Análise: Saints Row IV: Re-Elected (Switch) reinventa as responsabilidades presidenciais

O quarto título da franquia dos Saints mostra que ainda tem bons momentos a oferecer no console híbrido da Nintendo.

em 11/04/2020
Sabiamente já dizia um conhecido super-herói que grandes poderes exigem grandes responsabilidades. Em nome da diversão, porém, esta bela máxima não é 100% válida em Saints Row IV: Re-Elected (Switch), e a insanidade que provém desse fato é um dos pontos altos do título de mundo aberto da Volition, que chega ao console híbrido da Nintendo quase sete anos após o seu lançamento original.


Mas será que a mais recente empreitada dos Saints ainda se sustenta tanto tempo após sua estreia, ou temos aqui uma gafe política que quanto antes esquecida, melhor? Continue conosco, caro(a) leitor(a), enquanto assumimos a cadeira presidencial para a nossa análise:

Democracia em vertigem

Em Saints Row IV: Re-Elected, você, membro dos Saints e recém-proclamado herói nacional, também assume o cargo político mais cobiçado do planeta: a presidência dos Estados Unidos. Como líder mundial, caberá a você fazer escolhas difíceis - acabar com o câncer ou com a fome no mundo? -, mas logo a situação foge do controle com um simples pronunciamento de rotina sendo interrompido por um ataque alienígena.

Dizem que são em tempos de crise que conhecemos os verdadeiros líderes, então, como um bom presidente, está nas suas mãos a missão de salvar toda a humanidade do temível lorde Zinyak. A tarefa, no entanto, não será tão simples: após o confronto inicial, o chefe alienígena consegue te prender em uma simulação, e escapar dos confins desta realidade alternativa será uma das chaves para o sucesso da humanidade.

Por sorte, você contará com o apoio de diversos personagens da franquia, como a brilhante Kinzie Kensington e o seguro vice-presidente Keith David; e um variado e insano arsenal que, uma vez desbloqueado, certamente dará o suporte necessário à sua criatividade na hora de defender a Terra (ou simplesmente causar o caos).

O céu é o limite... ou não?

Desde sua concepção na segunda metade dos anos 2000, a série Saints Row sofreu inúmeras comparações com Grand Theft Auto. Nada fora do comum, afinal a franquia da Rockstar se destaca por sua influência na indústria e em jogos de mundo aberto, e a saga de gangues rivais realmente bebeu nesta fonte inicialmente. A partir do terceiro título, porém, Saints Row abraçou de vez sua vertente cômica e descompromissada com a realidade, o que lhe rendeu uma identidade única (e bem divertida) no processo.

Na prática, isso quer dizer que em uma missão você estará salvando o mundo enquanto I Don’t Wanna Miss A Thing, do Aerosmith, está tocando no background, e horas depois estará escapando de uma nave espacial (pelado) ao som da pesadíssima What Is Love, de Haddaway. Como se isso não fosse o bastante, prepare-se para um mar de referências à cultura pop e aos videogames - é possível escutar inclusive um “do a barrel roll!” à la Star Fox 64 (N64) enquanto você pilota um veículo espacial.

Desse modo, caso você seja fisgado pelo humor do título, é quase impossível não abrir um sorriso enquanto joga. Nada disso, porém, funcionaria caso a jogabilidade não desse liga às ideias dos produtores. Felizmente não é o caso aqui: Saints Row funciona como um híbrido de Grand Theft Auto, Crackdown e Sunset Overdrive com ideias próprias no processo. Todos os clichês de jogos de mundo aberto estão presentes: atividades secundárias espalhadas pelo mapa, torres que precisam ser conquistadas, e colecionáveis que precisam ser destruídos ou coletados.

A grande diferença é que, com o tempo de jogo, você poderá subverter as leis da realidade. Conforme progride, seu personagem ganhará habilidades como super velocidade, super pulo e até telecinesia, que lhe permitirá mover objetos e usá-los para se defender (ou atacar). Afinal, como você está em uma simulação, nada mais justo que também usá-la como um playground particular, correto?

O único problema aqui é que é fácil superestimar seus poderes no início e se envolver em confusões com os alienígenas das quais não será tão fácil escapar. Explica-se: cada ação contra os vilões aumentará progressivamente seu nível de procurado, e a opção de destruir o Master Controller, usada para zerar o nível de infrações, não está disponível logo no início, o que infelizmente pode levar a frustrações desnecessárias. 

É uma falha incômoda de design que pode causar confusão aos novatos que queiram causar o caos assim que possível - a boa notícia é que gradativamente seu personagem se tornará o super-herói que a Terra precisa para escapar das garras de Zinyak.

É possível melhorar suas habilidades obtendo clusters espalhados pelo mapa e com a moeda corrente, obtida quando se esvazia o cache da simulação - um incentivo em relação à progressão. Um ponto que também merece destaque são as opções de personalização: é possível personalizar completamente seu personagem, seus veículos e até mesmo os Saints que aparecerão como reforço mediante uma ligação.

Simulação Virtual

Infelizmente, ainda há poucos jogos de mundo aberto disponíveis para o Nintendo Switch mesmo passados três anos do lançamento do console, o que faz com que a chegada de Saints Row IV: Re-Elected seja muito bem-vinda. Apesar do título começar a mostrar a sua idade, há poucas experiências similares no híbrido da Nintendo, e se você for um fã do gênero e não tiver problemas com o senso de humor da franquia, aqui está uma experiência com a qual é possível gastar horas sem perceber.

Não há problemas significativos de performance e estabilidade nesta versão, e jogar algo expansivo e rico em conteúdo dessa forma, especialmente em modo portátil, nos faz recordar o quão mágico é o console da Big N. Afinal, não faz tanto tempo assim que precisávamos de dispositivos bem maiores para se divertir com a insanidade da franquia. Para os que já conhecem a saga, vale lembrar que este port contém 25 pacotes de DLC, dentre eles as expansões Enter The Dominatrix e How The Saints Save Christmas. A única ausência fica por conta de Gat Out of Hell, que não está inclusa no pacote e até o momento não possui data de lançamento.

Confesso que, particularmente, não esperava muito de Saints Row IV. Por fim, terminei bastante surpreso com o quão prazeroso o título ainda é, mesmo anos após seu lançamento original. Seu senso de humor certamente não agradará a todos - uma das primeiras características que você poderá mudar em seu personagem é o sex appeal, por exemplo - mas representa um contraste por vezes refrescante em relação aos rumos e narrativas cada vez mais sérias que a indústria de videogames está abraçando.

Junta-se a isso o fato da qualidade geral do port (que retém as opções de multiplayer e adiciona novidades como opção de mira por movimento), e a possibilidade de explorar um largo mundo virtual tanto em modo TV quanto em modo portátil, e não há muita alternativa: abduzir alienígenas ao som de Song 2, do Blur, sempre será recomendado.

Prós

  • Trilha sonora fantástica;
  • Mundo aberto com diversas atividades;
  • Diversas referências à cultura pop e à indústria de videogames;
  • Port sem problemas técnicos graves.

Contras

  • Senso de humor da franquia pode não agradar a todos;
  • Sem tradução para português brasileiro;
  • Ausência de poderes pode frustrar no início do jogo;
  • Gráficos e texturas levemente datadas.
  Saints Row IV: Re-Elected - Switch/PC/PS4/Xbox One - Nota: 8.5 
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Icaro Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Deep Silver
Siga o Blast nas Redes Sociais

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).