Em uma pegada retrô e cheia de atitude, com luzes piscantes e muito neon, o título se destaca por seu estilo artístico diferenciado e se inspira em muitos outros grandes títulos, seja em seu enredo ou nas mecânicas de progresso do jogo. Ainda assim, sua tentativa de atender a tantas referências pode acabar sendo um dos seus principais pontos negativos ao deixar vários aspectos sem um trabalho minucioso. Embarque nesse desafio como o mascarado Rick e derrote todas as gangues da redondeza de Neon City!
Um pouco de história, mas só um pouco
A aventura já começa introduzindo de uma forma inusitada e não proposital o protagonista pois, na tela de seleção de controles, o nome do jogador já é exibido como Rick. Logo em seguida, o verdadeiro início: em uma máquina de realidade virtual, você incorpora o rapaz mascarado de cabelos longos e passa guiado pelas orientações de um idoso descolado chamado Evergray.Como pretexto para a introdução do jogador às mecânicas do jogo, a máquina virtual apresenta os comandos básicos para controle do personagem e as suas quatro habilidades especiais, as quais são coletadas em diferentes salas e permitem o progresso na simulação. Mas qual a motivação disso tudo? Aparentemente, Evergray acredita que Rick é capaz de trazer de volta a paz às regiões que envolvem Neon City, derrotando os líderes das quatro gangues superpoderosas.
Essas quatro gangues surgiram quando um outro herói mascarado sumiu sem motivo aparente, após derrotar outras quatro antigas gangues e restaurar a paz. Passado um tempo pacífico nas redondezas da cidade Neon e com o herói desaparecido, novos seres humanos dotados de superpoderes assumiram o comando das falcatruas e restabeleceram o ambiente já existente, para o desespero de todos os habitantes. Atuando como rivais, as organizações criminosas tomaram posse de diferentes territórios sob o comando de um chefe, mas o jogador logo descobre que há algo maior por trás disso tudo.
Finalizada a simulação, Evergray acredita que Rick está pronto para enfrentar todos os chefes, mas uma espécie de vírus invade o sistema e rouba todas as habilidades adquiridas pelo protagonista, deixando uma mensagem no ar de que o protagonista está sendo observado e que o problema pode ser muito pior do que imagina. Quando volta à realidade, ele percebe que terá que restaurar seus quatro poderes para então derrotar os líderes das quatro gangues e trazer a paz de volta à Neon City.
O enredo se assemelha muito com outros inícios conhecidos da indústria dos videogames, com uma roupagem para o universo de Neon City Riders. Não muito além desse início se desenvolve a história, pois são apenas inseridas algumas cutscenes a respeito da vida pessoal de cada um dos chefes no decorrer do título. O jogador sentirá, certamente, a ausência de um enredo engajador ao longo da aventura e algumas perguntas começam a se tornar cada vez mais frequentes, sejam elas complexas, como a origem e motivação de Evergrey ou as reais intenções de cada uma das gangues; ou outras nem tão complexas: “para onde devo ir agora”?
A dificuldade em orientar-se está presente durante todo o jogo. Não há um destino fixo ou personagens indicando o caminho. Logo no início, a mensagem passada ao jogador é que as respostas serão encontradas explorando e, principalmente, falando com as pessoas. Mas a experiência só prova que esse é mais um exercício de paciência procurando os NPCs que não respondem com frases de preenchimento do universo. O único recurso ao alcance do jogador é uma cabine telefônica que indica uma posição de interesse no mapa por 50 moedas, quantia difícil de coletar nos primeiros momentos, ainda mais se forem necessárias várias dicas.
