DuckTales (NES): 30 anos do game icônico dos Caçadores de Aventuras

Confira tudo sobre o game dos Caçadores de Aventuras, que completa hoje seus trinta anos!

em 14/09/2019
No dia 14 de setembro de 1989 chegava às prateleiras de games do NES uma aventura que estava destinada a ser lembrada como um verdadeiro clássico ao longo dos trinta anos que se seguiram desde então. DuckTales transportava as aventuras televisivas do Tio Patinhas para um sólido título de plataforma 2D que sobreviveu ao teste do tempo em mais de uma forma.

De que jeito? Bem, o jogo uniu talentos da época para quebrar uma maldição, inaugurou uma parceria lendária na história da indústria, inspirou direta e indiretamente desenvolvedores contemporâneos e, inclusive, marcou profundamente a mitologia da franquia original dos patos, ressoando diretamente no reboot da série lançado em 2017.

Em celebração ao seu aniversário, confira com a gente tudo sobre sesse verdadeiro tesouro da geração 8-bits!


Aí vem um furacão...

E, no olho desse furacão, encontrava-se um verdadeiro encontro de gigantes do entretenimento: a parceria lendária entre a Disney e a Capcom. Quem cresceu durante os anos 90 certamente teve a infância marcada por pelo menos alguma franquia dessas duas empresas — e os gamers, em especial, muito provavelmente possuem boas memórias dos jogos produzidos através dessa parceria de sucesso.

Essa aliança, que foi responsável por diversos clássicos nas gerações 8 e 16-bits, iniciou-se de maneira ainda tímida em 1988, com a Capcom ficando responsável pela localização e publicação ocidental de Mickey Mousecapade (NES), estreia do camundongo no Nintendinho produzida pela Hudson Soft e lançada um ano antes no Japão.

Por detrás desse projeto simples, no entanto, algo muito mais grandioso já estava sendo preparado: a adaptação em jogo da série televisiva DuckTales, que reinava soberana no quadro Disney Afternoon norte-americano e nas manhãs de sábado brasileiras.



A responsabilidade era grande: não apenas por se tratar de adaptar um desenho de enorme sucesso (e, portanto, apelo comercial) entre a criançada, mas também devido ao desafio inerente à tarefa: a maldição dos jogos licenciados. Do famoso fiasco de ET (Atari 2600) ao conteúdo notavelmente terrível publicado pela LJN no 8-bits da Nintendo, o fato é que uma das primeiras regras que aprendemos sobre os games é: "normalmente, jogos baseados em franquias de sucesso não são bons".



Para convencer o público e ficar à altura das expectativas trazidas tanto pelo nome da produtora quanto pelo sucesso do desenho, a Capcom não poupou esforços e evitou a armadilha de tentar abater um pouco do custo da licença com um produto medíocre que se apoiasse nos personagens icônicos da capa.

Pelo contrário, o time de produção escalado para o jogo dos patos trouxe grande parte dos principais nomes envolvidos na série Mega Man, um dos grandes ouros da casa que à época não fazia menos do que estabelecer os padrões de qualidade do gênero em questão. Assim, a equipe contou, dentre outros, com nomes como do produtor Tokuro Fujiwara, do designer Keiji Inafune e do programador de som Yoshihiro Sakaguchi, todos responsáveis pelos títulos icônicos do bombardeiro azul.

Na frente musical, apesar de não contar com nenhum dos compositores de Mega Man, o jogo tirou a sorte grande com um reforço inusitado: Hiroshige Tonomura, que trabalhou por pouco tempo para a desenvolvedora japonesa e conta com poucos créditos fora essa trilha em seu currículo na indústria. O resultado não ficou devendo em nada às grandes trilhas sonoras da Capcom, com diversas faixas absolutamente memoráveis — uma delas, inclusive, obtendo status lendário na indústria, conforme veremos logo mais.


Ao entregar uma excelente aventura à altura do sucesso do personagem, essa equipe de feras exorcizou a maldição dos jogos licenciados no que dizia respeito à dupla Capcom/Disney, e essa estreia do Tio Patinhas nos games acabou inaugurando em grande estilo uma sequência muito produtiva de jogos aclamados pelo público e crítica como Chip 'n' Dale Rescue Rangers (NES), Darkwing Duck (NES), Disney's Magical Quest Starring Mickey Mouse (SNES), Goof Troop (SNES) e Disney's Aladdin (SNES) — para citar apenas os meus favoritos.

