Análise: Bloodstained: Curse of the Moon 2 (Switch) é mais um ótimo "Castlevania" retrô

A sequência de Curse of the Moon segue pela mesma linha do original, mas com novidades interessantes como o modo co-op.

em 30/07/2020

Para quem não conhece a história da franquia Bloodstained, saiba que tudo começou com a saída de Koji Igarashi da Konami. O aclamado produtor de Castlevania, conhecido principalmente por seu trabalho como roteirista, programador e diretor-assistente em um dos maiores clássicos da série, Castlevania: Symphony of the Night (PS1), decidiu deixar o estúdio após mais de uma década de trabalho.

Em 2015, agora com a sua própria desenvolvedora, a ArtPlay, Igarashi enfim decidiu atender os inúmeros pedidos dos fãs por um novo jogo no mesmo estilo de Symphony of the Night. O que resultou na criação de um Kickstarter para Bloodstained: Ritual of the Night, um novo Metroidvania fortemente inspirado pela franquia da Konami que Igarashi conhece tão bem. O crowdfunding acumulou a impressionante soma de 5.5 milhões de dólares e Ritual of the Night foi lançado com sucesso em 2019, recebendo críticas bastante positivas por todos os lados. Um dos bônus de arrecadação do Kickstarter, no entanto, era a criação de mais um game dentro desse universo.

Homenageando a outra era clássica de Castlevania, os jogos 8 bits do “Nintendinho”, Bloodstained: Curse of the Moon saiu antes do seu "irmão maior", em 2018. O título foi recebido de maneira igualmente calorosa pela comunidade e reviveu com sucesso os Castlevania "das antigas", iniciando uma nova e interessante saga retrô para os fãs da série. Agora, em 2020, o terceiro jogo dentro do mundo de Bloodstained, e a continuação direta de Curse of the Moon, já está entre nós — com o simples título de Bloodstained: Curse of the Moon 2.

A segunda maldição da lua



O primeiro Curse of the Moon tinha como principal objetivo recriar a experiência dos primeiros Castlevanias da era 8-bits — algo que certamente foi atingido. A questão é que a alta fidelidade ao seu material de inspiração também foi o maior problema do título. A vertente retrô de Bloodstained fez um tributo tão preciso dos Castlevanias do NES que ficou realmente difícil diferenciar a imagem da nova franquia com a original. Seria impossível discutir a possibilidade de um plágio, no entanto, já que, além do próprio Igarashi, várias outras pessoas da equipe trabalharam em Castlevania em algum momento.

Por sinal, os dois Curse of the moon foram desenvolvidos pela Inti Creates, e não pela ArtPlay, o estúdio de Igarashi, mas ele não deixou de ocupar o papel de produtor e idealizador do projeto da mesma forma. O curioso é que os Bloodstained retrô podem ser especialmente comparados com Castlevania III: Dracula's Curse, com seus múltiplos personagens jogáveis navegando por oito estágios lotados de plataformas e inimigos monstruosos e, ironicamente, Igarashi nem ao menos trabalhou na série durante essa época.



Falando sobre Curse of the Moon 2, a verdade é que pouca coisa mudou desde o game original. Muito se falou que o primeiro Curse of the Moon não era exatamente tão difícil quanto os Castlevanias que ele tentava emular, então a continuação tratou de escalar a dificuldade para cima. Ambos títulos, no entanto, mantêm o mesmo sistema de duas dificuldades disponíveis: a normal e a "veterano", que acrescenta um número limitado de vidas e um knockback proveniente dos ataques inimigos. Basicamente, cada vez que você leva um hit, seu personagem é jogado para longe em uma direção — algo que, acredite, realmente dificulta bastante a experiência.

Outro ponto em que os dois jogos se distanciam é no elenco de personagens jogáveis. Zangetsu, o espadachim com um chicote como principal arma secundária, continua no seu papel de líder da equipe, só que agora com três novos aliados ao seu lado: Dominique, a moça que pula alto e usa uma lança para atacar; Robert, o sniper que ataca de longe; e o mais fofo de todos, Hachi, um pequeno Corgi em um traje mecha cheio de habilidades, como planar, pisar em espinhos e ficar invulnerável. 

Quanto ao gameplay em si, Curse of the Moon 2 é, ao mesmo tempo, direto ao ponto e inovador. Cada personagem possui um ataque básico e um secundário, que é utilizado gastando weapon points — basicamente magia que você pode coletar naqueles tradicionais potinhos que caem dos objetos do cenário. Também é possível encontrar ataques secundários alternativos pelo cenário, sendo que cada um deles é claramente mais útil para determinadas situações, assim como os ataque básicos e até a movimentação de cada personagem. O destaque fica com a habilidade de trocar entre os quatro personagens de forma instantânea, até mesmo no meio de um pulo ou ataque. Algo que realmente faz do game uma produção moderna que não tem medo de fugir um pouco do convencional.



Por mais que a natureza vintage de Curse of the Moon 2 evoque um sentimento de linearidade, a verdadeira experiência do título passa longe dessa proposta. O sentimento de atravessar as oito fases de cada capítulo do jogo se mantém sempre dinâmico e interessante. A verdade é que existem várias formas e caminhos diferentes para se explorar em diversos momentos, e é preciso saber utilizar as habilidades de cada personagem na hora certa para alcançar certos objetivos. Além disso, tirando o primeiro capítulo — que funciona como um "zeramento" inicial um pouco mais linear —, três outros capítulos adicionam um belo tempero na fórmula inicial, acrescentando alguns novos desafios, chefões e até mesmo os personagens jogáveis do game anterior.

