Portanto, não é de se espantar que, aos poucos, títulos com características mais de nicho também ganhem conversões para o híbrido da Nintendo. É o caso de Megadimension Neptunia VII, JRPG das desenvolvedoras Idea Factory e Compile Heart originalmente lançado no ocidente em 2016 para PC e PS4, e que recentemente estreou no Switch. Mas será que a aventura estrelada por Neptune se sustenta ou é daquelas experiências que quanto antes forem esquecidas, melhor? Viajemos, portanto, para Gamindustri em busca dessa e de mais respostas para nossa análise.
O poder das dimensões
Caso você não possua familiaridade com a franquia, não se preocupe: apesar do “sete” em algarismos romanos no seu título, Megadimension Neptunia VII é o quarto título principal da saga Hyperdimension Neptunia, que estreou no PlayStation 3 em 2010. De modo geral, a série gira em torno de quatro jovens CPUs — Neptune, Noire, Blanc e Vert —, e cada uma das donzelas pode ser vista como uma espécie de representação física dos consoles de videogames. A protagonista Neptune, por exemplo, é uma referência ao Sega Neptune, console que seria uma junção do Sega 32X com o Mega Drive, mas que infelizmente nunca chegou a ser lançado.
No universo da saga e em Megadimension Neptunia VII, as aventuras se passam em Gamindustri, um mundo que existe fora da nossa realidade, onde as CPUs protegem e comandam quatro nações distintas, com seus próprios habitantes e fãs. Neptune, também conhecida como a poderosa CPU Purple Heart, é responsável por Planeptune; Noire, por sua vez, é responsável por Lastation (PlayStation); Blanc, por Lowee (Wii); e Vert, por Leanbox (Xbox). Há também as candidatas a CPUs, como Nepgear e Uni, que representam consoles portáteis (Game Gear e PSP, respectivamente) e estão sempre próximas de suas irmãs maiores.
Como já pode ser deduzido, a inspiração na indústria e na cultura dos videogames é um dos pontos altos da série, e ao longo dos títulos é possível ver inúmeras referências a diversos aspectos das mesmas, o que certamente arrancará sorrisos dos entusiastas ferrenhos de jogos eletrônicos; é possível encontrar uma jornalista chamada Famitsu, por exemplo.
A calma antes da tempestade
Em Megadimension Neptunia VII, após um período de calmaria, a Gamindustri se aproxima do CPU Shift Period, uma temporada na qual os habitantes começam a buscar novas CPUs para seguir, e rumores que podem afetar a reputação das candidatas começam a circular em grande volume nos meios de comunicação (soa familiar?).
Durante um passeio trivial em meio a tudo isso, Neptune encontra um console de videogame estranhamente parecido com o Sega Dreamcast, do qual parecem sair pedidos de socorro. Intrigada com o fato, a jovem CPU leva o objeto para análise de sua irmã geek Nepgear. Após uma breve inspeção, as duas são sugadas para dentro do console e terminam aterrissando na Dimensão Zero, o que dá início ao primeiro arco da história (são três ao todo) e ao jogo em si.
Na prática, Megadimension Neptunia VII é um RPG de turnos com elementos do gênero dungeon crawler. Isso significa que, quando você não estiver lendo conversas e mais conversas, provavelmente estará em combate ou explorando as dungeons do jogo. Nesse ponto, a primeira impressão do gameplay infelizmente não é nada positiva por um aspecto técnico; já no primeiro estágio, é possível ver flutuações bem consideráveis na taxa de quadros assim que você assume o controle de Neptune.
É um problema que infelizmente se revela constante ao longo da experiência, e que é agravado pelo fato do título da Idea Factory não ser nenhum primor técnico. As texturas e cenários das dungeons (onde ocorrem as quedas) não são muito distantes do que veríamos em um jogo de Nintendo 3DS, por exemplo.
Na verdade, sendo bem honesto, ao iniciar o título, tive a impressão de que este era um jogo originalmente lançado para PlayStation Vita e que havia recebido um mero upscaling para os consoles mais potentes. Somente ao pesquisar confirmei que nunca houve uma versão para o falecido portátil da Sony. Surpreendente.
Como nem só de exploração e navegação por cenários 3D vive um RPG, sigamos para o combate. Este pode ser iniciado em certos espaços do mapa ou ao esbarrar em um inimigo nas fases. Uma vez em batalha, cada personagem (pode-se controlar até quatro por vez) terá um turno para realizar uma ação, como atacar, usar um item ou se defender. Como em quase todo jogo do gênero, os níveis, equipamentos e stats gerais das CPUs possuem grande importância e podem significar a diferença entre uma derrota e a vitória.
Também é possível se movimentar pela arena, e aqui já é possível notar algumas particularidades do título: como há um limite de movimento por turno para cada personagem, incluindo os inimigos, é importante buscar uma posição favorável para defesa ou ataque a cada rodada.
