Final Fantasy V Advance (GBA) continua sendo a melhor versão do clássico

O quinto episódio da saga ficou inacessível aos fãs ocidentais por bastante tempo, mas agora pode ser apreciado na sua melhor versão.

em 12/07/2019

Além de ter demorado para ser lançado no ocidente, Final Fantasy V ficou entre dois pesos pesados da saga: os excelentes Final Fantasy IV e Final Fantasy VI. Isso acabou ofuscando essa obra de arte da Squaresoft, que só foi ver a luz do sol em terras ocidentais em 1998 no Playstation e em 2006 no Game Boy Advance. Em 2013 os sistemas Android e IOS também viriam a receber uma versão remasterizada do jogo, assim como os PCS em 2015. Apesar dessas remasterizações, os fãs não viram com bons olhos as mudanças no visual do jogo e consideram – até hoje – a versão do GBA como a melhor disponível para se apreciar o jogo.

O quinto elemento

Em 1992 Final Fantasy V chega para o super Famicom no Japão. Novamente, o trio parada dura composto por Hinorubu Sakaguchi (diretor) Yoshitaka Amano (Design de personagens) e Nobuo Uematsu (trilha sonora) lideraram o projeto. Esse foi o primeiro Final Fantasy a usar kanji nos textos, além do hiragana e katakana. Talvez a dificuldade para traduzir esses “dialetos” para o inglês seja uma das razões que adiaram o lançamento do quinto jogo no ocidente (lembro dessa discussão na época do lançamento de Final Fantasy VIII).


Assim como as entradas anteriores da franquia, Final Fantasy V se passa em um mundo de fantasia medieval, e conta a história de um grupo de quatro estranhos que tem seus caminhos cruzados pelas circunstâncias do enredo, levando todos os personagens a perseguir um objetivo único: salvar os cristais de poder. Esses cristais começam a rachar e quebrar, e o vilão por detrás disso se chama Exdeath. O antagonista usa o poder de um reino chamado Void, um lugar de absoluto vazio, e pretende se libertar para dominar e destruir o mundo.

Alguns elementos de jogos passados retornaram a este jogo, como os sistemas de profissão (Final Fantasy III) e o Active Time Battle (Final Fantasy IV). Isso deixou o jogo com um foco maior em estratégia, como seu terceiro capítulo. Combinar as habilidades aprendidas nas diferentes profissões (são vinte e duas no total) acaba fazendo muita diferença na hora de enfrentar um chefe difícil ou uma dungeon complicada. Aliás, o sistema de profissões desse jogo acabou influenciando o sistema do Final Fantasy Tactics, um dos mais divertidos de toda a saga.

A mesma jogabilidade de sempre

A grande novidade do jogo é o sistema de profissões remodelado, que permite que o jogador possa dominar 24 profissões. Inicialmente você começa como "Freelancer", e conforme visita os locais dos cristais, novas profissões são abertas. Novos pontos de experiência, chamados ABR, são introduzidos com o intuito de evoluir cada job, enquanto que os pontos de experiência padrão continuam centrados na evolução dos atributos de cada personagem.

O Active Time Battle também recebeu inovações e agora, pela primeira vez, o jogador consegue acompanhar quando cada personagem pode executar um comando. É a primeira vez também que os personagens podem ser equipados com acessórios, não apenas com equipamentos. Os acessórios, como viraria padrão na saga, proporcionam atributos e status específicos e podem ser usados em qualquer personagem.

Fora essas novidades listadas, o jogo contem o que existe do velho e bom Final Fantasy: batalhas em turno e encontros aleatórios. Final Fantasy V, assim como todos os jogos da saga, depende muito do griding para subir de level e ganhar novas habilidades. O jogo é basicamente batalhar e evoluir, batalhar e evoluir, o que pode se tornar tedioso, principalmente para novos jogadores por, não estarem acostumados com a mecânica. As dungeons até possuem algum puzzle aqui e ali, mas o foco é sobreviver até o chefão, com HP e MP suficiente, além de estar em um nível que possa te garantir uma vitória.

Como sempre, recursos como poções e ether são escassos, o que faz com que o jogador pense bastante antes de se aventurar em uma dungeon. A falta de recursos de cura e recuperação de pontos de magia podem te levar a morte mais facilmente do que os inimigos, pois os encontros aleatórios servem mais para drenar esses recursos e diminuir sua HP, fazendo com que a party chegue fragilizada ao chefe final da dungeon. Por isso é extremamente recomendável “gridar” perto de alguma aldeia para que você possa recarregar suas energias nos Inns.

Resumidamente, o esquema de jogo é o clássico  dos JRPGs dessa época: você tem as cidades/vilas, onde pode descansar e recuperar HP e MP nos Inns, além de poder comprar armas e acessórios e conseguir informações com os moradores, que te guiarão para as próximas etapas do jogo. Fora as cidades, existe o mapa, no qual você pode andar livremente e as dungeons, onde a ação e o desenrolar da história se passam. Os encontros aleatórios que resultam nas batalhas acontecem tanto no mapa quanto nas dungeons, e os inimigos se tornam mais fortes conforme você avança no jogo.

