Análise: Banner of the Maid (Switch) leva estratégia em turnos ao século XVIII com sucesso

Título de estratégia da desenvolvedora independente chinesa Azure Flame Studio é recomendado por sua história criativa baseada na Revolução Francesa e por seu sistema de combate divertido.

em 31/08/2020
Um dos meus jogos favoritos de todos os tempos é Fire Emblem: Awakening (3DS). Na época, a excelente aventura estrelada por Robin e Chrom me cativou por diversos aspectos, representando um dos meus primeiros contatos com os chamados SRPGs (abreviação para Strategy RPGs, ou RPGs com foco na estratégia), que viriam, ao decorrer dos anos seguintes, tornar-se um dos meus estilos prediletos.


Por isso, quando soube de Banner of the Maid e sua proposta intrigante de mesclar estratégia em turnos a la Fire Emblem com uma releitura fictícia dos acontecimentos da Revolução Francesa, fiquei bastante interessado. Originalmente lançado para PC no ano passado — onde recebeu muitas avaliações positivas, diga-se de passagem — este indie da desenvolvedora chinesa Azure Flame Studio finalmente chega ao Nintendo Switch. Mas será que a espera valeu a pena? Reúna seus suprimentos, prepare suas tropas e confira conosco em nossa análise.

Diário de uma combatente

Em Banner of the Maid, assumimos o controle de Pauline Bonaparte, irmã do gênio militar Napoleão Bonaparte, em uma França que ainda está se adaptando e se estruturando frente aos marcantes acontecimentos da Revolução Francesa e das guerras externas comuns à época. Formada na tradicional École Militaire, a jovem obtém grande destaque nos confrontos de Toulon, e, apesar de sua pouca idade, passa a ser bem-vista no campo de batalha por sua capacidade de inspirar seus companheiros e liderá-los em combate.

Com o tempo, descobrimos que na verdade Pauline é uma Maid, que no universo do jogo são mulheres com dons e habilidades especiais, capazes de mudar o desfecho de uma batalha. Como você possivelmente já percebeu, o enredo de Banner of the Maid não é fiel à história em si — na vida real, Pauline foi princesa de Guastalla e princesa consorte de Sulmona e Rossano, e não há registros de seus envolvimentos com ações militares de nenhum tipo: rumores da época apontavam até que ela possuía saúde frágil e sofria constantemente com isso.

Porém, ao contrário do que pode parecer em um primeiro e rápido olhar, essa “infidelidade” não traz nenhum tipo de problema à narrativa. É possível, inclusive, afirmar com propriedade que a liberdade criativa empregada aqui é um dos pontos altos do título. É bem interessante ver como foram retratados personagens históricos e importantes para a civilização ocidental, como Robespierre, Luís XVI e o conde de Mirabeau. O modo como estes são introduzidos na história também nunca é incômodo ou artificial, o que é sempre um grande mérito.

Em certos diálogos, há espaço, inclusive, para questionamentos sobre as guerras em si. Por mais capacitada que seja, Pauline divaga constantemente sobre as responsabilidades que pairam sobre os líderes, as possíveis baixas em confrontos, e sobre os problemas que surgem quando se está no campo de batalha. Felizmente, assim como no caso dos personagens, nada é forçado ou prolongado em excesso nestas interações, o que faz com que o ritmo do jogo encontre um balanço importantíssimo entre os momentos de narrativa (que se dá como em uma visual novel) e de combate — o que é sempre mais difícil do que parece e muito bem-vindo para a experiência em geral.

A arte da guerra

Ao iniciar um confronto, uma das primeiras coisas que é possível notar são os belos gráficos influenciados pela pixel-art, complementando o visual de anime empregado nas seções narrativas. Como um jogador que cresceu com um Super Nintendo e posteriormente um Game Boy Advance, e guarda com carinho nostalgia dos títulos da época, ver esta estética bem realizada nos dias atuais muito me agrada, e felizmente é o caso aqui. Cada um dos comandados — o exército de Pauline vai se ampliando conforme se progride na história — possui animações e características próprias e os cenários em si, apesar de pequenos (mais sobre isto em breve), são bem coloridos e detalhados.

Na prática, Banner of the Maid segue fielmente a cartilha dos jogos de seu gênero: em cada cenário e a cada turno (alternam-se player phase e enemy phase), você deverá posicionar e gerenciar seus personagens no campo de batalha, enquanto busca eliminar as tropas inimigas. Assim como no caso de suas influências, a movimentação aqui é feita baseada em grids ou quadrados, e certas classes possuem vantagens sobre as outras, como liberdade de movimentação ou dano bruto em combate, de modo que é preciso uma administração correta e atenta para o sucesso. Outros fatores, como o terreno e o clima (que pode mudar durante o embate), também possuem influência.

Com frequência, a satisfação neste estilo de jogo vem da capacidade do jogador de perceber soluções e aplicar estratégias em um campo de batalha que muitas vezes não estará diretamente ao seu favor, seja pelo número de inimigos ou pelo posicionamento deles. Banner of the Maid permite isso com facilidade, com situações e cenários divertidos e que progressivamente se apresentam mais difíceis e desafiadores, até alcançarem aquele ponto especial em que é necessário pensar com cautela antes de agir.

Algo interessante (e que pode ser determinante para alguns jogadores, necessitando ser citado) é que aqui não há permadeath, a chamada morte permanente de personagens. Quando um comandado cai em batalha, ele simplesmente “recua”, ficando novamente disponível para seleção no próximo cenário. 

