Análise: Moving Out (Switch) — fazendo mudanças malucas em um frenético multiplayer

Chame alguns amigos e carregue móveis nesse divertido indie cooperativo.

em 29/04/2020

Nos últimos anos, alguns títulos indie têm transformado tarefas mundanas, como cozinhar ou reformar apartamentos, em frenéticas experiências multiplayer. Esse universo se expande com Moving Out, um colorido “simulador de mudança” repleto de situações absurdas. No jogo, o objetivo é coordenar ações com amigos para carregar mobília no menor tempo possível. Mecânicas simples de entender e algumas boas pitadas de caos são os ingredientes desse divertido party game focado no multiplayer local.

Arrastando e lançando coisas em mudanças

Em Moving Out até quatro jogadores são os novos funcionários da Smooth Moves, uma empresa especializada em fazer mudanças e transporte de móveis. Cada um dos trabalhos consiste em carregar para dentro da caçamba do caminhão a mobília e outros objetos de residências no menor tempo possível. Os comandos são muito simples, bastando segurar um botão para carregar os objetos. Itens maiores, como camas e armários, são mais fáceis de mover com a ajuda de outro jogador.

Segundo o gerente da empresa, os clientes pagaram pelo seguro, logo os itens não precisam necessariamente estar intactos. Sendo assim, lançar objetos é uma boa maneira de fazer tudo mais rápido: televisões, cadeiras, eletrodomésticos e outras coisas podem ser simplesmente jogados no caminhão. Sofás, camas e outras mobílias pesadas também pode ser lançadas, mas para fazer isso é necessário no mínimo dois carregadores. Já os pacotes frágeis precisam ser manejados com cuidado — nada de jogá-los por aí.


Para deixar as coisas mais complicadas, o espaço na caçamba do caminhão é limitado. Isso significa que os objetos precisam ser organizados para caber corretamente no compartimento. Jogar as coisas de qualquer jeito é uma opção que funciona algumas vezes, mas nas fases mais avançadas é essencial tentar arrumar a mobília para conseguir concluir o trabalho no tempo.

O tempo para concluir cada estágio é limitado e há três diferentes gradações de acordo com a velocidade. As fases contam também com objetivos opcionais variados, como não quebrar janelas, levar itens adicionais, evitar que objetos sejam molhados e assim por diante. Muitas dessas tarefas são bem diretas, já outras são crípticas (como “não molhe o pato” ou “leve o cachorro para passear”), o que traz um aspecto de puzzle ao jogo. Fases especiais bem difíceis só podem ser acessadas por meio das medalhas obtidas pelas missões opcionais.

Loucura e coordenação em situações absurdas

Convenhamos que fazer mudanças não parece lá muito interessante, mas Moving Out subverte isso com uma pitada de loucura absurda. O conceito principal e os comandos simples são fáceis de entender e rapidamente estamos jogando as coisas no caminhão, no entanto situações cada vez mais complexas e malucas tornam a experiência divertida. O jogo conta com vários facilitadores opcionais, como aumentar o limite de tempo das fase ou deixar objetos mais leves — recursos perfeitos para quando vamos jogar com pessoas menos habilidosas.

Cada estágio funciona como um puzzle que exige comunicação e coordenação para ser resolvido. Na maior parte do tempo basta cada um pegar um item diferente, porém situações complexas aparecem. Em uma fase, por exemplo, precisamos mover um sofá com formato de L por corredores estreitos, uma tarefa difícil sem a colaboração de todos. Já em outra, a complicação são vários móveis grandes que atrapalham o caminho dos funcionários. Há também casas com configuração elaborada de quartos que deixam a navegação confusa. Quando menos se espera, o tempo está quase acabando e os participantes estão frenéticos gritando entre si tentando chegar a uma solução.


Fazer o trabalho do jeito tradicional é chato e ineficiente, logo a solução é o caos, é nesse momento que Moving Out fica muito divertido. Para que andar pelos quartos se posso jogar as coisas pela janela? É muito mais rápido lançar um sofá do segundo andar do que arrastá-lo por corredores, não concorda? Itens frágeis chegam mais rápido ao caminhão ao serem lançados, basta coordenar com outro amigo para que ele pegue a caixa antes dela tocar o chão. O jogo oferece várias possibilidades e é muito legal tentar encontrar uma solução maluca para conseguir completar as tarefas mais rápido.

