Análise: Atelier Dusk Trilogy Deluxe Pack (Switch) vai te ocupar até o ano que vem

Combo com todos games do arco de Dusk da franquia Atelier traz três RPGs divertidos e recheados de conteúdo.

em 05/02/2020



Como se não bastasse a enxurrada de conteúdos lançados ano passado, a Gust trouxe mais Atelier para o Switch em 2020. Já começamos o ano com, nada mais, nada menos do que um combo com três jogos completos da série , portados para o console híbrido com algumas melhorias de jogabilidade e, para alegria de todos, acompanhando todas as DLCs já lançadas.


Para aqueles que não conhecem a série Atelier, nós preparamos um guia indicando por onde começar, considerando os vários games da franquia. Atelier possui mais de vinte jogos em sua série principal, sem contar os spin-offs. É uma franquia de RPG prolixa, com lançamentos anuais e podemos dizer que é bem de nicho.

Suas histórias se focam em alquimistas, que são pessoas com habilidades quase mágicas, capazes de juntar ingredientes e transformá-los ou, usando o jargão da série, sintetizá-los em produtos finais complexos. Esses itens vão de alimentos, armas e até mesmo metais preciosos, tudo isso usando apenas um caldeirão.

As histórias levam um estilo slice-of-life (‘pedaço de vida’ em inglês) de animes e mangás, cujos temas principais são focados no dia-a-dia dos personagens, seus dilemas e acontecimentos cotidianos. Junto disso temos o enredo principal que rege as outras histórias, e algumas têm caminhos mais fantasiosos ou mágicos, enquanto outros são mais simples e relacionáveis.

Redescobrindo Dusk


Os jogos da série tendem a possuir arcos separados. Em sua maioria, o indicador de que um novo enredo se iniciou é o nome do lugar em que se passa a história. A bola dessa vez é a região de Dusk. Seu enredo possui três jogos, lançados originalmente para PS3 e PC.

Uma característica interessante que a franquia segue é que alguns jogos são conectados, mas também são idealizados para funcionar de forma acessível, como um jogo avulso. Assim, um jogador desavisado não vai sentir que pegou um bonde andando.

Os jogos, em geral, entram no tema comum da civilização antiga de Dusk e tem muito envolvimento com investigações das ruínas desse mundo, seja por terra, céu ou “mar” (você saberá mais sobre as aspas mais ao final dessa análise).

A trilogia de Dusk conta com histórias que, a princípio, não são relacionadas, mas que vão se conectando ao passo que a aventura do jogo vai se aprofundando, por isso, não estranhe quando começarmos a falar das sequências e parecer que os jogos só possuem títulos parecidos. A graça de Atelier é que suas histórias são extensas e muito aprofundadas.

Atelier Ayesha: The Alchemist of Dusk DX


Primeiro game do arco. Nele, somos apresentados à região de Dusk e à Ayesha, uma jovem farmacêutica que vive sozinha em uma região remota. Ela segue sua vida de forma simples e se sustenta com os remédios que faz em seu caldeirão. A menina age como uma moça alegre e alto-astral, mas há um passado que ela não superou. Sua irmã, Nio, desapareceu quando ia buscar ervas para produzir mais remédios.

Depois de anos sem nenhuma pista de seu paradeiro, muitos a consideram como morta e então Ayesha visita o altar - que poderíamos considerar como um túmulo, em nossa cultura - que fez para a irmã em uma das ruínas próximas à sua casa. Porém, ela descobre que sua irmã não morreu e então decide resgatá-la.

Para isso, ela deverá dominar a arte da alquimia, técnica que imperava no mundo de Dusk, mas que foi esquecida há muito tempo. Ayesha descobre que só terá três anos para se tornar uma experiente alquimista, ou perderá a sua irmã para sempre.

