World Cup 98 (N64) e sua inexplicável magia

A participação espetacular da seleção brasileira nas Copas do Mundo de 1994, 1998 e 2002 alavancou ainda mais a popularidade do futebol entre os, como eu, nascidos nos anos 90. Mas para os gostos há as cores, e nunca me interessei por este esporte.

em 30/05/2020

Desde pequeno que não gosto de futebol. Nem na vida real e muito menos nos videogames. Antes de ter meu próprio Super Nintendo ia jogar na casa de um primo aficionado por este esporte. E bem, enquanto ele preferia jogar World Cup USA '94 e International Superstar Soccer (mais precisamente as hacks Campeonato Brasileiro 96 e depois o Ronaldinho Soccer 97), eu sempre pedia para colocar o F-Zero ou ou The Teenage Mutant Ninja Turtles IV – Turtles In Time, quase sempre sem sucesso.


Basicamente todos os meus colegas que tinham consoles adoravam jogar futebol. Seja no Super Nintendo, no Mega Drive e ainda mais no impressionante futebol em 3D do PlayStation, e por esta mesma razão acabava jogando uma ou outra partida quando ia a casa de algum deles, até conseguir convencê-los a trocar por algum outro jogo, qualquer outro jogo. De fato, de tudo o que havia para se jogar nesses consoles, a única opção que não interessava ou me divertia eram os jogos de futebol. Até chegar meu Nintendo 64.

Meu console veio acompanhado com quatro jogos: Super Mario 64, Mace: The Dark Age, World Driver Championship e World Cup 98. Por esta lista não fica difícil imaginar qual foi o primeiro e qual o último dos cartuchos que dei importância. Mas um dia, depois de muito me estropiar em algum lugar da Lethal Lava Land, decidi brincar com aquele jogo que tinha a taça do mundial na etiqueta.

Por que não?

Encaixei o cartucho, empurrei a alavanca do power e me sentei. Uma mensagem em inglês apareceu na tela. Mesmo não dominando o idioma, já havia decorado coisa simples como “continue without save” e prossegui para a icônica tela de apresentação da EA Sports. E o jogo começou!

O mascote da Copa de 98 estava correndo sobre uma bola de futebol enquanto as bandeiras dos países o rodeava. A câmera fazia um 360º, e tudo isso, somado ao refrão de Tubthumping, da banda inglesa Chumbawamba, era vibrante! A verdade é que a versão do Nintendo 64 ficou muito aquém da introdução em cgi do PlayStation, mas como só fui ver a versão do console da Sony muitos anos depois, não foi um incômodo.
A inexplicável nostalgia de ligar os circuitos do Nintendo 64.

O jogo

Os modos de jogo eram Friendly, World Cup, Penalty Shootout, Cup Classics e Training. O World Cup é a campanha em toda regra. Você pode escolher mais de uma seleção e jogar todo o torneio. Geralmente eu pego uma seleção com melhores atributos e outra oposta e levo as duas para a final.

Os estádios têm algumas opções interessantes, como mudar o horário do dia (gosto do efeito que colocaram no céu do entardecer) e o clima. Para além disso, temos as opções padrões de quase qualquer jogo desta categoria, como modificar escalação, tempo de jogo, formação, rever o replay instantâneo dos gols com opções de câmera em diversos ângulos, e por aí vai. A comemoração dos jogadores a cada gol era algo agradável de se ver e as cenas, todas renderizadas em tempo real, variavam bastante. Minha favorita é a do goleiro adversário chutando a câmera, que geralmente aparece depois que sofre muitos gols.

Os modelos dos jogadores não são nada de outro mundo, mas estão bem feitos. A física da bola é um pouco esquisita e o campo é tão rapidamente percorrido de ponta a ponta que fica a impressão de que estamos jogando com dimensões de uma quadra de futsal. A torcida nas arquibancadas segue aquele modelo estático, com flashes aleatórios simulando câmeras disparando, e gigantescas bandeiras nacionais representando cada equipe na partida estão tremulando nas duas extremidades do estádio.

