Knightin' + é uma versão maior e mais lapidada de Knightin', jogo para a plataforma online itch.io do desenvolvedor turco Wolod. Como colocado pelo próprio criador, o título tenta ser um "Zelda-lite" e entregar uma experiência que se assemelha à clássica fórmula das aventuras 2D de Link que todo mundo adora: exploração de dungeons com alguns puzzles, inimigos e itens especiais pelo caminho.
Antes de tudo, saiba que você pode testar a demo de Knightin' + diretamente pelo browser no itch.io ou até mesmo jogar a versão original inteira — que por sinal até me cativou mais do que a versão + em alguns aspectos, como a trilha sonora ou o sistema de dicas por meio de QR codes.
Pequenas dungeons que parecem infinitas
Após uma rápida introdução em texto, que basicamente esclarece que ninguém quer perder tempo com uma história clichê, as aventuras do cavaleiro Lootalot se iniciam. Um reino genérico não nomeado precisa ser explorado, concentrando quatro calabouços visualmente e mecanicamente muito parecidos: as Ruínas Abandonadas, a Pirâmide Antiga, o Templo Deserto e a Torre Negra. Apesar dos nomes e do world map que aponta diferenças temáticas entre as dungeons — como floresta, deserto, gelo e trevas —, não se engane, pouca coisa muda de fato.Infelizmente, tirando a paleta de cores e algumas poucas mecânicas bem espaçadas entre elas, as dungeons funcionam sempre da mesma forma: há um punhado de andares para se explorar, cada um com doze salas que podem conter inimigos ou dois tipos de puzzles simplórios. Complete o quebra-cabeça ou derrote todos os inimigos para seguir para a próxima sala e assim em diante. Às vezes outras coisas são necessárias para o progresso, como acender as luzes do local ou viajar por portais até encontrar uma chave para determinada porta. Mas, no final das contas, esses dois quebra-cabeças — e algumas séries de batalhas repetitivas — resumem a jogabilidade do título.
Os dois possíveis puzzles funcionam da seguinte maneira, e apenas assim do começo ao final do jogo: blocos que precisam ser movimentados e colocados no seu devido lugar, e luzinhas no chão que devem acender corretamente (não importa a ordem, e sim quais estão acesas ou não). O puzzle dos blocos representa o básico absoluto do que pode ser chamado de um quebra-cabeça em um videogame. Com toda certeza você já viu, já esteve lá e já fez vários ao longo da sua vida — e provavelmente a maioria deles foi consideravelmente mais interessante do que os presentes em Knightin' +.
Os outros puzzles, os que envolvem as luzes no chão, são, ao mesmo tempo, muito mais simples na sua execução e várias vezes mais complicados no processo de obtenção da solução. Um pouco confuso, não? É assim: para concluir o quebra-cabeça e seguir para a próxima sala, você só precisa pisar nos lugares certos, algo que demora poucos segundos. Para descobrir quais são esses lugares, no entanto, pode ser um processo longo e demorado.
O piso das salas de Knightin' +, desde o começo da aventura, pode revelar muitas informações valiosas. Pequenos "tutoriais" sobre como usar um novo item ou interagir com um novo obstáculo do cenário são explicados por meio do chão, por exemplo. Você consegue adivinhar onde se encontra a solução para os puzzles das luzes agora? Pois é: no chão. Não exatamente onde você está pisando, é claro — em outras salas, às vezes várias salas ao mesmo tempo e sempre um tanto longe demais.
Quem dera a progressão fosse um pouco mais linear como eu fiz parecer alguns parágrafos acima. Há muito backtracking desnecessário e isso começa a irritar de forma poderosa a partir do terceiro estágio. Os andares se confundem constantemente, por exemplo. Você pode facilmente caminhar entre uns três ou quatro andares diferentes enquanto segue o único caminho que está aberto no momento. Imagina ter que prestar atenção constante em todos os detalhes no chão de cada sala de cada andar, só para avançar em um eventual quebra-cabeça que vai aparecer muito tempo depois.
Sinceramente, eu acabei Knightin' + na força do ódio e nada mais. Algumas horas além do esperado foram adicionadas no meu playthrough só pelas andanças em círculos enquanto a raiva foi aumentando exponencialmente. Sem falar dos combates, que também ficam gradualmente mais irritantes com o passar do tempo — e eu não falei difíceis, apenas chatos mesmo. Não sei dizer quanto tempo eu perdi esperando pela mariposa voadora que desaparece depois de soltar bombas ou quantos inimigos berinjela que se multiplicam eu tive que matar em algumas das salas.
As mecânicas do título são sólidas na medida do possível e o combate e a movimentação funcionam de forma adequada — com exceção dos chefões finais de cada fase, em que o timing dos ataques precisa ser estranhamente específico para acertá-los de forma devida. Além disso, para um jogo tão curto, até que a lista de upgrades disponíveis é vasta: um dash, um escudo, um bastão mágico e uma espada que roda ao ser carregada são algumas das opções. Tudo bastante "Zelda". Se Zelda não fosse nem um pouco divertido.
A cereja do bolo da irritação causada por jogar Knightin' + é o fato de que cada estágio possui apenas uma música que toca em loop do começo ao fim. E fica aqui o spoiler: a trilha sonora também não é muito boa. Ela é repetitiva, irritante e não combina muito com a ação na maioria das vezes. Una isso aos gráficos retrô tão genéricos quanto o boss final (literalmente chamado de "Senhor das Trevas Genérico") e fica bem claro que dá para deixar essa experiência para outra hora, ou melhor ainda, só esquecer dela por inteiro. Pelo menos o jogo reconhece sua natureza e se mostra consciente, rindo de si mesmo e levando tudo com bom humor desde o começo — o que certamente é um ponto positivo em meio à desgraça.
Prós
- Mecânicas decentes;
- Humor interessante que sabe rir de si mesmo.
Contras
- Puzzles pouco criativos e repetitivos;
- Backtracking irritante ao extremo;
- Trilha sonora limitada e pouco memorável, assim como a parte gráfica.
Knightin' + - Switch/PC/PS4 - Nota: 4.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games