Agora, vamos relembrando aos poucos todo o potencial do jogo, que originalmente foi lançado para o Super Nintendo em 1994. O seu legado e a memória que foi construída ao longo das décadas acerca deste clássico mostram a sua importância para a série. Pensando nisso, vamos abordar Donkey Kong Country focando em um ponto muito importante do título: a sua rica trilha sonora.
Retorno aos anos 90
O ano é 1994 e a formação de uma legião de fãs é prevista após um grande lançamento no ano de Copa do Mundo. A origem do fenômeno aparenta comprovar ainda mais a sua carga artística, visto que se trata da Inglaterra e suas famosas produções culturais, que são difundidas por todo o planeta. Cercado por batidas marcantes e potentes melodias, surge um novo fenômeno no mundo, e um CD com todo o legado de uma estreia é lançado para a vida e para a história. O mundo definitivamente nunca mais foi o mesmo após tais protagonistas de uma mesma família ganharem fama com suas personalidades estampadas em jornais e tablóides de muitos países ao redor do planeta.
A descrição anterior poderia muito bem ser sobre o lançamento de Definitely Maybe, que chegou às prateleiras no dia 29 de agosto de 1994, com a banda dos irmãos Gallagher, Oasis, marcando a consolidação do BritPop na Inglaterra e modificando a história dos anos 90. Contudo, o fenômeno relatado na verdade foi o surgimento da série Donkey Kong Country e sua apreciada trilha sonora, produzida no mesmo ano e no mesmo país, na pequena cidade de Twyncross, sede da Rareware.
Curiosamente, a trilha composta por Robin Beanland, Eveline Fischer e David Wise também chegou às lojas de CDs, tendo sido lançada com o nome “DK JAMZ”.
Pode parecer exagero comparar duas obras culturais com diferentes naturezas, mas a verdade é que ambas operaram em níveis semelhantes do imaginário dos anos 90, apresentando novos cenários e projetos artísticos para os meios e tecnologias da época. As duas estreias — a da série Donkey Kong Country e a do Oasis — marcaram completamente uma mesma geração. Elas se tornaram referências quando procuramos bons exemplos para jogos e canções feitas naquele período da humanidade. Tanto que, se considerarmos os números do mercado, veremos que superaram a marca dos milhões de vendas, ganhando posições em diversas paradas.
Donkey Kong Country veio a se tornar o terceiro título mais vendido da história do SNES, enquanto Definitely Maybe foi um dos álbuns de estreia mais rapidamente vendidos na história, figurando o topo da parada do Reino Unido e dos Estados Unidos no ano de 1994.
São vários os elogios atribuídos ao primeiro game da saga Donkey Kong Country, que foi lançado no dia 21 de novembro de 1994. A própria capa estampa uma das proezas feitas pelos desenvolvedores: a capacidade de elementos visuais em 3D — mesmo que artificiais — em seu cenário. Mas o que chamou a atenção de muitos foi a qualidade e o tratamento sonoro que o título recebeu em sua produção. As belas composições podem ser ouvidas nos dias de hoje como uma obra ainda atual, além de provocar nostalgia nos jogadores antigos.
A ideia da matéria não é fazer uma análise completa dos temas de Donkey Kong Country, mas sim uma playlist com as músicas mais marcantes do jogo, contando também detalhes da composição de sua soundtrack oficial. O registro será feito pensando em quem nunca jogou e quer saber o que vem por aí, mas também será propício para os jogadores familiarizados com o primeiro título da franquia e que desejam relembrar o que há de melhor na sua trilha sonora.
Origens e detalhes
A obra foi assinada por três compositores britânicos: Robin Beanland, Eveline Fischer e David Wise, em uma parceria fundada nos bastidores da Rare. Conta a história que Wise foi contatado pela empresa em um período em que trabalhava como freelancer. A companhia pediu ao compositor três músicas com temática de selva. Após a produção e sua entrega, a junção das três demos ficou conhecida como DK Island Swing, que é uma das mais importantes faixas do jogo.
A desenvolvedora ficou contente com o resultado e chamou David Wise para participar de maneira definitiva no projeto, mas isso não significa que tudo tenha sido feito somente por ele. A compositora Eveline Fischer foi peça crucial na criação de canções como Simian Segue e Ice Cave Chant; Robin Beanland também teve seu papel, que pode ser ouvido na canção Funky’s Fugue.
