XCOM 2, sequência direta do aclamado jogo de estratégia XCOM: Enemy Unknown, foi lançado em 2016 para todas as grandes plataformas da época (PC/PS4/XBO) e foi tão bem recebido quanto seu antecessor. Utilizando o mesmo gameplay de estratégia bem estruturado e difícil de dominar, seguindo a história a partir do final ruim do primeiro título (em que os aliens dominam a Terra) e apresentando novidades como mapas gerados de forma processual e suporte a mods, XCOM 2 não tardou em se consagrar como um clássico do gênero.
Em 2017, ainda mais foi adicionado à experiência de XCOM 2 na forma da expansão War of the Chosen. A história original recebeu novas missões, objetivos, heróis, inimigos, classes e até mecânicas — literalmente expandindo bastante o original e aperfeiçoando ainda mais um game que já se destacava por si só. Agora, em 2020, pela primeira vez é possível aproveitar tudo que XCOM 2 tem a oferecer em um console Nintendo, ou melhor ainda, de forma portátil. O feito é incrível para um jogo dessa escala, mas será que vale pena embarcar nessa aventura no Switch?
Um verdadeiro clássico de estratégia
Para quem nunca jogou XCOM e aprecia jogos de estratégia, pense em títulos como Fire Emblem: Three Houses ou até Wargroove. XCOM 2 funciona de forma bastante similar, mas com uma pegada bem mais séria e realista. O gameplay é basicamente a união de um jogo de tiro com um de estratégia. Detalhes como o posicionamento das unidades e o alcance de ataque são tão importantes quanto recarregar as diferentes armas e encontrar o melhor local para se proteger (o cover).Talvez uma comparação mais apropriada seja com Mario + Rabbids: Kingdom Battle, exclusivo de Switch que, afinal, foi totalmente inspirado em XCOM desde o início — no entanto, novamente, os dois diferem bastante no tom, na direção artística e na história. Após os eventos do final ruim do primeiro jogo, XCOM 2 começa com os alienígenas, através da organização de escala global chamada de ADVENT, sob total controle do planeta Terra. Células de resistência tentam o melhor que podem aqui e ali, mas é só com a chegada do lendário comandante perdido que as coisas começam a mudar um pouco.
A missão tutorial, que faz um ótimo trabalho em explicar a jogabilidade básica de forma rápida e descomplicada, culmina no resgate de um comandante XCOM que está nas mãos dos aliens há vários anos. Ao levar o combatente de volta para a base da resistência e salvar a sua própria consciência da tecnologia dos ADVENT, é revelado que ele é… bem, você. Todo o movimento de libertação da raça humana, aparentemente, estava apenas esperando um líder competente para tomar as rédeas da operação, e cabe a você decidir o rumo dessa revolução.
As primeiras missões também tratam de garantir o sopro de vida da Avenger, um ex-cargueiro de peças dos ADVENT que foi transformado em uma avançada base móvel para a resistência — veículo que é peça essencial do gameplay fora de combate em XCOM 2. Funciona assim: você, como comandante, possui uma visão geral por dentro da Avenger sempre que estiver entre missões. Desde o começo, o Dr. Richard Tygan e a engenheira-chefe Lily Shen (filha do falecido criador da Avenger) ajudam você com o desenvolvimento de pesquisas que oferecem melhorias permanentes e com a construção de novos setores para a nave, respectivamente.
Uma série de recursos como inteligência, energia e suprimentos precisam ser constantemente gerenciados a todo o momento e, na maioria das vezes, você conseguirá essas "moedas" por meio de missões focadas em combate. Adicionalmente, para se dar bem nesses confrontos, é preciso gerenciar mais um "recurso" essencial: os soldados. Você já começa a aventura com um número decente, mas eventualmente será necessário adquirir mais alguns pelo armory dentro da Avenger. Sem falar que após o mínimo dano dentro da batalha, seus soldados precisam descansar por alguns dias e não podem ser reutilizados até receberem alta.
