Análise: Heroland (Switch) é um passeio bastante monótono pelo parque

O jogo promete combates estratégicos e uma aventura épica, mas entrega de forma fragmentada e enfadonha, sem muitas opções de interação e com pouquíssimos atrativos.

em 13/12/2019


Em Heroland, assumimos a alçada de um guia de atrações em um grande parque onde ‘Heróis’ de todo o mundo vão para se aventurar por calabouços, enfrentar ‘inimigos’ e encontrar valiosos tesouros. Mas não é bem assim: os Heróis são os clientes do parque, que chegam a Heroland para viver suas fantasias e escapar de sua realidade, ou ainda, criar uma nova; os inimigos são os funcionários, que devem encarnar a aparência e personalidade de anões, morcegos, lesmas, ogros, fantasmas, criaturas marinhas, etc.; e você, o guia, deve conduzir seus clientes pelas atrações da melhor forma, mudando as estratégias de combate, administrando itens e reunindo a equipe certa para cada calabouço.

Um paraíso para aventureiros, só que não

O mundo de Heroland se resume a uma ilha temática frequentada por todos os tipos de pessoas. Nela, temos várias instalações, como uma lojinha de itens (poções basicamente), uma forja de armas onde podemos comprá-las (de brinquedo, segurança acima de tudo), uma praia, uma praça e a entrada do parque, onde acontecem eventos e diálogos bizarros. Temos ainda o escritório da firma (para broncas esporádicas e reuniões) e a casa de Lucky, nosso protagonista, num canto mais afastado. Todas essas instalações podem ser navegadas através do mapa estático que funciona como tela principal do jogo, de onde se pode salvar o progresso no menu principal (botão X).

No escritório, acontecem as reuniões de equipe para definir as temáticas das atrações, bem como quais inimigos (funcionários) farão parte do tour, as recompensas que poderão ser obtidas e também onde recebemos dicas como de quais ameaças você precisa defender seus clientes. A parte ruim é que você acompanha tudo isso de forma passiva, por meio de longos diálogos, não sendo possível fazer alterações ou sugestões, sendo apenas uma reunião informativa.


Outro local importante é a casa de Lucky. É nela que podemos guardar ou usar como decoração vários tipos de objetos que ganhamos nos calabouços. Ao fim de cada batalha, é possível encontrar baús de tesouro, e é você quem decide qual cliente ficará com aquele item, ou se prefere ficar pra si. Essa decisão é importante, pois é preciso aumentar o nível de felicidade dos heróis, e presenteá-los influencia bastante na satisfação geral ao fim de cada tour. Essa satisfação determina o seu nível de amizade com cada um deles e o quanto de experiência você vai obter ao fim do calabouço, aumentando seu nível de funcionário e assim podendo ser promovido em sua função.

O Lobby é a principal área de Heroland, é dele que partimos para as atrações (calabouços) com nossa equipe de heróis. No Lobby escolhemos dentre vários tipos de tour, montamos um time de heróis e também organizamos a bolsa com os itens que podem ser úteis lá embaixo. Dentre as atrações disponíveis existem Quests principais, que avançam na história do jogo; Quests secundárias, que geralmente são específicas de cada Herói e podem ser desbloqueadas ao melhorar seu relacionamento com eles; e as missões livres, que podem ser jogadas infinitamente e servem basicamente para treinar seus clientes e deixá-los mais fortes.

Assistindo de camarote

A navegação em cada calabouço é feita por meio de painéis, como em um jogo de tabuleiro, onde existem 4 tipos diferentes desses painéis: o Event Panel, onde acontecem diálogos no meio do calabouço; os Monster Panels, onde lutamos contra inimigos e Chefões; o Treasure Panel, onde baús especiais contendo armas, móveis e decorações ou bichinhos de pelúcia podem ser abertos; e por fim o Goal Panel, que representa o fim do calabouço e o objetivo principal da atração. A navegação por essas missões em equipe não oferece nenhuma variação, e você basicamente precisa confirmar o próximo painel que deseja seguir e entrar no evento ou combate seguinte.


O foco de Heroland está nos combates estratégicos que se desenrolam nos calabouços. Nessas lutas você precisa guiar seus heróis da melhor maneira possível, e isso envolve usar itens de cura para recuperar vida, se livrar de status negativos ou reviver algum cliente caído, determinar o uso de habilidades e a estratégia geral adotada pelo time. Pressionando o botão X durante o combate, é possível acessar seu menu de opções. Nele, temos a bolsa de itens, a mudança de estratégia para aquele turno (representada por bandeirinhas coloridas), a opção de direcionar um cliente em específico a usar determinada habilidade e, por fim, a Mondex, uma enciclopédia com informações sobre todos os inimigos já encontrados anteriormente.

