Análise: Luigi’s Mansion 3 (Switch) é o mais completo e divertido jogo da série

Com uma longa campanha, multiplayer com grande fator de replay e muitos colecionáveis, Luigi’s Mansion 3 brilha na tela do Switch.

em 14/11/2019

Luigi’s Mansion 3 é o terceiro jogo (sem incluir o remake do primeiro título) de uma série que se destaca por colocar o irmão do Mario como protagonista em uma história no estilo caça-fantasmas. Com uma premissa ingênua, mas bem estruturada, e elementos de sobra para horas e horas de diversão, o game chega ao Switch como um dos principais títulos do console, fazendo jus à fama da Nintendo de fazer bom uso dos recursos que tem à mão, incluindo aí o carisma de seus personagens.

Uma história (pouco) assustadora

A série Luigi’s Mansion faz uma brincadeira com a proposta dos filmes de suspense. O game usa muitos clichês do gênero e, especialmente neste terceiro jogo, sabe relacionar bem os momentos engraçados com aqueles mais tensos. Aqui nada é realmente assustador. Ainda assim, o clima envolto em situações que deveriam dar medo nos acompanha o tempo todo. Somando-se a essa equação o ótimo personagem que é o Luigi, temos uma boa combinação entre aventura, humor e investigação.

A história de Luigi’s Mansion 3 se inicia com um grupo de amigos (Mario, Peach, Luigi, o cachorrinho fantasma Polterpup e três Toads) viajando para uma temporada de férias. Quando chegam ao destino, descobrimos que foram convidados para curtir um tempo em um incrível hotel. E, com tudo pago, como rejeitar a oferta? Mas claro que nada é tão simples quanto parece. Afinal, como se costuma dizer: “quando a esmola é grande, até o santo desconfia”.


O jogo demora para engrenar na ação e os mais apressados talvez se incomodem com o desenrolar lento da narrativa nesses primeiros momentos. Existem muitas cenas para assistir, como, por exemplo, o percurso do ônibus (dirigido por um Toad muito atrapalhado, diga-se de passagem), a primeira vista do hotel, apresentações de situações engraçadas com os personagens (como os Toads carregando as muitas malas da Peach) etc. Tudo isso, no entanto, ajuda a compor um cenário de ambientação e mostra o cuidado dos desenvolvedores na hora de contar essa história. Longe de um desperdício de tempo, o que temos aqui é a valorização da composição da narrativa que, sim, é simples, mas não descuidada.

Ao chegarmos ao hotel temos mais pistas desse contexto de humor que eu mencionei anteriormente. O hotel é obviamente gerenciado por fantasmas que, inclusive, flutuam na frente de Luigi, usando máscaras bobas para disfarçar suas identidades. Claro que ninguém percebe nada, nem o nosso protagonista nem os outros hóspedes. Nesse primeiro momento podemos visitar o hall do hotel e explorar um pouco o ambiente, mas muitos espaços estão fechados e realmente não há muito o que fazer, até que todos se registram e cada hóspede vai para o seu quarto. É lá que Luigi rapidamente pega no sono e acorda em um clima já muito diferente. O hotel agora parece assombrado e todos os outros sumiram. Hellen Gravely, a dona do hotel, e King Boo se revelam e anunciam seu plano de aprisionar todos dentro de quadros (mais ou menos como nos jogos anteriores). O convite ao hotel na verdade foi um jeito de atrair os amigos e colocá-los em maus lençóis, mas, bem no clima dos filmes B de investigação, antes de completar sua tarefa os fantasmas anunciam todo o plano a Luigi.

Esse é o primeiro momento frenético do jogo, quando precisamos fugir pelo corredor e cair em um tubo de roupa suja. Ao escorregar pelo tubo saímos na garagem do hotel e, explorando o ambiente, encontramos dentro de um carro abandonado a Poltergust G-00, uma arma criada pelo Professor E. Gadd que permite ao Luigi capturar fantasmas. E é aí que a jornada realmente começa.


