Análise: Skully é um nostálgico platformer que merecia um melhor polimento no Nintendo Switch

Apesar de mostrar um grande potencial da Finish Line Games, o título peca em muitos aspectos ao ser portado para um console não tão potente.

em 17/08/2020
Há cerca de três meses, a publicadora Modus Games anunciou o novo título da Finish Line Games, chamado de Skully (Switch). Nele, você assumirá o controle de uma simpática esfera de argila com a nobre missão de reunir as quatro divindades elementais que estão em uma briga sem fim. Para isso, será necessário rolar e pular por várias plataformas pela Ilha da Vida.


Esse é um jogo divertido e desafiador, assim como os originais do gênero eram nas gerações passadas. Porém, a falta de cuidado da desenvolvedora com seu lançamento no Switch pode ter colocado tudo a perder e acabou deixando de fora o brilho que a bolinha de argila merecia no console híbrido.

Um jogo de plataforma com raízes

Skully é mais um título que não se preocupa muito em amarrar todos os pontos de sua história. Você começa como uma simpática caveira emergindo das águas do mar na praia de Terry, uma divindade do elemento terra há muito enfraquecida. Na intenção de se reconciliar com seus outros três irmãos e recuperar a paz na Ilha da Vida, ele te reanima usando uma argila mágica e tudo começa: você é capaz de rolar e pular por aí como o mensageiro do deus da terra.

Nem tudo é apresentado diretamente no início, pois o jogo trata de revelar as informações aos poucos em cutscenes animadas com a técnica stopmotion, acompanhadas de uma excelente dublagem. Apesar do objetivo sério, há um tom de humor e descontração nas conversas, remetendo aos desenhos animados e tornando o título acessível a todas as faixas etárias.

A caveirinha rolante, também chamada de Skully, passa a explorar os diferentes biomas da ilha em um total de 18 estágios, que avançam conforme Terry progride na reconciliação com seus irmãos. Isso não quer dizer que ele conseguirá cumprir sua missão, já que Wanda, Brent e Fiona estão tomados por uma leve raiva, deixando as coisas um pouco mais complicadas. Não é por acaso que o enredo, um tanto morno em seu início, torna-se mais interessante e com algumas reviravoltas quando mais próximo do final. Ainda assim, ele é bem previsível e não se destaca na jogatina.

A diversão aqui fica nas mãos da rolagem da caveira, que se descobre capaz de assumir três outras formas poderosas ao mergulhar nas poças de argila, os checkpoints. As capacidades das formas forte (arremesso e impacto), rápida (corrida e levitação de plataformas) e ágil (pulo duplo e movimentação vertical de plataformas) inserem dinâmicas de puzzle ao longo do jogo de plataforma, exigindo um pouco de pensamento do jogador.

Além disso, o avanço pela ilha exige habilidade com os controles. Seja nas estreitas e retorcidas pontes, nos poços de água e lava ou contra os tentáculos raivosos, você terá que agir rapidamente com os análogicos para superar os desafios mais críticos da aventura. Não será difícil relembrar dos platformers das gerações passadas dos games, que traziam um desafio genuíno e muito divertido em suas experiências.

Há muito potencial, mas falta experiência

A Finish Line não é nova na indústria dos games, mas também não é uma veterana. Por isso, ter demonstrado as tantas qualidades descritas até aqui já mostra um potencial imenso de desenvolvimento de futuros títulos. Afinal, Skully tem muitos pontos positivos e trouxe uma memória nostálgica de jogos de plataforma que eu não sentia há um bom tempo. Porém, os defeitos não podem ficar de lado.

A começar pela linearidade do jogo, que dá zero oportunidades de explorar caminhos alternativos e encontrar bônus, poderes ou colecionáveis. O único desafio adicional, além de vencer a história principal, é coletar todas as flores que você encontra no caminho, similares às moedas. Cada capítulo possui um número determinado dessas flores (que não podem ser coletadas duas vezes) e, ao acumulá-las, você desbloqueia algumas artes conceituais do desenvolvimento. É isso.

