Para quem não sabe, The Legend of Zelda: Link's Awakening representou um marco na época em que foi lançado para o Game Boy original e até hoje é considerado um ótimo exemplo do melhor que a série proporciona. Link's Awakening surgiu a partir um projeto pessoal de desenvolvimento por parte de alguns membros da divisão SRD (System Research and Development) da Nintendo na época. Inicialmente, o título seria um simples port de A Link to the Past para o novo console portátil da empresa, no entanto, ao longo do seu desenvolvimento, tornou-se um verdadeiro jogo original da franquia, trazendo uma série de novidades para o mundo do do herói Link e a famosa princesa Zelda.
Mas, dessa vez, embora eternamente citada no título, não há uma princesa Zelda. A trama não se passa em Hyrule como de costume e nem ao menos a lendária - e clássica - Master Sword pode ser encontrada. Link's Awakening é um "Zelda" esquisito. Um projeto para Kazuaki Morita (atual diretor da SRD), Takashi Tezuka (diretor de A Link to the Past) e outros desenvolvedores se divertirem e testarem novas ideias após as horas regulares de trabalho — algo próximo ao desenvolvimento de um jogo indie nos dias de hoje.
Essa liberdade pôde levar a série para lugares novos e acabou criando um clássico que cabia na palma da sua mão em 1993 — e que diverte bastante até mesmo em 2019. Mas não me entenda mal, na lista de memoráveis títulos originais do Game Boy que merecem um remake (Metal Gear: Ghost Babel, Kirby's Dreamland 2 e Mario Land são alguns exemplos), Link's Awakening, de fato, sempre esteve em primeiro lugar. Pessoalmente, clamo por uma revisão do título há algum tempo e, pelo o que parece, o remake para o Nintendo Switch promete honrar seu antecessor com fidelidade, além de acrescentar uma série de melhorias muito bem-vindas à aventura.
O despertar de Link
Quem quiser conhecer melhor sobre a história e o contexto de desenvolvimento do Link's Awakening original, é só conferir o Blast from the Past publicado recentemente. Durante esta prévia eu pretendo focar mais no remake em si, entretanto, antes de seguir em frente, vale a pena relembrar pelo menos a trama e a premissa do game lançado para o Game Boy. A história inicia com Link, após os eventos de A Link to the Past, viajando pelo mundo para treinar e explorar locais desconhecidos. No entanto, logo no início da jornada, o herói sofre um naufrágio e é carregado pelas ondas até a costa de Koholint Island.Desacordado, por sorte Link é encontrado pela jovem Marin, que o carrega até a casa que divide com o pai, Tarin. Quando finalmente volta a si, o herói percebe que não há saída e que ele está preso na ilha Koholint, logo descobrindo que, de acordo com uma misteriosa coruja falante, o único jeito de sair dali é acordando um ser conhecido como Wind Fish (peixe dos ventos, em uma tradução livre). A partir daí uma longa quest em busca dos oito instrumentos especiais se inicia, cada um naturalmente escondido em uma das oito dungeons temáticas — como é padrão na franquia.
No entanto, algo que definitivamente não era padrão na época para a série é a narrativa consideravelmente mais "rebuscada" de Link's Awakening. Mesmo limitado aos ínfimos 8 bits do Game Boy "tijolão", Tekashi Tezuka, inspirado pela série de muito sucesso na época, Twin Peaks, fez questão de criar um mundo rico e cheio de detalhes. Twin Peaks era conhecida por seu pequeno elenco de personagens excêntricos e uma atmosfera geral etérea, como se a realidade pertencesse a um mundo de sonhos. E essa é exatamente a pegada de Link's Awakening: um mundo novo e inexplorado cheio de novas ideias e oportunidades, mesmo que pequeno.
Em Koholint, Tezuka teve a oportunidade de usar sua polêmica ideia de desequipar a espada de Link, por exemplo (que não foi aprovada para uso em A Link to the Past). Isso permitia equipar dois itens ao mesmo tempo e até combiná-los para efeitos diversos, aumentando a gama de possibilidades de puzzles e resoluções. Outro item bem interessante para um Zelda isométrico é a pena que faz com que Link pule, algo que adiciona muito à movimentação geral da aventura e é implementado com muita naturalidade — principalmente nos vários segmentos side scrolling que evocam Mario Bros. instantaneamente. Até mesmo as famosas longas quests da série, em que você precisa falar com uma série de NPCs e trocar itens, foram inventadas em Link's Awakening. Não se preocupe, o primeiro Zelda portátil não tem nada de "pequeno".