Exploração rasa

Luigi’s Mansion 3 investe na ideia de que boa parte do tempo deve ser gasto com exploração de ambientes em busca de itens (especialmente dinheiro) e colecionáveis. No entanto, a verdade é que esse processo é repetitivo e cansativo, talvez um dos pontos mais fracos do game. Depois que você aprende a utilizar a Poltergust G-00 em suas funções básicas (sugar fantasmas e itens ou soltar um jato que afasta as coisas), você vai pouco a pouco encontrando outros recursos para equipar. Uma lanterna utilizada para revelar e paralisar momentaneamente os fantasmas e para matar ratos e aranhas (que se transformam em dinheiro!); a Dark Light, que permite revelar itens escondidos pelo cenário (incluindo o caminho por onde os fantasmas passaram); e um lançador de desentupidor de pia, que pode ser jogado em determinadas superfícies e depois puxado pelo Luigi.

A partir desse momento tudo é muito mais do mesmo. Andar sugando tudo que aparece pelo caminho e vasculhando cada ponto dos quartos e corredores em busca de algum item. Vale dizer que desde o começo conseguimos pegar muito dinheiro por todo lugar em que passamos. É realmente impressionante como um hotel habitado por fantasmas pode possuir tanto ouro e notas perdidas. No entanto, o objetivo de se coletar esse recurso só vai aparecer depois. O mesmo vale para os colecionáveis que aparecem nos andares e que são temáticos daquele ambiente.



Apesar da exploração repetitiva, uma coisa que Luigi’s Mansion 3 faz muito bem é ir inserindo os elementos de interesse aos poucos. Assim, em vários momentos no início do jogo é possível passar por ambientes que não conseguimos acessar e que, depois, iremos descobrir como explorar. Esse tipo de estratégia ajuda o jogador a lidar com as habilidades do personagem ao mesmo tempo em que nos permite refletir sobre os encaminhamentos para a resolução de determinados puzzles.

Aliás, a grande virada se dá a partir do momento em que encontramos o Professor E. Gadd (mas não vou dizer como para não entregar muitos elementos da história). Nesse momento o game, que seguia lentamente e com ações bem repetitivas, passa a contar com camadas diferentes e algumas facilidades que tornam a jogabilidade mais rápida e eficiente.



Consertando o elevador

Depois que encontramos o Professor E. Gadd podemos visitar o seu laboratório e dentro dele temos uma série de opções (nem todas disponíveis desde o início): falar com E. Gadd para consultar as missões já realizadas e a missão ativa, acessar o mapa, criar ou entrar em uma partida multiplayer, visualizar a galeria de fantasmas e gems (os itens colecionáveis de cada andar), utilizar a loja (é aqui que gastamos o dinheiro) e, por fim, acessar o guia e o ambiente de ajustes, onde é possível customizar os controles e escolher manter as dicas do Professor E. Gadd ligadas ou não.

O desenvolvimento da campanha se dá pela liberação dos andares do hotel. Ao entrarmos no elevador, percebemos que os botões não estão lá. Assim, é preciso resgatá-los para visitar os andares e cumprir duas missões distintas: capturar todos os fantasmas (E. Gadd perdeu todos eles, mesmo os que Luigi já tinha aprisionado nos jogos anteriores) e resgatar seu amigos.


Nos primeiros momentos dessa investigação, E. Gadd nos chama várias vezes de volta ao laboratório e confesso que era extremamente cansativo ter que me deslocar pelos corredores e elevador até a garagem e depois de volta ao andar em que precisava ir em busca do próximo objetivo. Felizmente, o título oferece boas opções para superar esse problema de locomoção e de contato com o Professor E. Gadd.


O primeiro item é um Virtual Boo, um dispositivo que é uma brincadeira óbvia com o Virtual Boy e que funciona da seguinte forma: Luigi coloca no rosto o aparelho e consegue conversar com E. Gadd independentemente do ponto em que esteja no hotel. Fora isso, na tela de pause, é possível também consultar dicas, caso você esteja preso em alguma situação. O interessante aqui é que E. Gadd não diz exatamente o que você deve dizer, mas sim algo como “acho que esse tipo de situação pode ser resolvida usando o item x”. Sem dúvida, algo muito útil e que não tira por completo o prazer da descoberta. Ainda na tela de pause, podemos escolher continuar a partida no modo co-op, com um dos jogadores utilizando o Gooigi, de quem falarei mais para frente.



O segundo item de qualidade de vida, e esse ainda mais útil, é um dispositivo que permite a Luigi se teletransportar para o laboratório e depois retornar para o ponto exato em que estava. Muito prático caso você precise, por exemplo, comprar algum item para completar as tarefas do andar.