A trilha sonora de Donkey Kong Country ficou bem conhecida por sua qualidade, capaz de tirar o melhor da capacidade do áudio do SNES. A base criada nas canções envolve principalmente melodias e percussões, criando verdadeiros sons de ambiência (sim, logo chegaremos em Aquatic Ambience, podem ficar tranquilos). As músicas são criadoras de atmosferas, capazes de imersão em diferentes fases.
Elas conseguiram variar entre sons de diferentes estilos com elementos da natureza, deixando os cenários com uma ambiência própria dos lugares que queriam representar, como selvas, cursos oceânicos, fábricas, minas e cavernas. O trabalho produzido teve incrível recepção e cumpriu seu papel no game.
Ao olharmos para a década de 90 e seus jogos clássicos, principalmente no período anterior ao Nintendo 64, podemos ver que a trilha sonora de Donkey Kong Country realmente se destacou. Naturalmente se tornou uma das soundtracks mais famosas do Super Nintendo, ao lado de Super Mario World e The Legend of Zelda: a Link to the Past.
Portanto, preparem-se para embarcar no Jumbo Barrel de Funky Kong, pois vamos visitar e recordar os grandes momentos da trilha sonora de Donkey Kong Country e seus mais variados mundos. Vamos lá!
Canções marcantes de DK Country
Tema principal
O jogo começa da melhor maneira possível. A canção tema é contagiante, resultado de uma incrível junção de instrumentos. Inicia-se com uma frase instrumental entoada de uma maneira clássica, similar aos sons 8-bits de jogos antigos. Depois, progride para uma animada batida que alterna entre percussão, bateria e sintetizador. No meio é possível ouvir o que aparenta ser a voz de Diddy Kong em apuros, o que é meio preocupante; estaria ele bem?
Ambiência Aquática
Curiosamente, a canção mais lembrada de DKC talvez não seja o tema principal ou a música do primeiro nível, mas sim a faixa responsável por conduzir os níveis aquáticos do jogo. Seja por ela ser tão relaxante ou simplesmente por estar presente em algumas das fases mais complicadas, não se pode negar: Aquatic Ambience é mágica. Ela é um verdadeiro exemplo da imersão proporcionada em alguns momentos. Da vontade de entrar no clima e mergulhar ouvindo a faixa, que passa uma sensação de calmaria, como se realmente estivéssemos boiando e nadando por águas tranquilas.
Balada dos símios
A querida Simian Segue foi a escolhida para embalar as telas de escolha das fases, estando presente em todos os mundos do jogo. O momento stage select foi premiado com um toque suave de piano agradável aos ouvidos. Como vimos anteriormente, essa canção teve traços definidos por Eveline Fischer, uma das compositoras da trilha sonora. A balada é tão cativante que dá vontade de largar o controle para ficar ouvindo a faixa no repeat:
Suingue primata
Uma das comissões de frente de Donkey Kong Country é a canção responsável pelos estágios com a temática da selva, que é conhecida como DK Island Swing. Ela é a faixa do primeiro nível do jogo, Jungle Hijinxs. Ficou muito marcada por sua levada, começando com uma percussão dançante e depois sendo complementada com uma linha de baixo e frases de piano e sintetizador “à la Donkey Kong”.
É legal perceber que ela também é marcada por transições, assim como acontece em algumas fases. Em Jungle Hijinxs, por exemplo, há um momento em que o cenário se torna mais sombrio, como se o anoitecer estivesse chegando, e a faixa faz o mesmo caminho, se tornando mais calma e mostrando sua relação com a experiência de imersão do jogo. É uma verdadeira obra de arte que pode ser testemunhada logo nos primeiros minutos de gameplay.
Explorando cavernas
A lista de canções atmosféricas também está presente nas fases dentro de cavernas, e isso fica claro em Cave Dweller Concert. Embora possa não aparentar ser uma boa faixa pra se ouvir o tempo todo, é interessante perceber sua capacidade de imersão. Podemos escutar gotas pingando no chão, com efeitos de reverberação e eco, passando a sensação de estarmos de fato nas cavernas da DK Island. A canção apresenta até um certo nível de solidão.
