Análise: Trials of Mana (Switch): um clássico RPG de ação renasce com um combate ainda mais empolgante

Remake 3D de Seiken Densetsu 3 revitaliza o clássico para uma nova geração.

em 25/04/2020

Seiken Densetsu 3 é um clássico inegável do SNES que, infelizmente só chegou ao Ocidente em junho do ano passado, com a Collection of Mana. Nela, o jogo foi batizado em inglês como Trials of Mana e, junto com o lançamento da coletânea, um remake foi anunciado.


Agora em 3D, o RPG de ação consegue respeitar a essência do clássico e modernizá-lo para uma nova geração. Mais do que apenas o retorno de uma obra de qualidade, Trials of Mana se mostra um excelente jogo por conta própria, com uma gameplay fluida e empolgante.

Uma jornada de muitos percalços


Trials of Mana conta a história de um grupo de heróis em uma jornada épica para chegar ao Sanctuary of Mana. Forças maléficas ameaçam a estabilidade do mundo, tendo em mente reviver poderosas criaturas conhecidas como Benevodons. Além do perigo iminente da mana do mundo se esgotar, cada personagem tem uma motivação pessoal.

Seus reinos foram atacados, alguns deles tiveram seus familiares e amigos mortos ou atingidos de alguma forma pelas forças do mal. Eles partem de diferentes locais e possuem um estilo de luta próprio. Duran é um típico soldado que usa espada de uma mão só, Angela é uma maga de combate, Kevin é um guerreiro bárbaro descendente de homens-fera, Charlotte é uma maga de cura/suporte, Hawkeye é um ladrão e Riesz uma amazona que empunha uma lança.

No início do jogo, é necessário montar uma equipe de três personagens dentre essas opções. O primeiro selecionado será o protagonista, cujo maior destaque na história define a primeira e a última área do jogo. No entanto, os outros aliados, que se juntam posteriormente, também possuem bastante presença e até mesmo os heróis que não são selecionados fazem aparições em determinados momentos.


Inclusive, uma das novidades do remake é que o jogador tem a opção de jogar o início da aventura dos aliados quando eles se juntam à equipe. Itens e dinheiro obtidos nesse ponto são apenas descartados, mas é uma boa forma de vivenciar os eventos que os levaram à jornada, sem precisar jogar uma vez para cada um dos seis protagonistas. Caso opte por não jogá-lo, o personagem ainda dá um apanhado geral do que aconteceu.

Ainda falando sobre a história do jogo, vale destacar que ele conta com cutscenes nas quais os personagens têm uma performance bastante dramática. Em alguns momentos isso acaba sendo até não intencionalmente cômico, mas as cenas são, de forma geral, bem executadas. A dublagem dos personagens em japonês se encaixa muito bem no contexto, enquanto o inglês tem uma qualidade que oscila um pouco mais, com entonações inadequadas.

Nesses momentos, no entanto, é comum perceber também o principal problema visual do jogo. O carregamento tardio de texturas ocasiona em um efeito pop in, em que a mudança salta aos olhos e pode ser um tanto incômoda.

Batalhas dinâmicas e variadas


O principal ponto forte de Trials of Mana é, sem sombra de dúvidas, o combate. Os ataques e movimentos básicos se encaixam em combos fluidos. O jogador ainda conta com uma variedade de habilidades, de acordo com a evolução dos personagens. Esquivar-se de ataques e pular para realizar combos aéreos são elementos fundamentais, assim como quebrar barreiras com ataques fortes carregados e empurrar inimigos ou ataques em área com combos de golpes fortes e fracos.

A estratégia do que é melhor usar varia de acordo com o grupo de inimigos enfrentado, mas sempre com base em padrões naturais e de fácil aprendizado. Outro elemento a se considerar nas batalhas são os terrenos, que possuem algumas gimmicks que podem ser bem chatinhas de lidar. Em um deserto, a área onde os inimigos são encontrados no mapa pode ser cercada por areias que empurram o jogador para uma direção, por exemplo, tornando o alcance ao inimigo mais complicado para golpes físicos.

Os ataques básicos também fazem com que os inimigos liberem cristais, que podem ser absorvidos pelos personagens para aumentar o seu CP (Class Points). Esses pontos servem para ativar ataques especiais que podem causar bastante dano no inimigo. Após realizar os upgrades de classe, os personagens aumentam a barra de CP disponível e aprendem golpes ainda mais fortes.


Os combates mais especiais ficam por conta dos chefes. Aprender os padrões deles, pontos fracos e estratégias para esquivar de seus ataques é uma experiência fantástica e desafiadora. E isso é válido para todas as dificuldades, já que mesmo no Beginner, não é tão fácil passar por cima deles, como era na demo (que no Hard ainda é fácil). A diferença para quem escolhe a dificuldade mais fácil é a possibilidade de reviver a equipe toda quando os três personagens morrem ao invés de ter que restaurar um save e recomeçar a batalha.