Sobre a loja, o que você encontra nela são Golden Bones, que permitem reviver Luigi em uma situação em que toda a sua energia acabe, e também radares que marcam no mapa Boos e gems. Todos são úteis, mas os últimos mais do que o primeiro, já que o jogo é extremamente fácil e corações que recuperam vida aparecem a todo momento, mesmo no meio das lutas com os chefes. Ainda sim, consegui a proeza de morrer algumas vezes (justamente nas batalhas contra os chefes), então certamente vale carregar alguns itens desse tipo pro caso de alguma situação como essa. Como o dinheiro é abundante, não vão faltar recursos para comprar o que você precisar.


O cuidado com os detalhes

Enquanto cumprimos nossas tarefas, acabamos percebendo que o hotel em que estamos é, de fato, um lugar mágico. Alguns andares são bem pequenos, apenas com quartos e poucos ambientes para explorar, mas outros são imensos, contendo estúdios de filmagem, arenas de batalha, museu de arqueologia com dinossauros gigantescos e muito mais. Cada andar é um mundo inteiramente novo e é isso que faz com que o processo de exploração se torne agradável, para além das ações repetitivas.

Os detalhes realmente são impressionantes e a pouca variedade de inimigos é compensada pela quantidade enorme de objetos e características únicas de cada andar. Além disso, os puzzles são bem pensados e inseridos dentro dos ambientes de cada fase. Poucas vezes vemos mecânicas que se repetem ou soluções óbvias demais, o que torna essa parte do game a mais interessante de todas.

Uma coisa que parece estranha no começo são os controles. De maneira inexplicável, eles lembram a jogabilidade travada de Luigi’s Mansion: Dark Moon, do 3DS. Mas, enquanto este título estava em um console sem um segundo analógico, o Switch não deveria sofrer com o mesmo problema. Ainda assim, algumas dicas podem ajudar a tornar os controles mais confortáveis, como utilizar os gatilhos no lugar dos botões e ligar a opção de se movimentar enquanto se usa a Poltergust G-00. Para mim, essas pequenas mudanças já tornaram a movimentação mais agradável, mas é preciso que cada um teste o esquema que lhe serve melhor.


Novidades fantasmagóricas

Para quem já teve contato com os jogos anteriores, Luigi’s Mansion 3 parece apresentar poucas novidades. Ainda assim, fica latente o fato de que este é um game bem mais polido que os anteriores, contando ainda com ótimos acréscimos. A experiência de controlar o Gooigi, por exemplo, é bem divertida, permitindo acessar determinados ambientes apenas com ele e também trabalhando de modo cooperativo com Luigi (mesmo no singleplayer). Importante dizer que Gooigi não é um mero coadjuvante aqui, pois são inúmeras as situações em que é necessário recorrer a ele para desbloquear determinados locais ou itens.

Outra boa adição são os modos de multiplayer, incluindo aí o co-op local durante a campanha e outros focados na competição: ScareScraper, em que um grupo de até 4 jogadores (online ou offline) precisam capturar todos os fantasmas em uma sequência de andares do hotel; e ScreamPark, um conjunto de três minigames para até 8 jogadores no mesmo console. A Nintendo infelizmente tem desagradado aos fãs com uma performance ruim em muitos de seus jogos online. Aqui, contudo, as coisas são diferentes. Tudo parece bem otimizado e não experienciei nenhuma queda ou lag durante as partidas.


Sustos na medida certa

Luigi’s Mansion 3 é bem longo, principalmente para aqueles que quiserem completar tudo. Para quem gosta desse tipo de experiência, inclusive, o jogo oferece 53 achievements, relacionados à campanha e aos modos multiplayer. Com uma aventura cheia de puzzles empolgantes e lutas desafiadoras contra os chefes, o game conta ainda com todo o carisma e personalidade de Luigi, se apresentando como um dos principais títulos do Switch até o momento.

Prós

  • Campanha longa e com muito conteúdo;
  • Multiplayer desafiador e com ótima performance;
  • Jogabilidade divertida e ambiente repleto de carisma.

Contras

  • Exploração repetitiva;
  • Jogo fácil demais durante a maior parte do tempo, com exceção dos chefes.
Luigi’s Mansion 3 — Switch — Nota: 9.5
Luigi’s Mansion 3 está disponível na Loja Nintendo
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo


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Pesquisador nas áreas de estética e cibercultura com Mestrado em Cultura e Sociedade (UFMA) e Doutorado em Comunicação (UnB). Além de escrever sobre jogos, produz o Podcast Ficções e tem um blog sobre literatura, filosofia e cotidiano.
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