Análise: The Witcher 3: Wild Hunt — Complete Edition (Switch) é o port mais ambicioso, estranho e incrível da história

Mesmo com severas limitações, o port mais antecipado do ano chegou com tudo no híbrido da Nintendo.

em 30/10/2019

Historicamente, tanto na Nintendo quanto no eterno conflito entre PC e consoles, hardware e potência sempre foram questões relevantes no cenário dos videogames. Nesse sentido, a partir do Wii a Nintendo deixou bem claro que o foco dos seus consoles estava na inovação e criatividade, sempre buscando novas formas de jogar; infelizmente, graças a esse e outros fatores, os hardwares da Big N não batiam de frente com os da Sony ou Microsoft.


Comparar exclusivos entre as empresas é algo realmente complicado, porém, durante muito tempo foi notável a escassez de títulos multiplataformas nos consoles da Nintendo: felizmente, com o Switch isso está mudando rapidamente. Muitos ports chamaram a atenção do público, mas nenhum chegou perto de ter o mesmo impacto que teve o anúncio do famigerado Switcher (The Witcher 3 — Complete Edition para o Nintendo Switch).

Além de questionar a possibilidade de um jogo da magnitude de The Witcher 3 chegar ao híbrido da Nintendo, muitos ficaram extremamente duvidosos a respeito da qualidade desse port, tanto em termos de gráficos quanto de performance. Nessa análise, além de tangenciar aspectos de gameplay, darei as minhas impressões sobre o port mais inesperado da história dos videogames.

Inovador e competente

Acredito que quase todo jogador já tenha ouvido falar de The Witcher 3 no seu lançamento em 2015. Além de ter sido um sucesso de vendas, ele recebeu inúmeros prêmios, inclusive o aclamado título de Game of the Year (GOTY). Mas, pelo fato de que existem alguns jogadores (como este que vos escreve) que não compraram um console que tinha o jogo, e não tinham um super-PC, acho que uma introdução é muito válida.

Um dos gêneros mais flexíveis de todos é certamente o RPG. Partindo dessa divisão, The Witcher 3 se encaixa relativamente bem na classificação "action RPG", porém, ao contrário de basear o seu gameplay em sequências de combates hack-and-slash, coletar loot e aumentar números de atributos do personagem, existem dois pilares centrais que fazem com que o jogo seja excelente e diferente de qualquer outro jogo: exploração e preparação.

A exploração, que é comum a outros jogos open world, aqui é o motor para vários sistemas, e não está somente atrelada a missões secundárias. O sistema de craft requer primeiramente a recipe para poder fazer cada item, e a grande maioria delas são encontradas em pontos de interesse espalhados pelo mapa. Por fim, outra coisa importantíssima é a aquisição de materiais para poder fazer os itens.

Extremamente unido a isso está o conceito de "preparação", que é traduzido em termos de gameplay como "usar itens pseudo-consumíveis adequados para o tipo de inimigo que você vai enfrentar". Pensando num RPG, em quase todo playthrough, tirando no comecinho do jogo, raramente uso itens consumíveis. Em The Witcher 3 isso é extremamente necessário e, principalmente, divertido!

Quase todo combate deve ser bem pensado e a complexidade vai muito além de aprender os padrões de ataque do inimigo ou de ter os números certos para a luta. Raramente vemos uma relação tão forte entre gameplay e a história que se quer passar. Digo isso porque Geralt, o protagonista, é um mercenário especializado (e brutalmente treinado) para exterminar monstros e, portanto, precisa saber todas as fraquezas de cada criatura. Como um potencial de roleplay, isso é fenomenal.

Além dessas fenomenais adições, simplesmente o encarando como um RPG de mundo aberto, The Witcher 3 é extremamente competente e divertido. Há uma quantidade colossal de conteúdo, como tarefas secundárias e opcionais, totalmente adaptáveis ao estilo de jogo de cada um, ou Gwent, um interessante card game muito mais complexo e recheado do que um mero mini-game, e muito mais.

Enfim, esse é um jogo que demanda muito tempo do seu jogador, principalmente com as duas DLCs (que são inclusas na versão do Switch): Hearts of Stone e Blood and Wine. Ambas são situadas no endgame, com enredo, personagens e locais próprios que me encantaram muito.