As flores gigantes, posicionadas em locais estratégicos, dão uma grande quantidade de flores pequenas.
Portanto, não espere que Skully te dê a determinação de explorar a ilha novamente, pois não há modos de dificuldade adicionais nem motivos para que você realmente seja recompensado. Em alguns lugares há, sim, algumas flores escondidas, mas nada que justifique a repetição das cerca de oito horas de jogatina.

Um outro ponto que divide opiniões é a trilha sonora. Se por um lado os temas são extremamente empolgantes em seus tambores e swings dançantes dignos de uma ilha selvagem, por outro os loops nunca duram mais que trinta segundos e a música logo se torna enjoativa. São poucas faixas únicas, pois elas se repetem ao longo dos capítulos, e você irá eventualmente decorá-las.

Os problemas da vinda para o Switch

Levando em conta todos os aspectos de Skully, o jogo seria, sem dúvidas, uma adição acertada à biblioteca do Nintendo Switch. O problema está na percepção que a experiência passa de não ter sido projetada para o console híbrido. Talvez por pressa ou por uma equipe reduzida para o port, criou-se um abismo de diferença com as versões das máquinas concorrentes, o que é um tanto frustrante.

Um destaque negativo vai para os controles. Não foi possível experimentar o jogo com o Pro Controller, pois mesmo tendo passado das primeiras fases, notei um aumento absurdo de dificuldade na sequência. Era difícil manobrar a esfera pelo excesso de sensibilidade e eu acabava optando pelas formas bípedes para maior estabilidade.

A minha surpresa foi que a troca para os Joy-Con resolveu o problema. Em um primeiro momento, acreditei se tratar de um ajuste de sensibilidade, mas essa opção só está disponível para o movimento da câmera (analógico direito); então, não tive opção senão terminar o jogo com os controles pequenos.

Além disso, conforme se avança pelos diferentes biomas, há gráficos que não parecem corretos em seu contexto. Ao usar o Unreal Engine, o vídeo pode até impressionar nos primeiros estágios, mas logo fica estranho em elementos visuais como as ondas de água e lava. Posteriormente, a observação de imagens do jogo em outras plataformas provou que a qualidade foi reduzida para melhoria do desempenho sem o cuidado adequado para que mantivesse a consistência em todas as plataformas lançadas.

Esse corte na qualidade, mesmo tendo o objetivo de melhorar o desempenho, não é suficiente. Skully sofre para se manter em 30 frames por segundo, o que acaba estragando o prazer de um jogo de plataforma que exige precisão nos movimentos e agilidade para pulos mais complexos. Não raramente você morrerá porque pulou no momento errado devido a uma queda no frame rate.

Skully seria uma recomendação certa de compra se não fossem seus problemas com o desempenho gráfico e ajuste aos diferentes tipos de controle do Switch. Ele é um título que, com suas fases desafiantes e enredo simples, relembra os platformers das gerações passadas. Cabe a nós aguardar um patch de correções que equipare o lançamento ao de outras plataformas, em um port que deveria ter sido lançado com mais cuidado, mesmo que atrasado.

Prós

  • Jogo de plataforma desafiador assim como as referências do gênero;
  • Inúmeros quebra-cabeças e desafios;
  • Bom aproveitamento das mecânicas disponíveis.

Contras

  • Péssimo desempenho no Switch;
  • Ausência de conteúdo adicional;
  • Inconsistência na sensibilidade entre os diferentes tipos de controle;
  • Loops da trilha sonora curtos e repetitivos.
Skully — Switch/PC/PS4/XBO — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Modus Games
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Fã de games desde pequeno, quando começou sua jornada com Mario e Zelda lá no SNES. É formado na área das engenharias e trabalha com desenvolvimento de software.
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