As redondezas da cidade Neon
Na busca pelos poderes e pela localização dos chefes das gangues, é possível encontrar um dos méritos deste título. As quatro diferentes zonas ao redor de Neon City são amplas e de temáticas muito diferenciadas, cada qual com seus inimigos e mecânicas únicas.Ao norte, por exemplo, você precisará de agilidade para se esquivar dos raios elétricos e disparos dos membros da gangue Audiobats. Ao sul, por outro lado, um pouco mais de paz, águas venenosas, ambientes tóxicos e ratos. Tudo isso combinado com um bom uso das habilidades do personagem, o que limita o acesso a algumas áreas e exige o posterior retorno, de forma similar a um metroidvania.
Toda a aventura encontra um equilíbrio entre quebra-cabeças de alta dificuldade e combates com grupos de inimigos. Ainda, cada uma das áreas apresentará desafios diferentes e são raros os casos em que a experiência torna-se repetitiva. Isso não quer dizer, porém, que o progresso não traga frustrações ao jogador.
Considerando ainda que os checkpoints do jogo - marcados ou pela troca de salas, ou ao bater em um saco de pancadas - são desigualmente distribuídos de acordo com a dificuldade desses combates ou puzzles. Assim, em contraste aos momentos fáceis, algumas sequências de desafios exigem um grande número de tentativas, sendo necessário enfrentar vários conjuntos de inimigos antes de ser possível tentar novamente.
Apesar disso, o jogo fornece boa dose de diversão ao pedir o pensamento estratégico do jogador e inserir sempre um novo desafio. O destaque fica para as mecânicas de combate com os chefes que, ao buscarem inspirações em vários outros títulos conhecidos, trazem diferentes formas de combate.
Um pouco de tudo, mas nada perfeito
Neon City Riders, para aqueles que não sabem, é um título que se tornou realidade graças ao financiamento coletivo (crowdfunding) realizado na plataforma Kickstarter. Passando por uma campanha extremamente bem sucedida, o jogo atingiu várias metas que adicionaram novas funcionalidades, o que pode ter significado um excesso de carga sobre o time de desenvolvimento.Sabendo disso, alguns aspectos do título, principalmente no que se trata da parte audiovisual, precisam de um toque a mais para que a experiência como um todo seja melhor. Seja nos gráficos, que tentaram se assimilar a um título retrô, ou na trilha sonora, que carece de composições mais longas e elaboradas.
Por se tratar de um jogo que busca repetir sucessos da era 16-bits, a Mecha Studios optou por fazer um estilo gráfico em pixel-art. O problema, porém, está na péssima renderização dos gráficos que não mantém o aspecto 1:1 dos pixels. Pode parecer um ponto irrelevante, mas o que deveriam ser sprites nostálgicos tornam-se imagens distorcidas de acordo com sua posição na tela.
Além disso, a trilha sonora, apesar de criativa e com temas bastante cativantes, demonstra falta de capricho nas composições, raramente maiores que 10 segundos. Assim, a ambientação fornecida pelos ritmos de cada uma das zonas do jogo logo se quebra com o enjoo das repetições. Esse definitivamente é um ponto a ser melhor trabalhado em próximos lançamentos do estúdio.
Vale a pena?
Como primeiro título da desenvolvedora Mecha Studios, Neon City Riders vale a pena por sua experiência diferenciada e trará um boa lembrança de alguns grandes títulos em suas mecânicas. Mesmo com todas essas qualidades, o jogo não deixa de causar certo desconforto por sua vontade de abraçar um grande enredo, trilha sonora, gráficos e desafios. A ambição de entregar todos esses aspectos faz com que nenhum deles possa se destacar. Ainda assim, é uma bela experiência a ser apreciada com calma nos intervalos em seu Nintendo Switch.Prós
- Lotado de referências a grandes clássicos.
- Estilo artístico único e psicodélico.
- Mecânicas diversificadas de combate aos chefes.
Contras
- Enredo pouco cativante.
- Falta orientação ao jogador sobre os próximos objetivos.
- Produção audiovisual com pouco capricho.
Neon City Riders — PC/Switch/PS4/XONE — Nota: 7.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Ícaro Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bromio