Outro maneira de adquirir recursos, que também é a principal forma de progressão do jogo, é a visão do mapa, acessada pela bridge dentro da Avenger. Aqui você explora um mapa-mundi no maior estilo jogo de tabuleiro e move a nave entre várias localidades, procurando entrar em contatos com as células da XCOM e eliminar aliens malvados sempre que necessário. A jogabilidade da área em si é bem simples: mexer a Avenger entre localidades pré-definidas, apertar A para passar os dias e avançar na progressão do ponto específico, e ficar atento aos vários eventos que aparecem de repente.
Embora o processo não seja complicado, XCOM 2 definitivamente não é um jogo descomplicado. Cada escolha que você faz, cada dia que passa e cada pequeno recurso gasto faz diferença. Sempre parece que existem mil formas distintas para se lidar com um grande número de situações diferentes. Isso sem falar que maioria das decisões ocorrem em um ambiente de pressão no qual o tempo passa — e passa rápido! Se você acha que os alienígenas ficam parados enquanto você decide tudo com calma, ache de novo. Na forma do Projeto Avatar, anúncios de avanços substanciais na tecnologia dos ADVENT são constantes e geralmente ditam um tempo limite para o inevitável ataque inimigo.
Combate intenso e díficil desde o primeiro momento
A questão do tempo passando também afeta diretamente o cerne da jogabilidade de XCOM 2: os confrontos diretos com os aliens. Inclusive, esse é um dos maiores problemas que jogadores têm com a série desde o começo: o gameplay é intenso e, muitas vezes, suas decisões têm que ser rápidas e precisas. Várias missões pedem que você consiga chegar até um ponto específico do mapa em um número X de turnos, enquanto as forças da ADVENT continuam atacando sem piedade.Os confrontos funcionam da seguinte maneira: seu esquadrão de, inicialmente, apenas quatro soldados desembarca em uma área gerada de maneira processual com alguns elementos que sempre mudam, como o terreno e os prédios de cada mapa. Sua equipe geralmente começa a partida em concealment, escondida dos olhos dos inimigos até ser avistada por alguém. A mecânica permite o preparo de investidas de flanco contra os inimigos, deixando que você posicione seu time de uma maneira que dê para encurralar os aliens — no entanto, só quando o tempo permite tanto preparo, é claro.
Em geral, o seu principal foco será na movimentação em duas etapas e em encontrar os melhores locais para se esconder, garantindo uma boa cobertura (cover). Você pode mover cada unidade em um raio específico que ainda permita o uso de um ataque ou habilidade, ou utilizar toda a movimentação de uma só vez e passar o turno para aquele personagem. Além disso, o cover é essencial para garantir seu sucesso em qualquer etapa do confronto. Sempre que seu personagem parar ao lado de uma parede ou um objeto, escudos completos ou "meiados" adjacentes indicam a "qualidade" da sua defesa — e do seu ataque, de certa forma.
Um bom cover também é traduzido diretamente na porcentagem de sucesso dos seus tiros, o que pode ser bem frustrante em vários momentos. Mesmo se você estiver a um palmo de distância do inimigo, se o personagem não estiver com uma cobertura apropriada, na maioria das vezes a porcentagem de acerto não será tão alta.
Esse é outro ponto definitivamente polêmico entre os críticos de XCOM 2: as porcentagens de acerto são bem cruéis. Além de ser bem difícil alcançar um número alto normalmente, até mesmo quando o valor é alto é fácil errar o alvo. Sem exageros, não é tão raro errar um inimigo que está bem na sua frente com mais de 90% de chance de acerto. Atirar parece tão arriscado que, em muitos momentos, preferi gastar a única granada de cada unidade o mais rápido possível, só pelo acerto 100% garantido.
Outro ponto complicado durante os confrontos é a morte dos seus soldados. Acredite, o posicionamento e a estratégia para o avanço da equipe realmente são muito importantes a todo momento — até em missões que deveriam ser pequenas, simples e rápidas —, porque se um dos seus soldados morre em combate, ele morre para sempre. Assim como em Fire Emblem, as mortes são definitivas. Algo que, pelo lado bom, certamente adiciona um nível de tensão a mais, que não existiria se esse não fosse o caso, mas que pelo lado negativo, acrescenta ainda mais tensão a um jogo extremamente difícil, no qual cada decisão possui um peso enorme.
