Sim, a série Story of Seasons essencialmente é Harvest Moon — a única diferença é o novo nome. Tenho certeza que muita gente ainda se confunde com isso, então vamos começar com uma pequena explicação. Harvest Moon foi criado em 1996 pela desenvolvedora japonesa Victor Interactive Software (atual Marvelous Inc.) com o game Bokujou Monogatari (História do Rancho) para o Super Famicom. Quando chegou a hora de levar a franquia para o Super Nintendo no ocidente, um longo acordo com a publicadora Natsume teve início, que escolheu o famoso título Harvest Moon para a série.
Em 2013, a Marvelous decidiu passar o trabalho para a sua própria filial de publicação na América do Norte, a Xseed Games, e o nome Harvest Moon ficou com a Natsume. Isso dividiu a série em duas direções: jogos produzidos pelo estúdio original, chamados agora de Story of Seasons, e jogos de qualidade bastante duvidosa que levam o nome Harvest Moon até hoje.
Infelizmente, também não é difícil questionar a qualidade dos títulos Story of Seasons lançados nos últimos anos. Stardew Valley parece ter garantido a coroa dos simuladores de fazenda em 2016, e Harvest Moon/Story of Seasons segue apenas com a força das lembranças da sua era de ouro. Quatro títulos, sem dúvida alguma, deixaram sua forte marca em uma ou duas gerações de jogadores: Harvest Moon para o SNES, Harvest Moon 64, Harvest Moon: Back to Nature para o PS1 e, representando o último grande jogo da série, Harvest Moon: Friends of Mineral Town para o Game Boy Advance.
Nada como a vida do campo (virtual)
Não tive muitas oportunidades de testar o Friends of Mineral Town original, mas posso dizer sem medo que joguei o primeiro Harvest Moon de SNES e o Back to Nature para o PS1 incessantemente quando era criança. Por sorte, Friends of Mineral Town já era basicamente um remake do jogo do PlayStation original, o que faz com que o novo remake para o Switch seja um remake de um remake. É um tanto confuso, até porque isso seria um exemplo de um jogo 3D que se tornou um jogo 2D e depois voltou a ser 3D 17 anos depois.Nenhum dos três jogos é exatamente igual. Ao meu entender, o Friends of Mineral Town original pegou as principais mecânicas e personagens de Back to Nature, acrescentando vários elementos, e o novo remake pegou quase toda a estrutura do jogo de GBA e trouxe ainda mais novidades para aquele mesmo mapa. Sem falar que tanto Back to Nature quando Friends of Mineral Town, receberam "continuações diretas" em que o foco era basicamente você poder jogar como uma garota — títulos que também trouxeram as suas próprias novidades para a fórmula. Há algo, no entanto, que inegavelmente une esses jogos: todos se passam em Mineral Town. Seja lá o que isso quer dizer.
Sendo totalmente sincero, imediatamente ao ligar o jogo eu detestei essa nova versão de Mineral Town e tudo que estava em volta com todas as minhas forças. O charme inegável dos desajeitados, porém extremamente expressivos, polígonos do PS1 e os adoráveis gráficos em pixel art da versão de GBA cederam seu lugar a um visual que só pode ser classificado como totalmente sem graça e pouco inspirado.
O novo Friends of Mineral Town adota uma estética comparável com velhos jogos em flash ou novos mobile games dos mais genéricos. É um tipo de "fofura" acessível que fica em um meio termo horrível entre minimalista e estilizado, e que ainda se espalha para além dos modelos e afeta os menus e até a fonte escolhida.
Entretanto, graças à deusa da colheita, mesmo em frente à esta tremenda decepção visual, um som maravilhoso no fim do túnel não demorou para encontrar as minhas orelhas. Em grande parte, ao que me parece, as músicas e os efeitos sonoros do novo Friends of Mineral Town são os mesmos de Back to Nature no PS1. Muito além da nostalgia, a trilha e o sound design encapsulam precisamente o que significa "fazenda virtual" na minha cabeça. Desde as lindas melodias que embalam os locais e estações da Cidade Mineral, até detalhes como o barulho dos passos solitários do protagonista em uma noite fria de inverno.