A criatividade (e o absurdo) é uma constante no jogo. Em um trabalho, precisamos correr atrás de galinhas e ovelhas pela lama para levar os animais até o caminhão. Em outra fase, os jogadores precisam coordenar lançamentos de objetos por cima de piscinas. Por algum motivo bizarro, em uma situação, é necessário desviar de carros em uma rua movimentada para levar a mobília para o caminhão. Uma fase no espaço exige que móveis sejam colocados em esteiras para passá-los de um cômodo para outro. Fiquei constantemente me perguntando que tipo de maluquice viria a seguir e gostei da complexidade dessas situações variadas.


Uma atmosfera colorida e leve reforça a sensação de jogo para aproveitar com os amigos. Os personagens controláveis são todos exóticos: há uma mulher com cabeça de torradeira, uma caixa de papelão com olhos, um lagarto e até mesmo um ovo frito. Além disso, esses personagens adoram fazer comentários divertidos em português antes e depois de cada trabalho. Os anos 80 são constantemente referenciados com música synthwave, um narrador com voz de fitas institucionais e objetos clássicos (como videocassetes) nas fases.

Esbarrando em móveis e na repetição

É bem instigante quando Moving Out experimenta coisas diferentes, mas, infelizmente, há uma sensação constante de repetição. Na maior parte do tempo a tarefa é levar coisas para o caminhão de maneira simples, ou seja, agarre o objeto e ande por vários corredores. Em algumas fases, inclusive, você faz as mesmas rotas inúmeras vezes. Além disso, os momentos de coordenação são limitados: eventualmente uma mobília precisa ser carregada por mais de uma pessoa, às vezes sendo possível lançá-la por uma janela, e só. Há alguns estágios com obstáculos diferentes, mas a essência limitada não muda.

Outro detalhe é a física do jogo, que é um meio termo entre realista e fantasiosa. Na maior parte do tempo ela funciona bem, mas às vezes ela se comporta de forma estranha e atrapalha as partidas. Muitas vezes é difícil controlar o personagem enquanto carregamos algo, pois o objeto desequilibra o funcionário e o faz andar erraticamente. Objetos grandes ou pesados constantemente ficam presos em elementos dos cenários, sendo complicado tirá-los desses lugares. Por exemplo, passar uma cama por uma porta ou corredor é um martírio, sendo necessária paciência e muitas tentativas para conseguir encontrar a posição correta. Lançar objetos também é perigoso, pois eles podem parar em locais impossíveis de se alcançar. É irritante ficar minutos preso em algum ponto por causa destes problemas.


Moving Out é uma experiência cooperativa para até quatro jogadores, porém há um modo para um único jogador. Nessa modalidade o balanceamento é alterado: é necessário carregar menos itens para terminar os estágios e objetos grandes são mais leves. As alterações até permitem concluir os estágios, no entanto não é muito divertido, pois parte da graça é justamente lançar as coisas para os outros participantes e coordenar ações, uma dinâmica ausente ao jogar sozinho. Existe uma opção para controlar dois personagens em um único controle, mas ela deixa as coisas ainda mais difíceis por causa da alta complexidade de mover dois funcionário simultaneamente. A melhor maneira de aproveitar o título é com amigos.

Mais um ótimo multiplayer local

Moving Out diverte com sua interpretação maluca de como mudanças devem ser feitas. Cooperar com amigos para carregar mobília é uma atividade empolgante, principalmente quando todos os envolvidos precisam trabalhar juntos. Há incentivos para experimentação e o caos reina por estágios criativos e variados — para que levar algo andando se eu posso simplesmente jogar no caminhão pela janela? Depois de um tempo é fácil perceber que as situações são bastante parecidas com algumas leves diferenças, o que traz um pouco de repetição. Mesmo assim, no fim das contas, Moving Out é um ótimo party game para aproveitar com os amigos.

Prós

  • Conceito divertido aplicado em fases que exigem cooperação para serem concluídas com velocidade;
  • Muitas situações curiosas e criativas;
  • Atmosfera agradável com visual colorido e música inspirada nos anos 80.

Contras

  • Muitas situações parecidas entre si;
  • Física desajeitada atrapalha em alguns momentos.
Moving Out — PC/PS4/XBO/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Análise produzida com cópia digital cedida pela Team17
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é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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