Talvez você já tenha jogado algum título da série Wonder Boy de alguma forma, só que nem faz ideia. O primeiro capítulo da franquia, chamado simplesmente de Wonder Boy, é um jogo de plataforma publicado pela Sega lançado originalmente para os fliperamas em 1986, que logo angariou certa notoriedade e recebeu os esperados ports para os consoles da época, como o Master System (console 8-bits da Sega popularizado aqui pela Tec-Toy). No entanto, as duas continuações diretas, Wonder Boy in Monster Land (1987) e Wonder Boy III: The Dragon's Trap (1989), graças a algumas mudanças de gameplay, roubaram os holofotes por completo e, eventualmente se tornaram bem mais reconhecidas pelo público geral do que o jogo original. Wonder Boy Returns Remix tenta dar um pouco de valor ao título primogênito e resgatar a intenção original da série. A reprodução certamente é fiel, mas será que vale a pena revisitar o clássico em 2019?
Aula de história returns remix
Parece que há um interesse crescente em Wonder Boy nos últimos anos. Primeiro, Wonder Boy Returns foi lançado para o Playstation 4 em 2016 — pois é, Wonder Boy Returns Remix, como o longo nome sugere, é um remake de um remake. Em seguida, o criticamente aclamado remake de Wonder Boy: The Dragon's Trap saiu para praticamente todos os consoles em 2017. Por fim, Monster Boy and The Curse Kingdom, uma aventura totalmente inédita, aterrissou nas principais plataformas em 2018 e deu um passo inicial em direção ao futuro da franquia.Embora o primeiro Monster seja considerado um clássico, ele pode ser visto como um tanto simplório quando comparado ao que estava por vir. A partir do segundo jogo, a série adotou elementos de RPG como a aquisição de moedas e itens que permitiam a progressão do protagonista, o que resultou em um action RPG com elementos de metroidvania, com direito até ao típico cenário medieval de fantasia. Infelizmente, a fórmula original da franquia foi deliberadamente esquecida para dar lugar a esse novo estilo mais ligado ao RPG, algo que evidencia o quanto o primeiro Wonder Boy se perdeu no passado.
Também é importante lembrar que, especificamente no Brasil, as duas continuações de Wonder Boy ainda receberam ports personalizados da Turma da Mônica feitos pela Tec-Toy, Mônica no Castelo do Dragão (1991 ) e Turma da Mônica em O Resgate (1993). Esses lançamentos ajudaram ainda mais a popularizar a nova fórmula da série, pelo menos para o público brasileiro. Muita gente cresceu jogando os jogos e nem desconfia da sua verdadeira origem, mas o impacto das continuações de Wonder Boy é inegável.
Se alguém ficou sentido com o abandono do estilo original "plataforma puro" da série, saiba que a Hudson Soft (famosa por Bomberman, entre outros) criou outra vertente de Wonder Boy no Nintendinho, um port chamado Adventure Island. Embora algumas alterações tenham sido feitas (principalmente no design dos locais e personagens), a nova franquia garantiu que o gameplay original de Wonder Boy permanecesse vivo — só que com outro nome e outra cara em um outro console. E, sim, não é impressão sua, todo o contexto histórico de Wonder Boy não poderia ser mais confuso.
O retorno "remixado" de Tom-Tom
Quanto à essa tão comentada "velha fórmula" do primeiro Wonder Boy, ela funciona assim: ande para frente, pule, ataque inimigos (com projéteis), desvie de obstáculos e colete frutas (se seu 'medidor de fome' ficar sem energia é game over). Quase que como um misto de Sonic e Mario, aqui a velocidade é importante, mas os vários (e necessariamente precisos) saltos pelas plataformas lembram um pouco mais os jogos do bigodudo. A conclusão é uma combinação no mínimo estranha e que sinceramente não favorece nem um pouco o jogo. O protagonista, Tom-Tom, é tão apressado que até quando está parado permanece em uma constante animação de movimento. O trabalho de ir para frente, entretanto, ainda é do jogador e a ideia é realmente nunca ficar parado.O problema é que aquele esperado momentum criado pela boa e velha "inércia", típica dos jogos do Mario, não existe em Wonder Boy. Os controles são bem esquisitos e se acostumar pede algum tempo. Pular, parar, voltar e desviar são ações que precisam ser executadas a todo momento, no entanto elas nunca se tornam realmente confortáveis e intuitivas. Logo de cara, Wonder Boy, um jogo estritamente de plataforma, remove um dos maiores aspectos positivos que compõem a premissa do gênero: controles bons e responsivos. Aparentemente os comandos são bastante fiéis aos do jogo original, portanto fãs de carteirinha não tem muito com que se preocupar — mas, acredite, potenciais novos jogadores provavelmente irão sofrer bastante ao tentar jogar.