Encontrar inimigos mais fortes significa maiores pontos de experiência e ABP, fazendo com que seus atributos evoluam juntamente com o desenvolvimento da história. Perto do fim do jogo seus personagens vão estar fortes e com habilidades suficientes para poder enfrentar (e derrotar) o último boss do jogo e liberar o final. Esse ciclo é o “core” da experiência de Final Fantasy, e o que move o jogador nessa repetição dungeon-batalha-chefe é o engajamento que o enredo tenta oferecer. Por isso esses jogos são chamados de jogos baseados em narrativa, ao contrário de jogos baseados em gameplay, como a franquia Zelda e Super Mario.

A última quinta fantasia

O jogo começa com uma equipe de cinco personagens. Os quatro iniciais permanecem juntos até o fim do jogo, enquanto que um deles é substituído no decorrer da história.
Logo na cena inicial, no Tycoon Castle, o rei Tycoon parte para o templo do cristal do vento. O vento está diferente, e ele precisa descobrir se algo aconteceu com o cristal. Ele pede para sua filha, Lenna, permanecer no castelo e cuidar do reino enquanto ele não retorna. Nisso, um meteorito cai perto do castelo, e Bartz Klauser, um andarilho solitário, parte em seu chocobo Boko para ver o que aconteceu. No local ele conhece Lenna e Galuf, que são atacados por Goblins. Sentindo o “chamado” do vento, Bartz parte com Lenna para o templo do cristal, em busca do rei.

Galuf, um velho viajante sem passado, diz ter perdido a memória, só se lembrando do seu nome e de sua missão: ir até o templo do cristal do vento. Como o vento simplesmente parou, navegar pelos mares se torna impossível. A não ser por um navio pirata que parece se mover graças a algum poder oculto. Faris Scherwiz, o pirata dono do navio, entra para o grupo depois de descobrir que Lenna e ele possuem algo em comum. Durante a visita aos templos dos cristais, nossos heróis são nomeados guerreiros da luz e incumbidos da missão de salvar o mundo.

Durante a jornada, Lenna explica que existe um cristal para cada elemento natural (terra, fogo, ar, água) e caso todos os cristais sejam destruídos, as forças naturais que regem o planeta vão desaparecer, deixando o planeta inabitável. Por isso os cristais escolheram nossos heróis para evitar este cenário apocalíptico e derrotar o vilão por trás de tudo: Exdeath. Como todo jogo da saga Final Fantasy, a história é cheia de reviravoltas; a novidade aqui é um tom leve de ficção científica, que iria se tornar cada vez mais presente na saga até a sétima e mais famosa entrada da franquia. O clima melodramático que acompanha a história de cada personagem e suas razões também faz parte do enredo, dando aquele ar de emoção para a jornada.

Lá e de volta outra vez

Em 1997 a Squaresoft havia rompido com a Nintendo, levando o Final Fantasy VII, que antes estava previsto para o Nintendo 64, para o Playstation. Isso azedou as relações da empresa com a Big N, sendo que o próprio Hiroshi Yamauchi pediu que a Square nunca mais voltasse para a casa do Mario, proibindo, inclusive, seus executivos de visitarem os escritórios da Nintendo. Tanto que, em 2001, a Square propôs o retorno de Final Fantasy V para um console Nintendo, na ocasião o Game Boy Advance, mas teve sua proposta recusada pela própria Big N.

Somente em 2006 Final Fantasy V Advance foi finalmente aprovado para ser lançado no GBA, sendo a primeira vez que o título viria a luz do dia em terras ocidentais. Final Fantasy IV e V também seriam lançados para o portátil, com uma tradução totalmente revisada. Apesar do visual não ser tão bonito quanto a versão do Super Famicom, muitos bugs da versão original foram consertados, além de terem sido adicionadas também 4 novas profissões, um bestiário, uma dungeon nova e a função de salvamento rápido. O jogo também se livrou de alguns lags da versão original, e por isso é tido pelos fãs como melhor port para se conhecer o jogo.

Em 2011 o jogo chegaria para o Virtual Console do Wii, mas apenas no Japão. A PSN também receberia um port traduzido da versão original do Super Famicom em 2011. Em 2013 a polêmica versão do mobile foi lançada, com o jogo todo refeito do zero. Apesar de apresentar uma nova revisão da tradução, e manter a qualidade da trilha sonora original, o estilo artístico dos gráficos causou polêmica entre os fãs, dividindo a comunidade. Esse mesmo estilo seria usado nos jogos mobile de Final Fantasy VI, além dos ports da Steam.

Final Fantasy V é um jogo indispensável para fãs da saga e de JRPG, e deve ser jogado por muitos motivos. Um deles é a fantástica trilha sonora de Nobuo Uematsu, uma das melhores de toda a franquia. A outra é que sim, Final Fantasy V é um excelente JRPG, com uma excelente história. Apesar de não ter a mesma fama de seu irmão mais novo ou do último jogo da saga no SNES, Final Fantasy V não deixa de ser uma obra prima. E não pode ser deixado de lado em sua biblioteca de grandes jogos.   
Revisão: Vinícius Fernandes

Apaixonado por JRPG, fanboy de Final Fantasy, gosta de um bom papo de boteco com cerveja e Rock'n Roll. Escreve para a Game Blast pois sonha em ser escritor.
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