Assim a história começa e o jogador terá acesso ao mundo que circunda Ayesha, podendo começar a explorar as regiões em busca de informações sobre o desaparecimento de Nio, enquanto as histórias dos outros personagens vão se conectando com a principal, aprofundando todo esse universo.


Em termos de apresentação, Atelier Ayesha é bem didático ao apresentar suas mecânicas básicas de síntese e combate, são bem simples, acessíveis e nenhum deles inventa a roda, mas fazem bem o seu serviço.

Uma boa adição, na trilogia completa, foi a função de correr, que facilita a mobilidade por entre os espaços e também é possível tornar as animações de batalha mais rápidas. Pode até ser incômodo ver as batalhas ocorrendo em alta velocidade, mas ajuda para aqueles que sentirem que o jogo está muito lento. É uma novidade muito bem vinda, já que as animações tendem a ser mais demoradas.

O jogo possui a mecânica de contabilizar o tempo, pois a série é famosa por exigir que os jogadores realizem tarefas específicas dentro de um prazo estipulado. Porém, em Atelier Ayesha, ela ocorre de forma branda, pois são poucos os eventos com prazos para serem realizados e o foco maior deles é o progresso de Ayesha para evoluir suas técnicas e encontrar Nio. No geral, sequer parece que temos o contador de dias.

Uma das coisas que pode não agradar a todos é que o desenvolvimento da história do jogo não é exatamente linear, mas podemos acompanhar a evolução de Ayesha através de seu diário, no qual ela anota o que já foi concluído em sua jornada.

Nele também tem informações sobre missões e tarefas, que funciona, realmente, como um diário. Essa agenda serve como um bom lembrete para uma missão ou outra, indicando localidades e dando dicas para realizar as missões, o que ajuda muito. Porém, visualmente pode não ser esclarecedora e tende a ficar lotada com facilidade, o que pode atrapalhar alguns jogadores.


Pessoalmente, acho os cenários do jogo um tanto destoantes dos modelos dos personagens, parece que o design deles não conversa. Enquanto os personagens tendem a ser mais carismáticos e fofos, os cenários têm tons muito pesados e lúgubres. O que, ao meu ver, não combina, mas é uma questão puramente estética.

De todo modo, é um jogo divertido, alegre e com muita coisa a se fazer. A história se desenrola gostosamente aos nossos olhos, sem a menor pressa de apresentar todo aquele mundo para o jogador. Certamente um bom título para abrir uma trilogia.

Atelier Escha & Logy: Alchemists of the Dusk Sky DX


O segundo título da série é o meu favorito da trilogia, talvez por ser o mais direto de todos. Creio que você notou que esse jogo possui dois nomes no título. Pois é, esse é o jogo apresenta a história de dois alquimistas protagonistas de uma vez. Mas não se engane, não estamos tratando de um jogo co-op, mas de uma possibilidade de escolher caminhos.

A história do jogo segue a mesma, mas certos finais e partes da história são exclusivas de cada personagem. Isso abre um grande fator replay no game, trazendo curiosidade ao jogador que ficar ávido para conhecer e acessar tudo o que o jogo pode oferecer. Pois haverá cenas que um protagonista não compartilha com o outro.

Os dois alquimistas são contratados pela organização de desenvolvimento de uma pacata cidade chamada Colseit, que guarda um passado poderoso em suas ruínas e arredores, incluindo o céu. O trabalho do dois é ajudar no desenvolvimento da cidade, mas o passado da região acaba atraindo novas atenções à cidade, mudando muito a função dos alquimistas por lá.

Como os dois são funcionários da organização, o processo de receber missões e tarefas é bem mais fácil e intuitivo, sem contar que o andamento da história principal ocorre de forma bastante linear. Em compensação, os prazos por tempo voltaram com força total, não são severos, mas se o jogador comer bola, pode acabar se atrapalhando e vendo um Game Over cedo demais.


