Análise: Pokémon Sword/Shield — The Isle of Armor (Switch) faz pouco além do mínimo esperado

O primeiro DLC da oitava geração perde a oportunidade de surpreender e não assume muitos riscos.

em 25/06/2020


Pokémon Sword/Shield
, lançado no final de 2019, finalmente realizou a tardia migração da série principal dos monstrinhos de bolso para as televisões, no entanto, deixou de agradar à grande parte dos fãs mais fervorosos no processo. As razões são muitas, mas a principal, definitivamente, foi a polêmica decisão de não incluir nem ao menos a possibilidade de você adquirir todos os Pokémon dentro do jogo. Indo um pouco além, o lançamento deixou claro algo que todos já sabiam: a Game Freak (desenvolvedora da série) parece querer fugir de certas inovações e até mesmo voltar atrás e "piorar" alguns recursos.

Eis que mais uma escolha pouco ortodoxa surge da desenvolvedora: em vez de lançar um "terceiro" jogo com algumas novidades no ano seguinte — como as tradicionais versões Yellow, Crystal, Platinum e Ultra Sun/Moon —, optou por um pacote com dois DLC que acrescentam conteúdos adicionais ao jogo base. Muitos sonhavam com um enorme mundo de possibilidades e torciam por algo além daquele mínimo já esperado pela Game Freak. No entanto, o primeiro DLC, The Isle of Armor, prova que não é bem esse o caso.

A primeira expansão da franquia Pokémon

Sendo a primeira expansão dos jogos principais da maior franquia de entretenimento da história, com certeza não seria exagero criar certas expectativas. Naturalmente, algumas ideias interessantes foram concebidas e teorizadas durante esse tempo de espera pelos fãs. Sobre o mapa inédito, muitos esperavam uma nova área que se adapta aos níveis dos Pokémon na sua equipe, ou ainda um lugar onde seria preciso começar do "zero" e treinar um novo time de monstrinhos desde o início — demandas até bastante simples, mas que muita gente torcia que estivessem presentes.

Indo um pouco além dentro da lista de desejos para a nova expansão, as possibilidades são potencialmente infinitas. Já pensou se houvesse cidades inéditas espalhadas pela "Ilha da Armadura"? Talvez um desafio de ginásio aumentando o número de insígnias ou criando algum conceito inédito? Velhos novos recursos como montar em cima de Pokémon ou, no mínimo, a habilidade de explorar um mundo rico, vasto e cheio de detalhes variados entre si? É uma pena, porém, como era de se esperar, nada disso sequer chega perto de acontecer no primeiro DLC de Pokémon Sword/Shield.



A premissa de The Isle of Armor é aventurar-se por uma "miniregião" inédita — pouco mais do que uma Wild Area secundária — e passar pelo treinamento do Mestre Mostarda (Master Mustard) com seu mais novo Pokémon lendário fofinho, Kubfu. Ou melhor, para levar o seu próprio ursinho lutador para casa, primeiro é preciso conquistar três desafios do dojô de Mostarda, e enfrentar um novo "rival" durante o processo (Klara na versão Sword e Avery na Shield).

Infelizmente, os três challenges iniciais não poderiam ser mais óbvios e vazios, o que é um péssimo indicador do que está por vir. Eles são: achar três Galarian Slowpokes que correm muito rápido, enfrentá-los e pegar o uniforme de Klara/Avery de volta; encontrar cogumelos para preparar max soup (a sopa que faz com que Pokémon despertem formas Gigantamax) e, por fim, enfrentar o seu rival em uma batalha bem pouco desafiadora. Sim, os desafios consistem basicamente em duas fetch quests (as clássicas missões para buscar alguma coisa) e um daqueles confrontos extremamente fáceis que são cada vez mais comuns na franquia Pokémon.




