Desenvolvido pela Kogado (de Nurse Love Syndrome), Yumeutsutsu Re:Master é uma visual novel sobre uma garota do interior que se muda para a capital depois de conseguir um emprego em uma empresa de desenvolvimento de jogos. Lá ela irá trabalhar num remake de uma visual novel junto com sua irmã e outras personagens com as quais ela pode se envolver romanticamente.
Uma equipe de mulheres excêntricas
Ai Otori é uma garota que sempre viveu no interior. Ela costumava morar com suas duas mães e sua irmã mais nova, Kokoro, mas a sua família se separou em um certo momento. Graças a isso, Kokoro se mudou para a capital e assumiu o sobrenome Yanagiya.
As duas tinham um relacionamento muito próximo, mas algo mudou há pouco tempo e Kokoro se afastou completamente de Ai, pedindo a ela nunca mais a procurar. Desolada, a protagonista um dia recebe um convite para trabalhar na mesma empresa da irmã, a Eureka Software, que trabalha no desenvolvimento de jogos.
Mesmo não sabendo nada sobre o ramo e não se importando muito com a área, ela decide abraçar a oportunidade. Essa falta de interesse é usada pelo roteiro para poder justificar explicações bem básicas e uma visão bem superficial em vários momentos. No entanto, combinado com a total falta de personalidade dela e a forma como muitas vezes o drama em relação à sua irmã parece artificialmente exagerado, Ai é, francamente, um porre.
A inexperiência da personagem é tratada com humor, colocando ela para fazer tarefas menores, como cuidar da cadela da presidente ou desmentindo o conhecimento que ela adquiriu sobre o mercado após uma pesquisa precária. Infelizmente, o início da história também usa muitas piadas sexuais e situações claramente abusivas contra a personagem.
Além de Kokoro e Nana, Ai também pode se envolver com a roteirista “dinossauro” Saki ou com a artista estrangeira Marie Mahler, cuja personalidade é bastante direta e galante. Além de personalidades exóticas, que combinam com a ideia de que “na indústria de games só tem loucos”, existe uma boa química entre as personagens, que é especialmente visível em pontos mais avançados da história. As dublagens exclusivamente em japonês também são de altíssima qualidade, ressaltando as características peculiares das personagens.
Pessoalmente, gostei bastante de como a história da Nana é quase toda contada pela perspectiva dela, mesmo com um foco completo no seu drama pessoal e uma redução considerável do contexto do desenvolvimento propriamente dito do jogo. Já as outras rotas explicam um pouco melhor do processo, cada uma de acordo com um ponto de vista.
Alguns dos melhores momentos da história envolvem justamente ver as personagens sofrendo com o desenvolvimento, mesmo que boa parte do drama esteja mais em questões pessoais. Bons exemplos disso são quando Ai acaba tendo que ajudar uma outra equipe no processo de debugging ou as brigas entre Kokoro e Saki devido ao prazo em que o roteiro precisava ficar pronto. Mesmo superficial, o roteiro tem ótimas sacadas, tirando sarro das situações e apresentando as dificuldades de alguns aspectos do desenvolvimento.
O lado nada fofo da história
Um elemento que chama atenção no jogo é a sua fofura visual, refletida nos designs das personagens e na própria interface minimalista, cuja caixa de texto transparente tem uma tonalidade rosa quando estamos sob a perspectiva de Ai. Isso também vem à tona nos efeitos sonoros, que são em sua maioria cômicos e exagerados, e na trilha, que se mantém fofa mesmo variando de composições engraçadas àquelas mais melancólicas.
Se, por um lado, o visual é charmoso, por outro vale destacar que a história chega a insinuar ou tocar de forma explícita, mesmo que superficialmente, em tópicos pesados como prostituição, incesto, terrorismo, entre outros. As garotas também têm traços bem infantis, sendo a mais velha delas também a que tem maior aparência de criança, algo mencionado dentro do jogo pelas outras personagens que falam se tratar de um fetiche da protagonista, o que ela nega.
Na sequência, Ai diz que recebeu um beijo no seu dedo, mas a imagem a contradiz. |
Lidar com a forma como o jogo apresenta essas questões pode variar de pessoa para pessoa. No entanto, um problema técnico claro no título é a sua tradução. Existem vários trechos em que as frases são incoerentes ou seu sentido está errado naquele contexto em particular.
Mais comum ainda são as repetições e omissões de palavras, os erros de digitação e problemas com o espaçamento quebrando as frases em pontos que nem fazem sentido. Ao contrário dos pontos de pertinência semântica, que demandam correção especializada, bastava uma revisão simples para evitar esses defeitos de formatação.
De forma geral, Yumeutsutsu é uma história curiosa que usa uma pequena empresa de desenvolvimento de jogos como base para uma história de romance com grandes pitadas de drama. Apesar da protagonista não chamar atenção e dos problemas textuais, vale a pena dar uma conferida caso o jogador tenha interesse em acompanhar um pouco da rotina de mulheres produzindo games ao mesmo tempo em que se relacionam amorosamente.
Prós
- Alguns momentos interessantes de discussão sobre desenvolvimento de jogos;
- Rotas das personagens apresentam dramas interessantes e mudanças de perspectiva;
- Vozes em japonês destacam as personalidades exóticas do elenco.
Contras
- Tradução tem muitos erros e até algumas frases sem sentido;
- Piadas sexuais na rota comum chegam a ser grosseiras e incômodas;
- A Ai é uma protagonista sem graça usada para fazer a narrativa mais superficial.
Yumeutsutsu Re:Master - Switch/PC/PS4 - Nota: 7.0Versão utilizada para análise: Switch
Análise produzida com cópia digital cedida pela Degica Games
Revisão: João Pedro Boaventura
Revisão: João Pedro Boaventura