Embora este fato tire um pouco do peso das escolhas de personagem e possibilite táticas suicidas em determinados pontos (minando um pouco da estratégia envolvida), ainda assim uma tela de game over não é algo muito difícil de ocorrer, especialmente porque com a progressão, alguns dos cenários também passam a exigirem objetivos extras, como proteger um personagem específico ou derrotar o adversário em um máximo de 12 ou 13 turnos (nada de ficar parado atraindo ou esperando o inimigo). 

No geral, nada aqui é injusto com o jogador, mas caso o desafio não seja exatamente a sua praia, fique tranquilo: Banner of the Maid oferece inicialmente três opções de dificuldade, incluindo uma delas para o público que deseja focar na história. Por outro lado, para os mais hardcore, há a possibilidade do General Mode, que limita a quantidade de saves em uma batalha e reduz a quantidade de fundos e a reputação disponível no início do jogo.

Escolhas, escolhas...

Como em todo bom RPG, com os confrontos vencidos, os personagens acumulam experiência e níveis, que significam atributos e habilidades melhores. Dominar o conhecimento destas últimas também é necessário para o sucesso: cada classe possui um rol de habilidades únicas, que acabam sendo necessárias em certas ocasiões. Pauline, por exemplo, é inicialmente uma fuzileira, o que significa que unidades de infantaria que estejam próximas a ela recebem +1 de ataque e defesa. Já Aimée, musicista e suporte, concede +10 de chance de acerto e de esquiva aos aliados em até dois espaços de distância.

Em minha experiência, acabei usando bastante os personagens das classes de fuzileiro e artilharia, devido a sua possibilidade de atacar de longe em relativa segurança, mas todas são viáveis para combate ou apoio, compensando investir nos combatentes de modo equilibrado. Também é possível adquirir itens e armas e equipá-los individualmente para obter uma leve melhora nos stats. Como personagens que estejam próximos podem trocar artefatos em seus inventários, há mais uma camada de estratégia possível no jogo. Pertencendo a uma classe de suporte, por exemplo, é recomendado que Aimée carregue itens de cura para poder passar a um aliado em eventual necessidade.

Adicionando aos elementos de RPG, no decorrer da história, Pauline lidará com diversos grupos únicos, como a realeza, os jacobinos e os cidadãos parisienses. Certas escolhas feitas durante os diálogos e certas sidequests concluídas ampliarão a reputação da jovem com esses grupos, que em troca oferecerão benefícios como dicas antes de um combate ou mais itens à venda em suas bases.

É um sistema que, na prática, não interfere tanto no jogo, mas que acaba configurando uma oportunidade extra de passar mais tempo (e ganhar fundos e níveis) no universo de Banner of the Maid. Tendo em vista que o sistema de combate é divertido e os personagens e suas interações são carismáticas, você provavelmente optará por fazer essas atividades secundárias livremente, o que é mais um ponto na lista de aspectos positivos do título.

A trilha sonora regada a violinos e o design dos menus e interface também merecem destaque, remetendo à época e as inspirações europeias com sucesso. Além disso, as faixas musicais aqui presentes promovem a ambientação necessária tanto para os momentos mais tensos como para a calmaria habitual que se dá entre capítulos, configurando uma boa playlist para quando a jogatina se encerra. 

É preciso ressaltar ainda que não há nenhum tipo de problema técnico na conversão para o Switch, tanto na qualidade da imagem quanto na estabilidade da taxa de quadros, e este é um gênero que se adapta especialmente bem em sessões portáteis, fazendo desta uma adaptação muito bem-vinda devido à flexibilidade do console da Nintendo.

Trajetória e chegada

Então, tendo estabelecido tudo isto, e passando as considerações a limpo, é fácil perceber que os (poucos) aspectos negativos de Banner of the Maid na verdade derivam mais de suas limitações enquanto um jogo independente, sem grande orçamento, do que propriamente do que ele se presta a realizar. O que a desenvolvedora Azure Flame Studio propõe, que é entregar um SRPG de qualidade, é alcançado com facilidade e até mesmo — ouso dizer — maestria, em se tratando do primeiro lançamento do estúdio.

Analisando o contexto geral, os mapas da aventura poderiam ser maiores e mais variados, as interações de Pauline com os grupos políticos poderiam ser um pouco mais significativas para a história, opções multiplayer poderiam ter sido incluídas, e um sistema de riscos mais completo como o de permadeath poderia ser implementado. Além disso, as poucas falas dubladas em chinês destoam e podem causar certa estranheza devido à temática europeia da narrativa. Novamente, porém, são aspectos que esbarram nos custos que uma localização completa envolve.

Entretanto, a lista de acertos aqui é deveras maior que a dos erros, e, por isso, não há muito mais o que acrescentar: Banner of the Maid merece a recomendação como um dos melhores RPGs táticos e jogos independentes no Nintendo Switch. Caso você seja fã do gênero e procure uma experiência nova, mas que faça jus às influências que carrega, aqui está um título que merece uma oportunidade. Fica, então, a torcida para que uma eventual sequência amplie e realize ainda mais o potencial da franquia.

Prós

  • Sistema de combate divertido;
  • Estética agradável que mescla anime e pixel-art;
  • Narrativa interessante apoiada livremente na Revolução Francesa;
  • Personagens carismáticos;
  • Opções de dificuldade ampliam a acessibilidade.

Contras

  • Mapas pequenos em comparação com outros títulos do gênero;
  • Ausência de permadeath permite táticas suicidas;
  • Escolhas e interações fora de combate poderiam ser mais significantes;
  • Sem opções multiplayer;
  • Sem suporte a português brasileiro.
  Banner of the Maid - Switch/PC/PS4 - Nota: 8.5 
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Felipe Fina Franco
Análise produzida com cópia digital gentilmente cedida pela CE-ASIA
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