Após receber Kubfu do Mestre Mostarda, a ideia é que você explore as 17 áreas dentro da Isle of Armor para treiná-lo antes de seguir em frente na história. Basicamente, você precisa escolher uma entre duas torres presentes na ilha, completar o seu desafio apenas com Kubfu e evoluir o Pokémon ou para Urshifu Rapid Strike Style ou Urshifu Single Strike Style. A primeira forma é do tipo Lutador/Noturno e utiliza a Tower of Darkness para ser alcançada, e a segunda é do tipo Lutador/Água e é adquirida pelo challenge da Tower of Waters

O nível recomendado para Kubfu iniciar um dos desafios é o 70, mas só o último dos cinco treinadores dentro da torre possui um Pokémon nesse mesmo nível. Dentro da torre, as batalhas são bem rápidas, apenas de um contra um, e apresentam quase nenhum desafio, mesmo se você estiver no nível 60 ou um pouco mais abaixo. Também é possível ignorar por completo a geografia da ilha e simplesmente alimentar seu Kubfu com um monte de doces de experiência para resolver essa questão bem rápido — nada obriga você a realmente explorar toda Isle of Armor.



Ao completar o desafio e evoluir seu Pokémon, Hop aparece e duas pequenas missões totalmente desnecessárias acontecem antes da batalha final da história — fetch quests mais uma vez, só que agora você nem ao menos tem certeza do que está procurando. Novamente, é preciso procurar um ingrediente para a max soup, e Hop sugere três possibilidades em dois lugares diferentes para tentar descobrir qual é. A primeira parte consiste apenas em dar voltas em círculos procurando e guiando Pokémon por uma floresta; já na segunda, a missão fica um pouco mais interessante.

Finalmente, o jogo pede que você vá até um local um pouco mais exótico e isolado seguindo de bicicleta por um oceano consideravelmente vasto. A quest culmina meio que sem querer em uma batalha um pouquinho mais desafiadora contra um Pokémon Gigantamax e, após completar a segunda sopa, é hora da batalha final contra um dos treinadores da expansão — a única de toda a história em que o oponente utiliza seis Pokémon contra você, e também a única vez em que é preciso pensar um pouco para ganhar. Depois disso, the end, gg, finito e acabou-se o que era "douce" (e, se você quiser, no espaço de uma hora). Ou será que não?


Algumas novidades

Duas "missões" opcionais podem estender bastante o tempo de jogo: encontrar 151 Alolan Digletts perdidos por toda a Isle of Armor e, bom, capturar todos os Pokémon, assim como em todos os jogos da série até então. Encontrar esse número um tanto cabalístico de Digletts escondidos por todo mapa funciona de forma parecida com os Koroks de The Legend of Zelda: Breath of the Wild, só que em menor quantidade e com esconderijos bem menos criativos. No final das contas, a quest acaba sendo a melhor forma de conhecer a ilha como um todo. Posso dizer que explorei cada cantinho do mapa e até que me diverti enquanto fazia isso — tirando alguns Digletts especialmente frustrantes que foram mais difíceis de encontrar.

A única habilidade necessária para encontrar os 151 Pokémon com fiapos louros na cabeça é ter uma boa visão. Não há nenhum tipo de pequeno quebra-cabeça em momento algum, você não tem que mover nenhuma pedra ou achar algum item especial, realmente a única coisa que precisa ser feita é conseguir avistar os fiapos enterrados na terra. O que mais ajuda a tarefa a não se tornar extremamente maçante é que cada área possui um número pré-determinado de Digletts e, cada vez que você encontra um novo, uma caixa de texto avisa quantos faltam. Adicionalmente, vários Pokémon de Alola são entregues como recompensa pelo dono dos monstrinhos quando você atinge um certo número de resgates. Um incentivo que funciona bem, só que a recompensa final infelizmente é bem sem graça. 



