Depois de um contato inicial tímido com a franquia, hoje ela é um dos rostos principais do jogo na Europa e é referência no assunto. Participando de inúmeros eventos na França e em outros países, Dina domina os palcos com o Just Dance e, sempre com um sorriso no rosto, inspira outras pessoas a dançarem com seu carisma e dedicação.
Dina conversou com o Nintendo Blast sobre sua relação com o Just Dance nesses dez anos do jogo e demonstrou um carinho enorme pelo Brasil ao responder às perguntas em um português muito fluente. De cara, ela brincou: "Eu também sou brasileira!"
Nintendo Blast: Olá, Dina. É um grande prazer conversar com você. Nos conte um pouco sobre você, de onde você vem e como era sua vida antes do Just Dance.
Dina: Atualmente, eu moro em Paris, a capital da França. Eu gosto muito daqui porque, se você não quiser ficar em casa, sempre tem algo acontecendo pela cidade. Tem muitas pessoas e muitos lugares lindos para gravar vídeos. Eu realmente adoro esse lugar, só não gosto muito do inverno porque faz frio até demais.
Na verdade, eu tenho um emprego no qual ainda trabalho desde antes de me tornar campeã no Just Dance. Eu trabalho para o governo da França fazendo trabalhos relacionados a estatísticas sobre a população. Hoje, 50% do meu tempo é dedicado a este emprego, que me ajuda a pagar todas as minhas despesas e me dá uma segurança financeira. Claro, antes do Just Dance eu também tinha muito mais tempo livre, dormia mais e até ficava entediada às vezes. Isso não acontece mais, e tenho muito pouco tempo livre. Ter um dia para não fazer absolutamente nada ficou bem raro.
Nintendo Blast: E como foi o seu primeiro contato com o Just Dance?
Dina: A primeira vez que joguei Just Dance foi com a primeira edição, em novembro de 2009. Eu estava com minha família e minhas primas pequenas, que ganharam o jogo. Nós jogamos no Wii, e eu descobri pela primeira vez um videogame no qual eu podia dançar. Me lembro que tinha um jogo dos Rabbids, que tinha um minigame onde você tinha que imitar a coreografia na tela para ganhar pontos. Depois de muitos anos, eu descobri que a equipe do Just Dance se inspirou nele para criá-lo, porque esse minigame específico foi o mais adorado do jogo dos Rabbids. Mas na época, eu nem sabia disso.
Quando minhas primas me apresentaram ao Just Dance, eu me lembro de ter jogado a Cotton Eye Joe, porque essa foi a primeira música em que consegui bater cinco estrelas (na época, ainda não existia Superstar ou Megastar). Fiquei toda feliz e animada, pensava “ganhei, eu consegui cinco estrelas!”. E logo depois, no Natal, consegui comprar um Wii para mim com o jogo. Assim começou minha história com o Just Dance. E na época eu não imaginava que isso mudaria tanto a minha vida.
Nintendo Blast: Como veio a decisão de participar dos campeonatos do Just Dance? Como você se preparou?
Dina: Eu soube da primeira competição do Just Dance pela página oficial do jogo no Facebook. Eu já jogava há algum tempo, mas não pensava que eu seria boa suficiente contra outros jogadores. Mas aí, como eu ganhava dos meus amigos, eu anotei no meu calendário todas as datas de participação das classificatórias online. Para ser honesta, eu participei sem muitas expectativas. A competição era aos domingos, mas durante a semana eu não treinava. Portanto, não era muito sério para mim no começo… Mas eu acabei me saindo bem e fiquei na décima posição aqui na França. Então, eu pensei “uau, eu fiquei entre os dez melhores?”. Fiquei surpresa e muito feliz por ter alcançado esse resultado sem ter treinado muito.
