Análise: Celeste (Switch) é uma obra prima que respeita o jogador

Disponível totalmente em português na Loja Nintendo, o premiado indie de plataforma 2D apresenta um show de qualidades.

em 04/06/2019
Nomeado como o “melhor jogo indie de 2018” em diversas premiações, Celeste (Switch) é uma verdadeira carta de amor e carinho para quem o joga. O humilde título de plataforma 2D desenvolvido pela Matt Makes Games foi tão elogiado desde a sua estreia que chegou a receber a honra de ser oficialmente lançado na Loja Nintendo do Brasil em maio de 2019. No entanto, será que Celeste realmente é um jogo que merece toda essa atenção depois de um ano do seu lançamento original?

Uma história comovente

A trama acompanha a história de Madeline, uma jovem garota que resolveu, em um ato imprudente, escalar até o topo da montanha Celeste apenas para provar para si mesma de que ela era capaz. Ao longo do árduo caminho até o topo, a protagonista descobre que precisa encarar o seu maior inimigo: literalmente ela mesma.

Madeline é uma pessoa comum como qualquer outra. Ela transborda emoções que muitas podem se identificar. Durante o desenrolar da trama, o jogador acaba descobrindo um pouco mais sobre as motivações e os problemas da garota. Ansiedade, depressão, insegurança, ataques de pânico… Se não bastasse apenas essa avalanche de infortúnios, os poderes místicos da montanha Celeste acabaram entrando em contato com a negatividade de Madeline, ocasionando assim, a criação de um “clone maligno” da garota.

Como dá para ver, a história trata de temas extremamente delicados no desenvolvimento de personagem da Madeline. Apesar de ser uma questão difícil de abordar com maestria, a narrativa de Celeste consegue desenvolver todos esses assuntos de uma forma tão sensível e emocional que há inúmeros relatos de pessoas pela internet que se inspiraram no jogo para melhorar as suas respectivas vidas.

Aceite os seus medos, defeitos e inseguranças. Celeste é uma comovente história de autodescobrimento e superação pessoal. Mesmo com a óbvia camada de fantasia, tudo dentro do jogo é tão “humano” que pode colocar qualquer marmanjo para chorar embaixo do sofá. Não é uma trama mirabolante digna de oscar, mas é algo feito com tanto carinho e delicadeza que fica difícil para alguém que já passou por tais problemas não se apaixonar pela história e o mundinho daquele jogo. É uma verdadeira cereja no incrível bolo de qualidades da aventura.

Uma extensão do corpo

Controles precisos e confortáveis normalmente costumam ser o pilar principal da estrutura de qualquer jogo de plataforma 2D. Com o advento da moda de indies “superdifíceis”, desenvolver uma jogabilidade fluída se tornou essencial para que qualquer projeto se destaque no meio da concorrência esmagadora de títulos indies do mercado atual.

A jogabilidade de Celeste é, justamente, a culminação de todos esses anos de experimentações e polimentos em busca dos controles perfeitos para platformers difíceis. Cada botão pressionado é correspondido cirurgicamente por movimentos precisos. Passar por qualquer obstáculo é extremamente satisfatório, independentemente da execução mecânica ter sido simplória ou não.

O ato de controlar Madeline pelos fantásticos cenários da montanha é simplesmente indescritível. Para termos de comparação, pode se dizer que é bastante similar com a sensação de controlar o Mario em Super Mario Odyssey (Switch). Tudo que você imagina fazer em sua mente pode ser feito com a paciência e a execução correta. Inclusive, Celeste também conta com diversas mecânicas opcionais, à la Super Metroid (SNES), que sempre estiveram disponíveis para o jogador desde o início, porém elas só são devidamente ensinadas dentro do jogo na parte final da aventura.

Celeste te oferece tanta precisão sobre os movimentos que o maior desafio das fases é justamente descobrir o que fazer para encontrar o caminho até o outro lado. Uma vez que você sabe “como” chegar lá, torna se questão de tempo até que a cadeia de comandos necessárias para realizar o objetivo comece a fluir naturalmente pela sua mão, como se fosse uma pequena extensão dos neurônios do seu corpo. 