Mas enfim, qual foi a forma que a produtora encontrou para transportar as aventuras do pato sovina para os videogames de forma tão acertada?

Tem corrida e avião!

OK, deixando o trocadilho com a letra da abertura do desenho de lado, precisamos ser sinceros: na verdade, não tem nem corrida e nem avião no jogo — uma pena! Porém o que o título traz — e muito! — é uma sólida jogabilidade ao melhor estilo de plataforma 2D.

O arsenal de movimentos do Patinhas é uma das marcas que diferencia DuckTales de seus companheiros de gênero. Para quem tinha dúvidas das capacidades físicas do pato quaquilionário, o velhote dá um show e mostra como chegou aonde chegou: sem precisar de Mega Buster, upgrades de armas, cachorro-robô ou nada do tipo. Uma simples bengala já basta para que ele prove seu lema: "mais forte do que os mais fortes, mais esperto do que os mais espertos".


Assim, seu movimento mais básico é o já icônico uso da bengala como pula-pula: saltando com o botão A e apertando ↓ + B, o patusco entra em modo quicante, derrotando inimigos, quebrando pedras, baús e tudo mais que se colocar entre sua bengalinha e o chão. Além disso, ele também pode usá-la para destruir ou mover diversos itens no cenário.


Essa configuração resulta em uma jogabilidade que é tão simples quanto é eficiente: o pula-pula é tanto o principal ataque quanto a principal habilidade de movimentação do personagem, e sua controlabilidade fluida e precisa garante uma curva de aprendizado bastante recompensadora.


Por falar nisso, é curiosa a percepção dos jogadores sobre a dificuldade desse título: já vi tanto gente horrorizada com o desafio elevado, quanto lamentando o baixo nível de dificuldade em comparação a outros clássicos. Eu diria que trata-se de um excelente meio-termo: o principal agravante é a famosa "dificuldade NES": requisitos de precisão nos pulos, knockback violento, checkpoints esparsos e poucas chances de se tentar antes de voltar de novo ao início.

Velhos castelos, belos duelos

Se em termos de jogabilidade o parentesco do Patinhas com Mega Man permanece um tanto distante, a estruturação do jogo logo de cara já nos evoca as aventuras do robozinho azul. Ao invés de uma sequência fixa de fases, somos apresentados a uma tela se seleção de desafios, contando com cinco localidades diferentes, para as quais podemos organizar nossa expedição de caça ao tesouro na ordem em que preferirmos.

Esse esquema de progressão ajuda muito a atenuar o efeito da citada "dificuldade NES", uma vez que o jogador pode praticar os diferentes desafios alternadamente, treinando suas habilidades sem passar pelo desgate de empacar e por a perder todo o progresso por conta de um trecho específico.

Complementando a progressão, o desenho das fases em si também segue um esquema bastante alinear, o que garante um maior senso de durabilidade ao jogo que, tomado objetivamente, é bem curto. Cada nível traz diversos caminhos e segredos para serem descobertos, evocando o espírito de exploração do desenho animado original.

Como não poderia deixar de ser, juntar dinheiro coletando diamantes e tesouros raros é um dos pontos centrais da experiência, com o montante de ouro resultante servindo principalmente como um high score. Dentre os itens encontrados, encontram-se:

Uma vez conhecendo bem cada ambiente e habituando-se com os trechos mais traiçoeiros, a aventura se torna mais leve. Para ajudar com a acessibilidade, o jogo conta com três modos de dificuldade: Easy (perde-se meio ponto de vida a cada dano, mais drops de sorvetes e bolos); Normal (perde-se um ponto de vida a cada dano, mais drops de sorvetes e bolos) e Hard (perde-se um ponto de vida a cada dano, menos drops de sorvetes e bolos, sem moedas de invencibilidade).

Ao longo dos estágios, é possível encontrar vários personatens do desenho animado oferecendo diversos tipos de ajuda ao nosso aventureiro veterano: o Capitão Boing permite deixar a fase uma vez, levando todo o tesouro para o depósito; a Madame Patilda cobre o patrão com sorvetes; Professor Pardal aparece em um nível bônus, jogando diamantes para Patinhas coletar conforme puder. Os astros da segunda temporada do desenho, o jurássico Bubba e o herói futurista RoboPato, também fazem aparições em dois momentos específicos da aventura. Já os sobrinhos Huguinho, Zezinho, e Luizinho, acompanhados da amiga Patrícia, dão dicas sobre segredos nas fases (quando não estão precisando ser resgatados).