A dica é se organizar e focar em fazer o máximo de missões que puder, assim terá tempo de sobra para se dedicar às side-quests quando tiver o período livre da jogatina, habilitado depois que todas as missões principais forem realizadas.

O modo batalha do jogo agora aceita até seis personagens por time de exploração, sendo três na linha de frente e a outra metade como reserva. Se o jogador atacar com antecedência, os personagens da reserva poderão realizar ataques de apoio que ajudam muito nas batalha.

E como temos dois alquimistas nesse jogo, cada um possui habilidades diferentes de síntese. Enquanto Escha performa a alquimia mais comum, a de caldeirão e que produz itens de uso geral e produtos de receitas. Já Logy é responsável pela técnica de Imbuing, comum dos RPGs, no qual ele produz espadas e armamentos para os personagens, tunando os personagens em batalhas.

Mesmo a história do jogo parecer completamente desassociada de Atelier Ayesha, muitos personagens do título anterior retornam nesse jogo, não somente fazendo uma ponta para justificar a continuação, pois suas histórias ganham novas cores e também há novas pistas de seu andamento, mas como subtramas do enredo principal.


Acredito que esse título é uma boa evolução de seu antecessor, os personagens estão melhor modelados e as mecânicas de batalha e síntese estão mais polidas, enquanto a possibilidade de escolher o seu protagonista instiga o jogador a querer jogar a campanha novamente para conhecer toda a trama.

Atelier Shallie: Alchemists of the Dusk Sea DX


O título final da trilogia é um jogo que mistura elementos dos dois jogos antecessores e seu começo é digno de uma distopia; o “mar” de Dusk está se alastrando pelas regiões. O perigo disso? Enchentes, cheias de areia. O mar dessa região está associada à mudança climática e a perda de água nas cidades da região, levando civilizações à ruína.

No prólogo do jogo conhecemos Shallie, ou melhor, as Shallies, pois as duas protagonistas, Shallotte e Shallistera, dividem o mesmo apelido. Esse começo serve para que conheçamos o básico das duas e decidamos com qual perspectiva seguiremos. Assim como em Atelier Escha e Logy, porém agora temos mais contexto sobre as personagens.

Shallotte é uma aspirante a alquimista que parece perdida, ela almeja mais de sua vida, mas não sabe como alcançar esse objetivo, então ela faz trabalhos simples como limpar as ruas de sua cidade por poucos trocados. Já Shallistera é a líder de seu povo, que sofre com a seca das mudanças climáticas e está seguindo em seu navio para encontrar uma solução para essa crise. Ela também é capaz de realizar alquimia.

Por um golpe do destino, seu navio com a comitiva de Shallistera acaba chegando à cidade de Stellard, onde Shallotte vive. Suas vidas acabam se encontrando, já que ambas não somente dividem o mesmo nome, mas suas histórias se unem para que possam se ajudar em seus sonhos.


Quando disse que esse jogo parece uma combinação de seus antecessores, eu não estava brincando. A organização da história parece e muito como um mix dos jogos anteriores. Não temos mais marcadores de tempo, então o jogador está livre para seguir com a história como bem quiser, enquanto haverá missões principais para realizar primeiro e depois missões menores em seguida, antes do jogo prosseguir com a história de forma automática depois que um número mínimo de missões é realizado.

Quando acessamos o guia, entramos na cabeça da personagem e lá estará as missões, mas é um processo bem menos intuitivo que Atelier Escha & Logy, enquanto é mais bagunçado e menos atraente que Atelier Ayesha. Pessoalmente devo dizer que achei esse processo o mais complicado de entender, não que precisasse fazer muito, mas o modo como a interface foi desenhada não ajuda em nada.

Mas não se engane, o jogo segue divertido, as histórias se dividem com maior evidência nesse título, já que demora mais tempo para que as duas protagonistas comecem a trabalhar juntas, o que vai trazer mais atenção do jogador a esses momentos em que ficaremos sem saber o que ocorreu e, consequentemente, fazê-lo jogar o game mais de uma vez.

