Desde pequeno que não gosto de futebol. Nem na vida real e muito menos nos videogames. Antes de ter meu próprio Super Nintendo ia jogar na casa de um primo aficionado por este esporte. E bem, enquanto ele preferia jogar World Cup USA '94 e International Superstar Soccer (mais precisamente as hacks Campeonato Brasileiro 96 e depois o Ronaldinho Soccer 97), eu sempre pedia para colocar o F-Zero ou ou The Teenage Mutant Ninja Turtles IV – Turtles In Time, quase sempre sem sucesso.
Basicamente todos os meus colegas que tinham consoles adoravam jogar futebol. Seja no Super Nintendo, no Mega Drive e ainda mais no impressionante futebol em 3D do PlayStation, e por esta mesma razão acabava jogando uma ou outra partida quando ia a casa de algum deles, até conseguir convencê-los a trocar por algum outro jogo, qualquer outro jogo. De fato, de tudo o que havia para se jogar nesses consoles, a única opção que não interessava ou me divertia eram os jogos de futebol. Até chegar meu Nintendo 64.
Meu console veio acompanhado com quatro jogos: Super Mario 64, Mace: The Dark Age, World Driver Championship e World Cup 98. Por esta lista não fica difícil imaginar qual foi o primeiro e qual o último dos cartuchos que dei importância. Mas um dia, depois de muito me estropiar em algum lugar da Lethal Lava Land, decidi brincar com aquele jogo que tinha a taça do mundial na etiqueta.
Por que não?
Encaixei o cartucho, empurrei a alavanca do power e me sentei. Uma mensagem em inglês apareceu na tela. Mesmo não dominando o idioma, já havia decorado coisa simples como “continue without save” e prossegui para a icônica tela de apresentação da EA Sports. E o jogo começou!O mascote da Copa de 98 estava correndo sobre uma bola de futebol enquanto as bandeiras dos países o rodeava. A câmera fazia um 360º, e tudo isso, somado ao refrão de Tubthumping, da banda inglesa Chumbawamba, era vibrante! A verdade é que a versão do Nintendo 64 ficou muito aquém da introdução em cgi do PlayStation, mas como só fui ver a versão do console da Sony muitos anos depois, não foi um incômodo.
A inexplicável nostalgia de ligar os circuitos do Nintendo 64. |
O jogo
Os modos de jogo eram Friendly, World Cup, Penalty Shootout, Cup Classics e Training. O World Cup é a campanha em toda regra. Você pode escolher mais de uma seleção e jogar todo o torneio. Geralmente eu pego uma seleção com melhores atributos e outra oposta e levo as duas para a final.Os estádios têm algumas opções interessantes, como mudar o horário do dia (gosto do efeito que colocaram no céu do entardecer) e o clima. Para além disso, temos as opções padrões de quase qualquer jogo desta categoria, como modificar escalação, tempo de jogo, formação, rever o replay instantâneo dos gols com opções de câmera em diversos ângulos, e por aí vai. A comemoração dos jogadores a cada gol era algo agradável de se ver e as cenas, todas renderizadas em tempo real, variavam bastante. Minha favorita é a do goleiro adversário chutando a câmera, que geralmente aparece depois que sofre muitos gols.
Os modelos dos jogadores não são nada de outro mundo, mas estão bem feitos. A física da bola é um pouco esquisita e o campo é tão rapidamente percorrido de ponta a ponta que fica a impressão de que estamos jogando com dimensões de uma quadra de futsal. A torcida nas arquibancadas segue aquele modelo estático, com flashes aleatórios simulando câmeras disparando, e gigantescas bandeiras nacionais representando cada equipe na partida estão tremulando nas duas extremidades do estádio.
O modo clássico era desbloqueado após vencer uma Copa do Mundo, então eu não jogava muito (o jogo pede o Controller Pak para guardar a partida, e na época eu não o tinha), mas quando joguei me impressionei com o que vi. Era um modo em que se podia rejogar a final de todos os mundiais até 1994, trazendo os uniformes modificados com as cores correspondentes a da que os Times usaram no ano, o nome dos jogadores clássicos na escalação e, para as finais mais antigas, a bola na coloração marrom.
Controle de bola
Os controles do Nintendo 64 são por si só são bastante controversos. Há quem os ame, há quem não consiga jogá-los. Eu sou do partido dos que os ama.Posso afirmar que entre os atributos que me encantaram neste jogo, no topo da lista está o quase conturbado esquema dos controles.
Movimenta-se os jogadores no campo com a alavanca analógica, e podemos trocar o jogador que está com o círculo sob seus pés, aquele que detemos o controle, pressionado B. Para correr é preciso esmagar o botão C da esquerda. O da direita faz um passe, enquanto o de baixo dá um chute alongado para frente. Quando a bola está em posse do jogador, botão C superior faz uma espécie de levantada na bola, o jogador meio que pula levantando a bola enganchada entre as pernas. Quando a bola está em posse do adversário, este botão serve para roubá-la entre suas pernas ou, se estiver um pouco mais distante, dar carrinhos. O botão Z faz uma espécie de drible gingado. B faz o passe, A dá um chute mais forte. R e Z também são usados para controlar a curvatura da bola na hora dos tiros de meta.
Confuso no início, se tornava muito natural depois de algumas partidas. |
Ironicamente, pouquíssimas vezes consegui jogar o multiplayer. Todo mundo gostava de futebol, mas ninguém gostava do esquema de controles deste jogo. É compreensível que, estando acostumados ao padrão do DualShock ou mesmo do controle do Super Nintendo, ficaria difícil de se adaptar, mas a verdade é que eu amo o controle do N64, inclusive neste jogo!
Com todas suas particularidades, World Cup 98 me conquistou. Me fez passar várias madrugadas esmagando o botão C, vibrando sozinho a cada gol marcado, vendo o replay em diferentes ângulos, conduzindo diferentes equipes até a vitoriosa final, e se tornou um de meus jogos favoritos do meu console de mesa favorito. E olha que está dividindo espaço em um catálogo que tem Star Fox 64, F-Zero X, Star Wars Episode I Racer, Pokémon Stadium e diversas outras joias da quinta geração.
Olhando para o controle, parece mais uma partida de Killer Instinct Gold do que de um Fifa. |
...E quem irá dizer que não existe razão?
Não por isso me tornei um amante de futebol. Cheguei a comprar o Fifa 06 para o Gamecube, e até o Fifa 08 para o PlayStation 2, joguei um pouco de algum Fifa e algum PES no PlayStation 3 e até no 3DS, mas de verdade nenhum destes me trouxe uma experiência que se possa chamar de divertido. E o mais provável é que eu vá continuar passando longe de todo lançamento de jogos de futebol que virá. Exceto, claro, Captain Tsubasa: Rise of New Champions.Incrivelmente sempre religo o 64-Bits para umas partidas avulsas, e geralmente jogo toda a campanha do mundial e alguma ou outra partida no modo Clássico. No fim, o esquema maluco dos controles, a física completamente absurda e os meio manjados de se fazer gols deste título me engancharam. É dos jogos que mais carinho e memória afetiva tenho, e acredito ser esta a magia dos videogames: eles não precisam de explicação racional. Por mais que tracemos argumentos lógicos para tentar explicar a satisfação de se estar diante de um mundo virtual, controlado por um acessório de plástico cheio de botões em nossas mãos, no fim das contas o que vale são as experiências pessoais, que faz com que há quem ame Ocarina of Time e há quem não veja a menor graça no mundo de Hyrule e prefira uma boa partida de Fifa.
Revisão: Vladimir Machado