Análise: Void Bastards (Switch) — explorando um espaço perigoso em um frenético FPS e roguelite

Controle prisioneiros interestelares e tente sobreviver neste título indie de tiro e estratégia.

em 08/05/2020

Void Bastards pode parecer mais um jogo de tiro em primeira pessoa qualquer, no entanto aspectos de estratégia, furtividade e gerenciamento de recursos transformam a experiência em algo ímpar. Produzido por membros da equipe do FPS Bioshock, esse título indie usa elementos de roguelite para oferece uma aventura variada e tensa por uma nebulosa repleta de complicações que exigem criatividade e pensamento rápido para serem superadas. Uma ambientação incrível inspirada em histórias em quadrinhos, humor ácido e dificuldade acentuada são alguns dos vários atrativos do jogo.

Prisioneiros explorando uma nebulosa perigosa

Uma nave prisional quebrou e está à deriva na nebulosa Sargasso, um canto obscuro da galáxia conhecido por ser constante alvo de ataques piratas. Para resolver a situação, os sistemas de Inteligência Artificial da nave resolveram usar prisioneiros para explorar as proximidades em busca de recursos a fim de realizar os reparos necessários. Para o criminoso é uma boa oportunidade, pois a recompensa é diminuição na pena — isso se a pessoa conseguir sobreviver. A morte em um lugar tão perigoso é quase certa, mas isso não chega a ser um problema: inúmeros prisioneiros estão à disposição para a conclusão da tarefa.

No jogo, controlamos um dos detentos do cargueiro prisional em uma aventura de tiro e ação em primeira pessoa. O objetivo é invadir fragatas espaciais abandonadas em busca de recursos para consertar a nave e melhorar os equipamentos do personagem. As naves estão à deriva, mas contam com inúmeros perigos: pessoas violentas e bizarras afetadas pela energia de Sargasso, sistemas de segurança, fogo, radiação, reserva de ar limitada e mais.


Para dificultar a tarefa, os recursos, como munição, combustível e comida, são extremamente limitados, o que força uma abordagem cuidadosa na hora de avançar. Na maior parte do tempo você vai fazer o máximo para economizar balas ou vida, logo é importante balancear as ações: às vezes é melhor ser furtivo para evitar inimigos, em outras situações é prudente sair correndo e abandonar a nave quando a situação fica complicada. Itens obtidos nas incursões podem ser utilizados para construir novos equipamentos e melhorias para o prisioneiro.

Felizmente a IA da nave provê várias informações de cada fragata, como os tipos de inimigos presentes nela, possíveis perigos e itens, o que permite fazer escolhas inteligentes. Alguns recursos da nave também podem ser utilizados durante as incursões, como desabilitar os sistemas de segurança, hackear torretas ou baixar dados detalhados do mapa. Mas, mesmo assim, as incursões são imprevisíveis e podem aparecer inimigos ou complicações no meio do caminho, então esteja preparado para mudar rapidamente de estratégia — ou morra tentando.


Uma história em quadrinhos em movimento

Void Bastards apresenta aspectos de roguelite, mas de forma bem branda. Ao morrer, a IA escolhe um novo prisioneiro, que herda todos os equipamentos e parte dos itens do personagem anterior. As únicas diferenças entre os detentos são suas habilidades positivas ou negativas, como trancar portas mais rápido, tossir ocasionalmente (o que alerta inimigos), consumir mais comida ou mira ruim. Além disso, a nave volta para o ponto de partida e um novo mapa é gerado. Morrer em Void Bastards tem impacto pequeno, no fim das contas.

O visual é acertado, com atmosfera que lembra histórias em quadrinhos. Os menus e as cenas de história, inclusive, simulam páginas de revistas divididas em vários quadros. Os gráficos cel shading conseguem transmitir essa sensação de desenho em movimento e existem vários tipos de naves com visuais distintos. A trama é praticamente inexistente, mas os diálogos são repletos de humor ácido e divertem.


Void Bastards foi lançado originalmente para PC e outros consoles e agora chegou ao Switch. A adaptação para o console da Nintendo é razoável e conta com 30 quadros por segundos na maior parte do tempo. Os gráficos estão um pouco borrados em relação às versões de outros consoles e nos momentos mais intensos há leves engasgos, mas essas questões não atrapalham a ação profundamente. É uma pena que não exista uma opção para mirar com a ajuda dos sensores de movimento dos controles.

A tensão empolgante de saquear naves abandonadas

Boa parte da ação de Void Bastards se passa em primeira pessoa, mas atirar é só uma das várias atividades presentes durante as incursões. Cada fase é excitante e imprevisível, sempre explorando diferentes conceitos. Antes de entrar em uma nave, você tem uma ideia do que vai encontrar, mas nem sempre as coisas saem como o planejado. No começo eu sempre ia direto na cabine do piloto baixar o mapa, mas a presença constante de perigos no meio do caminho me forçaram a mudar de estratégia. Várias vezes simplesmente corri para pegar o item importante e fugir, em outras situações fui furtivo para evitar gastar meus valiosos recursos em confrontos. E, claro, aconteceu também de eu conseguir escapar por um triz depois de tudo dar errado.
O jogo incentiva a improvisação. Quando você menos espera, a estratégia foi pelos ares quando uma câmera de segurança te detectou e ativou um robô assassino que te persegue pela fase. Ou então justamente a sala contendo um recurso importante está sendo guardada por um Grandão, uma imensa e poderosa criatura capaz de te matar em segundos. Há várias abordagens para lidar com os inimigos, como trancá-los em salas, hackear torretas para acertá-los, paralisá-los com uma arma de choque, distraí-los com um gato-robô ou atraí-los para armadilhas. Há também diferentes situações nas naves, como a presença de versões poderosas de inimigos, iluminação precária, infestação de fogo, energia que cai constantemente e mais.


