Uma reflexão sobre protagonismo e representação com a chegada de Min Min em Super Smash Bros. Ultimate (Switch)

Como a criatividade e relevância de um personagem que não protagoniza uma obra pode torná-lo mais marcante do que os próprios protagonistas.

em 11/07/2020

Quando a Nintendo revelou que o primeiro personagem do Fighters Pass #2 de Super Smash Bros. Ultimate (Switch) seria alguém de ARMS (Switch), várias teorias surgiram tentando adivinhar qual (ou quais) dos lutadores elásticos entraria para o elenco de Ultimate. No fim das contas, Min Min foi a escolhida. Mas por quê?


Entre um grupo de 15 personagens jogáveis, qual seria o motivo da lutadora de braços de macarrão ter sido selecionada? Aqueles que aparecem em maioria das artes promocionais de ARMS, Spring Man e Ribbon Girl, não seriam opções mais populares? Ou então ter reproduzido a aparência de mais lutadores como skins alternativas, ao estilo Bowser Jr. e Koopalings?

A flexibilidade dos protagonistas

Quando pensamos nos protagonistas do game ARMS, os primeiros que vem à cabeça são Spring Man e Ribbon Girl. Eles foram os primeiros personagens apresentados, são os únicos presentes na imagem de capa do jogo e representam perfeitamente aquele estilo de lutadores equilibrados com habilidades simples. Pensando assim, eles seriam a(s) melhor(es) escolha(s) para entrar em Super Smash Bros. Ultimate. Mas o que impediu isso?



Vamos começar pelo Spring Man, que já estava presente em Ultimate desde o lançamento do jogo como Assist Trophy, item que permite invocar um aliado na batalha por um curto período de tempo. Caso ele fosse selecionado para integrar o elenco de jogáveis, como ficaria a sua participação nos itens? Iriam aparecer dois lutadores, sendo um controlável e o outro não? Como sua habilidade de ganhar poder enquanto estiver com pouca vida, de ARMS seria adaptada para o game?

Essa chuva de dúvidas e complicações diminuiu as esperanças do público de que Spring Man seria selecionado, o que gerou um certo destaque para sua sucessora na lista de lutadores: Ribbon Girl. Afinal, o que poderia dar errado em jogar como uma estrela do pop bem carismática e com um estilo de combate predominantemente aéreo? Se pararmos pra pensar na hipótese, a princípio não haveria problemas nessa opção, mas a questão é um pouco mais profunda.

A criatividade dos outros

A partir do momento em que se desconstrói o padrão de selecionar o(a) protagonista de uma série como representante desta em Super Smash Bros. (não somente no Ultimate), surge uma nova necessidade: encontrar alguém que consiga representar o game em questão da melhor maneira possível. E para isso acontecer, é preciso que o(a) selecionado(a) tenha um aspecto essencial que, honestamente, faz falta na Ribbon Girl: criatividade.

Ao conferir o menu de personagens jogáveis de ARMS é perceptível que há outros lutadores com personalidades e habilidades mais icônicas. E é justamente por isso que a ideia de vários personagens representados como trajes alternativos de um só lutador, tal como acontece com Bowser Jr. e os Koopalings ou com as quatro versões jogáveis do Hero de Dragon Quest, seria uma ideia difícil de se executar. Apesar de dividir a mesma elasticidade nos braços, os personagens possuem mecânicas de jogo muito diferentes, e isso dificultaria na criação de uma jogabilidade padrão para um lutador de Smash.



Dessa forma, chegamos em outra etapa do processo de escolha: definir qual dos 15 personagens é a opção mais marcante. Com base em fóruns de discussão e debates no Twitter, os principais palpites do público eram: Ninjara, Min Min, Twintelle e Dr. Coyle. Como já sabemos o resultado final, vale deixar aqui uma possível justificativa do porquê os outros personagens não foram selecionados apesar de serem tão criativos quanto Min Min.

Começando pela elegante Twintelle, pode-se dizer que seria irônico demais representar uma série cujo foco são os braços elásticos dos lutadores com uma personagem que não possui tal característica, visto que sua elasticidade está localizada no cabelo. 

Já Dr. Coyle ganhou mais notoriedade por conta de seu papel como antagonista de ARMS, algo que até faz sentido dado o número de vilões presentes na série Super Smash Bros.. O problema é que todos eles se tornaram jogáveis após um protagonista de sua série já ocupar a posição de representante desta. Isso poderia deixar a participação da cientista no game um pouco confusa, principalmente para jogadores que não conhecem seu jogo original.



E por fim o habilidoso Ninjara, que seria uma ótima adição para Ultimate com suas habilidades de teleporte e excelente potencial de contra-ataque. Tanto que Sakurai disse que estava indeciso entre ele e Min Min, e o critério de desempate entre os dois foi a opinião do próprio criador de ARMS, o qual relatou que adoraria ver a lutadora em Super Smash Bros. Ultimate. Mesmo assim, Ninjara não ficou completamente de fora do jogo, recebendo um traje para Mii Brawler em sua homenagem no mesmo patch de lançamento em que Min Min foi lançada.

A representação de Min Min

Agora que já discutimos sobre os motivos de todos os outros personagens não terem sido escolhidos, vale questionar: por que a Min Min? Basicamente por dois fatores: jogabilidade criativa e representatividade sociocultural. O primeiro aspecto é justificado a partir de sua habilidade excêntrica de transformar seu braço esquerdo em um dragão quando carrega um ataque ou finaliza com sucesso um agarrão em ARMS. Este braço dracônico foi adaptado para Super Smash Bros. Ultimate como uma melhoria no ataque após agarrar um oponente na batalha, e combinou perfeitamente com os outros dois estilos de braços que podem ser alternados a qualquer hora no confronto: Ramram e Megawatt.



O segundo fator envolve o autêntico conceito por trás de Min Min, que possui elementos que remetem à cultura oriental. Os melhores exemplos são seus braços e cabelos de macarrão, simbolizando o tradicional lámen, e a figura do dragão em algumas partes de seu visual, como no braço esquerdo e nos sapatos. A lutadora também é uma adição ao curto elenco feminino da série, além de ser a primeira personagem mulher a fazer parte de um Fighters Pass em Super Smash Bros. Ultimate. 

A surpreendente escolha por trás de Min Min possibilita reflexões sobre a relevância e autenticidade dos personagens nos jogos. Assim, os palpites do público para os próximos lutadores crescem ainda mais ao reforçar que um(a) protagonista não é necessariamente o(a) melhor representante de uma obra.

Revisão: Vladimir Machado

Estudante de publicidade que saiu do interior de Goiás para viver na cidade grande. Apaixonado por jogos, musicais e animações, passa bastante tempo no Twitter comentando sobre esses assuntos.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.