Os 25 anos de Chrono Trigger: impacto, legado e perspectivas

Clássico RPG de SNES ainda causa impacto mesmo após mais de duas décadas, sendo que fãs clamam por remake ou continuação.

em 26/05/2020


É impossível encontrar alguma lista de melhores jogos de SNES em que Chrono Trigger não tenha posição de destaque, isso quando não seja posto no primeiro lugar do pódio. Considerado um dos melhores jogos da história dos videogames, o legado do clássico é indiscutível, chegando a ser eleito em 2019 o melhor dos últimos 30 anos pelo público japonês, superando o perfeito The Legend of Zelda: Breath of The Wild. Mas quais as razões de um jogo com mais de 25 anos ainda ter esse impacto na cultura gamer?

O dream team de Chrono Trigger

A série de RPGs Final Fantasy era de um sucesso estrondoso no Japão, mas não conseguia emplacar com o mesmo fervor no Ocidente no início dos anos 90. Daí porque o Final Fantasy VI chegou nas lojas como se fosse o terceiro jogo da franquia da Square, pois os outros títulos da franquia não chegaram a ser lançados fora das terras nipônicas.



O impacto de vendas do lançamento de Final Fantasy VI (ou III) foi decisivo para que Hironobu Sakaguchi, o “Shigeru Miyamoto da Square”, resolvesse colocar em prática um projeto mais ambicioso que unisse nomes de peso da cultura pop japonesa num único game. Para tanto, resolveu escalar um time de peso.

Sakaguchi contatou Yuji Horii, o nome por trás de Dragon Quest, sucesso no Japão que também padecia do mesmo problema de vendas que Final Fantasy em terreno ocidental. Mas não era o bastante: precisava de mais um nome para compor o time perfeito.

Chamou ninguém menos que Akira Toriyama, o pai de Dragon Ball, um dos animes de maior sucesso mundial e fenômeno da cultura pop japonesa. Toriyama ficou com o trabalho de criar o design dos personagens. Os traços do gênio são perceptíveis dada a evidente semelhança entre os personagens principais e os protagonistas de Dragon Ball.





Mas nada é perfeito o suficiente que não se pode melhorar. Para fechar a escalação, Yasunori Mitsuda comandou a composição da trilha sonora do jogo, sendo que por questões de saúde foi substituído por ninguém menos que Nobuo Uematsu, responsável pelas músicas inesquecíveis de Final Fantasy. Só de escrever isso já senti a tensão da música épica da batalha com o Magus.



Esses foram os principais nomes do projeto pretensioso de Chrono Trigger. E deu muito certo, porque quando foi lançado na data de 11 de março de 1995 o sucesso foi instantâneo.

Enredo denso e complexo

A evolução do videogame enquanto arte narrativa foi rápida. Num prazo de menos de 30 anos, partimos de jogos em que bastava pular em cogumelos mutantes para salvar uma princesa de um tartarugão malvado bizarro para narrativas dignas de cinema e de grandes clássicos da literatura, como, por exemplo, Bioshock e The Last of Us.

Há dois chutes possíveis para não se prezar tanto por narrativas desenvolvidas no início da história dessa arte eletrônica. O primeiro é por questão de que os jogos focavam mais em gameplay, deixando de lado a construção do enredo, porque era um meio de entretenimento apenas, nada além disso. Jogos como Pac-Man e Galaga foram feitos principalmente para fliperamas, ou seja, para serem jogados e terminados rapidamente.
Outro chute é por questões de ordem técnica. Não havia tecnologia suficiente antes da década de 90 para se desenvolver algo robusto com pouca capacidade de memória. Os jogos não passavam de Kbs de tamanho, o que é nada hoje em que há uns que ultrapassam os exorbitantes 100 Gb, como Red Dead Redemption 2. Espaço para desenvolver uma história é luxo.
Chrono Trigger não foi o primeiro jogo a ter um enredo mais desenvolvido. O próprio Final Fantasy III (ou VI) havia demonstrado um roteiro cuja maturidade não ficava atrás de grandes épicos hollywoodianos, chegando ao ponto do mundo inteiro ser destruído durante o desenrolar da história.

Porém, Chrono trouxe algo até então original: a possibilidade de viagens no tempo. No início, o jogo aparenta recair no clichê básico do gênero: um personagem de classe popular, no caso Crono, se arrisca para salvar a princesa Marle, com a ajuda de sua amiga, Lucca.

