Imagine um jogo que mais parece um filme. Assim é Stela (Switch), uma aventura que surpreende em suas qualidades artísticas, com efeitos de luz e cenários lindos, combinando perfeitamente com a música. O game é uma mistura de plataforma com puzzle, no qual devemos guiar Stela, a personagem protagonista, até… sabe-se lá onde.
Siga em frente, não olhe para o lado
Devo dizer que jogar Stela é como vislumbrar a mistura de dois filmes de suspense em um jogo. O primeiro, é o que iremos identificar logo de cara: Um Lugar Silencioso (2016). Logo de início nos encontramos em um mundo devastado e hostil, em que a protagonista deve fugir de todas as ameaças sendo o mais cautelosa possível, pois sua capacidade de defesa é nula.No começo nos deparamos com a realidade de que devemos colocar mais a cabeça para pensar. Diferentemente de muitos jogos, as informações não estão tão disponíveis à primeira vista e não há nenhum tipo de auxílio para seguir viagem. É pensar ou morrer.
É assim que o jogador irá se deparar com a aventura, um jogo com um cenário bastante escuro e poucos objetos interativos para realizar os quebra-cabeças e avançar de fase. E olha que os puzzles nem são tão difíceis, mas acabam tomando tempo do jogador, pois as saídas se camuflam facilmente na lúgubre ambientação.
O clima de suspense foi muito bem trabalhado pela equipe de desenvolvimento, além da iluminação e efeitos visuais que ajudam muito para que o clima de tensão se torne constante, a trilha sonora é uma obra prima para que você não tire os olhos da tela na qual estiver jogando, seja na TV ou no próprio Switch.
As músicas têm uma composição que te fazem entrar nas sensações que o jogo quer transmitir. Chega a ser incômodo, pois as fases vão te enfiar em situações que nem são tão assustadoras, mas é só deixar o som do jogo alto e a luz ambiente baixa que não tem erro, qualquer um ficaria com os ombros tensos e os olhos atentos.
Para aqueles que querem ter uma ideia, aqui tem a demo do álbum no Spotify:
Suspense de matar
Como dito anteriormente, uma coisa que Stela não deixa passar batido é o suspense. Além da ambientação, os puzzles nos levam a conhecer criaturas assustadoras, habitantes do mundo que iremos explorar. Não será incomum encontrar seres humanóides que mais parecem saídos de um pesadelo.Esses monstros não são os únicos, mas, certamente são os mais impactantes. Eles vivem em quase todos os cenários do jogo e Stela não tem capacidade alguma de se proteger deles, então será preciso encontrar meio de evitá-los, sempre. De certa forma eles lembram os seres de Um Lugar Silencioso.
Outro meio que o jogo usa para engajar o jogador é o HD Rumble do Nintendo Switch. Em quase todos os momentos você consegue sentir os Joy-Con vibrarem ao se movimentar pelo cenário, principalmente em momentos em que a tensão é alta, como quando Stela cai de uma altura alta, ou quando arrasta um objeto no chão. É uma função bem simples e nada inovadora, mas que corrobora para a experiência e, por experiência própria, faz tempo que não vejo um jogo usar esse recurso com tanta frequência.
Mesmo com todo esse zelo para envolver o jogador na aventura, seguir pelas fases é um tanto… estranho. A primeiro momento, estamos engajados em compreender o caminho que Stela percorre enquanto buscamos saídas para os apuros que a personagem se enfia.
Mas depois de percorrer as primeiras três ambientações, ver que saímos de um campo de milho abandonado, vamos para uma floresta, depois para ruínas que mais parecem da Guerra do Peloponeso e chegamos numa tundra, começa uma sensação de que a narrativa não faz sentido.
Para onde vamos?
Ao passo que o jogo avança, não há bem um caminho para ir. Sabemos que Stela segue adiante, mas não há bem uma direção, o jogo vai apresentando dicas aqui e ali do desfecho, porém é complicado de achar um fio condutor da história que estamos presenciando.Como dito acima, os cenários que vamos conhecendo não se conectam uns com os outros, o que dá uma sensação de jogar um título mais fantasioso como Super Mario ou Zelda, que começamos em um mundo simples, depois o mundo de gelo, o deserto, o castelo do chefão e as fases finais.
A questão é que esses mundos mágicos têm uma conexão mais visível e se aproveitam do level design e outros recursos, como estilo, conceito e narrativas para conectar todos esses cenários sem parecer um monte de ideias misturadas sem unidade. Stela, no entanto, não consegue realizar isso.
Eu comentei mais cedo que o jogo parece a combinação de dois filmes, certo? Quando vamos nos aproximando do final, é possível ver uma proximidade com Mãe! (2017), do diretor Darren Aronofsky, isso vem principalmente da sensação de que estamos jogando dentro de um pesadelo.
Por fim, devo comentar que movimentar Stela não é uma coisa muito prazerosa, o jogo foi bem idealizado para que você seja capaz de realizar coisas simples como andar e pular. Tudo acontece como se qualquer passo em falso te levasse à morte, alcançando níveis miraculosos de salvação, isso para ajudar na sensação de impotência que a personagem tem.
Não é incomum pular sobre um precipício e Stela conseguir se segurar do outro lado por um triz, mesmo que isso seja uma boa forma de aumentar o suspense, repetir com frequência acaba anestesiando o efeito.
Num geral é um jogo muito bonito e cativante, que traz puzzles interessantes com um trabalho de arte impressionante e extremamente bem pensado para dar calafrios em quem jogar. Entretanto, não vai agradar quem busca uma grande narrativa, pois essa parte o jogo vai ficar devendo.
Prós
- Puzzles bem pensados;
- Jogo possui uma trilha sonora incrível;
- Gráficos bonitos para o Switch;
- Bom aproveitamento do HD Rumble;
- Localização para o português.
Contras
- Movimentação estranha da personagem;
- Narrativa do jogo é desconexa e pouco explorada.
Stela - Switch - Nota: 7.5
Análise realizada com cópia digital cedida pela Skybox Labs
Revisão: Kiefer Kawakami