Em tempos de COVID-19, medidas de distanciamento social são recomendadas para minimizar a disseminação do vírus, que já tem mais de 60 mil infectados confirmados no Brasil e, infelizmente, causou a morte de mais de 04 mil pessoas. Mercados estão em estado caótico, o dólar em alta vertiginosa por aqui, e o número de desempregados só aumenta. O cenário não é nem um pouco favorável em nenhuma das previsões feitas por analistas das mais variadas áreas.
Contudo, o mercado de games cresceu consideravelmente no meio de tanta tragédia. Em março, a compra de jogos digitais ultrapassou a cifra de 10 bilhões de dólares, isso sem somar os quase 6 bilhões só em jogos de celular.
Não apenas opções pagas tiveram destaque no combate ao tédio da quarentena: os italianos, além de cantar Bella Ciao nas varandas de suas casas, viram em Fortnite uma forma de manter seu ócio ocupado. O novo jogo da série Call of Duty: Modern Warfare registrou mais de 30 milhões de jogadores no mundo em apenas 10 dias após o seu lançamento, provavelmente por causa do Warzone, seu novo modo battle royale gratuito.
A Nintendo também aproveitou o crescimento no mercado de jogos eletrônicos. O Nintendo Switch foi o console mais vendido em março de 2020, chegando ao ponto de esgotar do estoque em estabelecimentos comerciais norte-americanos. O primeiro console híbrido do mundo está tão em falta quanto papel higiênico, de acordo com o site Business Insider.
Um dos fatores que garantiu a primeira colocação ao Switch foi o grande lançamento do início de ano: Animal Crossing: New Horizons. O jogo quebrou recordes dentro da própria franquia, com suas vendas ultrapassando 3 vezes o número de Animal Crossing: New Leaf (3DS), que perdeu para o novo título o troféu de mais vendido.
Além disso, derrubou o colosso Pokémon, franquia mais lucrativa da empresa no Japão! Lembrando que o Pikachu sempre consta na lista de personagens mais populares da cultura pop japonesa, o que demonstra ainda mais a força do novo simulador de vida da Nintendo.
Mas o que poderia explicar esse fenômeno de vendas?
Um jogo sem punições severas
A regra dos jogos é que seus erros sempre terão algum tipo de consequência, que pode ser a perda de uma vida por pular na plataforma errada, um Tiger Uppercut (ou Tiger Robocop para os que jogavam Street Fighter nas finadas máquinas de fliperama nos botecos de bairro) do Sagat para os despreparados, ou até mesmo um hit kill de algum chefão na série Dark Souls. A ideia é que o jogador aprenda por meio de seus erros e desenvolva melhor as mecânicas do game.
Animal Crossing: New Horizons foge um pouco dessa linha. A sua ilha é seu lar: você pode simplesmente não fazer nada e isso não trará resultado negativo. É claro que as construções não evoluirão e novos moradores também não vão se interessar em se instalar em sua ilha, mas você não sofrerá retaliação por não produzir. Entretanto, o gameplay é tão gostoso que até mesmo regar as flores é prazeroso.
Não que inexista algum tipo de repressão a erros. É só que ela não se mostra muito severa. Por exemplo: chacoalhar uma árvore é necessário para pegar frutas. Em algumas árvores, há um ninho de vespas que cai, e as danadas vão direto para o jogador, que tem duas opções: correr como um condenado para tentar se esconder em alguma casa ou capturá-las com sua rede. Se não conseguir se livrar delas, será prontamente picado e ficará com a cara inchada.
Caso deixe de tomar um remédio e leve mais um beijo de vespa, o seu personagem desmaiará e acordará em sua casa ou na entrada da ilha deserta que visita. Não perderá dinheiro, nem mesmo o material coletado. Ou seja, uma punição simbólica, sem efeitos tão negativos.
A própria missão de quitar a dívida de sua casa com o Tom Nook, guaxinim que comanda as construções da sua ilha, não é por coação. Não há juros por atrasos, muito menos uma data fatal para o adimplemento da hipoteca. Pode-se pagar o valor parcelado ou mesmo não depositar um tostão na conta de Nook, e isso não resultará em nada desagradável no jogo. Sua casa simplesmente não terá novos quartos e um porão. Para quem gosta de uma vida mais simples, o jogo propicia esse tipo de experiência também.
