Como o avanço do coronavírus impacta a Nintendo?

A pandemia global tem seu efeito mais grave na saúde das pessoas, mas também coloca em risco diversos nichos da economia, como a indústria de games.

em 16/03/2020

Como já tínhamos noticiado no final do mês de Janeiro, a Nintendo previa um impacto significativo do COVID-19 na fabricação do Switch. Essa situação se confirmou e acabou se agravando com o avanço da doença em um ritmo de pandemia global. Não é possível mensurar até o momento como a doença irá afetar a economia ao redor do mundo. Dado que o foco central agora é, corretamente, cuidar da saúde das pessoas, evitando que o vírus cause um estrago cada vez maior, a questão econômica fica ainda em segundo plano, mas não deixa de ser relevante observar os sinais que temos até agora.

Cancelamentos de eventos ao redor do mundo

Como se trata de um vírus respiratório, o coronavírus se dissemina por meio do contato, o que pode ocorrer tanto por partículas de saliva no ar como por presença delas em superfícies e objetos. Nesse sentido, a melhor forma de evitar um avanço ainda mais rápido da doença é restringir o contato com outras pessoas. O distanciamento social, nesse momento, é o mais indicado para limitar a transmissão do COVID-19. Logo, não faria sentido a manutenção de encontros que juntam multidões. Por isso, torneios de Pókemon estão sendo cancelados, eventos de Pokémon Go foram interrompidos, e muitos outros encontros tiveram o mesmo destino, com o principal destaque para  o cancelamento da E3.


Diante desse cenário é bem provável que aconteça uma mudança, talvez irreversível, no modo de comunicação das empresas com seu público. Já há algum tempo existe um questionamento sobre o valor das apresentações diante de público e jornalistas em formato de grandes shows. A própria Nintendo vinha participando da E3 de forma diferente, mantendo stands para o público local, mas organizando Directs para apontar seus próximos lançamentos. Com o sucesso do modelo das Directs, outras empresas já tinham começado a adotar iniciativas similares, ainda que de maneira tímida. Contudo, diante do cenário de total ausência de eventos nesse primeiro semestre (e situação indefinida para o resto do ano), não é improvável supor que muitas empresas incorporem o modelo de apresentação digital às suas estratégias. A questão principal, a partir disso, é imaginar se os eventos presenciais vão se tornar irrelevantes a partir de agora.

Aumento no consumo de jogos

Apesar do coronavírus afetar o ritmo de produção de itens dentro da indústria dos games (esse é o caso, por exemplo, da edição temática do Switch de Animal Crossing), o consumo de produtos online está aumentando. De serviços de streaming a plataformas online de jogos, o que está ocorrendo é a busca por alternativas de entretenimento caseiro, dada a recomendação de ficar em casa o máximo possível. A demanda pelo Rig Fit Adventure, o dispositivo da Nintendo para prática de atividades físicas, cresceu muito, principalmente na Ásia. Na China, o aumento de consumo de games online também teve um grande aumento, o que é realmente compreensível. Não temos dados concretos das empresas, mas é razoável supor que a situação atual gera um incremento de usuários online e de compras de serviços e jogos digitais. 



Com as aulas paralisadas por tempo indeterminado, muitos estudantes estão evitando sair de casa, e o videogame (junto com os serviços de streaming de música e vídeo) é o tipo de entretenimento que faz cada vez mais sentido. Quem gosta de videogame já sabe como a imersão e envolvimento dentro dos jogos, sem excessos, pode ajudar a manter o bem-estar e a tranquilidade em momentos de tensão. No entanto, mais pessoas podem se inserir nesse universo a partir da situação atual.

Cuide da saúde (e, se puder evitar sair casa, jogue)

Como disse anteriormente, não existem ainda dados divulgados da indústria dos games, relatando perdas ou incremento em uso de serviços digitais, mas a situação em que estamos pode ser responsável por uma mudança real na maneira como o público em geral consome videogames. Olhando especificamente para a Nintendo, penso que é importante destacar que sua busca por inovação através de dispositivos direcionados a diferentes públicos (como o Nintendo Labo e, mais recentemente, o Rig Fit Adventure) a coloca em uma situação privilegiada. Grande parte de sua biblioteca de jogos já é amigável a diferentes grupos de consumidores, e suas parcerias com outras empresas, como o recente anúncio de parceria com a Lego, permitem que a Nintendo consiga passar bem por essa situação de crise, se destacando como uma companhia com foco no entretenimento em geral, sem restringir o seu público.

De qualquer forma, vale dizer que o mais importante agora é cuidar da saúde e contribuir para que o coronavírus seja contido da melhor forma possível. A informação é um importante aliado nesse momento. Portanto, fiquem atentos às orientações repassadas pelos Governos locais e evitem, dentro do possível, sair de casa. E enquanto isso, não faz mal jogar um pouco, não é mesmo? Enquanto escrevo esse texto, por exemplo, meu filho (que está com as aulas canceladas) está aqui perto de mim jogando Pókemon Silver no 3DS. E você, o que anda jogando?


Pesquisador nas áreas de estética e cibercultura com Mestrado em Cultura e Sociedade (UFMA) e Doutorado em Comunicação (UnB). Além de escrever sobre jogos, produz o Podcast Ficções e tem um blog sobre literatura, filosofia e cotidiano.
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