Enquanto procura seus Digletts, por que não capturar o máximo de Pokémon "inéditos", não é mesmo? Monstrinhos clássicos e adorados por todo mundo estão de volta, como Scyther, Alakazam, Miltank, Heracross, Skarmory, Poliwrath, Magneton e vários outros. Com certeza é ótimo vê-los novamente — e pela primeira vez na tela grande —, no entanto, muita gente argumentaria que eles deveriam estar presentes desde o começo. São 210 Pokémon na Pokédex da Isle of Armor, incluindo alguns que já existiam em Galar antes da expansão, e capturar todos também dá direito a uma recompensa não muito empolgante.

Outro elemento que já deveria existir desde o jogo base (e ainda assim não é implementado 'de verdade' na expansão) é a habilidade de tirar um dos seus Pokémon da pokébola para caminhar junto a você, os following Pokémon. A funcionalidade atua de forma perfeita, respeitando bastante o tamanho dos monstrinhos, a velocidade em que eles andam ou correm e até a coloração dos shinies. Entretanto, dois aspectos da funcionalidade são bem inconvenientes: ela só funciona dentro da Isle of Armor, ou melhor, é impossível caminhar com seus Pokémon em outros locais de Galar; e para desativar a função você é obrigado a conversar com um NPC dentro do dojô do Mestre Mostarda. Sinceramente, isso só parece outro trabalho pela metade por parte da Game Freak.



Continuando dentro do Dojô, outros recursos interessantes estão disponíveis. Depois de juntar três max mushrooms, você pode ensinar algum dos seus Pokémon que possui uma forma Gigantamax a usá-la — como as novas formas dos iniciais de Galar ou de Squirtle e Bulbasaur, por exemplo. Falando com a esposa de Mostarda, também é possível adicionar uma série de funcionalidades ao dojô pagando uma enorme quantidades de watts, coisas como um cabeleireiro, uma máquina de bebidas e várias outras, chegando até um estrondoso valor de 2 milhões de watts. Ainda no dojô, gastando alguns poucos watts com o filho do Mestre, você pode ativar um robozinho bastante útil que "recicla" seus itens e "cospe" novos em troca (e as possibilidades parecem ser bem vastas).

Quem gosta de coletar Battle Points na Battle Tower de Wyndon, também vai gostar de saber que um modo parecido é destravado no dojo após você completar a história do DLC. Dessa vez, no entanto, você enfrenta uma série de treinadores utilizando um time de apenas um tipo, enquanto seus oponentes usam os Pokémon que eles quiserem. Existe uma recompensa após você completar o desafio com os 18 tipos existentes , mas passar por todo o processo pode ser bastante maçante. Como a única missão específica do post game, o desafio definitivamente não vale a pena e não será interessante para maioria dos jogadores.


Uma curta aventura não muito memorável

Apesar das várias críticas que podem ser feitas, a expansão não deixa de ter os seus bons momentos. A história é bem curta e simples, mas os novos personagens são ótimos e as poucas cutscenes presentes são bastante divertidas e bem humoradas. Mostarda lembra um pouco aquele arquétipo do Mestre Kame do velho mestre engraçadão e muito habilidoso; e o novo rival é bem carismático (no meu caso, na versão Shield, Avery) no seu eterno esforço desesperado em tentar derrotar você — e sempre disposto a ativar o seu próprio arsenal de piadinhas com nomes de ataques de Pokémon psíquicos.

De certa forma, o mapa impressiona, o problema é que ele certamente poderia ser muito mais do que é. A Isle of Armor, no final das contas, parece um pouco demais com a Wild Area e falha em se destacar ou em realmente estabelecer a sua própria identidade. Há muito mais água, isso é certo, e o jeito que as praias, cavernas e florestas estão conectadas é bem interessante e diferente. Além disso, pela primeira vez a sensação de explorar o mar lembra os velhos tempos de usar o surf por vários minutos em jogos como Pokémon Ruby/Sapphire, com direito a exploração de algumas pequenas ilhotas e até a constantes ataques de Sharpedos raivosos que chegam a dar alguns sustos no começo. 



