memoráveis jogos que ocupam os corações dos que tiveram um console da Nintendo em sua infância. O que dizer das trilogias Donkey Kong Country para o Super Nintendo e Land para o Game Boy, ou dos inesquecíveis 007 GoldenEye, Diddy Kong Racing e Jet Force Gemini para o Nintendo 64? Mas nem só de glórias vive este passado.


Quando falamos em jogos da Rare, escolhemos os grandes destaques e deixamos de lado projetos que não foram tão bem aceitos, como Sneaky Snakes (GB), Conker's Pocket Tale (GB) ou a versão de Perfect Dark para o Game Boy Color. A história de hoje é sobre um destes jogos: mais do que isso, é sobre uma Rare que buscava em seu passado a fórmula do sucesso, tentando não perder sua identidade.

O fim de uma hibernação

O ano era 1984. Um estúdio britânico chamado Ultimate Play the Game lançava Sabre Wulf para o ZX Spectrum, portando-o depois para o Commodore 64 e Amstrad CPC. Anos se passaram e este estúdio se tornou a Rareware que todos conhecemos e amamos.

Com a limitação de 48 KB imposta pelo ZX Spectrum, Sabre Wulf originalmente era um jogo labiríntico no qual, além do uso de itens e simplórias estocadas com a espada, orientar-se era um dos principais desafios impostos ao jogador. Apesar do relativo sucesso, a franquia entrou em estado de hibernação, levando duas décadas para voltar à ativa.

Em uma das missões de Banjo-Tooie (N64), resgatamos o Sabreman, que esteve congelado em uma montanha desde o inverno de 1984. Banjo dá uma carona para o velho herói até chegarem em sua velha tenda, onde seus equipamentos o aguardam para uma nova aventura. Imagino que muitos fãs da Rareware de longa data imaginaram que um novo jogo estava por vir, seja para o Game Boy Color, ou quem sabe para o então Project Dolphin, codinome dado Game Cube antes que este fosse revelado ao público.


Reimaginação

Durante a Nintendo SpaceWorld 2001, a Rareware finalmente anuncia Sabre Wulf para o line-up do novo portátil da Nintendo, o promissor Game Boy Advance. O projeto seria uma reimaginação do clássico lançado para o ZX Spectrum, mas acabou sofrendo alguns atrasos.

Em 2002, o estúdio britânico foi comprado pela Microsoft. A partir de então, diversas dúvidas surgiram sobre se os jogadores de consoles da Nintendo voltariam a ver os jogos da  agora oficialmente denominada Rare em suas plataformas. Só em 2004 a THQ conseguiu um acordo para publicar jogos da Rare no portátil da Nintendo, e assim Sabre Wulf mais uma vez foi descongelado, chegando ao mercado em 17 de março daquele ano.

Na parte técnica, o jogo se sai muito bem. O remake para o 32-bit da Nintendo abandonou a perspectiva aérea e optou pela vista lateral. Para a repaginada estética, substituíram os fundos negros e os elementos monocromáticos por coloridas imagens pré-renderizadas, das quais trouxeram muitos elementos visuais e efeitos sonoros reciclados da série Donkey Kong Country (SNES), inclusive o esquema de seleção de fases lembra muito a aventura dos gorilas. Como aspecto negativo temos a herança negativa deste estilo de gráfico: cenários estáticos e sem vida.

A trilha sonora é agradável, mas não espere nada muito marcante. As “vozes” dos NPCs são repetitivas onomatopeias à la Banjo-Kazooie (N64).

Versão do ZX Spectrum

Que aventura é esta?

A verdade é que não é fácil explicar Sabre Wulf em palavras. Mesmo depois de duas horas jogando, eu não sabia bem definir o que era aquele jogo. Eu o classificaria em algo entre Mario vs. Donkey Kong (GBA) e Pepsiman (PS1).

Quem dá nome ao jogo é Sabrewulf (sem espaço mesmo), uma aterrorizante criatura mitológica que foi aprisionada dentro de uma estátua por um amuleto mágico. Ao chegar em Blackwyche Village, Sabreman descobre que o selo se rompeu e o amuleto, fragmentado em oito pedaços, se espalhou por diversas partes do mundo. O temível lobo ataca o vilarejo, levando pessoas ou objetos consigo.

A premissa é bastante simples: devemos chegar até a toca do lobo, recuperar o item em sua posse e corrermos para chegar sãos e salvos ao acampamento enquanto a criatura nos persegue. O que torna este jogo especial é a dinâmica como isso ocorre.

Versão do Game Boy Advance

O caminho até o lobo não é fácil. Obstáculos, inimigos, bombas, fogo, armadilhas, abismos, há de tudo no caminho de nosso herói. Para ajudá-lo, algumas criaturas mágicas nos acompanham na… mochila. Tais criaturas podem ser usadas uma única vez por fase, portanto se fizermos um mal uso dessas, teremos que reiniciar a fase. Completando o caminho, chegamos até o lobo, que está dormindo em frente ao objeto.

Ao pegarmos o item da fase, a criatura uiva. Neste momento elementos como armadilhas e inimigos que compunham as fases desaparecem, tornam-se moedas. Nosso desafio agora é correr da criatura como um speedrunner para chegarmos à nossa tenda. Cuidado, pois ao saltar de alturas mais elevadas o personagem desequilibra e fica por um tempo no solo até se recompor, tempo esse suficiente para sermos alcançados pela fera.

O jogo não possui uma curva de dificuldade muito acentuada. As primeiras missões são bem básicas e complicam-se de acordo com o avançar, mas nada muito problemático. E é justamente este o tom geral do jogo. É uma aventura curta, terminei com cerca de seis horas e a maior dificuldade que tive foi trocar as pilhas do GBA.

O retorno definitivo?

Por mais divertido e até inusitado que fosse, Sabre Wulf não conseguiu ser o retorno que a franquia precisava, vendendo pouco mais de 30 mil unidades e colocando-a novamente em estado de hibernação. Sabreman quase protagonizou outro game - Stampede - para Xbox 360, mas o jogo acabou cancelado. A versão de 1984 de Sabre Wulf pode ser jogada por meio do compilado Rare Replay (XBO), lançado em 2015.

E você? Já conhecia esta saga da Rare? Acredita que teremos uma aventura protagonizada por Sabreman no Xbox Series X, ou que esta saga ficará congelada por um longo inverno?


Revisão: Icaro Sousa
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