Sobre a parte ofensiva, há os ataques comuns, que podem ser ampliados em combos a depender da arma utilizada; e os especiais (Skills), que requerem SP para serem usados. Além disso, há duas variantes das Skills (Formation e Coupling) que necessitam de condições especiais e da barra EXE (barra especial que é preenchida ao longo do embate) para serem ativadas.
Embora esta parte do jogo não seja perfeita — na maioria dos casos, a solução mais rápida e eficaz é abusar das Skills de cada personagem — , ela é sem dúvidas um dos pontos fortes de Megadimension Neptunia VII. É bem satisfatório encaixar combos e derrubar inimigos, e os confrontos contra chefes são especialmente divertidos por serem mais longos e difíceis. Alguns dos embates contam inclusive com aquela pomposidade característica de um bom anime que, confesso, conseguiu me prender à tela do Switch.
A partir de um certo ponto na história, algumas CPUs também adquirem a habilidade de realizar uma transformação temporária chamada HDD, mediante o consumo de uma barra EXE. Nesse estado, a aparência das jovens é alterada, os stats sofrem uma leve melhora, e algumas Skills têm seu poder aumentado. É outro recurso que pode ou não ser utilizado, mas considerando que algumas das batalhas podem ser levemente desafiadoras (nada em excesso), é uma opção bem-vinda.
Dinâmica de grupo
Tendo em vista que o sistema de combate, ponto-chave de qualquer RPG, é divertido, Megadimension Neptunia VII deveria ser amplamente recomendado, correto? Não exatamente: talvez você se recorde que no início do texto eu citei a leitura de “conversas e mais conversas”. A dura verdade é que neste título você ficará muito mais tempo lendo os diálogos das protagonistas do que em batalha ou explorando propriamente uma dungeon.
Logicamente, isso não seria um problema tão grande caso o roteiro ou as interações fossem significativas, mas infelizmente, na maior parte do tempo não é o caso aqui. Embora personagens como a CPU Uzume Tennouboshi e o peixe Umio sejam interessantes e proporcionem bons momentos, tais ocasiões não são muito comuns. Com frequência me peguei apertando rapidamente o botão “A” e apenas lendo superficialmente o que aparecia na tela para poder avançar logo, o que não é bom sinal em nenhum jogo, especialmente em um RPG japonês.
É aí que entra o problema do fan service. De um certo modo, Megadimension Neptunia VII conhece seu público, apreciador das belas CPUs, e quer agradá-lo. É fácil perceber que os diálogos são prolongados com o intuito de esticar a estadia das moças na tela e incentivar uma conexão entre elas e o jogador. Logicamente, é um artifício que não funcionará com todos os espectadores, e, como resultado, o ritmo do título sofre muito por isso.
Para piorar a situação, alguns dos diálogos possuem áudio e outros não. Ainda que a maioria possua, é estranho quando acontece a interrupção, e parece não ter havido um critério para determiná-la. Nas primeiras horas de jogo eu achei que os diálogos da primeira base do jogo não haviam sido gravados; com o tempo, vi que na verdade não há um padrão. Infelizmente, é um recurso que parece inacabado e que acaba por prejudicar a imagem do game.
Tudo isso é uma pena, pois desconsiderando os problemas como a trilha sonora repetitiva, que precisa ser citada, a aventura de Neptune possui qualidades. Devido aos três arcos distintos, há muito conteúdo para ser explorado, incluindo finais diferentes para serem desbloqueados e o tradicional New Game Plus.
Além disso, as protagonistas em sua maioria são carismáticas, o combate é agradável, e há uma série de referências à indústria de videogames e momentos interessantes de quebra da quarta parede. A impressão que fica é de que há um potencial não realizado na série. Quem sabe em um próximo título?
O fim da jornada
Como dito, Megadimension Neptunia VII conhece seu próprio público e quer agradá-lo. É uma pena, portanto, que no decorrer deste processo a experiência em geral seja prejudicada. Desconsiderando os problemas técnicos da conversão pro Switch e as camadas por vezes desnecessárias de fan service, há aqui um JRPG divertido e com bastante conteúdo, que embora não pertença ao grande escalão do gênero, pode surpreender os entusiastas.
Olhando as telas do jogo, já é praticamente possível perceber se Megadimension Neptunia VII é para você ou não; nesse ponto, as falhas do título, apesar de muito perceptíveis, podem ser toleradas com uma certa dose de paciência e boa vontade. Resta a torcida para que os próximos jogos da série se permitam levar-se a sério e alçar voos mais altos, pois é bem nítido que há um certo potencial aqui.
Prós
- Três arcos narrativos com bastante conteúdo;
- Sistema de combate divertido;
- Personagens como Uzume se destacam por seu carisma;
- Boss Battles envolventes.
Contras
- Excesso de diálogos, muitos deles insignificantes;
- Problemas no ritmo e na condução do jogo;
- Taxa de quadros instável nas dungeons;
- Sem suporte a português brasileiro.
Megadimension Neptunia VII - Switch/PC/PS4 - Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Idea Factory International
Análise produzida com cópia digital cedida pela Idea Factory International