Fantasia e Ficção Científica se misturam
Nossa jornada começa com Roddick e seus amigos Millie e Dorne, jovens guerreiros protetores de Kratus, sua cidade natal e pouco conhecedores do mundo fora dessa realidade, sendo enviados a uma cidade vizinha para investigar uma rara doença que transforma suas vítimas em pedra. Na busca por uma erva localizada no ponto mais alto de uma montanha e que supostamente poderá curar as vítimas da rara doença, eles são abordados por Ronyx e Illia, dois viajantes espaciais membros da Terran Alliance. A dupla de estranhos visitantes vem alertá-los de que seu mundo foi vítima de um ataque biológico arquitetado por uma raça alienígena chamada Lezonian com o simples objetivo de usá-los como meio para a criação de um material raro que lhes daria uma grande vantagem na guerra contra as força aliadas. É então que, sem muitas alternativas, o grupo de companheiros embarca na nave da Illia e Ronyx rumo ao desconhecido em busca de respostas e uma maneira de salvar seu mundo.
Tanto na história quanto em elementos visuais, STAR OCEAN First Departure R mistura muito bem fantasia e ficção científica. Temos aqui elementos clássicos de histórias fantásticas como guerreiros com espadas, reinos ameaçados, monstros ferozes, magias e lendas seculares misturados com viagem espacial, naves tecnológicas, viagem temporal, raças alienígenas, etc. A colisão entre esses dois mundos resulta em um RPG inovador para sua época e com enormes possibilidades de expansão de seu universo.
A história de STAR OCEAN First Departure R é muito mais extensa e complexa do que se parecia inicialmente e pode ser totalmente influenciada pelas escolhas que fazemos durante a aventura. Há momentos em que precisamos escolher entre convidar um companheiro temporário a se tornar um membro do seu time ou deixá-lo seguir seu caminho. Existem também eventos onde podemos decidir investigar determinado mistério, ajudar a população de determinada cidade a se livrar de bandidos, explorar ruínas misteriosas em busca de um artefato que lhe poderá ser útil mais pra frente ou se devemos nos ater à busca por companheiros perdidos, sem desvios. Todas essas escolhas representam novas caminhos e consequentemente novos desfechos. STAR OCEAN First Departure R conta com mais de 80 finais diferentes e até 14 personagens controláveis ao longo da jornada.
Combates nada tradicionais
Indo contra a tendência dos RPGs mais tradicionais dos anos 90, STAR OCEAN possui combates com ação em tempo real. Essas lutas ainda são desencadeadas por encontros aleatórios ao andarmos pelos calabouços ou em viagens pelo mapa, e assim que acontecem nos levam a uma nova janela onde a luta ocorre de fato. Contudo, as batalhas não são por turnos, onde cada personagens e inimigo esperam sua vez de agir: toda a ação ocorre ao mesmo tempo e em um ambiente tridimensional.
É possível controlar cada um dos 4 membros de seu time (botão B para alternar entre eles) e desferir sequências de ataques com o botão A. Técnicas especiais podem ser equipadas nos botões L e R e usadas em meio a sua combinação de golpes, gastando MP. Há ainda um pequeno menu no botão X que abre para opções como o uso de itens, mudar a tática de combate daquele personagem, usar magias ou fugir da batalha. Você controla um deles apenas, enquanto os outros agirão de forma independente, seguindo a tática que você pré-configurou, como priorizar ataques físicos a habilidades especiais, preocupar-se em curar os companheiros, manter-se distantes dos inimigos, entre outras opções.
As batalhas são um dos elementos mais divertidos de STAR OCEAN e estão abertas a várias possibilidades de combinação e experimentação de diferentes estratégias, mas por serem encontros aleatórios, podem acabar irritando alguns jogadores pela alta frequência em que acontecem. A boa notícia é que isso pode ser alterado graças a uma das dezenas de habilidades aprendidas por seu time.
Muitas possibilidades trazem grandes complexidades
Um outro sistema bastante interessante presente em STAR OCEAN First Departure R é o de Skills: habilidades especiais que influenciam fatores dentro e fora dos combates. Através do menu principal do jogo (botão X) é possível acessar o submenu das Skills, onde gastamos pontos para ensinar novas técnicas e conhecimentos para os membros da equipe. São algumas dezenas de possibilidades de combinações que destravam outras habilidades individuais ou técnicas realizáveis em grupo.
Dentre as mais interessantes estão por exemplo a opção de cozinhar com ingredientes comprados nas lojinhas – quanto mais alto investir pontos nessa opção, maior e melhor será a variedade de pratos criados. Há também a opção de aprender a domar animais, assim podemos enviar um pássaro para que ele compre e traga de volta um item na cidade mais próxima. É possível aprender a criar itens como armas e acessórios ou até a tocar um instrumento musical. Enfim, são diversas as aplicações das Skills e isso torna ainda mais divertido investir no crescimento de seus personagens.
