Análise: Dragon Quest XI S: Echoes of an Elusive Age – Definitive Edition (Switch) é um clássico, moderno e excelente JRPG

O décimo primeiro título da renomada franquia chega ao Switch com muito conteúdo e qualidade na sua versão definitiva.

em 17/10/2019

Em questão de JRPGs, poucas franquias têm o mesmo renome de Dragon Quest. Com 32 anos de história, incontáveis títulos (tanto da série principal quanto spin-offs) foram produzidos, sempre com um altíssimo compromisso com a qualidade e satisfação dos seus fãs. Ao contrário dos seus parentes “mais revolucionários”, como Final Fantasy, que significativamente alterou os fundamentos do seu gameplay, Dragon Quest nunca fugiu das suas raízes.


Muito pelo contrário, na verdade: em 2017, no primeiro lançamento de Dragon Quest XI, vimos uma obra prima do gênero JRPG, fazendo com que muitos fãs já o considerassem o melhor jogo da franquia. Após o lançamento de algumas outras versões para PS4 e PC, em 27 de setembro de 2019 chegou ao híbrido da Nintendo, sem sombra de dúvidas na sua melhor forma, Dragon Quest XI S: Echoes of an Elusive Age – Definitive Edition.

A lenda do Luminary

Em DQXI, toda a história se passa no mundo de Erdrea e, como de costume, todo canto exala fantasia numa ambientação medieval. O protagonista, chamado de Hero, Eleven, ou qualquer coisa que o jogador quiser, cumpre o seu destino nesse jogo sendo a nova incarnação do Luminary, o lendário guerreiro capaz de eliminar todo o mal. Sabe-se disso graças à estranha marca que o herói carrega na sua mão, que brilha e solta poderes incríveis em batalha.

Porém, ainda quando bebê, o castelo do seu pai é invadido por monstros, e a sua mãe foge pela floresta para salvar o Luminary. Após uma curta perseguição, o bebê é lançado no rio onde flutua na sua cesta, para ser encontrado no outro dia por um simpático velhinho, que o adota.

Depois disso, pulamos alguns anos para o momento em que, como de costume, o herói descobre tudo sobre o seu destino. Após algumas reviravoltas que dão o pontapé inicial do enredo, o Luminary começa a explorar todo o continente em busca de respostas e novos companheiros, numa tentativa de cumprir a sua profecia, em que ele deve obter a famigerada Sword of Light e, com ela, derrotar o Lord of Shadows.

Evitando spoilers do enredo, destaco que a história, de modo geral, é genuinamente simples e comum ao gênero, mas isso não é necessariamente algo ruim. Enquanto todos os personagens principais são relativamente lineares e previsíveis, as suas personalidades contrastam bem entre si, gerando vários diálogos e situações divertidas.

Por falar nisso, em DQXI há um enorme incentivo para explorar e falar com todos os NPCs pelo simples fato de que os diálogos são extremamente bem escritos e contribuem muito com a ambientação do universo de Erdrea. Algumas cidades possuem culturas (e inspirações) completamente distintas, o que se manifesta na fala do povo, além da arquitetura e outras coisas.

Por exemplo, logo no começo do jogo, em Hotto, uma cidade claramente inspirada no Japão, quase todos os NPCs falam em haikus. Em Gondolia o povo fala um dialeto italianesco e em Puerto Valor há uma mistura com o espanhol. Isso faz com que cada área se destaque muito, pintando um quadro diversificado e que torna a experiência mais orgânica.

Isso também é evidenciado na própria progressão da história. Se os trechos mais focados na lenda do Luminary são relativamente previsíveis e pouco originais, os desvios dados pelo grupo são muito melhores, como por exemplo, quando logo após ganhar acesso ao barco, o protagonista e o seu grupo ajudam uma sereia que está a espera do seu futuro marido, que é um marujo de uma vila próxima. Várias vezes ao longo do jogo o protagonista perde a sua centralidade, o que é excelente.

O caminho do herói

Do início ao fim dessa jornada em Erdrea, Tockles aparecem por toda parte. Essas  criaturinhas azuladas que lembram corujas são guardiãs do tempo e, portanto, cuidam para que a linha do tempo não se misture, pois a perene divisão de passado, presente e futuro deve ser mantida. A noção de tempo é bem relevante para o enredo de DQXI, mas também para o seu gameplay.

No início do texto eu comentei sobre a dualidade entre “moderno” e “clássico” dentro do gênero JRPG. Por um lado temos o canônico sistema de batalha em turnos, feitiços, habilidades, algumas customizações através das skill trees; do outro, temos a ausência de batalhas aleatórias e compulsórias, baixíssima necessidade de farm, um complexo sistema de crafting, etc.

Numa análise geral, DQXI é essencialmente um JRPG, mas, ao mesmo tempo, algumas mudanças interessantes podem ajudar a popularizar esse gênero para jogadores que não são tão fãs dele. Nesse sentido, DQXI é bem estranho, mas, felizmente, qualquer pessoa pode baixar uma demo no seu Switch que dura entre 7 e 9 horas!

Ela contém basicamente todo o conteúdo introdutório, em que o jogador aprenderá sobre os principais sistemas do jogo e, principalmente, terá acesso ao combate com 4 personagens na party. Realmente, caso você tenha alguma dúvida sobre comprar esse excelente jogo, a demo é nota 10 para que você possa se decidir (lembrando: o save file criado na demo é transferível para a versão completa).