Só que a ESWC, que organizou a final nacional na Paris Game Week, ia chamar só os oito melhores competidores. Naquele momento, eu pensei que se tivesse treinado e me dedicado mais, poderia ter me classificado entre eles. Isso me deu uma pena tão grande… Mas, pouco tempo depois, eles me avisaram que eu ainda poderia ser classificada caso dois competidores desistissem do torneio. Aí eu torci muito para que pudesse participar. Queria poder mostrar que com treinamento eu poderia ser ainda melhor. Fiquei rezando para que duas pessoas não pudessem ir (risos). Aí, o destino decidiu que eu teria essa chance… E como tive essa sorte, decidi treinar muito e me dedicar.
Para ter mais tempo, eu fiz um acordo no meu trabalho para treinar durante a semana anterior à Paris Game Week. Treinei entre 2 e 3 horas todos os dias. O detalhe é que eu me classifiquei nas etapas online jogando no Wii U, mas a final nacional seria em um Xbox One com Kinect. Na época, eu não tinha esse console — muito menos o dinheiro para comprar um. Eu acreditava que a melhor opção era treinar na plataforma usada na competição, mas não sabia como fazer isso. Aí, uma amiga me deu a ideia de comprar um Xbox One pela internet com as minhas economias, e em até duas semanas eu poderia devolvê-lo à loja e ser reembolsada. Então eu fiz isso, comprei o videogame, treinei bastante com ele e depois devolvi (risos). Acho que fui uma das poucas pessoas que treinaram bastante, porque eu não queria contar com a sorte duas vezes. E foi assim que venci na França e ganhei o direito de participar da final mundial.
Nintendo Blast: De quantos mundiais do Just Dance você já participou?
Dina: Eu participei dos três primeiros campeonatos como competidora, enquanto no quarto eu fui somente comentarista. Infelizmente, na quinta edição eu não participei porque fiquei em segundo lugar nos nacionais da França. A final mundial foi no Brasil, mas só o primeiro colocado pôde ir. Isso quebrou meu coração na época.
Nintendo Blast: Hoje você é uma grande referência em Just Dance, não só na França, mas no mundo todo. Quais portas que o Just Dance abriu para você?
Dina: Eu acho que o Just Dance foi um meio para abrir portas, mas não foi só isso. Nem o jogo nem os meus títulos fizeram tudo sozinhos. Eu trabalhei muito para conseguir criar mais projetos e crescer como pessoa. Quando me tornei campeã nacional e a terceira melhor do mundo, fiquei inspirada e pensei no que eu poderia fazer para manter o contato com a comunidade. “Como eu posso continuar a dançar além dos campeonatos que só acontecem uma vez por ano?”. Eu não queria parar de viver essa paixão.
Eu acho que quando você é muito apaixonada pelo seu trabalho e demonstra muito amor no que faz outras pessoas percebem. Uma das juradas dos campeonatos da França viu a minha paixão e minhas capacidades de dançar, falar e interagir com outras pessoas. Ela me disse que poderia me ajudar se eu quisesse ser uma apresentadora para divulgar o jogo. Isso foi um grande incentivo para eu descobrir algo dentro de mim. Um dia ela me levou para um grande evento em Paris com um palco, e eu tinha uma hora por dia do evento para fazer animações com o Just Dance. Na primeira vez eu estava muito tímida e nem peguei no microfone, mas gostei muito de ter esses momentos, dançar e compartilhar minha energia com pessoas que eu não conhecia. Percebi que eu tinha a capacidade para isso, só não tinha muita experiência.
Hoje em dia, eu faço muitos eventos grandes e, quando estou no palco, não preciso mais da ajuda de ninguém para lidar com o microfone. Só preciso de ajudas mais técnicas, mas o meu namorado sempre viaja comigo e cuida dessa parte. Eu compartilho meus sentimentos, converso com o público, faço as pessoas gritarem, ofereço presentes e, principalmente, dançamos muito. Estou muito independente com isso.