Os pontos necessários para desbloquear novas skills são ganhos ao subir de nível, mas também podem ser encontrados por várias partes do jogo, como ao interagir com certos objetos, por exemplo. O fato de que um personagem não pode aprender todas as habilidades disponíveis, e que uma vez investidos os pontos de skill estes não podem ser retornados torna ainda mais crítico o uso acertado deste recurso. Você pode criar personagens com funções específicas se quiser e assim formar um time bastante variado e balanceado, onde todos se ajudam e se complementam.
Acessando o menu principal também podemos definir a formação da equipe por meio da opção Tactics, ou ainda escolher de que forma cada membro irá se comportar em combate quando este estiver sendo controlado pela máquina. E, por fim, definir a formação de combate que sua equipe assumirá entre as mais de 10 opções.
A profundidade das mecânicas presentes em STAR OCEAN First Departure R não trazem apenas muitas possibilidades, mas também uma complexidade acima da média. O menu principal, inicialmente, assusta um pouco por conter muitas opções e submenus, o que pode causar uma confusão inicial ou até afastar alguns jogadores. Os itens, por exemplo, são subdivididos em 10 categorias diferentes, sendo que muitos deles têm a mesma função, mas com nomes distintos.
Beleza e problemas retrô
Os visuais de STAR OCEAN First Departure R são os mesmos do remake original lançado em 2007 para o PSP, mas com qualidade HD. As cidades são bastante complexas na maioria: com arquitetura única, possuem vários caminhos, vielas e lugares a se visitar, tudo construído com um pseudo-3D pixelado lembrando muito os primeiros jogos 3D dos anos 2000. O mapa dos continentes, por onde viajamos entre locações e cidades é demasiadamente simples e poderia muito bem ter recebido uma maquiada. Ele possui grandes áreas vazias, com florestas representadas por polígonos verdes estáticos, montanhas mal modeladas e muita repetição de elementos, tornando enfadonha a viagem e nada atraente visualmente.
O jogo conta também com novas artes para os personagens, uma nova dublagem japonesa e americana, ambas refeitas por novos atores, e você tem a possibilidade de escolher entre todas essas opções no menu de configuração. Os diálogos dos personagens principais e de coadjuvantes envolvidos em momentos chave da história são todos dublados e adicionam pontos no quesito imersão, proporcionando maior profundidade à personalidade dos personagens.
Enquanto STAR OCEAN First Departure R nos captura pela nostalgia, ele também pode afastar por trazer também alguns problemas e mecânicas muito datadas. Algo que me frustrou bastante foi o fato de que só podemos salvar o progresso em locais específicos, sendo eles os save points ou no mapa do jogo, obrigando você a sair da cidade ou calabouço apenas para salvar o jogo ou procurar um save point, que são bastante raros em boa parte das locações. Outro problema são as idas e vindas entre lugares: é frequente a necessidade de ir e voltar aos mesmos lugares para cumprir pequenos objetivos e o jogo não oferece uma maneira rápida de fazer isso, chegando ao ponto de você precisar navegar para uma cidade e depois pegar outro barco para outra cidade para então poder caminhar mais um tempão de voltar a uma montanha lá do início da aventura.
Outro problema sensível é a completa falta de explicação de alguns elementos e mecânicas. STAR OCEAN First Departure R conta com muito elementos complexos e mecânicas alternativas bastante interessantes, mas peca ao oferecer pouco ou nenhum esclarecimento sobre tais opções, forçando o jogador a descobrir o funcionamento da maioria delas pela experimentação, o que muitas vezes leva a um caminho sem volta ou sem chances de fazer novas escolhas.
Mergulhe no oceano de estrelas
STAR OCEAN First Departure R é uma ótima opção para os fãs do gênero RPG clássico. Apesar de algumas poucas falhas e pelo fato de que o jogo poderia ter recebido uma nova cara (remake do remake), a experiência com o título é divertida e pode render dezenas de horas de exploração de suas mecânicas únicas, de cumprimento de missões alternativas e claro a busca heroica por experimentar cada um dos 80 finais alternativos para esta saga, alterando suas decisões a cada partida. Esta é definitivamente a melhor versão para o contato com a tradicional franquia STAR OCEAN por ser o primeiro título da série e por se encaixar bem nas mãos de jogadores mais tradicionais e comprometidos ou por quem quer viajar por uma história épica e se aventurar sem preocupações.Prós
- Belos gráficos e visual nostálgico;
- Combates ágeis e de fácil manipulação;
- Boa trilha sonora e diálogo dublados;
- Muitas mecânicas e opções de customização para explorar;
- O jogador escolhe quais caminhos seguir e pode alterar a história.
Contras
- Menu mal organizado e com opções demais;
- Pouca ou nenhuma explicação sobre opções e mecânicas alternativas;
- Ida e volta aos mesmos lugares;
- Longas viagens por um mapa desinteressante.
STAR OCEAN First Departure R – Switch/PS4 – Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Ícaro Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix