Análise: Aviary Attorney: Definitive Edition (Switch) oferece novos ares aos tribunais de justiça

Na pele do advogado Jayjay Falcon, o jogador pode explorar uma jornada instigante pelos tribunais de justiça da França do século XIX.

em 30/01/2020

Quando Phoenix Wright: Ace Attorney foi lançado originalmente no GBA no Japão, seu criador, Shu Takumi, jamais imaginaria que a obra faria tanto sucesso. Ainda mais improvável foi ter se tornado um ícone mundial do DS e um título de grande influência para abrir as portas do mercado ocidental às visual novels.

Inspirado nesse clássico, Aviary Attorney faz uma combinação bastante inusitada. Misturando o contexto das cortes de justiça com uma ambientação francesa do século XIX e personagens que são todos animais antropomórficos, o título traz muito humor e uma história recheada de boa intriga e reviravoltas instigantes.

Um falcão advogado


Em Aviary Attorney, assumimos o papel de Jayjay Falcon, um advogado de defesa que costuma procrastinar bastante e não abre mão da bebida. Acompanhado do jovem e um tanto imaturo Sparrowson, Falcon aceita uma variedade de casos para conseguir alguns trocados. Apesar de seu aparente desleixo, é perceptível que o advogado tem um forte senso de justiça. No entanto, quando o próprio sistema judiciário apresenta brechas variadas, é possível manter a retidão moral?

Por um lado, Aviary Attorney é um título bastante cômico, com piadas em todo canto, especialmente aquelas relacionadas a pássaros. Por outro, existe uma história séria acontecendo e que de fato chama a atenção com seus questionamentos sem ser exageradamente moralizante. Aliando esses dois lados de forma impecável, o roteiro consegue se manter instigante até o final, mesmo sendo, em boa parte do tempo, um tanto simples e previsível em comparação com títulos similares.

Em termos de gameplay, o jogador precisa ir a vários pontos de Paris para fazer sua investigação. Nesses locais é possível encontrar pessoas para interrogar e obter pistas do crime. Com isso em mãos, o jogador deve então defender o seu cliente no tribunal em busca de um parecer “Not Guilty” (inocente). Dessa forma, cada caso segue uma estrutura similar, mas fundamentalmente discutem diferentes aspectos falhos da justiça.

Uma curiosidade é que, após o primeiro capítulo, há várias formas possíveis de exploração da cidade e os pontos relevantes gastam tempo. No capítulo 3, em particular, é possível que o jogador faça escolhas que o impeçam de obter todos os itens necessários para sua defesa e acabe levando à condenação de um inocente. A resolução desse trecho também leva a história a ter conclusões diferentes (os capítulos 4-A, 4-B e 4-C), alterando drasticamente a posição do jogador diante de um certo grande evento.


Assim, por conta de certas decisões do jogador, o desenvolvimento do enredo pode variar e o jogo oferece conquistas para alguns feitos. Para facilitar essa exploração, o jogo conta com uma opção no menu para revisitar qualquer dia já visto da história. Outro aspecto que é curiosamente vantajoso é a presença de poucos itens. Graças a isso, encontrar a prova correta é uma tarefa simples e evita-se redundância não intencional, ou seja, situações em que objetos diferentes poderiam ser a resposta correta. A arbitrariedade de escolha entre as pistas em casos de redundância é um ponto fraco de Ace Attorney e escapar desse problema foi uma decisão bastante acertada.

Uma atmosfera de época


É curioso saber que a obra utiliza diretamente as imagens do caricaturista francês J.J. Grandville. Contemporâneo do século XIX, o artista trabalhava com uma perspectiva de provocação política, desenhando figuras animalescas em contextos urbanos para ironizar situações burlescas da sociedade. Esse tom de época ainda é reforçado pela trilha sonora, que é formada por músicas clássicas cuja autoria é majoritariamente de Camille Saint-Saëns, conhecido compositor, maestro e pianista francês da Era Romântica, também no século XIX.

Graças a esses detalhes, a atmosfera europeia de época é muito forte e instigante. Locais turísticos como o Louvre e a Catedral de Notre-Dame fazem parte dos ambientes que podem ser visitados. Os diálogos igualmente reforçam a ambientação, mas o uso de muitos termos em francês acaba dificultando o entendimento em alguns momentos.

A versão de Switch em particular conta com a possibilidade de trocar a fonte para uma mais adequada para pessoas com dislexia, uma galeria de arte e um jukebox, além de conquistas e gráficos refinados. De forma geral, Aviary Attorney é um jogo narrativo muito interessante, com um conceito bastante peculiar e um tom de escrita instigante. Definitivamente recomendado para qualquer jogador que queira alçar novos voos em tribunais franceses do século XIX.

Prós

  • Roteiro instigante do início ao fim, combinando humor e seriedade;
  • Gameplay com possibilidades de exploração e três finais bem diferentes;
  • Estilo artístico único.

Contras

  • Um tanto simples e previsível em comparação com seus similares;
  • A combinação de francês com inglês complica o entendimento.
Aviary Attorney: Definitive Edition - Switch - Nota: 9.0 
 Revisão: Jorge Neto 
Análise produzida a partir de cópia digital cedida pela Vertical Reach
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é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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