Análise: Knight Swap 2 (Switch) testa os limites da sua capacidade lógica

Um jogo de puzzle para amantes do xadrez e do raciocínio.

em 07/06/2020

Em 1996 Garry Kasparov, então campeão mundial de xadrez, aceitou jogar contra Deep Blue, um computador criado pela IBM especificamente para derrotá-lo. A primeira partida da série (foram dois matchs de seis partidas cada) foi vencida por Deep Blue, e essa foi a primeira vez que uma máquina ganhou de um campeão mundial. As partidas seguintes definiriam, em parte, o avanço da inteligência artificial, e a capacidade humana de acompanhá-la. Knight Swap 2 (desenvolvido pela QUByte Interactive) não pretende ser um Deep Blue, e nem mesmo um jogo de xadrez tradicional. Mas assim como a máquina da IBM, consegue nos fazer pensar se ainda somos inteligentes o suficiente para entrarmos em um embate com uma máquina.

O centro do tabuleiro

Knight Swap 2 é a continuação de um título lançado em 2019. Aqui precisamos movimentar dois ou mais cavalos em um tabuleiro reduzido, muitas vezes mutilado (sem algumas casas), para levar peças a locais específicos. O cavalo azul precisa ir para uma marca azul e o vermelho, claro, para a marca de sua cor. Os movimentos são os mesmos do cavalo no jogo de xadrez, em formato de L. Mas apesar de não termos nenhum tutorial no sentido mais tradicional, não existe nenhuma exigência de que se saiba jogar xadrez para aproveitar a experiência. No fundo, trata-se de um desafio de lógica com alusões ao enxadrismo, o que é muito bom.

Por exemplo, quando você seleciona um peça no tabuleiro, conseguimos ver uma marca no chão apontando as casas para onde podemos movimentar essa peça. É também possível desabilitar essa ajuda, mas esse é um exemplo de como o jogo não é voltado, exclusivamente, para quem joga xadrez. Por outro lado, os fãs do xadrez certamente se sentem mais agraciados com a proposta e com o tipo de desafio lógico proposto.



Cada uma das fases (são 100, ao todo) apresenta um desafio diferente, ainda que alguns sejam complementares. No entanto, a inserção de novas mecânicas acontece de maneira muito rápida (talvez para dar mais ritmo ao jogo). Mas essa não parece ser a decisão mais acertada, pelo menos não na execução proposta. Como não há uma apresentação formal desses novos recursos e exigências, é preciso aprender sendo derrotado pelas mecânicas, e então reiniciar a fase para tentar solucionar o problema. Esse é o ponto mais frustrante do game, pois o jogador acaba sendo punido por não saber o que é exigido dele. Em determinado momento, por exemplo, aparecem portais no chão que transportam as peças. Em outro, existem casas que só podem ser usadas uma vez, e depois somem. Algumas peças tem movimento conjunto, de maneira que movimentar uma delas obrigatoriamente movimenta a outra. Essas alterações, e muitas outras que são inseridas ao longo dos estágios, são muito bem-vindas. Mas a implementação surpresa, como disse, força o jogador a aprender errando, fazendo movimentos que às vezes não podem ser desfeitos, e assim tendo que reiniciar a fase para tentar outra vez.

O movimento certo

Knight Swap 2 apresenta uma jogabilidade muito simples e intuitiva. Só precisamos selecionar a peça desejada e movimentá-la para o lugar desejado (dentro das possibilidades de movimento da peça no xadrez, claro). Os controles no Switch funcionam bem, mas jogando com o analógico e os botões tudo fica mais lento e cansativo. Assim, a melhor maneira de jogar é mesmo com a tela de toque do console. Não que jogar na televisão seja de todo ruim, mas não é uma experiência tão fluida quanto poderia ser.


O game apresenta algumas opções cosméticas de ajuste: é possível modificar a aparência das peças e tabuleiro, escolher manter ou não as marcas que apontam para que lugares os cavalos podem se movimentar, selecionar ou não a música. Os gráficos são simples, mas eficientes. Já a parte sonora deixa muito a desejar. A música é sempre a mesma, extremamente monótona e repetitiva, dando mais cansaço do que ajudando no processo de concentração. Como existe a possibilidade de diminuir o volume da música, essa me pareceu ser a melhor opção.


O limite do raciocínio

No começo do texto mencionei os matchs entre Kasparov e Deep Blue. Pois bem, apesar de ter perdido a primeira partida, Kasparov ganhou o primeiro match por 4 a 2. Já no ano seguinte, 1997, Kasparov perdeu a revanche por 3,5 a 2,5 (no xadrez, os empates dão meio ponto a cada jogador). O mais curioso de tudo é o fato de que Kasparov alegou ter perdido a revanche porque Deep Blue fez jogadas contra-intuitivas, não compatíveis com uma máquina programada para jogar sempre da melhor forma possível. Em um dos jogos o campeão russo chegou a abandonar o tabuleiro, alegando que deveria existir interferência humana ao lado da máquina. No final, é difícil saber se algo ficou provado. Mas é interessante perceber como até mesmo em um exercício de lógica como o xadrez, o improviso, a intuição e a sensibilidade contam. Knight Swap 2, com suas limitações, procura o mesmo caminho. Existe apenas uma solução final para o problema, mas o processo e o raciocínio até lá, são únicos. E isso é o mais bonito que há nos jogos de lógica: perceber que podemos trilhar nossa própria estrada, pensando melhor a cada partida.

Prós

  • Grande quantidade de estágios;
  • Puzzles bem elaborados e desafiadores;
  • Controles responsivos, especialmente na tela de toque do Switch.

Contras

  • Parte sonora fraca e pouco inspirada;
  • Proposta repetitiva, apesar da inclusão de novas mecânicas;
  • Novas regras surgem rapidamente sem tempo para que o jogador se acostume a elas.
Knight Swap 2  — Switch — Nota: 7.5
Análise produzida com cópia digital cedida pela QUByte Interactive
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Pesquisador nas áreas de estética e cibercultura com Mestrado em Cultura e Sociedade (UFMA) e Doutorado em Comunicação (UnB). Além de escrever sobre jogos, produz o Podcast Ficções e tem um blog sobre literatura, filosofia e cotidiano.
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