Volta ao mundo em cinco tesouros

E não são apenas os heróis que dão as caras no jogo: protegendo cada um dos tesouros dessa jornada, encontra-se um chefe pronto para um belo duelo, sendo que vários deles são figuras conhecidas dos gibis e da animação. A lista de destinos é:

The Amazon: Jornada pelas selvas em busca do Cetro do Rei Inca, que é guardado pelo autômato totêmico Zarduck. As espinheiras, abelhas errantes e plantas carnívoras são o terror do jogador novato que pensa que poderá ter uma colher de chá por se tratar de uma tradicional "primeira fase na floresta". Vai sonhando!
Transylvania: Em uma mansão mal-assombrada repleta de múmias, morcegos e criaturas da trevas esconde-se a Moeda do Reino Perdido. Patinhas Belmont ao resgate! Mas quem aguarda ao final, na verdade, é a Maga Patalójika, uma das grandes antagonistas do pato milionário nos gibis e no desenho animado.
African Mines: Para acessar esse labirinto subterrâneo, é preciso antes de tudo encontrar uma chave oculta na Transylvania. Quedas profundas, carrinhos de mina e perigos a la Indiana Jones ficam entre o aventureiro e o Diamante Gigante do Centro da Terra. Porém, o Rei dos Fabricantes de Terremotos está diposto a fazer de tudo para proteger o tesouro.
The Himalayas: A escalada em meio aos montes nevados traz uma série de perigos únicos: o gelo deslizante, tradicional pesadelo nos jogos de plataforma da época, nem é o pior deles! Essa honra fica com as camadas grossas de neve, que fazem o pato "atolar" caso dente quicar com seu movimento tradicional de pula-pula. Ao final, a Coroa de Gengis Khan encontra-se guardada pelo Abominável Homem das Neves.

The Moon: Tio Patinhas e sua turma viajam até o satélite natural em busca do Queijo Verde da Longevidade, guardado pelo misterioso Chefe da Lua (OK, é só uma ratazana nervosa...). Para tanto, ele precisa por algum motivo resgatar o controle remoto que permite ao seu funcionário Fenton "Patralhão" se transformar no destrutivo RoboPato. Porém, ninguém se importa muito com esses detalhes: a grande lembrança que fica, no fim das contas, é a trilha sonora da fase, que se tornou uma das chiptunes mais memoráveis do NES.
Confronto Final: Após conquistar todos os outros tesouros, o confronto final leva o Tio Patinhas novamente para a Transylvania para encarar dois adversários terrificantes: Pato Drácula e Pão Duro Mac Mônei.

DuckTales, woo-oo!!

Tendo relembrado um pouco dessa experiência marcante, confira agora algumas curiosidades sobre o game e os diversos impactos dele ao longo desses trinta anos de existência:

Musa inspiradora

Uma das formas de identificar a influência do game, como de tantos outros da geração 8-bits, é observando sua influência direta e indireta nos títulos produzidos pela geração que cresceu com eles. É o caso da produtora indie WayForward, responsável por excelentes projetos de plataforma e ação 2D, como a série Shantae, por exemplo. 



O amor por DuckTales foi tanto que nos idos de 2012 a produtora tomou a iniciativa para produzir uma releitura em alta definição do game. A produtora teria inclusive produzido uma primeira demo ainda sem o aval específico da Capcom e da Disney, e conseguido convencer as gigantes a abonar o projeto. Dessa ideia inspirada surgiu o remake DuckTales Remastered (Multi), que recontou em altíssimo estilo a jornada dos Caçadores de Aventura na geração passada.
Outra produtora igualmente inspirada pela parceria Disney-Capcom, a Headcannon de Sonic Mania (Multi), tentou recentemente seguir os passos da WayForward, propondo uma remasterização/sequência de Darkwing Duck que, no entanto, não foi aprovada pelas detentoras de seus direitos. Não bastasse isso, DuckTales Remastered foi recentemente retirado de todas as lojas digitais, tornando-se um verdadeiro tesouro oculto. Esperamos que não demore a voltar!

To The Moon!

