Pokémon Sword/Shield (Switch): entenda a polêmica em torno da National Dex

Conhecida por angariar fãs pelo mundo todo na busca do máximo de monstrinhos possíveis, os novos jogos da franquia eliminam o que a torna tão especial: o colecionismo.

em 27/06/2019
Nenhuma franquia da Nintendo desperta sentimentos tão intensos em seus fãs quanto Pokémon. Com o primeiro jogo lançado em 1996, podemos dizer que hoje Pokémon não só é a franquia mais valiosa da gigante japonesa dos games, como é o produto de entretenimento mais valioso do mundo. De jogos portáteis a games mobiles e uma recente adaptação live action para os cinemas, Pokémon é a galinha de ouro da Nintendo, e todo cuidado é pouco para manter os jogos no mesmo patamar de qualidade de que os fãs exigem, certo?

O que faz Pokémon especial?

Os holofotes da indústria de games estão centrados nos novos jogos da franquia que serão lançados em novembro para o Switch. Pokémon Sword/Shield (são sempre lançadas duas versões) chamaram atenção por ter seu vídeo de anúncio com um número maior de dislikes do que de likes. Tudo por um simples motivo: não teremos a National Dex nesse jogo. Mas por que os fãs da franquia estão tão “pistolas” com isso? E mais do que tudo, por que a National Dex é tão importante?

Pokémon nunca foi um jogo baseado em narrativas marcantes, como Final Fantasy ou The Witcher. Na verdade, apesar de interessante e prazerosa, a história da maioria dos jogos é bem simples. Seus personagens também não são memoráveis, com complexos lores que justificam suas ações e o desfecho dos enredos. O foco dos jogos de Pokémon, como diz seu bordão publicitário, é pegar todos os monstrinhos do jogo, “gonna catch them all”. Eu mesmo, que desembarquei na franquia atraído pelo seu sistema de batalha, tive dificuldade de entender isso. E sem entender, dificilmente você conseguirá perceber a frustração da comunidade com os novos jogos da franquia.

Pokémon, abreviação de Pocket Monsters, foi inicialmente lançado em 1996 em duas versões, Pokémon Red and Pokémon Blue. Mas por que duas versões do mesmo jogo? Eram idênticos, mesma história, mesmos personagens, mesmos cenários. A diferença eram alguns monstrinhos que só existiam em cada uma das versões. A ideia era que o jogo incentivasse a formação de uma comunidade de trocas de Pokémon: seu amigo e você comprariam versões diferente e depois trocariam os monstrinhos entre si.

Bem, não é preciso dizer que foi um sucesso de vendas (hoje a franquia vale 90 bilhões de dólares), e logo as sequências foram lançadas. A ideia de capturar os monstrinhos e transportar de um jogo para o outro era o foco da franquia: colecionar, treinar, guardar, trocar. Os problemas começaram nas trocas de gerações.

Conforme os novos consoles portáteis iam surgindo, a dificuldade de transferir os monstrinhos para os jogos novos começou a desencantar a comunidade. Contudo, a Nintendo resolveu o problema ao lançar versões remakes dos jogos antigos, tanto para o Game Boy Advance quanto para o Nintendo DS. De qualquer maneira você ainda tinha a possibilidade de manter sua coleção de um jogo para o outro.

Com a chegada do PokéBank, parecia que o problema de transferência de Pokémon de uma geração para outra estaria definitivamente resolvido. Não só porque o sistema possibilitava armazenamento em nuvem, mas por que a Nintendo cobrava uma anuidade pelo serviço. Ora, se a empresa cobra por um serviço entende-se que este terá continuidade, e irá evoluir e garantir que o que foi comprado (armazenamento e transferência de Pokémon) será entregue para quem pagou por ele. E então, chega a nova geração…

A grande polêmica da National Dex

Para quem não sabe, PokéDex é um catálogo com todos os Pokémon presentes em um jogo. A Dex é dividida em Regional Dex – todos os Pokémon presentes em um jogo específico – e a National Dex, que são todos os Pokémon existentes até a data presente. Para quem é um jogador casual, não tem muito impacto quando a Pokémon Company diz que o Sword e Shield não aceitará transferência dos Pokémon de outras gerações, estando o jogador limitado aos monstrinhos do próprio jogo (Regional Dex).

Porém, para quem acompanha a franquia há muito tempo, e investiu dinheiro comprando todos os jogos, remakes, spin off e inclusive pagando a assinatura do sistema de armazenamento de monstrinhos, a notícia veio como uma bomba. Imagine um fã que coleciona e treina desde 1996, e que paga o serviço de armazenamento desde 2013 (seu lançamento) saber que todo o trabalho e investimento que fez durante todo esse tempo será jogado no lixo?