Vida nas minas
Um dos toques bacanas da soundtrack é o uso de instrumentos variados. Em Life in the Mines, podemos observar isso sendo executado com flautas, que protagonizam a música. A canção também permite ambiência para os níveis dentro das minas, sendo um pouco mais relaxada que as aterrorizantes fases onde controlamos carrinhos de mina. Contudo, mesmo mais calma, não deixa de demonstrar uma certa tensão.
A agitação da floresta
Forest Frenzy tem a melodia propícia para uma aventura na floresta, podendo ser ouvida em níveis como Vulture Culture. O uso da flauta permite que uma embalada batida agite as fases em questão. É possível notar toques de xilofone, que reforçam a ideia do uso de instrumentos diversos na construção da música. Infelizmente, o cuidado e tensão para não sermos lançados em direção a uma vespa muitas vezes escondem a beleza da faixa.
Cavernas congeladas
Conforme progredimos na DK Island, novos cenários começam a surgir. Um deles envolve terras geladas e cavernas. Ice Cave Chant é animada e permite um momento de relaxamento entre fases tensas do game. Ela não pode ser considerada uma faixa devidamente atmosférica, embora se possa ligar sua melodia de xilofone e teclas a um ar mais “gelado”.
A questão vai além de simplesmente achá-la bacana de se ouvir. Ela aparenta ter sido introduzida no momento certo da aventura, promovendo uma harmonia entre fases difíceis de se encarar.
Fábrica do Medo
Em um ponto já avançado do game, os níveis dentro de fábricas são acompanhadas por uma trilha que certamente marcou muita gente. Fear Factory é animada em um estilo industrial, contando com uma bateria em formato mais eletrônico, percussão, sintetizadores e o que aparenta ser um xilofone. As fases de fábrica certamente são um dos cenários mais legais do jogo e são acompanhadas por uma trilha tão interessante quanto.
Caminhando na prancha
Ah, o que seria de nossas vidas sem King K. Rool? O amado vilão também conta com uma amada trilha sonora. Gang-Plank Galleon é tocada na fase de mesmo nome, que traz a aguardada batalha contra o crocodilo. A canção se compromete em produzir a ambientação de um dos momentos mais aguardados da jornada de Donkey e Diddy, e não só consegue cumprir sua missão, como também vai além, se tornando uma das músicas mais lembradas da série.
O tema começa com um toque pirata e vai progredindo para uma batida mais acelerada, acompanhada por instrumentos como baixo, bateria e sintetizador. Assim como DK Island Swing e Ice Cave Chant, Gang-Plank Galleon também foi escolhida para figurar em Super Smash Bros. Ultimate. King K. Rool não ficou de fora das batalhas e se tornou um dos participantes do jogo de luta. Confira a música tema do crocodilo vilão em sua versão original:
Gravando um clássico
A produção das mais de 20 faixas, escritas pelo trio Robin Beanland, Eveline Fischer e David Wise, deu vida à série mais famosa da franquia da família Kong. Todo o cuidado pensado em produzir atmosferas de qualidade — seja mergulhando entre corais ou no meio de fábricas — permitiu a construção de mundos variados, que se destacam com sua ambiência e suas variadas temáticas.
A trilha sonora de Donkey Kong Country certamente marcou uma geração e ainda é capaz de produzir ecos e sentidos para quem está jogando pela primeira vez. Ela é também uma deliciosa viagem para quem está afim de relembrar os anos 90.
A recente inclusão do jogo no Nintendo Switch Online permitirá novos e velhos contatos com a franquia, que ganhou sequências que infelizmente ainda não estão disponíveis no serviço. Talvez com novos lançamentos possamos sentir os caminhos que a grande série tomou ao longo dos anos e realizar outra retrospectiva de soundtrack.
Tanto como um CD musical ou como uma fita de Super Nintendo, podemos sentir que o trabalho sonoro realizado na série Country entrou para a história. O jogo de 1994 consegue nos mostrar todo o cuidado na construção da franquia. Sua trilha sonora é digna e imponente, assim como é a figura de Donkey Kong no cenário cultural mundial.
Revisão: Davi Sousa