O modo clássico era desbloqueado após vencer uma Copa do Mundo, então eu não jogava muito (o jogo pede o Controller Pak para guardar a partida, e na época eu não o tinha), mas quando joguei me impressionei com o que vi. Era um modo em que se podia rejogar a final de todos os mundiais até 1994, trazendo os uniformes modificados com as cores correspondentes a da que os Times usaram no ano, o nome dos jogadores clássicos na escalação e, para as finais mais antigas, a bola na coloração marrom.
 

Controle de bola

Os controles do Nintendo 64 são por si só são bastante controversos. Há quem os ame, há quem não consiga jogá-los. Eu sou do partido dos que os ama.
Posso afirmar que entre os atributos que me encantaram neste jogo, no topo da lista está o quase conturbado esquema dos controles.

Movimenta-se os jogadores no campo com a alavanca analógica, e podemos trocar o jogador que está com o círculo sob seus pés, aquele que detemos o controle, pressionado B.  Para correr é preciso esmagar o botão C da esquerda. O da direita faz um passe, enquanto o de baixo dá um chute alongado para frente. Quando a bola está em posse do jogador, botão C superior faz uma espécie de levantada na bola, o jogador meio que pula levantando a bola enganchada entre as pernas. Quando a bola está em posse do adversário, este botão serve para roubá-la entre suas pernas ou, se estiver um pouco mais distante, dar carrinhos. O botão Z faz uma espécie de drible gingado. B faz o passe, A dá um chute mais forte. R e Z também são usados para controlar a curvatura da bola na hora dos tiros de meta.

Confuso no início, se tornava muito natural depois de algumas partidas.




Ironicamente, pouquíssimas vezes consegui jogar o multiplayer. Todo mundo gostava de futebol, mas ninguém gostava do esquema de controles deste jogo. É compreensível que, estando acostumados ao padrão do DualShock ou mesmo do controle do Super Nintendo, ficaria difícil de se adaptar, mas a verdade é que eu amo o controle do N64, inclusive neste jogo!

Com todas suas particularidades, World Cup 98 me conquistou. Me fez passar várias madrugadas esmagando o botão C, vibrando sozinho a cada gol marcado, vendo o replay em diferentes ângulos, conduzindo diferentes equipes até a vitoriosa final, e se tornou um de meus jogos favoritos do meu console de mesa favorito. E olha que está dividindo espaço em um catálogo que tem Star Fox 64, F-Zero X, Star Wars Episode I Racer, Pokémon Stadium e diversas outras joias da quinta geração.
Olhando para o controle, parece mais uma partida de Killer Instinct Gold do que de um Fifa.

...E quem irá dizer que não existe razão?

Não por isso me tornei um amante de futebol. Cheguei a comprar o Fifa 06 para o Gamecube, e até o Fifa 08 para o PlayStation 2, joguei um pouco de algum Fifa e algum PES no PlayStation 3 e até no 3DS, mas de verdade nenhum destes me trouxe uma experiência que se possa chamar de divertido. E o mais provável é que eu vá continuar passando longe de todo lançamento de jogos de futebol que virá. Exceto, claro, Captain Tsubasa: Rise of New Champions.

Incrivelmente sempre religo o 64-Bits para umas partidas avulsas, e geralmente jogo toda a campanha do mundial e alguma ou outra partida no modo Clássico. No fim, o esquema maluco dos controles, a física completamente absurda e os meio manjados de se fazer gols deste título me engancharam. É dos jogos que mais carinho e memória afetiva tenho, e acredito ser esta a magia dos videogames: eles não precisam de explicação racional. Por mais que tracemos argumentos lógicos para tentar explicar a satisfação de se estar diante de um mundo virtual, controlado por um acessório de plástico cheio de botões em nossas mãos, no fim das contas o que vale são as experiências pessoais, que faz com que há quem ame Ocarina of Time e há quem não veja a menor graça no mundo de Hyrule e prefira uma boa partida de Fifa.


Revisão: Vladimir Machado

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