Análise: Slay the Spire (Switch) — cartas e RPG em um roguelike empolgante

Construa baralhos e readapte suas estratégias enquanto escala uma perigosa torre nesse viciante título indie.

em 07/06/2019

Uma das coisas que mais gosto em roguelikes é a sensação de estar constantemente entrando em um mundo desconhecido: o que será que vai aparecer nessa partida? Como vou abordar os desafios que vão aparecer? Há também aquela experiência de quase conseguir terminar o jogo, algo que te impele a tentar de novo ao invés de trazer frustração. Slay the Spire apresenta todas essas características e simplesmente não consigo parar de jogar mesmo falhando inúmeras vezes. O título combina RPG, combates por turnos e construção de baralhos em uma aventura brutal, mas altamente viciante. Um sucesso no PC, o jogo chega ao Switch em uma ótima adaptação.

Cartas para enfrentar um perigoso mundo

Uma torre viva cheia de monstros é o cenário de Slay the Spire. Por algum motivo desconhecido, heróis decidem escalar o local e derrotar o mal que vive ali. Para isso, os guerreiros precisam enfrentar monstros em combates por turnos, sendo que cartas regem as ações, como atacar, defender e utilizar técnicas especiais. Em cada turno recebemos uma mão de cartas, cada qual com um custo específico de energia, e para vencer precisamos jogá-las com sabedoria. A próxima ação dos inimigos aparece de forma explícita, o que permite montar estratégias para evitar dano ou efeitos negativos.

Há um foco grande na montagem de baralhos: conforme escalamos o pináculo, podemos adquirir novas cartas ou melhorar os cartões de ação. Essa é a melhor forma de fortalecer nosso herói, seja adicionando versões mais fortes de ataques, seja expandindo o repertório com novas técnicas. Pelo caminho é possível encontrar relíquias com habilidades especiais poderosas, como uma kunai que aumenta a capacidade defesa ao jogar três ataques em um turno ou escamas que machucam inimigos quando eles nos atacam. Existem também poções de efeito temporário que permitem mudar os rumos da batalha. É importante dominar todos esses aspectos, pois Slay the Spire é bem difícil — bastam poucos erros para ser derrotado brutalmente.


Cada partida de Slay the Spire oferece uma experiência única por causa de vários aspectos aleatórios. Os mapas sempre são diferentes e apresentam eventos, combates e chefes diferentes a cada tentativa. As cartas e artefatos também aparecem de forma arbitrária, nos forçando a adotar estratégias diferentes entre as partidas. A morte é permanente e recomeçamos do zero em uma nova partida, como é de praxe de roguelikes. No entanto, conteúdo, como cartas e relíquias, é liberado aos poucos conforme jogamos, o que é um bom incentivo para continuar tentando chegar ao topo da torre. No fim, é viciante explorar as inúmeras possibilidades de Slay the Spire.

Em conjunto com os aspectos aleatórios, o título oferece três personagens com estilos de jogo bem diferentes. O Rígido tem baralho focado em ataque e defesa puros, a Sorrateira é especializada em envenenar os oponentes, o autômato Defeituoso conjura orbes com efeitos especiais únicos. Além disso, o jogo tem outras modalidades, como Escalada Diária e Partida Customizada. Também é possível aumentar a dificuldade com a Ascensão, uma opção que torna os perigos ainda mais complicados.


Uma jornada repleta de possibilidades

A característica que mais me prendeu em Slay the Spire foi a complexidade de suas mecânicas. Enquanto as ações são simples, há inúmeras nuances a serem dominadas: sinergias entre cartas e relíquias, possibilidades de rotas, montagem de diferentes tipos de baralhos e muito mais. Um detalhe importante é que construímos nosso arsenal de cartas durante o caminho, sendo assim é possível mudar de foco no decorrer da partida a fim de tentar diminuir eventuais problemas. No entanto, é custoso remover cartas, o que torna necessária estratégia de longo prazo — um baralho enxuto e especializado é mais eficiente do que um grande conjunto de ações variadas.

Os heróis alteram significativamente as partidas, pois suas cartas básicas focam em estilos táticos distintos. Em uma partida, ao controlar o Rígido, meu foco foi primeiro usar técnicas para aumentar seu ataque e depois devastar inimigos com golpes fortalecidos. Já a Sorrateira tem cartas que incentivam a drenar a vida dos monstros aos poucos com veneno e enfraquecimentos de defesa. Defeituoso é provavelmente o personagem mais técnico: ele consegue invocar orbes mágicos de usos variados, sendo o desafio saber balancear os tipos de artefatos que vamos utilizar durante a jornada. Algo muito legal é que cada herói pode ser utilizado de maneiras diferentes, mesmo dentro de seu estilo tático padrão, o que traz variedade às tentativas.


A mescla de todos esses detalhes torna Slay the Spire profundo e variado. Cada partida conta com opções diferentes de abordar os desafios e é muito divertido tentar dominar as várias mecânicas do jogo. A jornada é bem difícil e alguns erros de montagem de baralhos são complicados de corrigir, sendo assim é perfeitamente possível e comum acabar em uma situação em que a derrota é inevitável nos andares mais avançados. No entanto a frustração é reduzida, pois as partidas são ágeis (uma tentativa dura por volta de uma hora) e há a sensação de aprender algo novo constantemente (sinergias, relíquias com efeitos interessantes, inimigos diferentes e mais).

Uma característica que talvez incomode é o visual do jogo. O gráfico é desenhado, porém muitas das ilustrações, cenários e animações são simples, trazendo um ar meio amador ao mundo de Slay the Spire. As cartas também sofrem do mesmo problema, contudo, ao menos, apresentam ilustrações claras, e com algumas partidas você consegue identificar facilmente as ações de cada uma delas. Por sorte os sistemas e mecânicas são interessantes e intrincados que é fácil relevar o visual.


Uma boa adaptação no Switch

Slay the Spire foi lançado originalmente para PC e agora chegou ao Nintendo Switch. A versão original utilizava uma combinação de teclado e mouse como comandos e me preocupei em como seria a adaptação para consoles. Felizmente os controles são excelentes e ágeis, é muito fácil acessar as várias informações espalhadas pela tela com pouquíssimos toques nos botões. Há também a opção de utilizar a tela de toque do Switch para controlar o título, mas ela não é tão intuitiva quanto usar um controle tradicional. Particularmente achei o jogo mais bonito no modo portátil, por mais que o texto fique um pouco pequeno nessa modalidade.

Fora isso, a versão para Switch conta com as várias conquistas do original em um sistema interno, é uma pena que o jogo não mostra nenhuma notificação ou aviso quando você consegue desbloquear alguma delas. Na parte técnica, notei pequenos engasgos em alguns momentos, principalmente quando há mudança de música ou inimigos, no entanto é um problema tão simples que mal incomoda. Por fim, Slay the Spire conta com texto em Português, porém a localização tem problemas: certos eventos apresentam texto somente em inglês e algumas cartas contam com descrição incorreta. Isso é algo que já acontecia na versão para PC, e é uma pena que a questão não foi corrigida no Switch.


Uma experiência viciante

Slay the Spire se destaca ao combinar RPG, roguelike e cartas em um jogo muito bem construído. Montar baralhos para fortalecer o herói é simples, mas logo aprendemos que nossas ações precisam ser bem pensadas: a dificuldade é acentuada e um conjunto de cartas mal planejado resulta em derrota. Morrer é algo comum ao tentar escalar a perigosa torre, contudo uma grande variedade de conteúdo que permite explorar diferentes estratégias e sinergias faz com que cada partida seja única e empolgante. Complexo, desafiador e muito divertido, Slay the Spire é mais um daqueles jogos para aproveitar por horas sem parar.

Prós

  • Mecânicas fáceis de entender, com vários outros sistemas interessantes para dominar;
  • Muitas opções de estratégia por meio de diferentes heróis, cartas e relíquias;
  • Mundo dinâmico e variado, com partidas que são sempre diferentes;
  • Grande quantidade de conteúdo, com direito a opções para aumentar o desafio.

Contras

  • Localização para Português incompleta em alguns pontos;
  • Visual simplório em certos aspectos.
Slay the Spire — PC/PS4/Switch — Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: Switch
Análise produzida com cópia digital cedida pela Humble Bundle

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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