No combate, o jogador também conta com magias (que são desbloqueadas em função das classes e dos contratos com os elementais) e itens. Seguindo o modelo tradicional da série, há um menu circular que pode ser acessado durante a batalha para utilizá-los, parando o tempo, enquanto o jogador escolhe o que fazer. Há um limite de 12 itens, que são equipados no menu, e, caso o jogador tenha 10 ou mais de um determinado consumível, apenas 9 unidades dele poderão ser usadas em uma mesma batalha.


Mesmo com os elementos que mencionei, o combate ainda poderia ser bem ruim se a performance no Switch deixasse a desejar. Há apenas algumas raras batalhas em que há uma queda perceptível de frames devido à presença de vários inimigos em áreas com muitas partículas (como o vulcão). Fora elas, lutar contra as criaturas é tão fluido quanto precisa ser.


Conforme o jogador realiza mais batalhas, os personagens ganham experiência, aumentando de nível e ficando mais fortes. Além do aumento natural, é concedido ao jogador pontos para alocar em um dos seus atributos (força, resistência, intelecto, espírito, sorte). Esses pontos podem ser gastos quando o jogador quiser e liberam bônus de atributos, habilidades passivas (como gastar menos CP para os ataques de classe ou causar mais dano após ser atingido) e magias.

Ganhar nível também permite a evolução para novas classes quando o jogador está em contato com uma Mana Stone. A primeira transformação pode ser feita a partir do Lv 18, enquanto a segunda acontece a partir do Lv 38 e depende da obtenção de itens específicos convertidos a partir de uma “??? Seed”. Em ambos os casos, o jogador tem a escolha entre “luz” e “trevas”, que levam a classes com ênfases bem diferentes. No pós-game há ainda outra transformação, que depende de realizar desafios específicos.

Pessoalmente, não gosto do fato da mudança de classe ser dependente de itens específicos pois a conversão das ??? Seeds depende de sorte e resetar o jogo não muda qual objeto será obtido. Assim, é possível que o jogador acabe escolhendo uma classe que não é a de sua preferência, simplesmente por não ter o item adequado ou por atrasar bastante essa evolução. Eu, por exemplo, só fui conseguir transformar Riesz em uma Vanadis (Classe 3 Luz-Luz) para a última dungeon, enquanto Angela alcançou a Classe 3 com as primeiras sementes que obtive.

Essa mecânica de plantar sementes também é útil para obter itens comuns e equipamentos. Além das específicas, para os objetos de evolução de classe, temos as Item Seeds e suas variações de maior qualidade. Essas sementes podem ser obtidas explorando as áreas ou como recompensa nas batalhas contra monstros. Plantá-las implica não só na obtenção de itens como também em aumento do nível da plantação, o que melhora os itens obtidos e permite ao jogador obter sementes melhores com mais frequência.

As áreas do jogo também contam com tesouros e um colecionável curioso, os Li’l Cactus. Essas criaturas estão escondidas em todos os cantos e o jogador obtém benefícios variados por achá-las. Essas recompensas variam, desde conseguir ver quantos tesouros o mapa tem até descontos nas lojas. Vale a pena explorar cada cantinho para encontrá-los. Ainda mais quando o mapa do mundo é aberto e o jogador pode voar entre as áreas.


Além de todos esses elementos de história e gameplay, eu seria relapso em não mencionar a trilha sonora. Composta originalmente por Hiroki Kikuta, ela é um ponto alto da experiência. O jogador pode escolher entre a original e uma versão com novos arranjos. A diferença entre elas é bem sutil, a ponto de eu confundí-las algumas vezes enquanto experimentava as duas opções. A nova versão dá uma suavizada nos toques e traz um som mais espalhado para a ambientação, enquanto a original é um pouco mais seca e direta, mas a fidelidade da nova trilha é bem alta.


De forma geral, Trials of Mana é um dos melhores RPGs de ação disponíveis no Switch. Como a gameplay é muito boa, os pequenos defeitos visuais são completamente ignoráveis. É um título recomendável para qualquer jogador sem sombra de dúvidas.

Prós

  • Combate fluido e cheio de recursos;
  • Chefes diversificados e desafiadores;
  • Build customizável com várias classes e pontos alocáveis para obter habilidades;
  • Elementos como tesouros e Li’l Cactus incentivam a exploração;
  • Trilha sonora de alta qualidade.

Contras

  • Pop in de texturas acabam incomodando em vários momentos;
  • Queda de frames por segundo em algumas batalhas com muitos inimigos.
Trials of Mana - Switch/PC/PS4 - Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Felipe Fina Franco
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix
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é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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