Agora, mais especificamente sobre a jogabilidade, o sistema de combate em turnos é excelente. Fiz um único playthrough (por enquanto) no “modo difícil” e, para qualquer jogador que seja levemente experiente com o gênero/franquia, o nível de dificuldade exigiu planejamentos e abordagens extremamente prazerosas; não há uma estratégia que seja válida por todo o jogo e, principalmente, que funcione em chefões diferentes.

Além de novos equipamentos que se tornam disponíveis ao longo do jogo, habilidades e feitiços são desbloqueados com o passar dos níveis ou com a alocação de pontos nas skill trees de cada personagem. Algumas são extremamente vitais, como a Hustle Dance do Sylvando, que é a primeira cura em área disponível, mas o acesso escasso a essas especialidades te fazem planejar muito bem a sua composição dentro e fora de batalha.

Por fim, farei o maior elogio ao jogo: pela primeira vez num JRPG eu me senti realmente incentivado a usar todos os meus personagens dentro de batalha. No total, contando o protagonista, são oito personagens jogáveis, e a troca de um pelo outro é fácil e incentivada, tanto pelo uso de MP quanto pela especialidade de cada personagem para cada cenário. O design e balanceamento dos chefões realmente levou em conta essa ferramenta que está nas mãos do jogador, e fico muito feliz por isso.

Modo 2D


Algo muito presente nas divulgações de DQXI foi o modo 2D. Literalmente, ativando essa opção, todo o estilo visual (e algumas mecânicas de combate) se transfigura numa versão 16-bit. Todos os jogadores no Switch entrarão em contato com isso graças a um dos conteúdos dessa versão: a vila dos Tockles e as pastwords perdidas. Basicamente, são pequenas missões que fazem referência ao passado da franquia e apenas são jogáveis no modo 2D.

Porém, é claro, caso queira, todo o jogo pode ser experienciado nessa forma. Acho que só seria interessante para alguém que tem muita nostalgia por esse visual / essa época, ou simplesmente caso seja o segundo playthrough de alguém que já tenha passado pelo 3D. Além das diferenças visuais e de gameplay, todas as cutscenes são simuladas em 2D de uma forma muito mais simples e, com a ausência de voiceovers, tudo passa mais rapidamente.

Novidades no Switch

Nessa era de remasters, ports e remakes, alguns jogos ganham várias versões. No caso de DQXI no Switch, o que mais importa é o “Definitive Edition” porque, sem sombra de dúvidas, é a melhor versão. Além da portabilidade (que acontece de forma impecável sem quedas de FPS ou perda visual significativa), muitas melhorias de quality of life foram feitas, como acesso melhor aos menus, facilitações no sistema de craft, melhoria da câmera, opção de dublagem em japonês, outras versões da trilha sonora e muito mais.

Dito isso, o que pode chamar mais atenção é o conteúdo novo, mas ele não é lá aquelas coisas. Além do já mencionado modo 2D e as missões dos Tockles (que raramente contribuem com alguma recompensa útil para a progressão da campanha), foram adicionadas algumas novas missões focadas nos outros personagens da party.

No entanto, elas aparecem logo após um grande clímax da história e, ao invés de aproveitar o momentum e continuar com o enredo, o jogo inteiro fica a 20 km/h numa rodovia por algumas boas horas até você cumprir todas as missões. Mesmo assim, é importante ressaltar que DQXI por si só já é um prato cheio, com pelo menos 100 horas de conteúdo, incluindo postgame que, aliás, é todo o tipo de conteúdo que eu espero após o fim de uma campanha de um JRPG.

Uma épica moderna

Dragon Quest XI S: Echoes of an Elusive Age – Definitive Edition é gigante. Para qualquer pessoa que avalie jogos de acordo com o tempo total oferecido ficará feliz com essa épica jornada. Fãs da franquia podem discutir por anos a qualidade desse título comparando-o com os outros, porém, considerando que existem 11 candidatos, saber que muitos colocam DQXI no primeiro lugar é algo colossal.

Os principais problemas que alguém pode ter com o jogo certamente são referentes às escolhas de design. Lembrando que ele está em um estranho limbo entre “clássico” e “moderno”, de acordo com a visão crítica de cada jogador, alguns aspectos poderiam estar mais para um lado ou para o outro. Ao meu ver, eu gostaria que as skill trees fossem mais complexas, os equipamentos mais lineares e, principalmente, que mais receitas de craft utilizassem equipamentos “antigos” (isso só acontece no postgame).

Considerando tudo isso, DQXI é uma recomendação instantânea para qualquer fã de RPGs e, caso você não tenha certeza disso, recomendo fortemente que baixe a demo para tirar essa dúvida. Além de ser o rei dos indies, o Switch também está virando o campeão de RPGs, e ter Dragon Quest XI no seu catálogo contribui imensamente com esse objetivo.

Prós:

  • Uma obra prima do gênero JRPG;
  • Sistema de combate em turnos simples para iniciantes, mas profundo para veteranos;
  • Universo fantástico e encantador;
  • Abundância de conteúdo.

Contras:

  • Pouca variedade na build de cada personagem;
  • Os equipamentos são, em geral, pouco interessantes.
Dragon Quest XI S: Echoes of an Elusive Age – Definitive Edition — Switch — Nota: 10
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo
Dragon Quest XI S: Echoes of an Elusive Age – Definitive Edition está disponível na Loja Nintendo
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