Quando falamos em jogos da Rare, escolhemos os grandes destaques e deixamos de lado projetos que não foram tão bem aceitos, como Sneaky Snakes (GB), Conker's Pocket Tale (GB) ou a versão de Perfect Dark para o Game Boy Color. A história de hoje é sobre um destes jogos: mais do que isso, é sobre uma Rare que buscava em seu passado a fórmula do sucesso, tentando não perder sua identidade.
O fim de uma hibernação
O ano era 1984. Um estúdio britânico chamado Ultimate Play the Game lançava Sabre Wulf para o ZX Spectrum, portando-o depois para o Commodore 64 e Amstrad CPC. Anos se passaram e este estúdio se tornou a Rareware que todos conhecemos e amamos.Com a limitação de 48 KB imposta pelo ZX Spectrum, Sabre Wulf originalmente era um jogo labiríntico no qual, além do uso de itens e simplórias estocadas com a espada, orientar-se era um dos principais desafios impostos ao jogador. Apesar do relativo sucesso, a franquia entrou em estado de hibernação, levando duas décadas para voltar à ativa.
Em uma das missões de Banjo-Tooie (N64), resgatamos o Sabreman, que esteve congelado em uma montanha desde o inverno de 1984. Banjo dá uma carona para o velho herói até chegarem em sua velha tenda, onde seus equipamentos o aguardam para uma nova aventura. Imagino que muitos fãs da Rareware de longa data imaginaram que um novo jogo estava por vir, seja para o Game Boy Color, ou quem sabe para o então Project Dolphin, codinome dado Game Cube antes que este fosse revelado ao público.
Reimaginação
Durante a Nintendo SpaceWorld 2001, a Rareware finalmente anuncia Sabre Wulf para o line-up do novo portátil da Nintendo, o promissor Game Boy Advance. O projeto seria uma reimaginação do clássico lançado para o ZX Spectrum, mas acabou sofrendo alguns atrasos.Em 2002, o estúdio britânico foi comprado pela Microsoft. A partir de então, diversas dúvidas surgiram sobre se os jogadores de consoles da Nintendo voltariam a ver os jogos da agora oficialmente denominada Rare em suas plataformas. Só em 2004 a THQ conseguiu um acordo para publicar jogos da Rare no portátil da Nintendo, e assim Sabre Wulf mais uma vez foi descongelado, chegando ao mercado em 17 de março daquele ano.
Na parte técnica, o jogo se sai muito bem. O remake para o 32-bit da Nintendo abandonou a perspectiva aérea e optou pela vista lateral. Para a repaginada estética, substituíram os fundos negros e os elementos monocromáticos por coloridas imagens pré-renderizadas, das quais trouxeram muitos elementos visuais e efeitos sonoros reciclados da série Donkey Kong Country (SNES), inclusive o esquema de seleção de fases lembra muito a aventura dos gorilas. Como aspecto negativo temos a herança negativa deste estilo de gráfico: cenários estáticos e sem vida.
A trilha sonora é agradável, mas não espere nada muito marcante. As “vozes” dos NPCs são repetitivas onomatopeias à la Banjo-Kazooie (N64).
Versão do ZX Spectrum |
Que aventura é esta?
A verdade é que não é fácil explicar Sabre Wulf em palavras. Mesmo depois de duas horas jogando, eu não sabia bem definir o que era aquele jogo. Eu o classificaria em algo entre Mario vs. Donkey Kong (GBA) e Pepsiman (PS1).Quem dá nome ao jogo é Sabrewulf (sem espaço mesmo), uma aterrorizante criatura mitológica que foi aprisionada dentro de uma estátua por um amuleto mágico. Ao chegar em Blackwyche Village, Sabreman descobre que o selo se rompeu e o amuleto, fragmentado em oito pedaços, se espalhou por diversas partes do mundo. O temível lobo ataca o vilarejo, levando pessoas ou objetos consigo.
A premissa é bastante simples: devemos chegar até a toca do lobo, recuperar o item em sua posse e corrermos para chegar sãos e salvos ao acampamento enquanto a criatura nos persegue. O que torna este jogo especial é a dinâmica como isso ocorre.
Versão do Game Boy Advance |
O caminho até o lobo não é fácil. Obstáculos, inimigos, bombas, fogo, armadilhas, abismos, há de tudo no caminho de nosso herói. Para ajudá-lo, algumas criaturas mágicas nos acompanham na… mochila. Tais criaturas podem ser usadas uma única vez por fase, portanto se fizermos um mal uso dessas, teremos que reiniciar a fase. Completando o caminho, chegamos até o lobo, que está dormindo em frente ao objeto.
Ao pegarmos o item da fase, a criatura uiva. Neste momento elementos como armadilhas e inimigos que compunham as fases desaparecem, tornam-se moedas. Nosso desafio agora é correr da criatura como um speedrunner para chegarmos à nossa tenda. Cuidado, pois ao saltar de alturas mais elevadas o personagem desequilibra e fica por um tempo no solo até se recompor, tempo esse suficiente para sermos alcançados pela fera.
O jogo não possui uma curva de dificuldade muito acentuada. As primeiras missões são bem básicas e complicam-se de acordo com o avançar, mas nada muito problemático. E é justamente este o tom geral do jogo. É uma aventura curta, terminei com cerca de seis horas e a maior dificuldade que tive foi trocar as pilhas do GBA.
O retorno definitivo?
Por mais divertido e até inusitado que fosse, Sabre Wulf não conseguiu ser o retorno que a franquia precisava, vendendo pouco mais de 30 mil unidades e colocando-a novamente em estado de hibernação. Sabreman quase protagonizou outro game - Stampede - para Xbox 360, mas o jogo acabou cancelado. A versão de 1984 de Sabre Wulf pode ser jogada por meio do compilado Rare Replay (XBO), lançado em 2015.E você? Já conhecia esta saga da Rare? Acredita que teremos uma aventura protagonizada por Sabreman no Xbox Series X, ou que esta saga ficará congelada por um longo inverno?
Revisão: Icaro Sousa