Por enquanto, o resultado é um empate entre o áudio e o visual, de certa forma. A questão é que, de repente, assim como é típico desses "simuladores de fazenda", eu me peguei jogando sem parar por mais de seis horas seguidas, sendo que eu tinha começado o arquivo ali pela meia-noite. Admito que durante esse meio tempo até me acostumei com o estilo artístico, achei o meu novo cavalo bebê (também conhecido como pônei) bonitinho e chamei ele de "Dengoso", e comprei uma galinha que tinha cara de "Fofinha". Era tempo de primavera e vários vegetais foram plantados, como nabos, batatas, pepinos e até morangos.
Vocês sabem o que dizem sobre a primavera e o amor, não é mesmo? Pois bem, em uma das minhas várias andanças pela cidade presenteando os habitantes e procurando cutscenes entrando em todos os os prédios, de repente subi para a área da praça central e entrei dentro de outra pessoa — isso mesmo que você leu, meu personagem literalmente ficou preso dentro de um dos habitantes da cidade.
Os vegetais plantados também foram regados e, eventualmente, colhidos e vendidos — e esse mesmo ciclo se repetiu por todas as estações até o inverno, ficando gradualmente mais cansativo com o tempo. Além disso, diversas ferramentas foram utilizadas para eu me livrar de tocos de madeira, pedregulhos ou gramas selvagens pela fazenda, como o machado, o martelo e a foice. Entrando no verão, consegui até uma vara de pescar, item que provou ser um forte aliado à minha renda diária graças aos peixes que comecei a pescar e vender.
Enquanto os dias passavam, explorei várias vezes a caverna para achar materiais para fazer upgrade no nível das ferramentas (por um preço camarada no ferreiro da cidade), aumentei a minha casa, consegui uma cozinha e comecei a guardar alguns ingredientes. Além da minha árvore que solta uvas que veio com a fazenda, comprei uma laranjeira, mais galinhas e até uma vaquinha chamada "Dona Lis".
Se criou o típico loop de gameplay em que eu acordava, falava com as galinhas, alimentava as galinhas, falava com meu cavalo, escovava o cavalo, falava com a vaca, escovava a vaca, alimentava a vaca, colhia vegetais, regava tudo e então saia por aí para explorar e presentear a minha amada com o ovo cozido do dia (um item que ela gosta bastante, não me pergunte o porquê).
Ao mesmo tempo que o processo ficava cansativo e um pouco repetitivo, eu gradualmente descobria alguns pequenos segredos. Joguei uma flor no lago sem querer e fui surpreendido com a própria deusa da colheita, por exemplo. Logo, adicionei essa oferenda à deusa no meu ritual diário. A partir daí, destravei a lojinha que vende pets todo dia 15 do mês na praça da cidade. Além disso, depois a deusa me deu um Power Berry, que serve para aumentar a stamina total (que é usada sempre que você utiliza uma ferramenta) e eu ainda encontrei mais alguns desses frutos durante minhas exploradas pela cidade — e alguns outros itens misteriosos como a gema da verdade e a gema do Kappa.
Chegando o inverno e com o ano acabando, tudo começou a mudar. Não é possível plantar durante a estação, então a quantidade de tempo livre aumenta consideravelmente — já que a maior parte do tempo é utilizada regando a sua plantação, que por sua vez tende a crescer cada vez mais ao longo do ano. Uma outra caverna é revelada por um lago, agora congelado, e oferece uma grande número de jóias valiosas. Basicamente, para funcionar como uma nova fonte de renda principal durante a fria e desolada estação.
Depois de coletar vários materiais para melhorar a minha casa ao máximo, comprar uma cama grande e cortejar a garota Ran durante o ano inteiro, um dia após o "natal" eu consegui enfim pedi-la em casamento. Uma semana inteira depois, já dentro do segundo ano, aconteceu o casório e rolaram os créditos. Parece que até os desenvolvedores acham que esse era o meu destino, e decidiram "acabar" o jogo nesse momento.
Story of Seasons: Friends of Mineral Town não é um jogo perfeito. Na verdade, ele não é nem o "jogo de fazenda" perfeito — a escolha aqui provavelmente seria Stardew Valley, pelo menos por enquanto. Toda a estrutura do título por um ponto de vista de game design já é um pouco datada, infelizmente. Você tem pouquíssima liberdade para customizar a sua fazenda, por exemplo. O galinheiro já está lá desde o começo em um lugar pré-determinado, e o mesmo vale para todos as construções relevantes da sua propriedade. Você não pode decidir nem onde as novas árvores de frutas vão ficar, existe um lugar certo para elas e é lá que elas ficam do início ao fim.
