Análise: Xenoblade Chronicles: Definitive Edition é um dos melhores RPGs que o Switch tem a oferecer

RPG oferece uma fantástica experiência, obrigatória para os fãs do gênero.

em 17/06/2020
Quem conhece RPGs provavelmente já ouviu falar de Xenoblade Chronicles. Junto com The Last Story e Pandora’s Tower, o título foi reivindicado no Ocidente por um grupo de fãs do gênero que elaboraram uma grande campanha conhecida como Operation Rainfall. Lançado no fim da vida do Wii, o jogo foi posteriormente portado para o New 3DS e agora recebeu uma nova versão para o Switch após duas sequências: Xenoblade Chronicles X (Wii U) e Xenoblade Chronicles 2 (Switch).

A Edição Definitiva apresenta uma série de melhorias tanto em aspectos gráficos como na interface com usuário, além de um novo epílogo intitulado Future Connected. Confesso que, apesar de ter experimentado um pouco o título no 3DS, esta é a primeira vez que o jogo a fundo. Especialmente para quem ainda não teve contato com a obra e é fã de RPGs, gostaria de deixar claro já de antemão que trata-se de uma obra imperdível.


Um garoto, uma espada e um mundo de gigantes

Há muitas eras, dois gigantes, Mechonis e Bionis lutaram até a morte. No entanto, isso não foi o fim dos conflitos. Criaturas mecânicas conhecidas como Mechon passaram a atacar diretamente Bionis, lar de várias criaturas orgânicas, incluindo humanos chamados de Homs.

Xenoblade conta a história de Shulk, um Hom ainda jovem que mora na Colônia 9 e que acaba se tornando o portador da espada Monado, cuja força é essencial para lidar com os invasores. Enquanto aprende a controlar os poderes especiais da arma, Shulk irá reunir amigos e se aventurar em uma jornada grandiosa.

 
Evitando entrar em muitos detalhes sobre a história, vale dizer que ela apresenta reviravoltas interessantes. Mesmo oferecendo pistas para o jogador sobre o que está por vir, é fácil se surpreender com a forma como tudo acontece. De fato, mesmo tendo compreendido antecipadamente alguns twists, me surpreendi com a coerência do roteiro, que muitas vezes havia apresentado ainda mais pistas do que aquelas que tinha percebido originalmente.


Quando mencionei que a jornada é grande, não é apenas forma de falar. O detalhe que mais chama a atenção em Xenoblade é o seu mundo gigantesco. Cada área oferece vários pequenos nichos para explorar, cada um com monstros e estruturas próprias. Para quem gosta de explorar, é bastante recompensador verificar todos os cantinhos do mapa, especialmente porque conhecer novas localidades implica em ganho de experiência e pontos para novas habilidades.


Aliado a isso, existe uma grande quantidade de sidequests para realizar e assim conseguir dinheiro, itens e experiência. São dois elementos de gameplay que se complementam muito bem, já que cada missão adiciona pontos de interesse no mapa, aumentando o fator recompensa que o jogador recebe ao explorar as áreas. E isso é potencializado pelas mudanças de qualidade de vida da nova versão, já que agora essas tarefas são marcadas mais adequadamente no mapa, tornando sua realização bem conveniente e simples.

Outros fatores que valorizam a exploração são os achievements internos e a Collectopedia, uma enciclopédia de itens do jogo. Conforme realiza certos feitos, o jogador é recompensado com conquistas variadas, mas, ao contrário dos sistemas embutidos, por exemplo, nos atuais consoles da Sony e da Microsoft, existe um ganho real no jogo de experiência. Isso oferece uma sensação prática de recompensa por explorar o jogo, assim como no caso da Collectopedia, em que o jogador ganha equipamentos e jóias por catalogar os itens encontrados.

Enquanto explora as áreas, o jogador irá encontrar várias criaturas, algumas das quais precisam ser exterminadas para concluir as quests. Todas elas têm marcadores, indicando o nível de força (vermelho é mais forte do que o jogador) e o que faz elas atacarem (um olho indica “estar no campo de visão do bicho”, por exemplo).

É importante avaliar bem isso para evitar entrar em batalhas desnecessárias e garantir que o combate seja algo mais fácil de lidar. Por exemplo, é atrair um inimigo para longe do bando para lutar com um de cada vez. Com isso, é possível lidar com situações mais complexas com soluções inteligentes. Mudanças de equipamentos e habilidades também são fatores que fazem com que a estratégia pré-batalha tenha grande peso.

