Mundo aberto x enredo profundo: qual caminho a sequência de Breath of the Wild deve seguir

A difícil missão de unir os dois segmentos.

em 14/07/2019


A última E3 trouxe uma agradável surpresa, a sequência do aclamado Zelda Breath of the Wild está em desenvolvimento. Mas como exatamente será essa sequência? Hoje iremos discutir por qual vertente o novo jogo da franquia seguirá e quais vantagens e desvantagens de cada um.

O teaser trailer apresentando a sequência de Breath of the Wild, que foi exibido na E3, levanta mais perguntas do que responde. Claro que falta muito para o jogo chegar ao mercado, e a Nintendo não vai dar de bandeja todas as informações. Mas uma das perguntas mais frequentes entre os fãs da franquia é: “Como será o mundo neste novo título? Será tão livre e imersivo quanto o último ou vai dar foco a uma narrativa mais linear?”.

O mundo aberto 



Não vamos aprofundar muito a discussão sobre o que faz um jogo ser do sub-gênero Mundo Aberto ou não. Podemos ter essa conversa em uma outra oportunidade, com a profundidade que o tema merece. Mas, durante muito tempo, Grand Theft Auto (GTA para os íntimos) e, mais recentemente, The Elder Scrolls V: Skyrim, tornaram-se sinônimos de Mundo Aberto, e essa ideia está mudando na indústria desde 2017 com o lançamento de Breath of the Wild, que nos dá uma nova perspectiva de como realmente tem que ser o Mundo Aberto em um jogo de videogame.

The Legend of Zelda: Breath of the Wild, a primeira vista, tinha tudo que os fãs e grande parte do público gamer em geral deseja, mas ninguém esperava um mundo tão orgânico, livre e bonito da forma que o jogo trouxe. Nele o jogador pode, logo após iniciar o jogo, ir diretamente para o boss final (claro, se conseguir), o que mostra um nível até então impensável de liberdade. Fora a parte de exploração e recompensa que o mundo possibilita. O jogo chama para explorar, sempre colocando algo no caminho, sendo possível gastar horas e horas apenas caçando Koroks ou tentando alcançar o topo de determinada montanha. Tamanha liberdade nos fez repensar a ideia de Mundo Aberto, e, claro, a franquia Zelda como um todo.

Encantamento instantâneo mas…

O Mundo Aberto em si tem a capacidade de encantar muito facilmente. Paisagens incríveis, a empolgação em pensar que se pode chegar a um lugar que o jogador vê a enormes distâncias, explorar, descobrir coisas novas; tudo isso causa um primeiro impacto muito positivo, o que é de fato excitante. Deslocar-se e fazer o que bem entende é uma das maravilhas deste sub-gênero. Tomando como exemplo GTA San Andreas, o jogador pode fazer as missões e seguir na história ou simplesmente pegar seu carro sem destino e viajar ouvindo uma das muitas estações de rádio presentes no jogo.


O grande problema neste estilo de jogo é o desfoque que causa na história. Algumas vezes é necessário fazer missões das quais o motivo foi esquecido. Indo do ponto X até o ponto Y, muitas das vezes já nem se lembra o que era preciso fazer, e na verdade nem há a atenção para isso, é só mais uma missão.

O desafio da criatividade



As missões principais vão determinar se o jogo será ótimo, ou apenas mais um jogo de mundo aberto cheio de missões secundárias e sem criatividade, que acaba obrigando o jogador a fazer a mesma coisa de novo e de novo, apenas para conseguir um pouco mais de experiência, ou só dando a falsa sensação de que o jogo está recheado de conteúdo. Não é difícil encontrar jogos com um mundo enorme cheio de missões repetitivas que fazem gastar horas e horas, apenas para que o consumidor tenha a sensação de que seu dinheiro foi bem gasto. Isso, na verdade, é uma ilusão que infelizmente funciona com os consumidores mais casuais, que acaba acomodando as produtoras a não se empenharem e nem usar de criatividade para criar o conteúdo do Mundo Aberto.

The Witcher 3 é um ótimo exemplo de jogo que tem inúmeras missões secundárias, mas as executa com excelência. Todas as missões tem a devida atenção, desde profundidade no enredo até na direção de câmera, algo muito raro em jogos deste segmento.

Enredo profundo 

Nem sempre bem vinda, mas muitas vezes necessária, a linearidade, profundamente atrelada a montar um enredo memorável em jogos de videogame, muitas vezes é mal vista. Principalmente após o boom dos jogos de Mundo Aberto na sétima geração de consoles e sua consolidação na oitava, o público só queria uma coisa, jogos com o mundo aberto. A indústria tende a entregar o que o público deseja. Grandes empresas têm acionistas e investidores, limitando-as muitas vezes a entregar um produto que venda bem, mas que não é o mais interessante e criativo. Acontece que acaba vendendo bem por ser o que as pessoas querem, ou acham que querem.

A verdade é que, para montar um enredo profundo, o jogo tem que seguir um caminho mais linear. O que não significa que linearidade é algo ruim, mas é uma maneira que o desenvolvedor quer que a experiência seja realizada. Não adianta querer que todo jogo seja de determinada forma, pois cada um quer passar uma experiência ao consumidor e nem sempre tem que ser divertida, as vezes pode ser emocionante, aterrorizante, melancólica, etc.


Jogos não são como eram há 30 anos atrás. A indústria tomou proporções cinematográficas, o público evoluiu e está pronto para experiências que não se limitem apenas a diversão.


A Linearidade como aliada

Jogos como The Last of Us, por exemplo, só existem e são tão memoráveis por nos contar uma estória de maneira concisa e imersiva O modo como nos atrelamos ao enredo e personagens só é possível em um jogo que siga um caminho sem desvios abruptos durante a jornada. De fato, o enredo e os diálogos bem elaborados, juntamente a um gameplay agradável, fazem toda a diferença neste tipo de experiência, pois é parte importante manter o jogador engajado na estória. Não é difícil ver por aí jogos que focam em narrativa, mas que, em compensação, a jogabilidade não motiva a continuar gastando horas apenas para ver o fim.

Por Fim

O trailer da sequência de Breath of the Wild tem um clima denso e pesado, realmente atípico para série, que deixa esperança de ver algo melhor trabalhado no próximo título. Mas ainda assim não acho que será algo profundo e marcante em questão de enredo, apesar de ter muito potencial considerando o trailer. De fato, é bem difícil achar um meio termo e unir de forma satisfatória estes segmentos e, pelo último título da franquia, podemos notar o empenho da Nintendo em entregar um enredo melhor elaborado, tomando um certo cuidado para manter a simplicidade da série Zelda.


Tendo em mente o modo de pensar do genial Shigeru Miyamoto, o responsável por criar a série em 1986, que elaborar a mecânica e fazer uma boa jogabilidade é mais importante do que o enredo, a sequência de Breath of the Wild deve não só seguir pelo caminho do mundo aberto, como melhorá-lo. E quem sabe eles não surpreendem a todos tanto quanto surpreenderam em 2017!

Revisão: Kiefer Kawakami

Estudante de Publicidade e Propaganda, fã de games, mangás, séries, etc. Explorador de dungeons, destruidor de Mavericks e praisando o sol sempre que possível.
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