Análise: Crash Team Racing Nitro-Fueled (Switch) é um circuito nostálgico com algumas falhas no percurso

O marsupial favorito do mundo dos games está de volta aos karts com uma qualidade visual nunca antes vista na franquia.

em 04/07/2019



É indiscutível para os fãs de Crash Team Racing (PS1) o carinho pela série que envelheceu tão bem ao longo dos anos. Mesmo ficando no limbo durante bons anos, desde o lançamento do primeiro jogo de corrida da franquia Crash Bandicoot (mais exatamente há 20 anos), é de extrema felicidade apreciar o retorno da série em 2019, com Crash Team Racing Nitro-Fueled (Switch), que claramente busca resgatar os afetos nostálgicos e incrementar com conteúdos muito bem vindos.

Nostalgia para todos os lados

Sabemos que, com o salto gráfico gigante dos games nos últimos anos, a tendência de revitalização de pérolas de antigos consoles aparenta ficar por um bom tempo, diga-se de passagem com games como The Legend of Zelda: Link’s Awakening (Switch) e Spyro Reignited Trilogy (Multi). O trabalho de recriar algo antigo para o apelo do público veterano e, ao mesmo tempo, oferecer experiências novas para o público jovem não é tarefa fácil, porém, felizmente, Nitro-Fueled aparenta conseguir boa parte desse feito.

Mesmo não sendo tarefa fácil, logo de cara é possível presenciar um cuidado menor dos desenvolvedores com a versão para Switch. O modo portátil roda na resolução de 480p e, muitas vezes, com a tela serrilhada e com disfunções visuais que incomodam. Mesmo no dock o desempenho é de 30 frames per second, da mesma forma que ocorre no Xbox One e no PlayStation 4, o que pode incomodar alguns jogadores que estão acostumados com esse desempenho superior, até mesmo em Mario Kart.

A princípio, o maior destaque do novo game de corrida é o cuidado da Activision com esse fator nostalgia. Quase tudo na tela parece ter surgido diretamente de um PlayStation, mas em HD. As pistas foram desenvolvidas da forma mais fiel possível ao clássico e com detalhes e referências a outros games da franquia espalhados pelos circuitos, deixando os ambientes ricos em minuciosidades que merecem ser apreciadas.


Além disso, o jogador inicia o game como na versão pioneira: apenas oito personagens disponíveis. Crash, Cortex, Tiny, Coco, N. Gin, Dingodile, Polar e Pura prontos para a corrida e o jogador precisa encontrar qual deles trará o melhor equilíbrio e adaptação durante as corridas, visto que os atributos são distribuídos por cada personagem, diferente de outros games que alteram pelas peças do veículo.

Um dos fatores mais interessantes a serem pontuados é a manutenção de um game que exige do jogador muito mais habilidade do que, normalmente, sorte. O sistema de turbo difere bastante do que os nintendistas estão acostumados a usar e os circuitos são bem suscetíveis a atalhos e mecanismos diferenciados para alcançar destaque, o que é extremamente satisfatório para veteranos neste gênero de corrida.

Modo aventura e um planeta para salvar

A princípio, o modo aventura pode aspirar todos os elementos da versão original, reverberando, de fato, aquela sensação nostálgica extremamente bem feita, caso o jogador opte pelo modo clássico, sem alterações nos karts ou na dificuldade nesse modo. Da mesma forma, é possível escolher o modo alternativo, que é a novidade do modo aventura, em que é possível alternar o personagem durante a campanha e customizar seu veículo.

Crash e companhia são intimados pelo alienígena Nitro Oxide que força as personagens a competirem a fim de descobrirem qual é o melhor corredor do planeta, para desafiá-lo. Caso isso não ocorra, ou o melhor corredor perca para o alienígena caricato, esse vilão transformará o planeta em um estacionamento de concreto. A história não possui nenhuma espécie de desenvolvimento aprofundado, porém é uma boa desculpa para incentivar os jogadores a disputarem um modo clássico recheado de atividades.

Além dos desafios de vencer as corridas em primeiro lugar, o modo aventura oferece chefes em cada “mundo” e também desafios extras em cada circuito, como Time Trial e coleta das CNK coins, o que melhora, e muito, o fator replay de Crash Team Racing Nitro-Fueled. Tudo isso, somado a cutscenes e montagens temáticas de cada região do game, corroboram a qualidade desse remake que esperamos bastante tempo.

Além do clássico de 99

A loja do game é muito semelhante, para não dizer idêntica, ao design da loja de Fortnite (Multi), com opções de pacotes temáticos e de itens individuais para serem comprados com moedas que não existiam na versão clássica. Tais moedas são recebidas no final de cada corrida no modo história, mas a quantidade é ínfima quando comparada à quantia recebida no final de cada corrida online.
O grande desincentivo ao recolhimento dessas moedas está justamente nos problemas de conexão online e das longas telas de carregamento, que testam a paciência de qualquer um. Além do mais, alguns corredores originais de Crash Nitro Kart (Multi) só estão disponíveis nessa loja, o que de certa forma retira um pouco do “valor” dos mesmos pela facilidade, quando comparados a outros clássicos, e pela inexistência de procedimentos extras para desbloqueá-los, como há em chefes como Papu Papu e Ripper Roo. Acredito que cutscenes ou eventos especiais amenizariam isso.
É importante comentar também sobre as adições de adesivos e customizações dos karts. Cada vez que o jogador progride, tanto no modo aventura quanto no modo online, há recompensas desbloqueáveis que incentivam a personalização e a coleção dos jogadores, incluindo skins de corredores, adesivos, modelos e cores de karts.

