Análise: Timespinner (Switch) é um ótimo metroidvania parado no tempo

O que falta de originalidade, sobra de charme neste ótimo jogo de plataforma e exploração com forte influência de um certo clássico da Konami.

em 15/06/2019

O Nintendo Switch é lar de uma porção de jogos no estilo metroidvania. Hollow Knight, The Messenger e Guacamelee! 2 são só alguns exemplos da tremenda qualidade da representação do gênero no console híbrido da Nintendo. Mas como qualidade nunca é demais, Timespinner chega para agregar ainda mais valor a essa extensa lista de games de ação e exploração em 2D. O título, produzido pelo estúdio Lunar Ray Games com a ajuda de uma campanha de financiamento coletivo, foi originalmente lançado em 2018, no Steam. Agora chega ao Nintendo Switch num port muito competente.

Repetindo a história

Uma coisa é certa: originalidade não é o forte de Timespinners. Além da estética e da jogabilidade fortemente influenciadas por Castlevania: Symphony of the Night e outros clássicos dos anos 90, a história do game bebe muito de uma fonte chamada Star Wars. Como na famosa franquia criada por George Lucas, alguns indivíduos têm poderes especiais e são treinados para desenvolverem suas aptidões e usá-las para o bem. Os Jedis de Star Wars aqui são chamados de Timespinners, que possuem habilidades de manipular o tempo e elementos mágicos.


A motivação da protagonista Lunais também se entrelaça levemente com a de Star Wars: a jovem busca vingança contra o império que matou sua família. Para isso, viaja por diferentes eras de um conflito catastrófico entre nações. É uma história bem bacana e muito bem contextualizada por documentos que podem ser encontrados pelos cenários durante a aventura. O título tem uma mistura interessante de fantasia e ficção científica, potencializada pelas viagens temporais para um passado mais rústico e um futuro tecnológico e sombrio.

Em um dado momento uma das personagens do jogo avisa a nossa heroína que "no mundo nem tudo é preto no branco, mas tons de cinza". Esse caráter cinzento é um dos destaques desta fábula. Não há exatamente bem ou mal nesta guerra milenar entre duas nações, mas sim lideranças tirânicas nos dois lados e em diferentes eras. O desenrolar dessa trama vai sendo influenciado pelas ações do jogador e podem culminar em até três finais diferentes.

Uma viagem aos anos 90

Não é só na história que Timespinner busca inspirações em outras obras consagradas. O gameplay, cenários e design dos desafios também são fortemente influenciados por outros games de sucesso. É bem verdade que as ações no passado que influenciam o futuro remetem à Chrono Trigger, mas nenhum título deixou mais sua marca nessa aventura do que o clássico Castlevania: Symphony of the Night.

Toda a ação do jogo tem aquele formato — e feeling — do clássico maior da Konami: exploração cadenciada de um mapa que vai sendo completado aos poucos, com áreas que só ficam acessíveis depois da aquisição de um item ou habilidade nova. Além disso, a movimentação da personagem, seus ataques, pulos, etc., tudo remete à excelente campanha de Alucard.


Me agradou especialmente o visual dos belíssimos cenários recheados de detalhes, criados em uma pixel art que esbanja aquele charme retrô das eras 16-bit e 32-bit. Entretanto, apesar da beleza estética, as conexões entre as áreas visitadas de Timespinner não têm a mesma fluidez daquele grande castelo do título da Konami, e por isso podem ser um pouco confusas em alguns momentos. Infelizmente o design dos personagens e inimigos também não têm o mesmo capricho e parecem bem repetitivos e pouco inspirados.

Já a trilha sonora segue o mesmo caminho do resto do pacote, com aquele som sintetizado de teclados, órgãos e guitarras que remetem ao clima gótico da série Castlevania. No fim, som e imagem se completam de uma forma muito bacana em Timespinner, e a falta de uma identidade mais própria e original são compensadas pela qualidade da execução e pela nostalgia da atmosfera dos jogos da década de 90.