No entanto, ao contrário de Fire Emblem: Three Houses, que possui uma fantástica e prática mecânica de voltar no tempo a qualquer hora para retratar alguma ação infeliz, XCOM 2 realmente não perdoa seus erros. Se você fez algum movimento em falso e gostaria de voltar atrás para salvar seu querido soldado, será preciso passar por um longo tempo de loading. Além disso, tente lembrar de salvar manualmente toda vez que estiver em um momento seguro durante a partida; auto saves existem e são frequentes, mas é difícil confiar totalmente no momento que eles acontecem.
Pessoalmente, tive muita dificuldade de permitir a morte dos meus soldados e sempre voltei atrás (em certos momentos, diversas vezes) para tentar achar uma forma de contornar a situação. Além das numerosas opções de customização disponíveis para cada personagem — uma das melhores coisas para se brincar dentro de XCOM 2 —, cada um gradualmente ganha melhores atributos e habilidades na forma de cinco classes diferentes: Ranger, que possui uma espada que ataca de perto; Specialist, que tem com um drone com diversas habilidades; Grenadier, que joga granadas mais longe com seu lançador; Sharpshooter, o sniper; e Psi Operative, que usa poderes telecinéticos, mas só aparece mais para o final da campanha.
É igualmente doloroso e difícil se despedir de um personagem mega customizado e/ou cheio de recursos que podem ser bem úteis em várias situações de aperto (que são constantes durante todo o jogo). Então, pode ter certeza que XCOM 2 demanda completa atenção da sua parte até nas missões mais despretensiosas. De repente, não é tão difícil seu time inteiro errar algum tiro fácil ou seu inimigo acertar um crítico bem no seu personagem favorito.
Vale pena jogar XCOM 2 em 2020 (especialmente no Switch)?
Antes de tudo, é importante reiterar que, além do jogo base, XCOM 2 Collection também oferece a expansão War of the Chosen, que adiciona um grande número de novidades à experiência original. Algumas mudanças de destaque são: os Chosen (que dão nome à expansão), três inimigos híbridos superpoderosos que perseguem você durante o jogo inteiro e só ficam mais fortes com o passar do tempo ; três novas facções rebeldes, Templars, Reapers e Skirmishers que destravam novas classes para os soldados e liberam algumas novas missões; um novo tipo de inimigo zumbi neutro que pode atacar tanto os XCOM quanto os ADVENT; e um sistema de confiança entre os soldados que lembra bastante Fire Emblem, no qual, basicamente, soldados mais próximos trabalham melhor juntos.
É possível escolher no menu principal se você quer jogar o jogo base ou a expansão, sendo possível trocar entre um jogo e outro a qualquer hora, cada um com seus próprios save files. Sinceramente, para quem nunca jogou XCOM 2, o recomendado é passar pela campanha normal primeiro. War of The Chosen acrescenta elementos o bastante para deixar a experiência consideravelmente mais difícil, além de mudar a trajetória o bastante para não ser muito repetitivo jogar logo depois do jogo base.
XCOM 2 é tão intenso, tenso e difícil quanto é épico em suas proporções e na quantidade de conteúdo que oferece. Além do gameplay sólido e envolvente, seu mundo é rico e povoado por personagens interessantes e verdadeiramente carismáticos, tanto no lado dos "mocinhos" quanto dos alienígenas. É verdade que algumas missões corriqueiras de exploração podem se tornar um tanto repetitivas com o tempo, mas isso é compensado de certa forma pela qualidade das missões diretamente relacionadas à história. Elas apresentam situações inusitadas e batalhas longas, cheias de diferentes fases e camadas em que é fácil soltar um suspiro aliviado quando você percebe que conseguiu passar para o outro lado sem nenhuma perda na sua equipe.