O level design explora a mecânica de “Dash” da protagonista de forma surpreendente ao longo da jogatina. Quando você acha que já viu de tudo que a mecânica poderia oferecer, Celeste te apresenta mais e mais maneiras criativas de utilizá-la dentro dos pequenos puzzles e obstáculos. Além disso, cada capítulo apresenta uma gimmick de movimentação totalmente única que também é explorada com grande maestria. Tudo tem uma razão para existir, não existe nada desnecessário e mal aproveitado nas fases de Celeste.

Cor e emoção

Celeste se tornou um exemplo a ser seguido na indústria de jogos por oferecer diversas opções para regular a sua acessibilidade de acordo com cada pessoa. O título oferece todas as ferramentas necessárias para que qualquer jogador possa desfrutar da aventura da melhor maneira possível, independentemente se for casual, speedrunner, colecionador, amante da dificuldade ou, até mesmo, portador de doenças motores ou oculares. Celeste vai te “abraçar” de qualquer forma.

Para um indie do seu tamanho, é possível dizer que existe conteúdo para dar e vender em Celeste. Dá para ficar horas caçando colecionáveis extras. Cada capítulo possui três “lados” diferentes que alteram completamente os desafios do lugar. O jogo ainda incentiva o time attack entre os amigos para ver quem consegue completar as fases o mais rápido possível. Além disso, uma atualização gratuita com mais de 100 fases novas está prevista para chegar ainda neste ano de 2019.

O visual do jogo é composto por um trabalho magnífico de pixel art. Os cenários e personagens podem ser simplórios em comparação com outros títulos, mas eles ainda transbordam um carisma surpreendente em cada pequena animação. Com o auxílio da arte, o clima emocional do jogo consegue alternar com perfeição entre ambientes coloridos ou melancólicos nas horas em que mais é preciso. Isso sem considerar que não há nenhuma personagem pixelizada mais fofa do que a Madeline, né?

O clima “íntimo” de Celeste também entra em total sincronia com a sua trilha sonora. As músicas da aventura contam com uma variedade simpática de composições épicas, melancólicas, frenéticas e aconchegantes. Os efeitos sonoros, por outro lado, são satisfatórios e carismáticos o bastante para ficarem eternizados na cabeça do jogador.

Aceitando a si próprio


Traduzido e adaptado com paixão para a língua portuguesa, Celeste é um jogo profundo e preciso em tudo o que ele almeja fazer. É raro encontrar um título que trate todas as suas características com o respeito e o carinho que elas merecem. Arte, história, personagens, música, jogabilidade, acessibilidade e conteúdo. Parece que não há nenhum elemento em que os desenvolvedores não colocaram toda a atenção que podiam oferecer.

É claro que o título não é totalmente perfeito e ainda dá para achar pequenos erros aqui e ali se você se esforçar para procurar. O maior diferencial de Celeste, no entanto, é que ele não foge dessas falhas. Para ser mais exato, o jogo aceita e trabalha em conjunto com todas elas para oferecer a melhor experiência possível, independentemente de qualquer crítica ou julgamento. Tente fazer o mesmo você também e dê uma chance para essa obra prima dos videogames.

Prós:

  • História profunda e inspiradora;
  • Controles precisos e divertidos;
  • Trilha sonora tocante;
  • Pioneiro em implementar opções de acessibilidade para os jogadores;
  • Estilo artístico simplesmente adorável.

Contras:

  • Por mais que eu tente, não consigo citar defeitos plausíveis.
Celeste - Switch/PS4/XBO/PC - Nota: 10
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: André Carvalho

Celeste está disponível na Loja Nintendo 
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo

Estudante de jornalismo que não vê a hora de achar um estágio. Apaixonado por videogames e esperando o fim de Hunter x Hunter e Berserk desde que me entendo por gente.
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