O preço da Switchabilidade

Agora, entrando no complexo tema dos downgrades aplicados no jogo, começo ressaltando um importantíssimo fato: The Witcher 3 não rodou bem nos consoles inicialmente, precisando de patches no lançamento para melhorar o FPS. Além disso, comparando com a versão para PC, houve um significativo downgrade no PS4 e Xbox One.

É importante considerar esse exemplo para entender o quão grande foi o desafio da CD PROJEKT RED nesse port. Trazer um monstro desses para um console com modo portátil foi uma missão muito complicada e arriscada, porque mesmo otimizando absolutamente tudo, o público alvo é incerto.

Acompanhando outras impressões e análises sobre o Switcher, coloco-me numa posição próxima: ver um vídeo de 15 minutos comparando as diferentes versões não é uma representação digna da qualidade do port, mas, concretamente, essa só será a melhor versão do The Witcher 3 se você der muito valor à portabilidade.

Por mais que isso fosse esperado desde o primeiro anúncio, dizer isso tem um grande peso, ainda mais sabendo que o Switch tem uma biblioteca de excelentes ports, cada um tendo a sua melhor versão aqui no híbrido. Mais do que nunca, o downgrade das texturas, resoluções e efeitos gráficos são extremamente visíveis, assim como a comum queda de FPS em cutscenes ou combates mais agitados.

O interessante é que, como um todo, The Witcher 3 no Switch é relativamente melhor no modo portátil do que docked. Quando ouvi isso pela primeira vez duvidei muito, mas após algumas horas de jogatina em cada versão, o blur do modo docked realmente atrapalha um pouco o gameplay, além de tornar o jogo mais feio e embaçado.

De qualquer forma, ressalto mais uma vez que ver alguns minutos de gameplay no Youtube é algo completamente diferente de jogá-lo diretamente. Por mais que as texturas de baixa qualidade sejam sempre evidentes, os olhos se acostumam com o visual e aquele primeiro espanto desaparece rapidamente. Como um jogador que não se importa tanto com gráficos, mas também que não os despreza completamente, jogar The Witcher 3 no Switch foi uma ótima experiência.

Compra (in)certa

Tirando títulos de estúdios independentes, é extremamente raro que eu, pessoalmente, torça pelo sucesso de vendas de um jogo de uma empresa grande. Mesmo assim, eu realmente torço para que o bendito Switcher seja bem recebido pelos jogadores e que seja rentável, não somente porque eu (meio que) considero essa versão como um presente dado aos fãs, mas também pela influência que essas vendas podem ter em outras desenvolvedoras e publicadoras.

Em menos de uma semana do lançamento, já tivemos um pronunciamento público do diretor de God of War que ficou impressionado com o port. Por mais que isso não signifique algo concreto, não há dúvidas de que essa discussão surgiu em várias reuniões pelo mundo.

Eu sempre fui contra o uso do argumento “se não gostou, não compre, pare de criticar”, pois, se aceitássemos isso, análises e outros conteúdos críticos seriam inúteis e os jogos dificilmente corrigiriam os seus defeitos. Mas, nesse caso, essa lógica até que pode ser útil.

Por mais que a vinda de The Witcher 3 ao Switch seja bizarra, inesperada e imperfeita, acredito que ao ler uma análise minimamente competente do jogo, qualquer pessoa pode tomar a decisão sobre essa compra. Para incitar essa resposta, apresentarei as principais perguntas que você deve se fazer e, de acordo com isso, ficará bem evidente o resultado.
  • Você já jogou The Witcher 3?
  • Você tem um PC boladão?
  • Os gêneros action RPG e open world fazem os seus olhos brilharem?
  • O quanto você se importa com gráficos?
  • Você utiliza (e prefere) mais o modo portátil do Switch?
E quanto a você, caro(a) leitor(a), o que achou do Switcher? Conta aí pra gente nos comentários!

Prós:

  • O jogo traz inovações excelentes aos seus gêneros;
  • O gameplay central permanece intacto no Switch, com toda a sua glória e diversão;
  • Mais de cem horas de conteúdo;
  • Portabilidade surpreendentemente boa.

Contras:

  • Downgrade significativo da qualidade visual;
  • Quedas de FPS ocorrem frequentemente em situações mais agitadas.
The Witcher 3: Wild Hunt — Complete Edition — Switch/PC/PS4/XBO — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo

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