Apesar de tantas opções, depois de poucas horas no jogo, não senti nenhuma real necessidade de fazer intervenções nas batalhas. Por várias delas apenas apertei o botão R para acelerar a velocidade do combate e assisti até que ele acabasse, pois todo o resto acontece de forma automática. Caso você mantenha a bandeira Verde – “Go for It!” – como a estratégia padrão, seus personagens irão usar habilidades de dano e cura de forma balanceada, a fim de manter o time vivo enquanto eliminam os inimigos um por vez.


Os inimigos são pouco variados e geralmente mudam apenas seus status, elementos base e sua cor predominante, mas mantêm a mesma forma. Os chefes, na maioria das vezes, são versões gigantes (DX) dos monstros comuns. As animações são pouco trabalhadas, assim como as dos frequentadores do parque, sendo todos renderizados em 3D, mas com uma forma chapada pixelada, o que limita bastante as animações e movimentos desses personagens.


A repetição também ocorre na ambientação. Os calabouços e combates seguem com o mesmo cenário de fundo até que você vá para a próxima área. Não tem variação, interação ou outro aproveitamento. Este fator, aliado à baixa interação do jogador com o combate, aumenta a monotonia do que deveria ser o coração de Heroland.

Engraçado, mas até certo ponto

Heroland possui uma coleção de personagens estranhos e carismáticos, todos com personalidades únicas e motivação própria para ter vindo parar nesse parque de diversões. Temos candidatos a sucessor do trono de um país distante brigando pela posição, temos um grupo de amigas adolescentes que só querem passar um tempo juntas e tirar selfies, um cavaleiro solitário bem à moda antiga, uma família inteira em busca de ação, um montanhista, um cachorrinho... enfim, são mais de vinte Heróis que vão integrando a sua comitiva e ficam disponíveis para serem escolhidos para sua equipe de heróis.


As interações entre essas diferentes personalidades, os funcionários do parque e outras figuras esporádicas são bastante divertidas e te fazem rir em vários momentos. Elas acontecem em locais específicos do parque e também nos painéis de evento dentro dos calabouços e durante combates. O principal problema em Heroland é o fato de que quase todos os diálogos são muito longos. Parece que estão ali para trazer um alívio cômico e preencher alguma grande lacuna no jogo, mas funcionam somente até certo ponto, pois além de serem muito extensos, não adicionam tanto à experiência geral com este título.

Lucky, o guia protagonista do jogo, é um personagem mudo. Suas opiniões nas conversas se resumem a 3 opções de resposta, que raramente é requisitada nos diálogos. Na maioria das vezes é sua fada companheira e colega de trabalho Luna quem faz toda a parte de conversação, o que vai contra o fator relacionamento com os Heróis, bastando que você lhes dê itens para aumentar sua satisfação e consequentemente desbloquear quests novas.

Ao fim do dia...

Heroland tem uma proposta bacana, mas sofre com limitações artificiais e falta de participação do jogador no desenrolar do jogo, nos colocando numa posição passiva em relação a quase tudo. Os combates não necessitam tanto da intervenção do jogador, e mesmo que ele o faça, não existe recompensa real; as outras áreas do parque não possuem atrativos além de mais diálogos; não se pode fazer modificações nas atrações, as armas equipadas oferecem pouca variedade e uma mesma arma pode ser usada por vários personagens; a decoração da casa de Lucky não oferece recompensa alguma e é um extra totalmente dispensável; diálogos extensos tiram a graça em lê-los depois de pouco tempo de jogo.


Tais problemas tornam o jogo cansativo e divergem bastante da sua proposta de oferecer customização de combate e estratégia em uma aventura épica com diversão garantida. Certamente deve ser bem mais divertido ser um herói/cliente do que ser o guia de atrações.

Prós

  • Personagens carismáticos e com bons diálogos;
  • Premissa criativa e potencialmente diversa;
  • Boa variedade de itens e colecionáveis.

Contras

  • Diálogos e instruções muito extensos;
  • Pouca interação necessária por parte do jogador;
  • Progressão e combates repetitivos;
  • Ambientação repetitiva e pouco variada.

Heroland — Switch/PS4/PC — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela XSEED GAMES.

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Estudante de Letras, apaixonado por vídeo-games e música. Gosta de conversar sobre hobbies em comum, receber dicas e recomendações e de capturar monstrinhos de bolso enquanto explora Hyrule.
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