Após lançarem seu primeiro game para smartphones, os espanhóis da Boomfire Games deram o passo seguinte — seu primeiro no mundo dos consoles — com Furwind, que saiu primeiramente para PC em 2018. De acordo com o próprio marketing do título, a premissa é evocar a sensação de estar jogando um clássico da era 16 bit, por isso, a jogabilidade simples, porém desafiadora, e coloridos gráficos em pixel art são os focos da aventura.
Tudo se passa em uma enorme floresta. Nela, existe uma pequena vila, onde seus pacíficos moradores viviam em paz graças aos seres antigos que os protegiam. No passado, Darhûn, o mais forte deles, sentiu-se menosprezado e começou a envenenar os corações das criaturas da floresta. Ele foi impedido e preso por seus irmãos, mas a batalha enfraqueceu a todos. Anos depois, o líder de um culto xamânico o libertou. Desde então, ele aguarda o melhor momento para ressurgir. Adormecidos e machucados, os seres antigos apelaram para um escolhido que pudesse parar o avanço da escuridão: a raposinha Furwind.
O game abusa de temas repetitivos, como o mal que retorna após sua primeira derrota em tempos remotos, e o escolhido que deve sozinho partir em uma jornada para salvar a todos, mesmo que não tenha as habilidades necessárias para isso no início — o que torna a sua caminhada, que é o momento em que o jogador passa a acompanhá-lo, importantíssima para o desfecho. A narrativa é simplista, mas funcional, pois garante uma motivação para o personagem principal: ele mora na vila ameaçada, e alguém precisa fazer alguma coisa.
Suas habilidades continuam evoluindo à medida que vai coletando pedras preciosas nos estágios e melhorando-as em uma loja na vila. Além disso, visitamos os seres antigos e solicitamos sua ajuda, o que também desbloqueia novas habilidades para Furwind: a cura, um salto reto para a frente que nos leva mais distante e um projétil para acertar inimigos à distância. Assim como as bombas, tais recursos são limitados, portanto, aprender a utilizá-los corretamente é imprescindível para não se enrolar na jogatina.
Outro ponto bastante característico do game é que os temas dos cenários se repetem nos três “mundos”. Além dos labirínticos estágios de floresta, existem desafiadoras fases de plataforma sobre lava incandescente e outras em que a raposinha é perseguida e precisa realizar saltos precisos em plataformas flutuantes. Imagine aquelas desesperadoras zonas aquáticas da série Sonic The Hedgehog, em que sua vida depende de alcançar bolhas de ar estrategicamente localizadas. Troque a água por escuridão e as bolhas por vaga-lumes e você tem o mesmo efeito em Furwind. Há também batalhas contra chefes ao final de cada série de etapas.
Já os desafios são divididos em dois tipos. Um deles consiste em chegar em algum ponto do mapa, ativar um dispositivo, e só depois ir até o final. Pode ser que você precise dar saltos precisos ou lidar com muitos inimigos no caminho. Esses obstáculos são bem variados. Já o segundo tipo consiste em salvar um personagem de uma jaula, em uma pequena área lotada de inimigos. Apesar de isso tudo se repetir nos três “mundos”, há uma evolução bem visível no nível de desafio, proporcionado pelo incremento de complexidade no level design: caminhos ficam mais labirínticos, além das armadilhas tornarem-se mais difíceis de se ultrapassar e também pelo surgimento de lacaios mais poderosos, ou que se movem ou atacam de maneiras distintas.
Com tudo isso, é possível afirmar que Furwind cumpre o que seu trailer me vendeu: um bonito e desafiador jogo de plataformas. Por outro lado, seu visual até remete a jogos clássicos, mas apesar de sua jogabilidade exigir a precisão de outrora, no fim das contas acabou sendo uma aventura bastante modernizada: não há contador de vidas, você pode decidir se utiliza o dinheiro coletado para evoluir habilidades ou ativar checkpoints. Só não existe uma grande liberdade nas maneiras de lidar com certas situações. Por isso, você realmente precisa aprender a resolver alguns problemas como o jogo sugere, principalmente nos desafios. Isso tudo faz do game uma boa aposta para quem gosta de jogos de plataforma.
Porém, os desenvolvedores precisam corrigir alguns bugs — os sapos ficaram travados no lugar várias vezes quando eu joguei — e possibilitar diminuir a intensidade do rumble do controle, que é muito forte e incômodo — felizmente é possível desabilitá-lo nas opções do console. A trilha sonora é muito bonita, mas alguns dos barulhos emitidos por inimigos não correspondem ao que se imagina observando-os. É também aquele tipo de game que você morre diversas vezes no mesmo local e isso frustrará o jogador constantemente. Se você tem paciência para suportar momentos em que é necessário ter precisão milimétrica para acertar inimigos no ar e pousar com segurança na plataforma que estava antes, junte-se à carismática raposinha e salve a vila de insetos, olhos flutuantes, xamãs, lobisomens e seres ancestrais. É simples, mas divertido e gratificante!
Prós:
- O herói possui uma boa gama de habilidades, que realmente são úteis durante a jogatina;
- Há liberdade de escolha sobre o uso do dinheiro coletado nas fases;
- O level design começa bem simples, mas torna-se bastante desafiador no decorrer da jornada;
- Além dos estágios comuns, há desafios extras para completar;
- Visuais e trilha sonora muito bonitos e agradáveis;
- A estrutura de gameplay e a maneira de se superar os desafios é moderna, apesar de o game ser inspirado em clássicos.
Contras:
- A história não empolga, e as tentativas de dramatizá-la só pioram a situação;
- Os mesmos temas de fases são repetidos nos três mundos do game;
- Os efeitos sonoros deixam a desejar em alguns momentos.
Furwind — PC/PS4/PSVita/XBO/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: André Carvalho
Análise produzida com cópia digital cedida pela JanduSoft