Há um certo desafio “que é quase frustrante” para pegar alguns insetos e peixes raros, mas nada que um pouco de persistência não resolva. Depois de um tempo, me tornei o mestre da pescaria, e hoje não levo mais picadas de escorpiões, porque aprendi que é necessário se aproximar do aracnídeo devagar e qualquer passo errado pode significar um desmaio.
Há um certo desafio “que é quase frustrante” para pegar alguns insetos e peixes raros, mas nada que um pouco de persistência não resolva. Depois de um tempo, me tornei o mestre da pescaria, e hoje não levo mais picadas de escorpiões, porque aprendi que é necessário se aproximar do aracnídeo devagar e qualquer passo errado pode significar um desmaio.
Os memes e as possibilidades
Sem dúvida alguma, uma das maiores forças de Animal Crossing: New Horizons são seus memes prontos. A internet nos presenteia diariamente com cenas dos animais antropomórficos em situações engraçadas, como presos em buracos maliciosamente feitos para isso ou mesmo cantando com aquele sonzinho fofo que fazem.
Villagers folgados sentados no meio do caminho e obstruindo a passagem, alguns irritados por levar uma redada do jogador, tarântulas perseguidoras ao som do meme do caixão... tem para todos os gostos. Basta procurar no YouTube e se divertir com os vídeos.
Temos também as recriações que os jogadores fazem. Há uma ilha que é igual à cidade de Pallet de Pokémon Red/Blue. Outro jogador fez uma ilha com temática de terror: sangue pelo chão e objetos que lembram filmes de baixo orçamento.
Não nos esqueçamos dos “cosplays”. Eles vão dos mais previsíveis, como Mario e Link (inclusive dentro de uma ilha cujo formato é de Hyrule, de The Legend of Zelda: A Link to The Past), aos mais aleatórios, como Freddie Mercury. Tudo graças ao sistema de customização, que permite downloads de modelos prontos por QR Codes no aplicativo do Switch para celular.
Villagers folgados sentados no meio do caminho e obstruindo a passagem, alguns irritados por levar uma redada do jogador, tarântulas perseguidoras ao som do meme do caixão... tem para todos os gostos. Basta procurar no YouTube e se divertir com os vídeos.
Temos também as recriações que os jogadores fazem. Há uma ilha que é igual à cidade de Pallet de Pokémon Red/Blue. Outro jogador fez uma ilha com temática de terror: sangue pelo chão e objetos que lembram filmes de baixo orçamento.
Não nos esqueçamos dos “cosplays”. Eles vão dos mais previsíveis, como Mario e Link (inclusive dentro de uma ilha cujo formato é de Hyrule, de The Legend of Zelda: A Link to The Past), aos mais aleatórios, como Freddie Mercury. Tudo graças ao sistema de customização, que permite downloads de modelos prontos por QR Codes no aplicativo do Switch para celular.
Laços sociais e solidariedade
Diante de tantas possibilidades e no meio da crise pandêmica, temos, acima de tudo, uma ferramenta que aumenta significativamente nossos laços sociais e de solidariedade.Visitar outros lugares, trocar itens, vender suas frutas nativas para ganhar uns tostões em ilhas de amigos, ter informações privilegiadas no arriscado mercado de turnips... parece muito, mas trata-se apenas do básico que se pode realizar.
Pessoas que tiveram eventos importantes cancelados pela necessidade da quarentena viram em New Horizons a oportunidade de celebrar as suas conquistas. Turmas de estudantes realizaram cerimônias de formatura dentro do jogo. Um casamento real foi realizado dentro de uma ilha, com convidados e tudo mais, comprovando que não é apenas mais um jogo: é uma rede social em que também é possível compartilhar experiências.
São todos esses detalhes e situações que tornam Animal Crossing New Horizons um sucesso não apenas de venda, mas de crítica e principalmente de público. Jogá-lo nos faz sentir menos isolados e ajuda a manter a empatia neste ano atípico em que estamos.
Revisão: Davi Sousa