No geral, o recomendado evitar o combate, mas quando ele acontece, é empolgante. Os inimigos são agressivos e variados, exigindo estratégias e armas diferentes para serem derrotados mais facilmente. A atmosfera nos confrontos é marcante, pois a música fica intensa e os inimigos começam a gritar, sendo bem palpável a tensão. Os oponentes bizarros contribuem para isso, como um homem que desaparece constantemente cujo o corpo são vísceras brilhantes, criaturas que se contorcem de maneiras estranhas e fogem em meio a gritos, e imponentes monstros imensos cheios de espinhos. Confesso que me assustei diversas vezes quando essas criaturas apareceram de surpresa, principalmente por causa de seus olhos brilhantes.

Explorar a nebulosa e gerenciar recursos são atividades que contam com doses de estratégia. O consumo de combustível e comida precisa ser bem dosado para conseguir sobreviver. Além disso, é importante escolher com cuidado quais naves explorar: não é necessário entrar em todas, mas também temos que ficar de olho para não ficar sem recursos. Muitas vezes, inclusive, tive que enfrentar inimigos sem munição por não ter calculado direito as minhas reservas. O personagem é melhorado por meio de equipamentos construídos com itens saqueados. Uma opção permite marcar no mapa locais onde podemos encontrar materiais específicos, o que facilita a construção de certos objetos.


Muitas naves e sensação de déjà-vu

De modo geral, Void Bastards envolve com sua ação enérgica e elementos estratégicos. No entanto, depois de algum tempo, suas limitações ficam aparentes. A primeira delas diz respeito às fases: é fácil perceber que as naves são bastante parecidas entre si. A configuração de seus mapas são geradas de forma procedural, mas a quantidade de tipos de salas é limitada. Por causa disso, depois de um tempo, pode aparecer a sensação de estar explorando as mesmas naves, por mais que eventos aleatórios e outros detalhes ajudem a quebrar isso.

Outra questão é a dificuldade. Roguelites são conhecidos por serem difíceis, e Void Bastards não é diferente, mas faltou um pouco de balanceamento. Algumas vezes aparecem fases banalmente fáceis, em outras aparecem estágios extremamente punitivos com perigos complicados logo no início. A partir da metade da jornada, a dificuldade dá um salto grande: a quantidade de oxigênio cai, perigos infestam as naves e até mesmo inimigos simples dão muito trabalho, resultando em fases constantemente complicadas. Ao menos a morte é pouco punitiva, mas fiquei com a sensação de que o jogo estava me forçando a fazer grind para melhorar meus equipamentos ao invés de tentar novas abordagens.


Por fim, o ciclo de jogo é um pouco limitado. Ele consiste em a escolher um ponto do mapa, entrar e explorar uma nave, e criar novos equipamentos com os materiais coletados. As missões de história, inclusive, se resumem em construir alguma coisa com itens, e até mesmo a tarefa final é assim, terminando o jogo de forma abrupta. Como não há grandes novidades no processo, a progressão fica um pouco cansativa, principalmente em longas sessões. Ao menos há modos alternativos que alteram regras do jogo para aqueles que desejam explorar mais a nebulosa.

Um tiroteio tenso e viciante

Explorar uma nebulosa perigosa em Void Bastards é empolgante. Cada uma das incursões de tiro em primeira pessoa apresenta grande imprevisibilidade em fases que mesclam ação, furtividade e improvisação — há muitas ferramentas e possibilidades para lidar com as situações complicadas. O jogo conta também com forte aspecto estratégico com escassez de recursos, o que nos força avaliar com cuidado cada movimento. O visual inspirado em histórias em quadrinhos é impactante, e a atmosfera geral da aventura é muito imersiva. A repetição é o maior problema do título, por mais que alguns modificadores amenizem essa sensação. No fim, Void Bastards usa FPS de forma criativa para criar uma experiência única.

Prós

  • Mistura ímpar entre FPS, estratégia e roguelite;
  • Ação variada e intensa, com momentos mais agitados e outros focados em furtividade;
  • Boa diversidade de situações, armas e inimigos;
  • Ambientação impressionante com visual cel shading que simula histórias em quadrinhos.

Contras

  • Naves muito parecidas entre si trazem sensação de repetição;
  • Ciclo de jogo limitado torna a jornada um pouco cansativa.
Void Bastards — Switch/PC/PS4/XBO — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Análise produzida com cópia digital cedida pela Humble Bundle
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é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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