Entretanto, depois de você achar todos os Digletts, pegar maioria dos Pokémon que já deve ter capturado em diversos outros games da série e explorar o suficiente do cenário, resta apenas um vazio. Todas as áreas são parecidas demais entre si e, ao mesmo tempo, quase iguais a Wild Area original. Se perder é fácil, simplesmente porque faltam elementos que realmente diferenciam os componentes do mapa. Uma caverna é igual à outra, um campo verdejante fica logo ao lado de outro igual e o mesmo vale para praticamente todas as flores e matinhos. Não há quase nenhum prédio, monumento ou qualquer tipo de auxílio visual que quebre um pouco a monotonia do cenário. Se a Ilha da Armadura tivesse algumas pequenas cidades, vilarejos, acampamentos, estátuas ou no mínimo elementos básicos realmente distintos uns dos outros, a experiência seria mil vezes mais agradável como um todo.

Claramente, pedir por novos líderes de ginásio é pedir demais — mesmo quando as versões Gold/Silver tinham um total de 16 insígnias lá no ano 2000 —, mas a Game Freak não teve a decência nem de colocar algumas novas batalhas de treinador pelo caminho. Andar pela Isle of Armor se resume a visitar o dojô de vez em quando, ir em apenas uma das torres do Kubfu uma só vez e, após um tempinho, encontrar os mesmos Pokémon selvagens no nível 60 de sempre. O mundo aberto que todo mundo sempre pede está lá, só que não há nada para se fazer, provavelmente menos do que na Wild Area, por sinal. Até algo simples como a câmera deixa a desejar em The Isle of Armor, perdendo o foco em vários momentos em lugares mais estreitos e entrando em um estranho modo de primeira pessoa acidental. 



A expansão não tem conteúdo o bastante na sua história e muito menos quando falamos de side quests ou missões post game. Ela também não é especialmente memorável, não coloca nenhum tipo de recurso inédito imperdível e não possui quase nenhum valor de replay — não consigo imaginar alguém que realmente queira jogar The Isle of Armor de novo, por exemplo, tirando o fato da pessoa ser obrigada a capturar todos os Pokémon em alguma conta secundária. É meio triste pensar que lá em 2012 as versões Black/White 2 trouxeram novidades como um sistema de achievements e batalhas com todos os líderes de ginásios existentes, e em 2020 temos que ficar felizes com a adição do Tauros no jogo.

O fato inquestionável aqui é que o primeiro DLC da história de Pokémon poderia ter sido algo muito mais grandioso ou, no mínimo, memorável. É possível se divertir, apreciar alguns rápidos momentos e com certeza dá para matar um tempo, é claro. Fãs de Pokémon se sentirão obrigados a comprar a expansão e, se eles quiserem estender a experiência de Sword/Shield, realmente não existe outra opção. É uma pena, no entanto, que nós, fãs, tenhamos que nos contentar sempre com tão pouco por parte da Game Freak. O jeito é esperar pela segunda parte, The Crown Tundra, e ver o que acontece — de preferência com expectativas bem baixas desde o começo, para a decepção não ser tão grande.


Prós

  • Ótimos novos personagens e cutscenes;
  • Vários Pokémon bem queridos estão de volta;
  • Novo mapa com 17 áreas para se explorar;
  • Alguns conteúdos extras e funcionalidades interessantes.

Contras

  • Vasto cenário sem muitos elementos;
  • História simples e curta demais;
  • Pouco a oferecer além da experiência base;
  • Dificuldade baixa;
  • Pouco memorável e sem nenhuma grande inovação.
Pokémon Sword/Shield: The Isle of Armor - Switch - Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: Shield 
Revisão: Jhonatan Rodrigues
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo
Pokémon Sword/Shield: Expansion Pass está disponível na Loja Nintendo
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