XCOM 2 nunca deixa de pedir que você pense e, ao mesmo tempo, nunca falha em recompensá-lo pelas escolhas certas. A sensação de dar um tiro certeiro e receber o aviso de promoção para seu soldado é realmente gratificante, e o mesmo acontece quando você finalmente pode ativar essa promoção e escolher uma nova habilidade no final de um árduo combate.
Não é exagero quando esse jogo é citado como um dos melhores jogos de estratégia de todos os tempos, porque esse realmente é o caso. Agora, é certo que o gênero não atrai todo tipo de jogador, e XCOM 2 passa longe de ser tão acessível quanto títulos como Mario + Rabbids ou Fire Emblem: Three Houses, por exemplo. No entanto, fãs de estratégia que ainda não passaram por essa experiência não deveriam perder mais tempo.
Mas afinal, como é a performance do jogo no Switch? É triste dizer isso, mas infelizmente não é muito boa. A realidade é que, em troca da portabilidade, XCOM 2 se transformou em um jogo bem feio, enrolado e cheio de bugs. Acredito que era esperado que sacrifícios teriam que ser feitos, mas eu honestamente esperava por um pouco mais do que isso na equação final. O jogo definitivamente está lá, dentro da pequena tela do Switch, só que parece que parte da sua "alma" foi embora.
Embora seja um lançamento de quatro anos atrás, não se engane: XCOM 2 ainda é um jogo bonito em outros consoles, apresentando efeitos de luz interessantes, cenários ricos em detalhes e modelos de personagem e animações consistentes. No Switch, no entanto, nada disso está presente e tudo parece bem genérico, isso quando não chega ao ponto de ser meio engraçado. Os personagens são tão feios e com animações tão bizarras em alguns momentos que eu simplesmente tive dificuldade de levar o jogo a sério.
Certa vez, na tela de promoção dos soldados logo após o término da missão, todos os personagens entraram em um transe de movimentação em blocos de frames lentíssimos que foi quase assustador. Em várias outras ocasiões, era normal matar um inimigo e vê-lo ou grudado suspenso no meio de alguma parede ou (e esse foi o mais engraçado de todos) literalmente parado em pé voando como um fantasma durante toda a partida. Além disso, slowdowns graças a quedas de fps acontecem com uma boa frequência e em vários contextos diferentes.
Esses problemas aparecem com o Switch dentro da dock, por sinal. No modo portátil você pode esperar uma performance um tanto pior. A interface de usuário, por exemplo, que já era confusa em outros consoles (ou no Switch rodando na TV) fica consideravelmente mais difícil de entender em modo portátil. Os modelos de personagem também são despidos de todos seus detalhes e parecem quase não ter rosto na maior parte do tempo.
Além disso, apesar da grandeza do título, vale relembrar alguns pontos negativos que transcendem o Nintendo Switch: loadings longos, falta de um sistema mais prático para voltar atrás nas suas ações, porcentagens de acerto bizarras e inconsistentes, interface um tanto poluída e confusa em alguns momentos e curva de aprendizado e dificuldade geral altas demais.
Por 50 dólares na eShop e ocupando mais de 20gb de espaço no seu console, eu só consigo realmente recomendar XCOM 2 Collection para o Switch se você é fã de jogos de estratégia e não tem nenhum outro jeito de experimentar XCOM 2. Até mesmo pela portabilidade, me parece bem mais confortável jogar um jogo como XCOM no conforto de um mouse e teclado e sem sacrificar o visual e a performance.
Prós
- Gameplay consistente, intrincado e muito divertido;
- Sistema de progressão excelente;
- Muito conteúdo para ser explorado;
- História e caracterização de primeira.
Contras
- Performance que deixa a desejar no Switch, suscetível a bugs, slowdowns e sacrifícios visuais;
- Dificuldade bastante elevada desde o começo e até no modo "normal";
- Alguns aspectos especialmente frustrantes como porcentagem de acerto de tiros inconsistente, loadings longos demais e a falta de um jeito fácil de voltar atrás em um jogo tão difícil.
XCOM 2 Collection - Switch/PC/PS4/XBO - Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela 2K Games
Análise produzida com cópia digital cedida pela 2K Games