Análise: Linn: Path of Orchards (Switch) – uma experiência estética em formato de puzzle

Um bom título que foca na experiência visual e na mescla entre a plataforma e o puzzle.

em 20/08/2020

Linn: Path of Orchards, jogo desenvolvido pela Fanoos Games e publicado pela CarbonFire Studio, apresenta uma proposta consistente ao propor a junção entre puzzle e  plataforma. Mesmo sem o desenvolvimento de uma perspectiva narrativa, o game prende a atenção por suas mecânicas e estrutura. Explorando a sensibilidade do jogador, a questão estética está em primeiro plano, o que traz resultados muito positivos.

Uma vivência estética

Em geral, costumamos associar a palavra “estética” com a ideia de beleza. Ainda que não esteja de todo errado, esse pensamento limita a perspectiva da estética a um âmbito exclusivo da realidade. Contudo, a palavra grega aisthesis (que traduz “estética”), significa literalmente algo como “percepção pelos sentidos”. Assim, no lugar da percepção da beleza, a experiência estética implica em um desenvolvimento da sensibilidade.

Linn: Path of Orchards encanta de imediato pelos seus gráficos. A sensação inicial é de estar vendo uma versão alternativa de Monument Valley, mas essa impressão se dissipa rapidamente no decorrer do game, principalmente por conta da jogabilidade focada em ações de plataforma. Contudo, pensando na ideia de estética como algo ampliado (e não apenas limitado à beleza), o título em questão (assim como o próprio Monument Valley) aproxima o jogador pela ambientação e estímulo a um novo espaço de sensações, muitas delas mediadas pelo uso da física. De tudo o que o jogo oferece, para mim, isso foi o que mais me encantou. Mas a jogabilidade por si só, também é uma ótima surpresa.


Saber falhar

Como muito jogos desenvolvidos para dispositivos mobile, Linn: Path of Orchards possui uma estrutura de fases rápidas, com objetivos específicos. Basicamente, a ideia é ir de um ponto a outro na tela capturando itens disponíveis. Esse itens são opcionais, sendo possível avançar para a fase seguinte sem coletá-los, pelo menos até certo ponto. Assim, pelo menos no começo da jornada não há tanto com o que se preocupar. Outro elemento que interfere no ranqueamento do jogador é a quantidade de movimentos realizados, o que cria uma sensação curiosa de urgência e precisão em cada ação. E isso acontece porque só podemos saltar duas vezes e utilizar um movimento de dash, o que implica na necessidade de criar estratégias para seguir avançando.

Apesar de tudo isso, é importante se desapegar da ideia de realizar ações certeiras. O erro é nosso amigo e rejogar as fases faz parte da experiência. Mais do que isso, na maneira como esse processo foi pensado, vale destacar que a repetição não soa como algo punitivo.



Outro elemento interessante em Linn: Path of Orchards é o uso da física. As fases são pequenas, mas algumas conseguem ser extremamente complexas, com diversas plataformas se movendo enquanto tentamos saltar para atingir determinados pontos. A sensação de realização ao dar um salto correto é extremamente satisfatória, mas raramente consegui fazer isso nas primeiras tentativas. Um ponto problemático, contudo, é o fato de que o título apresenta todos os seus elementos muito rapidamente, não estimulando o jogador com novas descobertas. Além disso, pensando na transposição para o console (o que é sempre um desafio), o jogo faz bem o seu papel na adaptação para os controles, em que podemos utilizar a tela de toque ou os botões. Mas a sensação, até mesmo pela quantidade limitada de conteúdo, é de um game que está no console por acaso, não oferecendo algo que seja suficiente para essa plataforma.

Um salto de confiança

Linn: Path of Orchards tem muitos méritos e apresenta uma proposta consistente com seu destino original: o ambiente mobile. No Switch o título funciona muito bem, mas traz uma experiência curta. A quantidade de capítulos e fases é bem pequena, e o nível de dificuldade é muito alto em algumas delas. Por isso, é preciso ter a mente aberta para lidar com o erro, e saber aproveitar o caminho sem tanto estresse – ou desejo de colecionar todos os objetivos. No final, o despertar da sensibilidade é o que interessa, e não apenas a realização do trajeto.

Prós

  • Controles bem adaptados para o Switch;
  • Jogo bonito e com boa utilização da física;
  • Fases com quebra-cabeças inteligentes e desafiadores.

Contras

  • Game curto e com pouca variação na jogabilidade;
  • Necessidade de repetição pode desagradar alguns jogadores.
Linn: Path of Orchards — Switch — Nota: 7.5
Análise produzida com cópia digital cedida pela CarbonFire Studio
Revisão: Felipe Fina Franco
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Pesquisador nas áreas de estética e cibercultura com Mestrado em Cultura e Sociedade (UFMA) e Doutorado em Comunicação (UnB). Além de escrever sobre jogos, produz o Podcast Ficções e tem um blog sobre literatura, filosofia e cotidiano.
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