Eu já citei o maior problema do título, que é a péssima apresentação em geral (a parte visual genérica e sem alma) e seus menus simplórios e confusos que ajudam muito pouco. Além disso, alguns bugs bizarros acontecem, como esse de ficar preso dentro de outras pessoas (ou animais) quando você entra em uma nova área e tem alguém parado bem na entrada. O cavalo, que finalmente cresce lá pela metade do inverno, também funciona da pior forma possível. Ele é grande demais para se locomover direito dentro da cidade, é sempre difícil achar um bom lugar para desmontar, e sempre que você sai do cavalo parece que você fica um tempo preso nas pernas do animal.
Outro ponto interessante é que, embora o jogo seja surpreendentemente veloz em vários momentos — com uma boa performance, alta velocidade base do personagem, loadings extremamente rápidos e transições entre áreas super suaves —, algumas tarefas básicas quebram essa sensação.
Apesar desses problemas, não é tão difícil se divertir e gastar diversas horas explorando esse mundo. Se você gosta desse tipo de jogo, mas já jogou Stardew Valley mil vezes, não aguenta mais Animal Crossing: New Horizons, ou simplesmente jogou o original ou sente saudades de um bom e velho Harvest Moon, vá em frente sem medo. Há muito o que se fazer, mais do que eu esperava no começo, na verdade.
Por exemplo, só no final do meu primeiro ano (depois de umas 20h de jogo) que eu descobri o intrincado meta game de vender seus animais originais e criar os filhos deles para conseguir um nível de afeto máximo maior — que consequentemente também aumenta a qualidade dos produtos derivados.
Harvest Moon… ou melhor, Story of Seasons, sinceramente merecia um pouco mais do que isso. Ainda espero ver um novo jogo da série que realmente bata de frente com o que Stardew Valley fez para o gênero. Enquanto isso, no entanto, o novo remake de Friends of Mineral Town para o Switch sem dúvidas é uma boa distração. Vale lembrar também que se você sempre quis casar com personagens do mesmo sexo em um "Harvest Moon" esse é o jogo para você. Você tem quatro opções de personagens para encarnar (2 meninos e 2 meninas) e é possível flertar, namorar e casar com quem você bem entender.
Entretanto, graças à deusa da colheita, mesmo em frente à esta tremenda decepção visual, um som maravilhoso no fim do túnel não demorou para encontrar as minhas orelhas. Em grande parte, ao que me parece, as músicas e os efeitos sonoros do novo Friends of Mineral Town são os mesmos de Back to Nature no PS1. Muito além da nostalgia, a trilha e o sound design encapsulam precisamente o que significa "fazenda virtual" na minha cabeça. Desde as lindas melodias que embalam os locais e estações da Cidade Mineral, até detalhes como o barulho dos passos solitários do protagonista em uma noite fria de inverno.
Era Ran, a espevitada filha do dono da pousada. Encarei como meu destino e decidi que ela seria minha futura esposa, depois de passar um tempinho tentando me desgrudar dela, é claro. Confesso que ainda cortejei outras garotas no começo, como Karen, a filha do dono da loja, ou Popuri, a adorável garota de cabelos rosas que ama galinhas, mas o processo de presentear várias pessoas todos os dias logo cansou de vez — confesso também que entrei acidentalmente em algumas outras pessoas, e até animais em certas ocasiões.
Os vegetais plantados também foram regados e, eventualmente, colhidos e vendidos — e esse mesmo ciclo se repetiu por todas as estações até o inverno, ficando gradualmente mais cansativo com o tempo. Além disso, diversas ferramentas foram utilizadas para eu me livrar de tocos de madeira, pedregulhos ou gramas selvagens pela fazenda, como o machado, o martelo e a foice. Entrando no verão, consegui até uma vara de pescar, item que provou ser um forte aliado à minha renda diária graças aos peixes que comecei a pescar e vender.