O Just Dance me permitiu conhecer pessoas incríveis de vários países, abrindo meu coração e minha mente para novidades. Mostrando a minha paixão, a equipe do Just Dance me viu nos mundiais e me deu a oportunidade de passar algumas semanas nos estúdios da Ubisoft. Já tive a chance de viajar para o Brasil uma vez para eventos e ver o meu grande amigo Diegho San, que é bicampeão mundial. Eu poderia falar por horas sobre o quanto o Just Dance mudou a minha vida, sem dúvidas.
Nintendo Blast: O que você tenta passar para as pessoas enquanto está dançando nos palcos?
Dina: Acredito que o principal sobre o Just Dance é se sentir bem, estar feliz e aproveitar o momento e as sensações que as músicas te entregam. Se você não curte tudo isso, ninguém que te assista dançando também vai. Especialmente nas competições, eu me esforço muito para passar os melhores sentimentos e não transmitir muito o estresse que sempre existe, afinal, você tem a preocupação de fazer uma boa performance. Você deseja ser bom, e isso é muito importante quando tem jurados. Eu tento transmitir minha alegria, algo que vem de mim… que é o meu jeito de sentir a coreografia e a música. Outros competidores não vão sentir as coisas da mesma forma e, se você não mostrar quem você é, os jurados e o público também não vão ser honestos. Só que isso nem sempre é fácil em competições.
Tanto no palco quanto nos vídeos e nos meus streamings eu tento ser positiva, já que nesse mundo já temos problemas demais. Uma das minhas missões é, quando estou dançando, transmitir coisas boas. E dessa forma, me entregando no palco, já recebi mensagens de pessoas dizendo que eu as inspirei, que se sentiram mais felizes e motivadas a dançar com mais confiança. Sempre que alguém diz isso, para mim, é o maior elogio possível. E lá no palco você tem um público grande que está na sua frente — diferente do estúdio, quando você não tem olhos. Quando estou no palco, toda a energia negativa se transforma em adrenalina porque lá eu tenho muitas pessoas gritando e interagindo comigo. É mágico poder sentir tudo isso e levar coisas boas para minha comunidade.
Nintendo Blast: Qual é a sua opinião sobre a questão pontuação X performance? Como você vê esse equilíbrio que os jogadores precisam encontrar para vencer um campeonato onde existem jurados?
Dina: Esse é um tópico bem difícil… um equilíbrio muito difícil. Acho que a Just Dance World Cup entrou em pausa justamente por isso, para a Ubisoft analisar o que é melhor para a competição. Na minha opinião, os anos foram muito diferentes. Em alguns, eu concordei com os jurados e achei que votaram muito bem… Em outros, vi que as decisões eram muito injustas.
O maior problema são as regras. Se existe um critério de votação, os jurados precisam segui-los. Mas às vezes eles se esquecem do que deveriam julgar e isso dá muita bagunça, não acaba justo. No final, acabam votando nas pessoas que gostam mais e misturam tudo, e não entendemos muitas decisões. Nas finais da França, isso também aconteceu. Nunca mostraram a lista de critérios para os competidores, e essa lista deveria ser pública e divulgada bem antes da competição. Nessa final, o critério para casos de empate deveria ser qual jogador dançou mais próximo ao coach do jogo, mas nenhum foi decidido dessa forma. Eu treinei muito para me parecer com os coaches, e na hora da competição, me disseram: “Dina, você dança muito, é uma máquina e entende tudo sobre o jogo, mas foi muito mecânica e eu queria ver mais da sua interpretação pessoal”. Ou seja, perdi disputas porque segui demais o jogo para os jurados, justamente o contrário da regra.