Parado no tempo, mas nem tanto

O grande destaque de Timespinner — e único elemento ligeiramente original — é seu sistema de manipulação do tempo. Na verdade, a mecânica é muito simples: no apertar de um botão todos os elementos da tela ficam estáticos, pausados no tempo. Desta forma, Lunais pode usar até mesmo inimigos como plataformas para solucionar puzzles e alcançar áreas antes inacessíveis dos cenários. Parece genial, não é mesmo? E é!

Quando exigida, essa mecânica é extremamente satisfatória, mas infelizmente é mal utilizada durante as quase 10 horas de aventura. A sua real necessidade durante a campanha é mínima e foram pouquíssimos os pontos do jogo em que essa habilidade realmente se fez necessária na minha jogatina. Contei nos dedos os momentos em que só consegui acessar uma plataforma ao congelar um inimigo e subir nas suas costas para ganhar vantagem. É realmente uma pena, pois é um elemento fascinante e merecia mais atenção.



Outro componente incomum em jogos do estilo metroidvania e que se faz presente em Timespinner são as diversas missões paralelas, que dão um pouco mais de motivação para o constante vai e vem pelo mapa. Essas missões variam desde encontrar pessoas ou itens até eliminar um número determinado de inimigos específicos que só estão em uma área pré-determinada. Confesso que pouco foquei meus esforços para completá-las, mas na verdade elas foram  motivações extras para viajar pelos ambientes em busca da continuidade da história

Jogando como no passado

De resto, temos um tradicional jogo de plataforma e ação, com os elementos de evolução já característicos e constantemente utilizados neste gênero. Lunais pode usar uma grande variedade de orbes que conferem diferentes ataques. Alguns mais fortes e curtos, outros mais fracos e com maior alcance, e por aí vai. A possibilidade de equipar duas orbes diferentes agrega ainda mais estratégia aos combates.


Além dos ataques normais, há também poderosos ataques especiais que gastam os pontos de aura da protagonista. A cada inimigo abatido, pontos de experiência são agregados tanto ao nível total da heroína quanto da própria orbe utilizada, melhorando seu desempenho. Nada muito inovador, mas extremamente competente.

Em comparação com outros jogos do gênero, Timespinner oferece uma aventura até bem acessível. Mesmo os diversos chefes encontrados durante a jogatina não apresentam um desafio tão elevado na dificuldade normal. É uma jornada bem balanceada, que deixa o jogador evoluir e aprender suas nuances da jogabilidade de forma suave e divertida. Se quiser um desafio maior, o título apresenta um modo New Game+ e uma dificuldade mais elevada (Nightmare).

A relatividade de Timespinner

Timespinner é um ótimo sidescroller do estilo metroidvania. Tem boa música, belos cenários e algumas ideias muito bacanas que acabaram muito pouco utilizadas. É quase excelente. Trata-se de um jogo competente em quase todos os seus quesitos, mas ainda assim fica uma sensação de potencial desperdiçado. Apesar das limitações, o título da Lunar Ray Games oferece boas horas de ação e exploração em cenários belíssimos em pixel art, com aquela boa e velha sensação de evolução que os jogos desse gênero aperfeiçoaram desde Super Metroid e Symphony of the Night. É, sem dúvidas, uma boa adição à biblioteca do Nintendo Switch.

Prós

  • Belíssimas músicas e visual em pixel art com aquele charme dos anos 90;
  • Universo muito bem contextualizado pelos personagens e documentos espalhados pelos cenários;
  • Ação bem variada, com diversas possibilidades de ataques de curta e longa distância;
  • Habilidade de parar o tempo é extremamente interessante e criativa.

Contras

  • Design de personagens e inimigos pouco inspirado;
  • Habilidade de parar o tempo é lamentavelmente pouco utilizada.
Timespinner — Switch/PS4/XBO/PC/Vita — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Análise produzida com cópia digital cedida pela Chucklefish


Comunicador e colecionador. Já foi Sega kid e Nintendo kid, agora é retro "kid". Está no Twitter em @carloscirne e faz vídeos no YouTube no canal CirneStuff.
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