Se é verdade que todas as músicas do game cativam e ficam na nossa cabeça por 30 anos e contando, uma dessas chiptunes adquiriu status mais lendário do que as outras. A música da fase The Moon marcou os jogadores com sua sonoridade épica, digna de uma opera espacial estrelada por um pato milionário em busca de um pedaço de queijo verde.


O prestígio da canção junto aos fãs do Nintendinho e da série pode ser constatado com uma rápida busca pelo termo no YouTube. Centenas de covers nos mais diversos formatos foram feitos ao longo dos anos — um dos mais populares sendo uma versão com letras do tipo paródia feita pelo youtuber BrentalFloss. Porém, mesmo com todo esse amor dos fãs, em relação à franquia dos patos a música permanecia sendo apenas mais uma das composições obscuras de Hiroshige Tonomura, que trabalhou por pouco tempo para a desenvolvedora japonesa e conta com poucos créditos fora essa trilha em seu currículo.

Isto é, até o episódio da nova série de DuckTales, What Ever Happened To Della Duck?!, ir ao ar. Contando o que aconteceu com Dumbela Pato — a irmã do Pato Donald e mãe de Huguinho, Zezinho e Luisinho — após uma aventura espacial acabar com um naufrágio na lua, o capítulo reviveu o tema clássico, "canonizando" a canção como parte da história oficial da série para além dos games.

A homenagem ainda rendeu letras oficiais para a canção (embora não tão engraçadas quanto as do BrentalFloss), revelando se tratar de uma cantiga de ninar que ela cantava para seus filhos na Terra. Confira o trecho abaixo, cortesia do canal oficial da série.



Desde então, a lua tem sido um tema recorrente no arco mais amplo de histórias da série animada, que atualmente se encontra em sua segunda temporada. Ou seja, mesmo que o Tio Patinhas tenha frequentado superfícies lunares desde as quadrinhos clássicos de seu criador Carl Barks (A Lua de Vinte e Quatro Quilates, por exemplo, data de 1958!), é certo que o game da Capcom acabou ditando os rumos do reboot da franquia, 30 anos depois!

Duck Ex

Outro criador do meio gamístico altamente influenciado por DuckTales é Warren Spector, criador da franquia Deus Ex. O designer, produtor e roteirista já declarou seu amor pela saga dos patos em diversas ocasiões. Na época em que colaborou de forma mais estreita com a Disney, produzindo ambos os títulos da série Epic Mickey, Spector citou seu desejo em produzir um novo game baseado na franquia, após o encerramento da trilogia do camundongo.

Com a série do Mickey abortada antes de chegar ao terceiro capítulo, o plano acabou ficando apenas na prancheta de estudos, e ficamos sem saber muito da visão do autor para os patos. Ao menos ele conseguiu realizar um pouco desse desejo roteirizando os quadrinhos de DuckTales para a BOOM! Studios


A saga Legítimos Donos trazia uma trama ambiciosa que pretendia unir as cronologias do desenho e dos gibis, com várias referências ao passado do personagem e suas histórias clássicas. Apesar da pouca duração, a série em quadrinhos foi muito bem recebida e abriu alas, de certa forma, para o reboot animado.

Versão beta 

A versão beta do jogo nos dá pistas interessantes sobre o processo criativo do jogo e o cuidado dos desenvolvedores com a licença. Várias das mudanças foram feitas no sentido de ambientar o jogo de forma mais precisa no universo de Patópolis. Por exemplo, os power-ups básicos de vida inicialmente eram hambúrgueres, mas foram trocados pela guloseima favorita do Patinhas, sorvetes.



Além disso, vários dos inimigos recorrentes do jogo eram figuras genéricas sem ligação com o universo dos patos, como por exemplo os inimigos maiores em The Moon, que foram trocados na versão final pelos aliens vistos no episódio Onde Nenhum Pato Jamais Esteve, da série animada.

 

Nesses 30 anos de história, o game dos caçadores de aventura fez história no Nintendinho e muito além dele. Qual a sua história com esse clássico? Compartilhe conosco!



é gamer pra todo jogo, mas tem predileção por títulos retrô e um bom e velho JRPG. Sonic, Donkey Kong Country, Ratchet & Clank, Final Fantasy e Disgaea são algumas das séries que formaram a paixão pelos games, desde que ganhou seu Mega Drive, muitos (nem tantos!) anos atrás. Além de escrever para o Nintendo Blast e Game Blast, pode ser encontrado tagarelando no Plano Crítico.
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