A luta contra o destino


O combate em si acontece em tempo real, mas não funciona como um RPG de ação. Os ataques básicos dos personagens são executados automaticamente, contanto que eles estejam próximos o suficiente do inimigo selecionado. O jogador controla apenas o líder da equipe, que pode ser mudado a qualquer momento fora das batalhas.

Apesar desse elemento automático, o jogador tem à sua disposição uma série de habilidades ativas chamadas “arts”. Elas são o seu principal recurso em batalha, variando desde ataques simples com vantagens de acordo com posicionamento (por exemplo, atrás do inimigo) a técnicas de cura ou auras que fortalecem atributos.

Um exemplo claro da importância disso é o combo mais básico do jogo. Técnicas de cor rosa ativam um efeito chamado Break nos inimigos. Com ele ativo, os inimigos ficam suscetíveis a ataques do tipo verde que os derrubam no chão (Topple). Por fim, uma art amarela pode causar Daze, deixando o inimigo temporariamente incapacitado e alongando o tempo em que ele não consegue atacar o jogador.
 
Para fazer isso, no entanto, é necessário ter no seu leque de comandos as arts correspondentes. Fazer com que os personagens tenham à sua disposição as técnicas que se complementam para combos específicos é um elemento que pode fazer muita diferença, especialmente se o jogador aprender as fraquezas do inimigo e usar isso a seu favor.
 
Durante a batalha, ao executar um ataque crítico ou ativar o efeito especial de uma art, o jogador irá encher uma barra chamada Party Gauge. Com três níveis, ela pode ser usada para reviver os personagens (incluindo o líder) ou para ativar um Chain Attack, quando está totalmente carregada. Esse ataque combinado paralisa a batalha e permite que o jogador escolha golpes de cada aliado para atingir os inimigos, sendo uma excelente forma de ativar os combos.

Em algumas batalhas, o jogador também consegue ver alguns ataques que os inimigos irão realizar e pode alertar os seus aliados para tentar mudar o foco ou reduzir o dano que será tomado. Fazer um aliado com mais HP chamar a atenção de um boss enquanto se cura, por exemplo, é uma tática válida.


Porém, como já mencionei, é importante pensar a estratégia fora da batalha. Para isso, outro elemento são os equipamentos, que, além de alterar os atributos dos personagens, contam em alguns casos com a possibilidade de usar jóias. Esses pequenos itens equipáveis podem ter vários tipos de efeito, como “mais resistência a Topple” e podem ser feitos em uma loja específica.

Vale a pena destacar também as habilidades passivas (skills). Cada personagem tem três skill branches, que são linhas de progresso no aprendizado desses benefícios, que incluem ser capaz de usar armaduras pesadas, ganhar mais experiência fazendo quests, causar mais dano em ataques combinados, etc.

Além da vantagem individual de aprendê-las, algumas delas também podem ser equipadas por outros membros da equipe. Isso depende de um índice chamado affection, que aumenta quando os personagens lutam juntos ou através de um sistema de presentes, por exemplo. Quanto mais próximos, mais skills podem aprender um do outro, mas cada slot de habilidade tem um formato específico (círculo, quadrado, pentágono) que só pode ser ocupado por aquelas que têm o mesmo formato.

Com todos esses elementos, existe um ciclo de gameplay que envolve o constante aprimoramento dos personagens, a exploração do mundo, a realização de quests e o enfrentamento de inimigos. Todos os fatores são fortalecidos juntos adicionando à experiência um claro estímulo ao progresso em suas diversas frentes.

Quanto à dificuldade do jogo, vale destacar que Definitive Edition permite ao jogador escolher um modo Casual (que pode ser habilitado e desabilitado a qualquer momento). Com ele ativado, o jogador ainda terá que entender o funcionamento do jogo, mas não precisará sair procurando combates adicionais para avançar nos momentos mais complicados.

Do lado oposto, caso o jogador queira ter mais desafio, o título conta com a opção de reduzir o nível dos personagens. Ao fazer isso, é possível experimentar uma dificuldade maior artificialmente e se propor desafios. E há também uma área de Time Attack, em que é necessário concluir missões com tempo cronometrado para desbloquear roupas e jóias adicionais para usar com os personagens. Especialmente no modo restrito (em que você usa uma equipe pré-definida), conhecer bem as vantagens de cada um e elaborar estratégias é fundamental.