Esse é um resumo do por que a comunidade estar tão contrariada com os jogos da nova geração. A empresa afirma que não consegue fazer a transferência pois as animações de cada Pokémon se tornou mais complexa e detalhista nos jogos novos, fazendo com que os algoritmos dos monstrinhos antigos simplesmente não possam ser adaptados. Se pensarmos nos Pokémon como o que eles realmente são (um conjunto de programas de computador), o argumento realmente faz sentido. Como a empresa não teve tempo de reprogramar mais de 900 monstrinhos (inclui-se aqui formas e versões de alguns deles), o jogador deveria se contentar com os presentes nos jogos.

Porém, outros pontos devem ser levados em consideração. A Pokémon Company é um conglomerado de três empresa: Nintendo, Game Freak e Creatures. Ou seja, funcionários disponíveis eles têm. Dinheiro para fazer o investimento não seria problema, dada a rentabilidade da franquia. Para se ter uma ideia, Pokémon Sword e Pokémon Shield foram a segunda maior pré-venda da E3 em números. Isso quer dizer dinheiro no caixa. Se pensar por esse lado, falta de recursos não é um limitante.

Alguns fãs justificam a decisão da empresa, argumentando que muitos jogadores usam Pokémon criados por editores em PC, que possuem atributos elevados que podem desbalancear o competitivo. Segundo essa corrente, a limitação ao número de Pokémon poderia ser bom para o cenário competitivo. Porém, os mais hardcores iriam dizer que a Nintendo nunca esteve preocupada com o balanceamento do competitivo, criando, inclusive, monstrinhos que atrapalham quem quer um competitivo mais justo.

Sobra trabalho para grupos de fãs, como a Smogon University, criar regras e delimitar os Pokémon que podem ou não ser usados. Esses grupos ficam tentando consertar problemas que a própria Pokémon Company cria para o competitivo, o que faz o argumento de que a empresa estaria preocupada com o cenário, cair por terra.

Outro motivo que faz as explicações da Nintendo não parecerem tão lógicas é o VGC. Explico. Desde sempre o formato, o oficial usado pela empresa, teve regras que baniam certos Pokémon do competitivo. Se a empresa realmente estivesse interessada em balancear, bastava um conjunto de regras simples para isso.

É uma reclamação justa, ou só mimimi?

Todos os pontos analisados acima acabaram por dividir a comunidade. Existem os fãs que justificam a atitude da empresa e taxam os demais de “chorões” e existem aqueles que estão descontentes por não poderem trazer os monstrinhos que investiram por todos esses anos para os jogos novos. Seja como for, os jogos vão vender horrores, como sempre acontece, e a Nintendo vai faturar seus milhões sem nenhuma dificuldade. Contudo, é válido sim que os consumidores reclamem, criem campanhas na internet e nas redes sociais. Não é assim que funciona, quando somos clientes pagantes de um produto ou serviço que nos desagrada de alguma maneira?

Algo semelhante aconteceu recentemente com o anúncio do Mario Maker 2 para o Nintendo Switch. O jogo não permitiria o multiplayer online e a comunidade meteu a boca no trombone. Como resultado, a Nintendo prometeu rever os mecanismos do game e ajustar para atender às demandas da comunidade. Quem sabe não aconteça algo com os novos jogos de Pokémon? Como disse acima, o foco dos jogos não é uma experiência de narrativa, ou dificuldade, exploração, etc. O foco dos jogos é simplesmente colecionar os monstrinhos.

É isso que torna Pokémon tão diferente dos demais jogos de JRPG disponíveis no mercado. Talvez seja um erro da Nintendo eliminar o grande motivador que faz com que milhares de fãs dediquem horas e horas de gameplay, paguem anuidades de serviços e comprem cada uma das diferentes versões e diferentes consoles só para completar sua coleção. Ou talvez, logo após lançar os jogos, a Nintendo lance outra versão, à la Pokémon Ultra Sun/Moon onde o jogador possa finalmente transferir todo o seu patrimônio de monstrinhos. Nesse ponto, não nos resta muita opção a não ser expressar nosso descontentamento e aguardar as cenas dos próximos episódios. 

Revisão: André Carvalho   
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Apaixonado por JRPG, fanboy de Final Fantasy, gosta de um bom papo de boteco com cerveja e Rock'n Roll. Escreve para a Game Blast pois sonha em ser escritor.
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