Novidades No Switch
Quais são as mudanças que podemos esperar do remake? Primeiramente, os gráficos. Eu pessoalmente ainda acho o visual original do título extremamente efetivo e super charmoso, mas acredito que a Nintendo foi na direção certa com a nova versão para o Switch. Mesmo com a possibilidade de ser visto em um grande tela de TV agora, o estilo diorama (para quem não conhece, é algo quase como uma maquete) mantém o visual "pequeno", de certa forma. Link, e os elementos ao seu redor, são definitivamente fofos, simples até, mas cheio de vida e detalhes. A velha câmera parada e transição entre telas foi embora e dá espaço para um câmera livre e dinâmica, que segue o herói e conecta ainda mais a bela ilha de Koholint — algo que, por si só, praticamente já justifica o remake.A música não fica para trás. Acredite, a trilha sonora do jogo original é extremamente marcante e icônica, músicas como Tal Tal Heights e Ballad of the Wind Fish ainda não saíram da minha cabeça , desde os anos 90. E, embora a original 8-bit também mantenha um alto grau de excelência até os dias de hoje, as novas versões orquestradas estão sensacionais — exatamente o esperado de um jogo da série, claro. Prepare-se para ficar parado no mesmo lugar por algum tempo para ouvir músicas como essa na íntegra:
Quanto à história e as dungeons, tudo continua exatamente como você lembra. Oito dungeons completas mais a Color Dungeon, exclusiva da versão remasterizada de Game Boy Color, Link's Awakening DX. Para quem nunca jogou o original, podem ficar tranquilos que os calabouços representam o mesmo nível de desafio e quantidade de puzzles de qualquer outro jogo da franquia. Além disso, a seleção de itens únicos do título é bem interessante, o que cria situações divertidas na hora de solucionar os quebra-cabeças. Alguns exemplos são o bracelete de força (para puxar blocos), o clássico hookshot (que serve para alcançar lugares distantes e atordoar inimigos), uma bota que faz Link correr muito rápido e "atropelar" alvos e itens tradicionais como a ocarina, o arco e flecha e as bombas.
Certamente a maior diferença entre o original e o novo remake são as Chamber Dungeons. O novo modo funciona basicamente como uma versão miniatura de um Mario Maker. Aqui você constrói as suas próprias dungeons de Zelda, juntando pedaços de forma adequada (as chambers) e pode até compartilhar suas criações com amigos online. No entanto, no final das contas o modo parece mais um simples minigame adicional ou apenas um pequeno agrado comparado com a experiência principal do jogo. As chambers, por exemplo, são cópias exatas de salas que você já encontrou antes durante as dungeons da aventura, o que tira muito da graça em criar seus próprios calabouços. É impossível inventar algo realmente novo, a ideia é simplesmente reorganizar espaços da sua própria forma (prestando atenção à detalhes como portas de saída e entrada e posicionamento de itens como chaves e baús).
Certamente a maior diferença entre o original e o novo remake são as Chamber Dungeons. O novo modo funciona basicamente como uma versão miniatura de um Mario Maker. Aqui você constrói as suas próprias dungeons de Zelda, juntando pedaços de forma adequada (as chambers) e pode até compartilhar suas criações com amigos online. No entanto, no final das contas o modo parece mais um simples minigame adicional ou apenas um pequeno agrado comparado com a experiência principal do jogo. As chambers, por exemplo, são cópias exatas de salas que você já encontrou antes durante as dungeons da aventura, o que tira muito da graça em criar seus próprios calabouços. É impossível inventar algo realmente novo, a ideia é simplesmente reorganizar espaços da sua própria forma (prestando atenção à detalhes como portas de saída e entrada e posicionamento de itens como chaves e baús).
Mesmo que o novo modo não impressione tanto, ele parece pelo menos ser um bom passatempo e uma ideia promissora que pode ser expandida no futuro por meio de updates ou até na forma de um novo jogo (talvez um "Zelda Maker" não esteja assim tão distante de acontecer). Mas, pode confiar, você não vai querer jogar Link's Awakening somente pelo modo adicional inédito, não mesmo. Esse é um Zelda completo, um marco da época, uma história que vale a pena ser revisitada e, simplesmente, divertido para caramba. 20 de Setembro promete. Por sorte, antes da data temos o feriado brasileiro para passar o dia inteiro revisitando, ou conhecendo pela primeira vez, Koholint Island e ajudando a Link a, mais uma vez, salvar o dia.
Revisão: Kiefer Kawakami