Análise: Dogurai (Switch) é um jogo de ação que lembra os bons tempos do Game Boy

O game brasileiro protagonizado por um cachorro samurai não esconde suas influências da era 8-bits.

em 18/04/2020


Se você é como eu e cresceu jogando um Game Boy "tijolão" monocromático nos anos 90, vai logo se sentir em casa com o primeiro projeto comercial da brasileira Hungry Bear Games. Com um visual retrô que parece diretamente transportado das antigas telas de LCD do primeiro portátil da Nintendo, e uma jogabilidade que lembra clássicos como Mega Man e Strider (NES), Dogurai atinge certeiro na nostalgia.

A desenvolvedora chegou a "engavetar" o game por quase dois anos e os planos de terminá-lo eram incertos. No entanto, a crescente atenção que o jogo recebeu em eventos de jogos indie consolidou o projeto de vez como o primeiro lançamento do estúdio.

Dog + Samurai = Dogurai

O herói da vez, o cachorro samurai chamado Bones, está mais para ninja do que qualquer outra coisa, mas o que realmente importa são as suas habilidades atléticas e com a espada. O cãozinho consegue pular bem alto (sempre mais do que você imagina) até duas vezes, dar um "carrinho" pelo chão no estilo dash e usar sua espada para atacar. A espada, assim como os jogos clássicos que Dogurai busca emular, não "comba" de nenhuma forma, apenas desfere sempre o mesmo simples ataque — com uma exceção: quando uma interrogação aparece acima de um inimigo, Bones pula para o alto e inicia uma sequência de espadadas em que você precisa apertar as direções do direcional que aparecem na tela.

Em geral, porém, você terá que usar esse ataque "especial" poucas vezes durante a curta campanha. A maioria dos inimigos morre após uma ou três espadadas (com algumas exceções) e nunca pedem o uso da dança de espadas de Bones. Na verdade, muitas vezes o melhor caminho para se completar um estágio é só ignorar completamente os oponentes e seguir em frente pulando e desviando da melhor forma possível.



A jogabilidade de Dogurai segue a linha de um jogo de plataforma bem "calibrado" e responsivo na parte de movimentação. As fases são curtas e tudo acontece bem rápido — e, geralmente, seus movimentos conseguem acompanhar esse ritmo sem problemas. A frustração pode acontecer mais devido a algum erro de sua parte, mas dificilmente por causa de um problema do jogo em si. O level design também é bastante competente para as limitações impostas com o estilo gráfico, e apenas ajuda o fluxo geral do gameplay de cada fase.

A batalha contra o boss no final de cada estágio com certeza é o ponto forte do título. Ao ponto de que, às vezes, todo o resto parece ser só um mini-game em antecipação ao prato principal. Não que as fases não brinquem com algumas variações interessantes de jogabilidade. De tempos em tempos, é possível se deparar com coisas como um chão de gelo escorregadio, lasers que se movem, linhas de plataformas voadoras e até uma parte em que Bones dirige uma moto. Porém, essas pequenas inovações deixam apenas um "gostinho" e acabam muito rápido, assim como Dogurai como um todo — até mesmo os ótimos confrontos contra os chefes.



No maior estilo Mega Man (pense nos originais de Nintendinho), é possível escolher a ordem que você vai fazer a maioria dos estágios — e eles possuem aquela clássica temática implícita, como "fase de gelo", "fase de fogo" ou "fase no ar". E os "chefões" geralmente seguem a mesma linha durante o confronto, com poderes adequados ao tema do estágio. Só que, ao contrário do clássico do robozinho azul, você não ganha nenhum tipo de power up ao derrotá-los (e em nenhum outro momento do jogo).

Ainda assim, cada batalha vale pela própria experiência. Os chefes tem a sua própria e criativa forma de lutar, usando de três a quatro padrões de ataque que criam um mini puzzle de janelas para você esquivar e/ou contra atacar. Geralmente, após uma certa quantidade de ataques, o boss para por um momento e dá a oportunidade para o golpe ninja especial de Bones. O maior problema fica na duração da luta: depois de entender o padrão, dá para só atacar o máximo possível e finalizá-la bem rápido.



Dogurai pode ser bastante desafiador em vários momentos, mas a curta duração dos eventos acaba equilibrando a questão da dificuldade. A dificuldade padrão, a "Normal", entrega um número infinitos de vidas, algo que alivia as partes mais complicadas tornando-as "só uma questão de tempo". Para liberar o personagem secreto (que ataca à distância, com shurikens) e conseguir o final verdadeiro, no entanto, é preciso zerar o game no modo "Hard" — no qual você precisa completar tudo com apenas seis vidas à sua disposição.

No final das contas, Dogurai parece um produto perfeito para quem gosta de speedruns (basicamente, tentar acabar o jogo o mais rápido possível). O gameplay é redondo, divertido e embalado por uma maravilhosa trilha sonora retrô que se adequa com maestria aos estágios e batalhas (e que gruda na cabeça do jeito certo). Os gráficos são extremamente charmosos na sua baixa resolução e as (curtas) fases são realmente bem feitas. Imagino que os mais dedicados aos jogos de plataforma das antigas talvez tenham vontade de jogar o título repetidas vezes e melhorar cada vez mais o seu tempo. 



Só que, do outro lado, temos um jogo que muitas vezes parece um tanto "vazio". As limitações da era do Game Boy original foram uma escolha estética válida, com certeza, mas seria interessante ver algo mais acrescentado a esse conceito (já que, afinal, não estamos jogando em um portátil de 1989). Sinto que Dogurai, com todo seu charme e polidez, sairia ganhando muito com um mundo um pouco mais rico. Algo como mais ataques, habilidades especiais, itens colecionáveis ou pelo menos uma maior variedade de inimigos — e, definitivamente, fases mais longas e que explorem melhor alguns dos conceitos muito legais que foram apresentados.

Fãs nostálgicos do gênero provavelmente irão se entreter o bastante, mas é difícil dizer que Dogurai é imperdível para a maioria dos jogadores. Existe algo diferente e intrigante aqui neste primeiro lançamento da galera da Hungry Bear Games, só que tudo acaba rápido demais e a experiência final passa como rasa. Mesmo que a duração seja uma referência direta ao material fonte (clássicos de plataforma da era 8-bits), isso não deveria ser algo limitador — até porque vários jogos do NES e do Game Boy original eram gigantescos e recheados de conteúdo. Fico no aguardo para ver o que o estúdio está planejando para o futuro, o potencial existe. 

Prós

  • Uma linda homenagem visual e sonora aos tempos do Game Boy original;
  • Gameplay redondo e divertido;
  • Ótimas batalhas de chefe;
  • Bom para speedruns.

Contras

  • Tudo acaba muito rápido;
  • Dificuldade pode ser frustrante (principalmente no modo Hard);
  • Jogabilidade funciona, mas é um tanto simplória. 
  • Pouca quantidade de conteúdo extra.
Dogurai - Switch/PC/PS4 - Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch 
Revisão:  Ícaro Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela QUByte Interactive
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