Eu acho que o score deve ter uma importância, mas o Kinect não tem 100% de precisão. Por exemplo, pessoas mais baixas têm dificuldades para vencer uma pessoa alta. O sensor sempre dá mais pontos para os mais altos, e como não sou uma mulher pequena, isso me ajuda às vezes. Mas para a Pâmella, por exemplo, é mais complicado. Portanto, os jurados precisam ajudar a ajustar essa imperfeição — só que é preciso estabelecer bem e seguir as regras. Às vezes os jurados escolhidos pela Ubisoft nem jogam o jogo… Então, como vão julgar algo que não conhecem? Pessoas que nunca jogaram Just Dance na vida inteira como jurados não tem sentido. Na última World Cup, tivemos o Jayden Rodrigues que é dançarino e joga o jogo, portanto, ele sabe do que está falando, respeita os critérios e avalia corretamente. Esse equilíbrio precisa ser encontrado pela Ubisoft.
Em relação aos jogadores, eles precisam focar no console e dar uma boa performance. O melhor jogador de Just Dance deve saber lidar com os dois: manter uma boa pontuação e agradar ao público e aos jurados. Eu acho isso correto, não é bom contar só com o score — que te dá pontos sem julgar quem você é, mas não é perfeito. Vamos aguardar para que no futuro exista uma competição justa, onde todos tenham a mesma chance, não importando se você já é conhecido ou não. Esse Twitch vote que fizeram na final do Brasil, o que foi aquilo? Esqueça isso. Se você é conhecido ou já ganhou outras vezes não deve ser critério para te dar um ponto. Tem muito a ser melhorado.
Nintendo Blast: Você foi convidada pela Ubisoft para participar da última E3 no anúncio do Just Dance 2020 e gravou um vídeo com o Jayden e a Avery. Como foi essa experiência pra você?
Dina: Sim, eu fui chamada para participar da celebração dos 10 anos do Just Dance e fiquei muito feliz, afinal o Jayden e a Avery são duas pessoas que eu adoro. Já havia encontrado eles antes, mas não tive muito tempo para conhecê-los. Dessa vez, tivemos dois dias para preparar um vídeo para a Ubisoft, e a idéia de gravar High Hopes foi de todos. A Ubisoft nos mostrou um vídeo do Just Dance 2020, que não havia sido anunciado ainda, e foi uma grande honra em ter a confiança deles para isso. Recebemos a coreografia dois dias antes de gravar, e vendo o gameplay, notamos que eles vão até o céu. Só tivemos tempo para gravar à noite, porque no resto do dia estávamos com a Ubisoft. Acabamos gravando até o amanhecer, e foi tudo muito divertido, todo mundo sabia a coreografia. A experiência foi um grande prazer e uma honra para mim. A Ubisoft também já me contratou para animar o palco deles na Paris Game Week. Eu faço muitas animações pela França e na Europa, mas apresentar o Just Dance 2020 me deixou bastante ansiosa.
Nintendo Blast: O que o Just Dance significa para você hoje?
Dina: Eu sinto que o Just Dance já faz tempo que o Just Dance acompanha a minha vida. Nossa, já tem dez anos! Começou do nada, como um jogo novo… e no começo era só isso mesmo, mas agora o Just Dance é a minha vida. Sem ele, minha vida seria bem triste… Encontrei pessoas incríveis, vivi tantos momentos inesquecíveis com o jogo. Meu coração bate muito forte com a emoção de estar nos palcos, fazer lives para minha comunidade e compartilhar esses momentos… eu amo de paixão. Esse jogo tem algo maravilhoso, traz coisas magníficas que fazem parte de um tesouro que está no meu coração. Quando alguém vem me dizer que o que eu fiz com o Just Dance trouxe um sorriso e a inspirou a fazer mais coisas… É uma honra! Resumindo, o Just Dance mudou a minha vida e, com o tempo, eu tenho a sensação de fazer parte do jogo. Eu ainda não sou uma coach do jogo (seria um sonho, né?), mas eu sei que faço parte do grande coração que é o Just Dance.
Just Dance 2020 é o título mais recente da franquia e está disponível para Wii e Switch.
Revisão: Jorge Neto