Em termos de história geral temos temas interessante sendo trabalhados, não somente nas histórias individuais das protagonistas, que trazem assuntos como autoconhecimento, descoberta de suas vocações e também do peso de uma responsabilidade. Também esbarramos em temas pertinentes como preservação ambiental e política, pois há momentos de xenofobia evidentes na jogatina, o que contribui para a história da franquia num todo.


Sinto que, de todos, a mecânica de síntese é a mais completa no sentido que a função é intuitiva para o jogador e mesmo quando as suas complexidades são aplicadas, ainda não é tão complicado de se entender, coisa que não ocorre tão pronunciadamente nos títulos anteriores. Já o modo de batalha não mudou muito, segue bem divertido e agora é possível já escolher a dificuldade, facilitando para os jogadores menos interessados nessa função e abrindo caminho para os que gostam de desafios.

Num geral, Atelier Shallie é uma combinação dos games anteriores, misturando pontos fortes de ambos e trazendo melhorias próprias, sendo uma ótima forma de fechar essa trilogia. Seu enredo amarra as histórias, enquanto nos conta uma outra totalmente original.

O pacote

Devo dizer que o pack de jogos é uma boa opção para aqueles que buscam um investimento, pois os três jogos juntos custam um pouco a mais do que um título médio e têm muito conteúdo, se você for um jogador mais lerdo para RPGs - assim como este que vos escreve - esses títulos poderão ser aproveitados por muito tempo.


E, se você se interessou por um jogo em específico, saiba que eles são vendidos separadamente na eShop por um preço bem atraente. E reforço: os jogos formam uma trilogia, mas podem ser jogados separados sem nenhum problema.

Os títulos estão muito bem portados para o Switch, tanto no modo portátil como jogador na televisão. Devo dizer que eu gosto muito de jogar os títulos da série no modo portátil, parece que eles foram idealizados para esse formato. Não estranhamente, o PSVita tem muitos ports lançados para ele. No Switch cheguei a presenciar quedas de quadros, mas nada preocupante.

O trio de games pode servir também como uma boa porta de entrada para a série, pois traz muitas mecânicas mais antigas, algumas foram removidas permanentemente, como a marcação de tempo, com datas limites. Mas ainda é uma versão bem atual de como a franquia opera, com a síntese mais polida e aprofundada, sendo um meio de campo para o jogador que quer se aventurar na série.

Um ponto que pode afastar alguns jogadores é a falta de localização para o português, as versões que chegam ao continente americano são apenas em inglês e japonês, então seria interessante que a localização expandisse para outros idiomas.


Por fim, devo dizer que a série Atelier merece, pelo menos, uma chance em seu coração, são jogos divertidos e recheados de coisas para se fazer. É, de longe, um jogo que não vai te deixar sem o que fazer e não faltará novidades a cada avanço, seja na história, nas batalhas ou no que você poderá criar em seu caldeirão.

Prós

  • Ports bem realizados para o Switch, rodando sem problemas;
  • Jogos com uma infinidade de conteúdo;
  • Atualizações tornaram a gameplay mais dinâmica;
  • Alto fator replay.

Contras

  • Algumas músicas são repetidas em outros títulos;
  • Sem localização para o português;
  • Mesmo possuindo todas as DLCs, há pouco conteúdo novo nessa versão se comparada com as originais.
Atelier Dusk Trilogy Deluxe Pack - Switch / PS4 / PC - Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Kiefer Kawakami
Análise realizada com cópia cedida pela Koei Tecmo
Siga o Blast nas Redes Sociais

Estudante de Sistemas da Informação que gostaria de aprender todas as línguas existentes, mal sabendo lidar com as duas que já fala. Descobriu seu amor pela Nintendo ao conhecer Super Mario 64 e desde então nunca mais largou os cogumelos, karts e rúpias que encontrou em seu caminho.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).