Wonder Boy é muito difícil. Difícil e extremamente desafiador, só que de todas as formas erradas. A própria mecânica claramente falha (ou, no mínimo, muito peculiar) é o maior agente destrutivo da experiência de jogo. Ao contrário de jogos que são divertidos por ser desafiadores, como qualquer Mario 2D por exemplo, Wonder Boy passa longe de trazer qualquer diversão e só é frustrante. Os constantes pulos errados e colisões com inimigos nunca parecem ser sua culpa, e sim algum problema do jogo. Quando o gameplay básico do título não atende às expectativas do jogador, as razões para jogá-lo desaparecem rapidamente. E esse é o caso de Wonder Boy Returns Remix.
Outros fatores importantes como apresentação e história também não agradam muito ou simplesmente deixam a desejar. Os gráficos são até uma tentativa válida de recriar o visual original de uma forma mais moderna e "cartunesca", por isso é uma pena que o resultado final pareça mais um jogo em flash genérico. Pelo menos os cenários e personagens sem nenhuma personalidade ou carisma combinam perfeitamente com a total falta de história ou propósito em Wonder Boy Returns Remix. É realmente difícil não confundir esse jogo com uma coleção qualquer de minigames não licenciados online. São 32 fases divididas em 8 mundos e todas sempre parecem ser iguais (com pouquíssimas exceções). Os estágios não são nem ao menos agrupados por algum tema ou mecânica, e os inimigos e obstáculos tendem a ser sempre os mesmos também.
Talvez o problema principal do remake desenvolvido pela CFK seja justamente essa repetição — o título reutiliza os mesmos elementos, tanto sonoros quanto visuais, a todo instante. Viu um inimigo caranguejo padrão na fase 1-1? Prepare-se para vê-lo mais 500 vezes e em todo lugar. Ouviu a musiquinha do primeiro estágio e achou meio chata? Beleza, prepare-se para ouví-la em loop até ser obrigado a abaixar o volume (ou sair do jogo). E, principalmente, achou meio complicado pular em várias plataformas voadoras no começo do jogo? Pois é, essas mesma plataformas estarão em seu caminho durante 90% da jornada.
No final das contas, Wonder Boy Returns Remix é um jogo simples e que agrada mais especificamente a um nicho apenas: os fãs do jogo original. Para qualquer outra pessoa, eu realmente não acredito que exista o bastante no título para manter sua atenção por muito tempo. Além das mencionadas 32 fases super parecidas, e uma distinção para um modo easy, normal e hard, nenhum conteúdo adicional está disponível, por exemplo. A curva de aprendizado é muito grande e a recompensa muito pequena. Se fizer questão de reviver uma nostalgia com Wonder Boy, prefira o lindo remake do segundo título da série, Wonder Boy: The Dragon's Trap. Não tem erro.
Prós
- Ótimo para os fãs do jogo original.
- Bem desafiador pra quem gosta de jogos de plataforma difíceis.
Contras
- Curva de aprendizado bem acentuada;
- Visual genérico;
- Repetitivo.
Wonder Boy Returns Remix - Switch - Nota: 5.0
Revisão: Vinícius Fernandes
Análise produzida com cópia digital cedida pela CFK
Análise produzida com cópia digital cedida pela CFK