A edição definitiva

Apesar de já ter mencionado algumas das características da nova edição, como a maior facilidade para encontrar e realizar as sidequests, a principal novidade fica por conta do epílogo Future Connected. Nele, Shulk e uma de suas aliadas, Melia, exploram o ombro de Bionis um ano após os eventos do jogo.

Em termos de história, a premissa dessa parte não é particularmente inspirada e o roteiro não chama muita atenção. No entanto, as interações entre os personagens, em especial aquelas que envolvem os nopon Nene e Kino, chamam a atenção. Nessa parte do jogo existem certos eventos chamados Quiet Moments, em que os personagens conversam sobre a jornada ou questões mais aleatórias.

Algo similar existe no jogo base, que são os Heart-to-Heart, os momentos de diálogo opcional para personagens com certo nível de affection. No entanto, os Quiet Moments são totalmente dublados enquanto os Heart-to-Heart são apenas textuais. Em contrapartida, eles também não oferecem escolhas, mas são muito bem executados, permitindo conhecer melhor os personagens.

Vale destacar que a questão da exploração também continua presente. O ombro de Bionis é um lugar enorme, cheio de sidequests que são interessantes de se fazer. Assim como nos Quiet Moments, algumas delas também oferecem uma visão mais aprofundada nos personagens, sendo bem recompensador concluir todas as atividades.

De uma forma geral, o epílogo mantém o espírito do jogo anterior, mas há algumas diferenças mecânicas. Em particular, os Chain Attacks são substituídos por Union Strikes. A ideia é que o jogador precisa procurar por nopon exploradores conhecidos como Ponspectors. Com alguns deles no seu lado, é possível ativar três tipos de ataques especiais devastadores: um focado em causar a maior quantidade de dano, outro que paralisa os inimigos e um terceiro que também cura os aliados. São ao todo 12 Ponspectors, e quanto mais deles você tiver, mais fortes serão os Union Strikes.


Outras mudanças incluem a eliminação de affection e da skill tree. Apesar das mudanças, o gameplay com Nene e Kino é praticamente o mesmo de Reyn e Sharla, funcionando mais como uma skin do que novos personagens de fato. Felizmente, como já mencionei, a personalidade de ambos é bastante charmosa.

Por fim, gostaria de destacar a ambientação do jogo. As escolhas artísticas por trás do design dos cenários chamam bastante a atenção. Sejam as planícies sem fim de Gaur Plains, o pântano escuro iluminado pelas árvores (Satorl Marsh) ou a combinação de belezas naturais com a tecnologia dos High Entia em Eryth Sea, cada local de Xenoblade é vasto e fantástico. Escutar a trilha em sua versão remasterizada ou original e observar os detalhes das áreas é mais um convite sedutor à exploração.


Porém, ao mesmo tempo, é importante destacar que tecnicamente o visual do jogo deixa a desejar no modo portátil. A diferença é bem nítida, com uma aparência pixelada de assets que salta aos olhos. Felizmente, a performance em si não sofre muito, mas é perceptível que o jogo faz até mesmo alguns malabarismos como retirar elementos da tela durante os diálogos. Também vale destacar que os modelos dos personagens são bem diferentes dos que foram utilizados no jogo original e é perceptível que houve maior polimento na sua construção.

De modo geral, Xenoblade Chronicles: Definitive Edition é, francamente, um dos melhores RPGs disponíveis atualmente no console. O aspecto técnico dos gráficos no modo portátil é o único elemento contra que consigo pensar e, mesmo ele, está longe de ser um problema que ativamente atrapalhe o jogo. Confesso que me diverti bem mais do que esperava explorando o mundo gigantesco que ele tem a oferecer e acredito que qualquer fã de RPG que ainda não teve contato com a obra deveria aproveitar para mergulhar nesse clássico.

Prós

  • Mundo gigantesco que incentiva o jogador a explorar;
  • Ambientação chama a atenção graças ao aspecto artístico dos gráficos e à trilha sonora;
  • Batalhas em tempo real com boa dose de estratégia, cuja dificuldade é modulável na nova versão;
  • História bem executada com reviravoltas interessantes que conseguem surpreender o jogador, mesmo dando pistas do que está por vir;
  • Epílogo Future Connected adiciona interações entre personagens e sidequests muito interessantes.

Contras

  • Visual deixa a desejar no modo portátil.
Xenoblade Chronicles: Definitive Edition — Switch — Nota: 10.0
Revisão: José Carlos Alves
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo
Xenoblade Chronicles: Definitive Edition está disponível na Loja Nintendo

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.