Geralmente, tais jogos eram de baixa qualidade, devido a desenvolvedores terceirizados e um cronograma apertado (normalmente os produtos licenciados deveriam ser lançados juntos com o filme/desenho, como parte de um esforço cross-media); mas vez ou outra era possível encontrar um título que, contra todos os prognósticos negativos, fazia jus ao material de origem e se destacava no mercado.
É o caso de Star Wars Episode I: Racer, que, sem dúvidas, é responsável por boas lembranças de muitos jogadores no Nintendo 64. Lançado originalmente em 1999, o jogo de corrida com pods em planetas da série ganhou recentemente uma versão remasterizada para o Nintendo Switch. Mas será que a aventura ainda se sustenta em 2020, ou é daquelas memórias que não valem a pena serem revisitadas? Continue conosco, caro leitor, enquanto descobrimos em nossa análise.
Em uma galáxia muito distante...
Baseado no segmento de corrida de Star Wars: Episódio I — A Ameaça Fantasma (1999), Star Wars Episode I: Racer permite que o jogador escolha um dos personagens da saga e embarque em corridas intergalácticas — como no filme, o objetivo final aqui é derrotar Sebulba. Cada personagem possui seu próprio veículo, e é possível desbloquear mais corredores e diversos upgrades ao longo da aventura.
Na prática, Star Wars Episode I: Racer é um jogo de corrida arcade, assimilando-se muito ao que é visto em F-Zero ou, mais recentemente, Fast RMX (Switch). Os pods facilmente adquirem velocidades supersônicas quando em movimento (há ainda a possibilidade de usar boost), e reflexos rápidos e domínio das pistas são necessários para prosseguir.
Aqui cabe aquele que é talvez o maior elogio ao jogo: surpreendentemente, mesmo mais de vinte anos após seu lançamento original, Star Wars Episode I: Racer ainda possui uma jogabilidade muito divertida, amplificada pelos estáveis 60 quadros por segundo. A sensação de velocidade ao correr por lugares como Malastare e Ando Prime é real, e, ao jogá-lo novamente, fica fácil perceber o porquê deste título ser lembrado com carinho por tantos fãs. Se o tempo muitas vezes não é bondoso com a jogabilidade de games do início da era 3D, Racer desponta como exceção nesse quesito — um ponto muito positivo para a saudosa desenvolvedora LucasArts.
É preciso também elogiar a adaptação dos controles para o Nintendo Switch, que melhora a experiência como um todo. A função de inclinar a nave fica com o analógico direito (que funciona muito bem nesse papel), e para usar o boost é preciso primeiro empurrar o analógico esquerdo para frente antes de apertar o A. É um esquema simples, mas que lembra muito um manche em ação. Adiciona-se a isso o uso competente do HD Rumble (que bela surpresa!) e temos aqui um jogo muito divertido de controlar, mesmo para os padrões atuais — fãs de Star Wars e de jogos arcade irão se sentir em casa.
Logicamente, é impossível falar de um jogo de corrida sem falar das pistas disponíveis, e nesse ponto Star Wars Episode I: Racer também impressiona. Há 25 localidades distintas com opções razoáveis de atalhos, mas estão inclusas seções variadas, com saltos, obstáculos e curvas agudas que necessitarão de paciência para serem dominadas. A parte musical também merece elogios. Por se tratar de um produto licenciado, Racer teve acesso à trilha sonora do filme de George Lucas, o que significa que você correrá ouvindo trechos de ícones musicais como o seguinte:
Velho novo episódio
Dito tudo isso acima, é uma pena que Star Wars Episode I: Racer não tenha envelhecido tão bem em dois outros aspectos importantes, que precisam ser citados. Sendo esta uma simples remasterização e não um remake (onde todo o jogo é refeito do zero), assim que iniciamos o título, os gráficos e texturas já denunciam a idade do jogo. Em alta velocidade (que corresponde a 85% do tempo de jogo), tais aspectos são menos perceptíveis, e a apresentação não chega ao ponto de atrapalhar a experiência em nenhum momento, mas ainda assim fica a impressão que os produtores poderiam ter realizado algo a mais do que um simples upscaling na questão visual.
Outro ponto que dificilmente seria problema em 1999 mas que, infelizmente, não fica tão bem em 2020, é a questão do conteúdo oferecido aqui. Mesmo com as 25 pistas, há somente quatro modos de jogo em Star Wars Episode I: Racer: Tournament, Free Play, Time Attack e 2 Player. Desses, o carro-chefe é o modo Tournament (torneio), no qual é possível enfrentar a inteligência artificial do jogo em quatro copas — Amateur, Semipro, Galactic e Invitational — de crescente dificuldade.
Embora o modo torneio seja divertido e ofereça um certo senso de progressão ao recompensar os vencedores de cada pista com personagens novos e Truguts (que podem ser usados para comprar melhorias para o pod), é difícil fechar os olhos para o fato de que este pode ser completado inteiramente em um final de semana ou até menos por jogadores dedicados. A partir daí, caso você seja um jogador solitário, restará de novidade somente o Free Play, onde, como o nome indica, é possível escolher o número de voltas e a dificuldade dos oponentes artificiais, e o modo Time Attack, no qual você tentará bater seus próprios recordes.
Até mesmo o modo multiplayer (que poderia ser a estrela do pacote) se resume ao modo local para dois jogadores — uma pena, pois a implementação de um modo online certamente seria muito divertida, e aumentaria bastante o fator replay. Assim como na questão da apresentação gráfica, não é algo que comprometa gravemente a experiência, mas fica a sensação de que, sendo Star Wars Episode I: Racer um título bem-visto pela comunidade, esta remasterização poderia ter ido mais além.
O caminho do sucesso
Star Wars Episode I: Racer, portanto, é um produto de seu tempo. Embora sua jogabilidade se mantenha veloz e divertida mesmo quando comparada a títulos mais atuais, seu conteúdo e sua apresentação gráfica denunciam que este é um jogo do século passado, e a presente remasterização pouco faz para amenizar esse fato. O quanto isso importará, honestamente, é uma questão pessoal de cada jogador. É preciso frisar que esta não é uma adaptação ruim, muito pelo contrário. Graças à portabilidade, a implementação do HD Rumble e a propensão ao multiplayer local, esta versão do Switch pode ser encarada como a versão definitiva de Star Wars Episode 1: Racer, e isso é um grande mérito em si.
Correr em alta velocidade ao som das lendárias peças musicais de John Williams é algo que certamente agradará aos novos e nem tão novos fãs de Star Wars e jogos arcade, mas é difícil não olhar para esta remasterização e pensar que ela poderia ter ido além, ao menos na questão das texturas e na implementação de um modo multiplayer online. Não obstante, esta versão para o Switch ainda é recomendada — como dito, analisada por seus próprios méritos é a versão definitiva do título —, e quem sabe não recebamos um outro remake ou sequência em um futuro próximo? Até lá, temos aqui uma bela oportunidade de retirar a poeira de nossos pods.
Prós
- Jogabilidade divertida, mesmo para os padrões atuais;
- Pistas variadas requerem prática até o completo domínio;
- Trilha sonora licenciada;
- HD Rumble, portabilidade e upscaling fazem desta a versão definitiva do jogo.
Contras
- Pouco conteúdo;
- Ausência de multiplayer online;
- Texturas e elementos gráficos denunciam a idade do jogo;
- Remasterização poderia ser mais ambiciosa.
Star Wars Episode I: Racer — Switch/PC/PS4 — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: José Carlos Alves
Análise produzida com cópia digital gentilmente cedida pela Aspyr
Análise produzida com cópia digital gentilmente cedida pela Aspyr