Mesmo assim, enquanto há tanta diversificação de um lado, há carência de outro. Para quem está acostumado com controles simples, como na franquia Mario Kart, os controles diferenciados, por vezes mais complexos de domínio, poderiam ser melhor administrados caso o game oferecesse opção de alteração dos botões de cada ação. Entretanto, há apenas duas variações de controles, ambas complicadas a princípio, o que é um ponto negativo quando o aspecto analisado é a acessibilidade.

Ademais, uma das novidades que chamaram minha atenção foi o cuidado da Activision com os diferentes públicos ao redor do mundo. Isso quer dizer que em Nitro-Fueled o game possui dublagem e tradução em português (BR), atribuindo vozes únicas a personagens icônicos da infância de muitos jogadores, além de facilitar a inserção de outros, que não têm domínio da língua inglesa, a esse vasto universo.

Nem tudo é perfeito

Infelizmente Nitro-Fueled não é perfeito, e o maior defeito dele está justamente no modo online. Para jogos multiplayer é indispensável, hoje em dia, um bom serviço online para jogar tanto com amigos quanto com pessoas aleatórias ao redor do globo. Entretanto, o novo game de corrida da família Bandicoot tem problemas nesse quesito.

Mesmo após o patch disponibilizado no lançamento do game, as opções do modo online são extremamente restritas, uma vez que há salas randômicas e com amigos — e é isso. Não há pontuações nem rankings que incentivem a volta dos jogadores, tampouco estruturas de busca ou de preferências que facilitem o encontro de salas específicas, além de não ser possível jogar online com dois jogadores no mesmo console, como é possível em Mario Kart 8 Deluxe (Switch).

Falando em dois jogadores, é possível jogar com apenas um Joy-Con. Entretanto, o posicionamento botões são extremamente desconfortáveis e, como dito acima, não é possível alterá-los como o jogador deseja, o que desestimula esse modo de jogo, caso o jogador não possua outros controles avulsos, como um Pro Controller sobrando.

Como se não fosse o suficiente, as telas de carregamento e os instantes antes do início das corridas são desnecessariamente demorados, o que acaba cansando os jogadores que aguardam mais tempo na fila de espera do que, de fato, jogando online. Felizmente os desenvolvedores já anunciaram um pacote de atualizações que irá corrigir alguns erros apontados, incluindo o inexistente ranking online até o momento que essa análise foi escrita.

Outro ponto extremamente incômodo é o fato de a Activision distribuir as Wampa Coins, moedas que são usadas para comprar customizações e personagens na loja do game, apenas para jogadores que fazem os progressos de Nitro-Fueled online. Ou seja, você não receberá moedas ao jogar na rua, onde não há conexão, ou até mesmo se não houver internet em casa, o que, de certa forma, esbarra com a proposta do próprio Nintendo Switch de ser jogável em qualquer lugar.


É fortuno que Crash Team Racing Nitro-Fueled chegou ao Switch entregando tamanha qualidade e evolução da franquia, no geral. É indiscutível que a fórmula e as mecânicas de gameplay foram quase todas mantidas e tudo foi muito bem arquitetado para adaptar os caricatos corredores no contexto de 2019. Mesmo com tamanhas qualidades, citando mais uma vez a divertida dublagem e as novas customizações, o game ainda tem muito o que melhorar para ser uma “obra prima”, o que inclui as melhorias nos recursos online e a diminuição do tempo das telas de carregamento, por exemplo. Se você é fã de jogos do gênero e procura uma nova experiência que aclame muita habilidade nos volantes, Crash e cia podem ser perfeitos para você.

Prós

  • Preservação das mecânicas originais é um prato cheio de nostalgia para os fãs; 
  • Boas melhorias gráficas perceptíveis principalmente no modo dock;
  • Pistas e personagens de Crash Nitro Kart complementam o game positivamente;
  • Exigência de muito mais skills do que em outros jogos do gênero;
  • Dublagem e tradução em português;
  • Customizações diversas muito bem vindas.

Contras

  • Modo online poderia ser bem melhor;
  • Imagem serrilhada e por vezes mal adaptada no modo portátil;
  • Pouquíssimas variações de customização dos controles;
  • Exigência de conexão online para progredir em certos aspectos do game;
  • Telas de carregamento demoram bastante.

Crash Team Racing Nitro-Fueled - PS4 / Xbox One / Switch - Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Análise produzida com cópia digital cedida pela Activision


É estudante e apaixonado por games desde seu primeiro contato com Duck Hunt e Ice Climbers do nintendinho em 2002. Fanático por Pokémon e admirador de diversas franquias, reúne seu tempo livre para escrever e tentar colocar as matérias da faculdade em dia.
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