Os jogos de aventura point-and-click tiveram seu auge na década de 90, com títulos memoráveis da Lucas Arts, como The Dig, Full Throttle, Day of Tentacle e Monkey Island. Após essa era de ouro, o gênero foi esquecido, passando por um breve renascimento nos títulos da Telltale. Atualmente, é bem raro encontrar jogos da categoria e foi uma boa surpresa conhecer Guard Duty, um legítimo retorno àquela era saudosa.
O dever do guarda
Na aventura, o jogador controla Tondbert, um guarda real da pequena cidade de Wrinklewood. No dia do seu aniversário, o protagonista está a serviço no portão da cidade e, devido a uma bebedeira, acaba sendo enganado por uma sinistra figura encapuzada.O jogo começa com Tondbert acordando em seus aposentos na torre do castelo, despido de sua armadura. Mais tarde, descobre que seu deslize resultou no sequestro da sua amada princesa, e agora ele precisa partir em uma aventura para resgatar seu amor secreto e corrigir seu erro.
Os primeiros atos do jogo se passam em um mundo de fantasia, onde é necessário conversar com NPCs para levantar pistas sobre o paradeiro da princesa e conseguir objetos para cumprir sua missão. Para isso, Tondbert conta com sua sacola infinita na qual pode armazenar à vontade objetos de qualquer tamanho em qualquer quantidade.
A jornada é repleta de muita exploração e humor e é possível notar que o protagonista não é muito respeitado pelos outros guardas e pelos demais habitantes da cidade. Então, para cumprir a tarefa, o jogador precisará de muita conversa e uma boa dose de exploração.
A partir do terceiro ato, a história passa por uma reviravolta e salta mil anos no futuro, em uma realidade cyberpunk, na qual o agente Starborn precisa lidar com as consequências das ações de Tondbert no passado. Essa combinação dos gêneros fantasia e ficção científica torna o roteiro bastante original e interessante, refletindo, inclusive, em sua jogabilidade.
Pixelado e dublado
Os gráficos em pixel art desenhados à mão seguem exatamente a estética dos saudosos clássicos da década de 90. Podem não ser os mais bonitos do Switch, mas têm seu charme e são adequados para a proposta de Guard Duty.Porém, é na área sonora que o jogo realmente brilha e mostra capricho no desenvolvimento: todos os diálogos são dublados, com boas interpretações, e muitos personagens diferenciam-se por sotaques, dando um ar mais “antigo” para os fluentes no idioma inglês.
A dublagem só está disponível em inglês, com opções de legenda em inglês, francês, alemão e espanhol. Infelizmente, não há opção de legendas em português, portanto o jogo não é acessível para quem não tem um entendimento mínimo em pelo menos um dos idiomas suportados.
Aponte e clique
A jogabilidade é exatamente a mesma dos clássicos da década de 1990: mover o cursor e clicar para andar ou interagir com personagens e objetos. Não é possível usar os direcionais para movimentar o personagem, nem mesmo fazer rolagem da tela: o jogo exige que o jogador leve o cursor para o canto e clique em setinhas para mover a câmera. Se por um lado isso traz uma nostalgia para os saudosistas, por outro pode afastar jogadores mais novos, acostumados com a jogabilidade mais fluida dos títulos atuais; esse estilo “travadão” envelheceu mal e não faz muito sentido nos consoles modernos, muito mais capazes que os computadores de décadas atrás.Felizmente, a tela de toque funciona e é possível tocar diretamente em itens, em vez de arrastar o cursor para eles, e isso faz com que a versão de Switch de Guard Duty seja possivelmente a melhor de todas para se jogar. No entanto, não é possível jogar exclusivamente com a tela touchscreen, pois algumas ações exigem o pressionar de botões.
Simples, mas efetivo
O jogo é curto e simples, rendendo cinco horas em média. Caso o jogador se sinta perdido em algum momento, há uma lista que indica qual o próximo passo a se tomar. Qualquer pessoa persistente com certeza chegará ao final sem precisar recorrer a walkthroughs, algo que nem sempre era possível nos títulos clássicos.Apesar de sua curta jogabilidade, o humor refinado, a ambientação, os excelentes diálogos dublados e a combinação dos estilos fantasia e cyberpunk fazem com que Guard Duty seja uma experiência única e interessante.
Prós
- Dublagem excelente, com boas interpretações e sotaques;
- Pitadas de humor divertidas e personagens carismáticos;
- Roteiro maduro, interessante e original;
- Um dos poucos títulos do gênero disponíveis na atualidade.
Contras
- Não há opção de idioma em português;
- Curta duração e pouca rejogabilidade;
- Jogabilidade nostálgica pode não agradar aos jogadores mais novos.
Guard Duty – Switch/PC/XBO/PS4 – Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games
Revisão: André Carvalho