Mas, o que aparentemente recairia na mesmice, acaba se transformando numa narrativa que envolve a possibilidade de salvar o mundo de um parasita espacial, Lavos, que se alimenta do núcleo da Terra há milhões de anos.
O grau de complexidade é tanto que em uma parte é possível voltar ao passado para evitar que uma personagem fique paraplégica. Nunca me esqueço da primeira vez que joguei e de repente presenciei a morte do protagonista: chorei, porque pensei que não havia mais o que fazer... Mas havia!

São sete personagens ao todo, sendo de épocas distintas: vai da pré-história, com “Ayla”, ao futuro pós-apocalíptico, com “Robo”. Há, para quem goste de idade média e novelas de cavalaria, “Frog”, um cavaleiro que foi amaldiçoado por “Magus”. Aliás, “Magus” é o tradicional anti-herói: você pode optar que entre em seu grupo ou não, mudando o final do jogo.

Falando nisso, são 13 finais que o jogo nos oferece. Há o mais fácil de todos em que basta perder a batalha final para Lavos e o mundo acaba, outro em que os répteis dominam a Terra, e até mesmo um final especial em que aparecem os criadores do jogo. As suas ações na linha do tempo definem o desfecho das personagens.

Fritando o SNES e inovando a gameplay

Em 1995 o SNES estava no auge, mas já havia a presença de concorrentes de 32 megabits como o Playstation One e o Sega Saturn. Contrariando as expectativas, a Nintendo fazia milagres em seus cartuchos de 16 megabits, criando chips capazes de expandir a capacidade gráfica e de processamento de seu principal videogame na época. Jogos como Donkey Kong Country e Star Fox impressionavam pela qualidade técnica que parecia ser impossível de o SNES alcançar.
Foi nesse contexto que foi produzido Chrono Trigger. A equipe de desenvolvimento usou o máximo da palheta de cores do videogame, criando um jogo que não deixava nada a desejar em relação aos gráficos dos seus modernos concorrentes. Inclusive, conseguiu o feito de apertar 32 megabits dentro do cartucho!
Com animações extremamente detalhadas, não havia RPG de SNES que estivesse à sua altura no quesito técnico à época de seu lançamento – posteriormente vieram os petardos Star Ocean e Tales of Phantasia, que chegaram a 48 megabits –, superando inclusive a obra-prima que foi Final Fantasy VI (ou III). E isso ocorre principalmente porque Chrono Trigger pioneiramente acabou com os encontros aleatórios típicos dos jogos do gênero à época: as batalhas se davam dentro do próprio cenário e os inimigos eram visíveis, muitas vezes sendo possível evitar brigas como estratégia.

E uma das inovações mais legais: a possibilidade de combinar técnicas para aumentar o poder de seus golpes. Havia magias que combinavam três personagens de cada elemento — água, fogo e eletricidade —, causando dano absurdo nos inimigos. A apelação que era algo sem fim.

O impacto na indústria e o legado

Chrono Trigger deixou uma legião de fãs que continuam até hoje sedentos por uma continuação ou mesmo um remake (com o advento do primoroso de Final Fantasy VII, não custa sonhar...).

Há versões do jogo para praticamente todos os consoles posteriores, sendo que indiscutivelmente a melhor de todas é a de Nintendo DS, que inclusive adiciona um chefe a mais e um novo final para a história. Isso sem falar na adição de cinemáticas de anime que emocionam: os traços de Toriyama são maravilhosos e as cenas como a da morte de Crono ganharam uma dramaticidade sem tamanho!



Pouca gente sabe, mas Chrono Trigger teve uma espécie de continuação que saiu em 1996 somente no Japão, o Radical Dreamers. O jogo era um RPG textual para o Satellaview, uma plataforma que possibilitava a conexão de internet no SNES.



Após isso, a única tentativa de sequência direta foi o Chrono Break, cujo projeto também não obteve êxito. Em pesquisas de opinião pela internet, os jogadores de Smash Bros. sempre citam Crono como possível personagem a participar do maior crossover dos jogos de luta.
Quem sabe agora que a Nintendo e a Square voltaram a trabalhar juntas em vários projetos, não seja o momento para reavivar essa franquia tão querida, nem que seja com uma singela participação num jogo de porradaria? Não custa nós fãs sonharmos...

Revisão: Jorge Neto
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