Caso me pedissem para resumir Sagebrush em uma frase, sem dúvidas, seria: nunca julgue um livro pela sua capa. O título, desenvolvido pelo estúdio Redact Games e distribuído pela Ratalaika Games, tem apresentação visual extremamente básica e controles imprecisos. Porém, o foco está no enredo, que evolui no ritmo adequado e sufoca o jogador conforme cada nova descoberta vai expandindo a trama.
A história começa com a narradora dentro de seu carro, que estaciona diante do portão de um rancho no deserto do Novo México, estado norte-americano. A legenda na tela informa o nome do local e também revela um passado macabro. Trata-se do Black Sage Ranch, palco do suicídio coletivo do culto Perfect Heaven. O papel da protagonista, ainda sem nome, é entender o que realmente aconteceu dentro daquela propriedade.
O acesso ao Black Sage Ranch |
A princípio, a missão é desagradável e esse sentimento ruim não está diretamente relacionado com a tragédia. O que realmente incomoda é o aspecto gráfico demasiadamente pobre, com objetos quase sem curvas, ambientes pixelizados e texturas sem muitos detalhes. Para piorar a situação, a câmera é em primeira pessoa, tornando todos esses problemas ainda mais evidentes.
Conforme a jogatina avança, o final de tarde se transforma em noite. Com isso, a iluminação também fica prejudicada e o visual básico, que antes era apenas um desconforto, começa a impactar negativamente na experiência. Essa opção pelo design modesto me atormentou durante boa parte da exploração, mas começou a fazer sentido nos momentos decisivos. Algumas cenas são tão perturbadoras, mesmo com os gráficos simples, que me fizeram agradecer pelo aspecto simplório.
Não espere gráficos realistas |
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Sagebrush consiste na investigação do abandonado Black Sage Ranch. Apesar de ser uma área relativamente pequena, são poucas as regiões liberadas inicialmente. Será preciso entrar em cada construção para encontrar as chaves que destrancam portas e grades. A situação se torna mais simples quando o jogador percebe que quase nunca é necessário passar pelo mesmo local mais de uma vez, o que torna o gameplay linear e intuitivo. Afinal, conforme aumenta a quantidade de ambientes já explorados, diminuem as possibilidades de onde visitar a seguir.Praticamente todas as chaves são facilmente encontradas, diminuindo bastante o nível de dificuldade. Caso o jogador opte somente por abrir as portas e seguir em frente, tranquilamente conseguirá terminar o game em torno de 30 minutos. Entretanto, estará perdendo o grande atrativo do título, já que os edifícios guardam as histórias dos membros que integravam o culto Perfect Heaven.
Por meio de diários, cartas, avisos e bilhetes esquecidos no interior das construções, é possível conhecer o perfil dos antigos moradores do Black Sage Ranch. Além das relações entre os religiosos — muitas vezes conturbadas — vão se tornando claras as razões que levaram essas pessoas a buscar o culto. Também há muitas informações sobre o líder da seita, chamado de padre James, que permitem julgá-lo ao final da campanha principal. Para não estragar a experiência, digo somente que essa está longe de ser uma simples história de heróis e vilões.
Encontre chaves para seguir em frente |
Para jogar e ouvir
Além de seu enredo, Sagebrush se destaca na produção sonora. Tendo pouquíssimas músicas, executadas nos momentos perfeitos, o elogio vai para os efeitos. As portas enferrujadas se abrindo, o vento passando por frestas na janela, os passos no gramado seco, tudo contribui para criar um clima angustiante. Por diversas vezes, ao caminhar nos campos abertos, minha sensação era que alguém ou algo estivesse na espreita — sentimento que pode ser atribuído à solidão criada pelos efeitos sonoros.Desde o começo, graças a este clima sombrio, estava preparado mentalmente para pular da cadeira devido aos jump scare. Mas, não se engane, Sagebrush não deve ser classificado como um game clássico de terror. Existem sim momentos em que me senti perturbado, porém devido à sensibilidade do tema apresentado e situações difíceis de digerir. A exploração do rancho é mais relacionada com um horror psicológico, nunca acontecendo de algo pular na tela com o intuito de provocar sustos baratos.
Alguns momentos são bem perturbadores |
Pedras pelo caminho
Mesmo se resumindo à movimentação, um botão para interagir com o cenário e outro que abre o menu, os controles do game deixam a desejar. A sensibilidade é totalmente desbalanceada, o que atrapalha na distinção dos itens que podem ou não ser coletados. É necessário que o objeto esteja centralizado na tela para que apareça a opção de pegá-lo, mas, como a câmera se mexe de maneira imprecisa, isso se torna bem complicado algumas vezes.Outro problema do game é mais específico para o público brasileiro. Ele está totalmente em inglês, tanto o áudio quanto as legendas. Como o foco principal é a narrativa contada pelos textos e áudios de gravações, quem não conhece e compreende bem o idioma estrangeiro vai considerar o jogo um enfadonho simulador de andar e abrir portas.
Todos os textos são em inglês |
Uma narrativa angustiante
Mesmo com visual que pode desagradar boa parte dos jogadores e controles imprecisos, o game realmente vale a pena para quem procura uma boa história. Sagebrush consegue fugir de clichês para te colocar no Black Sage Ranch e reviver o triste destino do culto Perfect Heaven. Como um bom livro que você não consegue parar de ler, o título acaba rápido demais (mesmo que absolutamente cada cantinho seja explorado) e não oferece nenhum incentivo para o replay. Não consideraria isso um fator negativo, já que pessoalmente acho que não teria psicológico para uma segunda visita ao Novo México.
Prós
- História muito bem contada, com diversos detalhes espalhados pelo mapa;
- Efeitos sonoros que criam sensação de angústia e colaboram na imersão;
- Exploração linear que contribui no desenrolar do enredo.
Contras
- Apesar de se justificar no final, visual demasiadamente simples incomoda;
- Controles imprecisos dificultam a exploração;
- Experiência depende totalmente do bom entendimento do inglês.
Sagebrush — Switch /PS4/XBO/PC — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games