Se criou o típico loop de gameplay em que eu acordava, falava com as galinhas, alimentava as galinhas, falava com meu cavalo, escovava o cavalo, falava com a vaca, escovava a vaca, alimentava a vaca, colhia vegetais, regava tudo e então saia por aí para explorar e presentear a minha amada com o ovo cozido do dia (um item que ela gosta bastante, não me pergunte o porquê).
Depois de coletar vários materiais para melhorar a minha casa ao máximo, comprar uma cama grande e cortejar a garota Ran durante o ano inteiro, um dia após o "natal" eu consegui enfim pedi-la em casamento. Uma semana inteira depois, já dentro do segundo ano, aconteceu o casório e rolaram os créditos. Parece que até os desenvolvedores acham que esse era o meu destino, e decidiram "acabar" o jogo nesse momento.
Story of Seasons: Friends of Mineral Town não é um jogo perfeito. Na verdade, ele não é nem o "jogo de fazenda" perfeito — a escolha aqui provavelmente seria Stardew Valley, pelo menos por enquanto. Toda a estrutura do título por um ponto de vista de game design já é um pouco datada, infelizmente. Você tem pouquíssima liberdade para customizar a sua fazenda, por exemplo. O galinheiro já está lá desde o começo em um lugar pré-determinado, e o mesmo vale para todos as construções relevantes da sua propriedade. Você não pode decidir nem onde as novas árvores de frutas vão ficar, existe um lugar certo para elas e é lá que elas ficam do início ao fim.
Eu já citei o maior problema do título, que é a péssima apresentação em geral (a parte visual genérica e sem alma) e seus menus simplórios e confusos que ajudam muito pouco. Além disso, alguns bugs bizarros acontecem, como esse de ficar preso dentro de outras pessoas (ou animais) quando você entra em uma nova área e tem alguém parado bem na entrada. O cavalo, que finalmente cresce lá pela metade do inverno, também funciona da pior forma possível. Ele é grande demais para se locomover direito dentro da cidade, é sempre difícil achar um bom lugar para desmontar, e sempre que você sai do cavalo parece que você fica um tempo preso nas pernas do animal.
Outro ponto interessante é que, embora o jogo seja surpreendentemente veloz em vários momentos — com uma boa performance, alta velocidade base do personagem, loadings extremamente rápidos e transições entre áreas super suaves —, algumas tarefas básicas quebram essa sensação.
Tocar o sino para que seus animais saiam de casa e procurem comida sozinhos pelo pasto é uma ótima mecânica, mas os bichinhos demoram tanto para aparecer que parece que o jogo travou às vezes. O mesmo acontece com o cavalo. É difícil voltar a caminhar sem ele depois de se acostumar com a nova movimentação, mas porque algo que aumenta a sua velocidade tem que demorar tanto na animação de desmontar?
Apesar desses problemas, não é tão difícil se divertir e gastar diversas horas explorando esse mundo. Se você gosta desse tipo de jogo, mas já jogou Stardew Valley mil vezes, não aguenta mais Animal Crossing: New Horizons, ou simplesmente jogou o original ou sente saudades de um bom e velho Harvest Moon, vá em frente sem medo. Há muito o que se fazer, mais do que eu esperava no começo, na verdade.
Por exemplo, só no final do meu primeiro ano (depois de umas 20h de jogo) que eu descobri o intrincado meta game de vender seus animais originais e criar os filhos deles para conseguir um nível de afeto máximo maior — que consequentemente também aumenta a qualidade dos produtos derivados.
Prós
- Trilha sonora clássica fantástica e efeitos sonoros primorosos;
- Gameplay dinâmico e viciante na maioria das vezes;
- Uma grande quantidade de conteúdo para descobrir, explorar e interagir
- Performance bastante boa, salvo alguns probleminhas específicos.
Contras
- Visual fofo genérico que parece de um jogo barato de celular, mas que dá para acostumar com o tempo;
- Menus simples demais e ao mesmo tempo confuso demais, além da fonte horrível usada nos textos para complementar o problema;
- O loop da jogabilidade, típico do gênero, definitivamente pode cansar algumas pessoas bem rápido;
- Game design um tanto datado em algumas áreas.
Story of Seasons: Friends of Mineral Town - Switch/PC - Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: João Pedro Boaventura
Análise produzida com cópia digital cedida pela Xseed Games
Análise produzida com cópia digital cedida pela Xseed Games