Cada vez mais, os jogos independentes têm trazido experiências fora do padrão, se comparados aos grandes lançamentos.
Fe (Switch) é um desses jogos, que não quer te entregar uma experiência longa e cheia de desafios, mas sim uma obra de arte, passível da interpretação que você quiser dar a ela. A floresta desse jogo, desde o início, te pega pela mão e te leva a cada um de seus cantos para conhecê-la. Porém, será que essa abordagem é suficiente para prender o jogador à experiência?
Você vem comigo?
Uma floresta de polígonos, cores vivas e vibrantes, alguns animais circulando e te guiando pelo caminho que deve percorrer. Depois de uma cena de entrada com alguns seres voadores caindo nesse lugar estranho, você já assume o controle de uma criaturinha inofensiva com espinhos na cabeça, e pode sair por aí cantando e conhecendo os mistérios dos animais que ali vivem.
Fe é assim. Um jogo cheio de mistérios, sem muitas explicações sobre quais as suas intenções, que vai te guiando pelos mais diferenciados lugares dessa floresta para salvar os animais. Dividido em áreas conectadas por um átrio central, o mundo sempre lhe é apresentado em tons monocromáticos, indicando perigo, calmaria ou a presença de determinadas espécies e, assim, você vai se habituando às diferentes novidades desse lugar.
Conforme liberta cada um dos seres do perigo, seu personagem aprende a comunicar-se com eles, por meio de línguas que dão diferentes habilidades para acessar alguns lugares do mapa e alguns poderes como planar e escalar árvores. Não entendendo muito o porquê de estar tomando tais atitudes, você segue o impulso de fazer o bem e ver cada pedacinho desse universo tornar-se livre. Mas não demora muito até que fique claro o grande perigo.
Humanoides e com olhos brilhantes, as criaturas antagonistas em
Fe são similares a robôs, emitindo sons mecânicos assustadores e perseguindo qualquer tipo de animal que veem. Quando conseguem capturá-los, emitem uma espécie de teia gelatinosa, aprisionando-os. Em cada canto da floresta, você os encontra tentando acabar com as lideranças de cada uma das espécies.
Fe é assim como esse texto: você vai descobrindo as coisas gradualmente, e elas não são didaticamente apresentadas ou vêm acompanhadas de textos explicativos. Este jogo se aproxima muito mais de uma obra de arte abstrata, capaz de despertar suas habilidades sensoriais para entender cada informação. E cabe a você interpretar tudo o que está acontecendo no mundo.
Uma obra de arte?
Como um ser inofensivo, mas determinado, você desafia os perigos do mundo de
Fe para libertar todas as espécies da floresta atacadas pelas forças malignas. Assim, o jogo prossegue sem muitas apresentações, trazendo a você algumas novas experiências e desafios. Mesmo com o estilo artístico monocromático e a trilha sonora guiada pelos violinos que te envolvem nos momentos de emoção,
Fe também falha ao tentar prender o jogador nas sessões de gameplay por não entregar real propósito na missão da pequena criatura.
Neste jogo, os cenários foram desenhados em formas poligonais e com equilíbrio entre uma cor principal vibrante e o preto. Ao longo da aventura, o jogador pode identificar que cada uma das cores que variam traz uma diferente mensagem: pode ser o frio das geleiras azuis, o verde do pântano ou dos pássaros, o laranja dos animais galopantes e o vermelho, indicando uma área dominada pelas criaturas malignas. Mesmo assim, os objetos que podem ser utilizados pelo personagem para voar, saltar e arremessar uma semente são apresentados em suas cores específicas, destacando-os do ambiente em geral e facilitando a identificação dos objetivos.
Por outro lado, a predominância de uma cor, acompanhada de algumas áreas demasiadamente grandes, deixa-nos perdidos ao buscar o objetivo. A dificuldade em diferenciar os objetos de longe e as plataformas a serem escaladas impede que o caminho para os objetivos marcados no mapa sejam visualizados, o que pode ser frustrante. Logo no início, o personagem passa a ser acompanhado por um passarinho que indica o caminho, caso seja chamado, mas prefiro defini-lo como uma ferramenta de uso obrigatório, sendo necessário para a experiência não travar na frustração de ficar perdido.
Ainda sobre as decisões artísticas do jogo, a trilha sonora é composta por dois grandes contrastes: os momento de silêncio, quando é necessário se espreitar ou enfrentar um desafio, e os momentos épicos quando, próximo de uma conquista, você se emociona com a liberdade muito próxima de mais uma espécie.
Como já descrito, o avanço pelo mapa aberto do jogo depende do conhecimento das diferentes linguagens dos animais. Em geral, essas línguas permitem a ativação de um novo tipo de flor que dá acesso a novas áreas na floresta, seja por impulsionar um pulo, elevar o personagem ao voar ou cuspir caroços que podem ser carregados e arremessados. Mas além das áreas inacessíveis, Fe apresenta poucos desafios para um jogo de plataforma, exigindo um pouco de equilíbrio para evitar alguns buracos e estratégia para fugir dos monstros que ficam rondando o mapa. Dessa forma, o uso do passarinho guia e um pouco de cuidado são suficientes para que a experiência não apresente desafios.
O jogador precisará, portanto, usar da sua capacidade de interpretação e tirar suas próprias conclusões sobre a paz que está buscando para a floresta. Apesar de, em alguns momentos, deixar o jogador um pouco perdido, Fe se recupera ao presentear com momentos épicos de resgate dos animais aprisionados. Se você é fã de uma experiência que te faz refletir, assim como uma obra de arte nos desperta a curiosidade, vale a pena se aventurar pela floresta. Por outro lado, a falta de momentos de combate, estratégia ou puzzles tiram muitos dos elementos de um jogo para aproximá-lo de uma grande contação de histórias.
Prós
- Apresenta uma experiência sensorial por meio das cores do ambiente;
- Trilha sonora épica, mas também bem planejada para os momentos de tensão;
- Mecânicas de acesso aos diferentes ambientes criativas.
Contras
- Ausência de elementos dificultadores e de estratégia;
- Dificuldade na visualização dos objetivos na apresentação monocromática
Revisão: André Carvalho
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo