E3 2019 sem Reggie: o que esperar da conferência da Nintendo sem seu showman?

Famoso após a E3 de 2004, Reggie se tornou a cara da Nintendo norte americana.

em 03/06/2019

Caso você nunca tenha ouvido falar dele, Reginald "Reggie" Fils-Aimé - nascido em Nova Iorque em 25 de março de 1961 - era o presidente do braço americano da gigante japonesa de games. Porém, ele era muito mais do que isso para os fãs da Big N. Chamado por muitos de Regginator, Reggie foi responsável por uma das maiores revoluções da companhia: confiante, articulado e carismático, ele logo se tornou uma estrela, como o Steve Jobs da Nintendo norte americana. Uma presença marcante nos palcos da E3 e nas diversas apresentações da empresa, Reggie se aposentou no dia 22 de fevereiro 2019, deixando Doug Bowser como seu sucessor. O que esperar das apresentações de junho sem a presença do showman da Nintendo of America? E, além disso, como entender sua importância para a empresa?

Uma mudança de rumos

Reggie surgiu em um momento de transformações na indústria de games, e a gigante nipônica precisava se adequar a essas mudanças. Depois do hiato do Nintendo 64, a Nintendo apresentou sua aposta para vencer a concorrência da Sony e Microsoft: o Game Cube. Juntamente com ele, existia uma crença de que a empresa deveria apelar para jogadores mais hardcores, resgatando assim o papel protagonista que possuía nos tempos dourados do Super NES.



A Nintendo sempre foi conhecida por ser uma empresa tradicionalista e, até certo ponto, conservadora. Todos os seus principais administradores eram japoneses, e muitos deles tinham laços pessoais com o presidente da matriz, como Minoru Arakawa, genro do chefão. Alguns analistas de mercado diziam que a empresa precisava de líderes ocidentais para poder se adequar melhor ao mercado norte americano. Como sempre, a Big N era relutante a sugestões que vinham de fora, mas dessa vez foi diferente. Depois do fiasco da decisão de manter os cartuchos na 5ª geração de videogames, a Nintendo finalmente percebeu que estava ficando para trás. Alguma coisa deveria mudar, e foi aí que Reggie apareceu.

Nasce uma lenda

Na apresentação da E3 de 2004, um nome até então desconhecido, subiu no palco da conferência. Reginald Fils-Aimé, filho de imigrantes haitianos, atual gerente de marketing da Nintendo, disse a frase que seis meses depois iria torná-lo presidente: “I’m about kicking ass”, traduzida para “eu vou chutar traseiros”. A plateia ficou extasiada, ao mesmo tempo que intrigada: uma empresa que sempre se posicionou como “Family friend”, agora com uma postura mais agressiva? O que estaria acontecendo? Rapidamente Reggie ganhou os holofotes do mundo empresarial, e vários elogios de executivos de outras companhias. A Nintendo tinha dado sua mensagem: não estamos para brincadeira.

Reggie Fils-Aimé, ex-executivo da Pizza Hut, agora era garoto propaganda de uma das maiores empresas de games de todos os tempos. E não apenas isso: era o catalizador de uma das maiores mudanças da Big N. O novo showman da gigante nipônica, não só transformou a imagem de conservadora e tradicionalista em uma empresa descolada, como também foi peça fundamental para melhorar a comunicação entre os fãs e os revendedores. Ele sempre usava o bom humor em peças publicitárias, e foi protagonista de diversos memes.

O Nintendo Wii e a crista da onda

O Nintendo Wii foi um sucesso estrondoso de vendas, e isso é um fato facilmente verificável. Em 2006, muitos artigos e reportagens tentavam entender o que transformou um console com hardware inferior ao dos concorrentes na “crista da onda” da sétima geração de consoles. Eram os controles de movimento e o foco mais “casual”? Os livros de administração descreviam o console como uma inovação que quebrava paradigmas da indústria. Enquanto os consoles concorrentes evoluíam apenas melhorando características anteriores, a Nintendo criou um novo paradigma.



É interessante notar que, apesar dos números de vendas indicarem sucesso incontestável, poucas pessoas reparam na diferença entre as vendas norte americanas e as japonesas. Nos EUA as vendas do Nintendo Wii foram simplesmente quatro vezes maiores que na terra do sol nascente! Sim, e isso é facilmente explicável: Reggie Fils-Aimé! O novo presidente da Nintendo havia conseguido guiar os esforços de marketing da companhia de uma maneira que acertou em cheio o público ocidental. A postura do novo executivo, suas falas e entrevistas, tudo criava a cara da nova Nintendo.



Aqueles executivos de meia idade, padrão dos negócios americanos, com suas expressões de seriedade e postura de mandões, isso era coisa do passado! A Nintendo era tão divertida e descolada quanto Reggie Fils-Aimé, tanto pela dancinha do relógio, quanto pela capacidade de soltar raios laser dos olhos! Ou talvez se apresentar em forma de um boneco de pano viciado em academia, ou lutar contra os executivos japoneses como em um jogo de luta! Tudo isso mostrava perfeitamente a imagem que a empresa queria comunicar ao seu público ocidental: somos uma fábrica de diversão.   

O fim de uma era

Basta uma leve pesquisa no Yotube sobre a saída de Reggie Fils-Aimé da Nintendo para entender o quanto ele era amado pelos fãs. Vídeos sobre sua história, sua importância na empresa, e até reações de tristeza dos fãs, inundaram a rede. Reggie era a cara da Nintendo no ocidente, e mudou a cultura da empresa. Isso deixa novos desafios para a gigante nipônica nos EUA: como substituir Reggie?


Durante o período do Wii U a Nintendo amargurava constantes prejuízos anuais, e Reggie Fils-Aimé estava lá, se esforçando para melhorar os resultados da empresa. Por isso, sua saída agora, quando a Big N está experimentando um sucesso estrondoso com seu console híbrido, causa estranheza nos fãs. Mas seu legado já está estabelecido, e a Nintendo deve apenas continuar o que ele começou. Doug Bowser, escolhido para substituir o showman da companhia, recebeu sua bênção de Reggie.

Bowser já mostrou que tem capacidade de seguir essa mesma linha descontraída de Reggie, em várias postagens e vídeos publicitários. Uma das fotos mais emblemáticas dele mostra um cartaz de agradecimento pela recepção calorosa, mas logo atrás conseguimos ver os bonecos dos irmãos Mario amarrados em um fio de controle do Game Cube. Caso alguém ainda não saiba, Bowser é o emblemático vilão da franquia Super Mario. Uma divertida ironia que o presidente da Nintendo of América tenha o mesmo nome do vilão, e isso está sendo explorado de forma divertida por ele.

O que esperar do futuro

Esse mês, do dia 9 ao 11, teremos a conferência mais importante do mundo dos games: a famosa E3. É nesse período que são apresentadas as principais novidades e lançamentos, e essas apresentações são espetáculos para os fãs. Durante esse período são feitas diversas apostas, alguns vazamentos aqui e ali, além das expectativas que vão às alturas, logo, é difícil para nós, gamers, segurar as emoções. E a apresentação da Nintendo, marcada para dia 11, é uma das mais importantes, senão a mais, para os fãs da empresa.



Dessa vez, Reggie Fils-Aimé não estará no palco, falando das franquias que tanto amamos. O que esperar? Nesse período de despedida do querido presidente da NOA, deu para perceber que seu herdeiro seguirá a mesma linha que foi estabelecida: a diversão. Talvez ele não tenha o mesmo carisma, ou o mesmo impacto que Reggie causou na sua chegada. Mas sim, a Nintendo aprendeu a lição e vai seguir o roteiro que o icônico showman da empresa escreveu.



De todos os legados que o ex-presidente da Big N deixou, do sucesso do Nintendo Switch, da volta da relevância da empresa no mercado de games, a sua descontração, seu bom humor e sua conexão com os fãs serão sempre lembrados e seguidos por todos que ocuparem seu lugar. Reggie Fils-Aimé ajudou a definir a imagem que a Nintendo tem hoje, e ela precisa não só seguir essa tendência, mas melhorar cada vez mais esse ambiente de negócios que o saudoso Reggie construiu.

Revisão: Vinícius Rutes

Apaixonado por JRPG, fanboy de Final Fantasy, gosta de um bom papo de boteco com cerveja e Rock'n Roll. Escreve para a Game Blast pois sonha em ser escritor.
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