Curse of the Moon 2 é bastante desafiador, mais ou menos como você lembra que os jogos eram durante os tempos áureos do ”Nintendinho” e do Mega Drive. Os estágios não são tão longos, mas em muitos casos você terá que decorar a movimentação dos inimigos, o comportamento de hazards como bolas de fogo e cachoeiras de lava, e pensar qual o melhor personagem para determinado momento, quase como um puzzle mesmo. Quem gosta de games desafiadores como antigamente, que realmente testam o seu reflexo "gamer" da forma mais pura e orgânica possível, com certeza vai se deliciar durante os vários possíveis "zeramentos" desse jogo. 



A dificuldade atinge o seu ápice principalmente nas batalhas de chefão e nas partes mais focadas na parte de movimentação em plataformas. Cada boss tem o seu padrão não exatamente estático de ataque e movimentação e pode demorar um pouco até você encontrar a melhor forma de derrotá-lo. Quando alguém da equipe morre em Curse of the Moon 2, você volta para o começo da sala sem esse personagem até o final da fase, até todos morrerem, ou até Dominique pegar o raro poder secundário que revive aliados. E se um dos heróis morrer durante o confronto com o boss, pelo menos um pouco do dano que você causou continuará lá na barra de vida do chefão quando os outros três chegarem na batalha novamente.

A realidade, entretanto, é que na maioria das vezes o ideal será ter todos os quatro personagens à sua disposição — graças a especialidade de cada um em determinados momentos, tanto durante os chefes quanto percorrendo as fases. Não era raro eu matar os heróis restantes de propósito para começar com a equipe inteira novamente, principalmente depois de mortes "idiotas", como após um pulo estranho ou uma queda bizarra. O jeito que Curse of the Moon 2 homenageia outra época dos videogames é lindo, mas em alguns momentos o jogo esqueceu que é 2020 e algumas coisas não precisam ser iguais aos anos 80. 



Em geral, Curse of the Moon 2 poderia ser algo muito mais impressionante do que é se tomasse certas liberdades mais modernas de game design. Alguns dos aspectos são realmente impressionantes e sabem aproveitar as maiores forças dos Castlevanias clássicos — e até melhoram os originais —, como o fantástico level design, os lindos gráficos e a apropriada trilha sonora, mas a movimentação deixa a desejar.

Com certeza parte do desafio de um jogo com uma pegada retrô é a dificuldade inerente ligada aos controles mais "duros" e menos responsivos, mas em Curse of the Moon 2 alguns pulos mais "pesados" podem ser bastante frustrantes. Teria sido muito interessante uma abordagem similar à Shovel Knight, por exemplo, que honra suas raízes e ao mesmo tempo adapta os controles para uma nova era. 



Voltando um pouco para a parte da mídia audiovisual, a trilha sonora também decide não ousar muito e manter a mesma linha de Castlevania III do seu antecessor. Não quer dizer que ela seja ruim, é mais que ela não chama a atenção de nenhuma forma especial, sendo apenas adequada. Os gráficos, por sua vez, tomam o caminho contrário e não falham em impressionar. Sem dúvidas, nenhum Castlevania antigo era tão bonito, colorido ou expressivo em seu visual, mesmo dentro dessa limitada simplicidade. O design de alguns monstros, especialmente inimigos maiores e chefões, representam uma arte 8 bits tão detalhada e incrível que eles poderiam estrelar em uma linha de camisetas com estampas retrô — e eu compraria a coleção completa. 

Outro elemento que merece elogios é uma adição muito bem-vinda e que provavelmente era esperada por muitos fãs: o modo co-op para dois jogadores. Sim, dá para jogar Curse of The Moon 2 inteiro com algum amigo de forma local, e talvez apenas esse detalhe já seja o bastante para justificar a existência dessa sequência. O modo funciona bem e é ainda mais um motivo para você encarar mais um árduo playthrough. O problema será apenas ter que treinar um amigo para chegar no seu nível, ou pelo menos encontrar outro fã da série. 



Bloodstained: Curse of the Moon 2 é brutal, intrigante, nostálgico, divertido e frustrante. A experiência provavelmente não irá agradar a todos, e talvez ela exista apenas para nichos de jogadores, como pessoas com interesse em jogos difíceis, plataformas antigos ou fãs de Castlevania. No entanto, não há dúvidas de que o título cumpre o que promete, honrando suas tradições e trazendo algumas novidades válidas que resultam em um jogo bem-feito e que merece ser jogado. Fico aqui na esperança de que uma possível terceira parte leve a fórmula para lugares ainda menos ortodoxos, mas, por enquanto, Curse of the Moon 2 tem muito a oferecer — principalmente se você tem um amigo para jogar com você.

Prós

  • Um prato cheio para fãs de jogos retrô (principalmente Castlevania);
  • Impressionantes gráficos 8 bits que realmente se destacam;
  • Bastante conteúdo para se explorar: diversos estágios, capítulos, personagens, armas e caminhos;
  • Todo o jogo pode ser experienciado em modo cooperativo local de dois jogadores.

Contras

  • Algumas escolhas datadas no game design poderiam ser retrabalhadas;
  • A dificuldade definitivamente pode frustrar alguns jogadores;
  • Comparando com seu antecessor, e com os velhos jogos da série Castlevania, é possível argumentar que Curse of the Moon 2 é "mais do mesmo";
  • A opção de co-op online seria interessante. 
Bloodstained: Curse of the Moon 2 - Switch/PC/PS4/XBO - Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch 
Revisão:  Vladimir Machado
Análise produzida com cópia digital cedida pela Inti Creates

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